História Luz ou Trevas - Amigos e Inimigos

- Você entendeu errado, somos só amigos de infância. Nada mais, nada menos Mas tarde, depois que tudo se acalmou, Luna veio me encontrar no salão das meninas, era bem espaçoso e aconchegante, todas incluindo Luna usavam o uniforme da academia assim como eu, era obrigatório, mesmo que não tivéssemos aula. O falatório das meninas não cessava, todo mundo estava comentando a briga de algumas horas atrás, sim horas, três para ser exato aparentemente Arthur era mesmo um encrenqueiro de primeira, ele e o outro rapaz que eu ainda não sabia o nome nunca se deram bem, ouvi dizer que Arthur começou a briga e o rapaz não queria revidar, e mesmo assim, ele continuou batendo no rapaz. Luna se sentou ao meu lado em um sofá de frente para uma lareira apagada. Eu queria conhecer os membros da minha equipe, conversar com eles antes do primeiro dia de aula. Ainda nem havia recebido os horários por causa dessa confusão toda. E o rapaz será que está bem? Por que Arthur fez o que fez?

- Está pensando em que? – Luna pôs a mão no meu ombro. – Seu rosto está...

- Sim, eu sei. Estou bem. Sabe eu queria... Saber se o rapaz está bem...

- O Appolo vai ficar bem, eu estive com ele na enfermaria, o Jason está lá com ele agora, só está um pouco roxo...

- Você disse Appolo? Appolo Willa e Jason Kearney?

- Sim, o restante do grupo. Pensei que soubesse.

- Não...

- Está esperando o que? Vai levanta! – Ela se levantou em um pulo e me puxou com ela, Luna parecia uma matraca, falava sobre tudo, as colegas de quarto que eram legais, que os meninos eram lindos, enquanto caminhávamos pelos corredores ela bombardeava meus ouvidos com fofocas de hoje mais cedo. Passando pelo o refeitório, subindo as escadas que a pouco eu tinha rolado, seguimos ao terceiro andar na torre leste, me deparei com Fan vindo em nossa direção, caminhei um pouco mais devagar, ele não havia falado comigo desde o almoço, meu coração deu uma cambalhota no peito, e começou a bater em ritmo acelerado. Ele parou na minha frente me impedindo de passar, não queria falar com ele, não sobre isso. Ele iria dizer que tem razão, que não sirvo para ser guardiã, para eu voltar para o castelo por que sou fraca. Luna finalmente calou a boca quando se deu conta do que estava acontecendo, ele tomou meu rosto com suas mãos grandes e quentes, me fazendo olhar para ele, analisou a mancha roxa. Senti seu polegar levemente arrastar sobre a ela, sua caricia provocou algo diferente em meu coração, alegria talvez. Ele se importa.

- Quem? – Ele perguntou com a voz meio rouca, pude ver que controlava sua raiva. Eu não o respondi. – Quem fez isso Amy? Não vou perguntar de novo! – Ele já sabia quem era meu agressor, só queria confirmar, tenho medo do que ele possa fazer, seus olhos cor de mel eram puro ódio, o sorriso costumeiro de seus lábios não estava lá, seu maxilar estava mais rígido com a demora da minha resposta.

- Arthur... – Ele apertou os olhos com força. – Eu estou bem Fan, por favor, não arrume confusão. Você pode ser expulso.

- Desculpe... – Uma única palavra de Fan fazia meu coração se aquecer, ele me puxou para mais perto, minha cabeça encostou-se a seu peito e pude ouvir o tum, tum, tum, acelerado do seu coração. Não sabia ao certo o que fazer se ficava em seus braços ou me afastava. Decidi me afastar, estava meio constrangida, mais uma vez sinto que estou demonstrando fraqueza perto dele, se isso continuar assim... Como poderei ser guardiã, como um dia eu acharia minha mãe? – Desculpe por não estar lá para te proteger. – Eu não sei se fico confusa ou feliz, ele não jogou na minha cara que estava certo, nem tentou me obrigar a voltar para o castelo. Ele foi legal. Por que ele está sendo legal?

- Ei Fan, você vem ou não vem? – Uma voz feminina o chamou atrás de mim, franzi o cenho, provavelmente uma menina do seu grupo.

- Tenho que ir, te vejo mais tarde então? – Da última vez que ele disse isso eu acabei levando um soco. Mas afirmei com a cabeça, um sentimento tomou conta do meu peito, nunca havia sentido isso antes, queimava tanto que doía, minha respiração se acelerou. Uma morena toda sorridente, enrolava os cabelos nos dedos, o esperava ao pé das escadas, olhei bem e reconheci o rosto, minha colega de quarto. Ela me olhou com desdém, deu um beijo na bochecha de Fan e virou a esquina. Tentei deixar isso para lá, precisava ir também, seja lá o que fosse não era importante. Appolo... Acho que estou realmente preocupada com ele.

- E aí? – Luna me olhava com um sorriso travesso nos lábios e braços cruzados no peito. – Achei que estavam juntos... – Fiquei incrédula.

que isso. Agora, por favor vamos logo para a enfermaria? – Ela fez uma cara de isso ainda não havia terminado, que ela me bombardearia de perguntas mais tarde.

Caminhando por entre as camas da enfermaria perfeitamente alinhadas, cobertas com lençóis brancos, divididas por cortinas, encontramos Jason sentado em uma poltrona ao lado da cama de Appolo. Deitado em sua cama de olhos fechados analisei-o com mais cuidado, seu lábio estava levemente inchado com um pequeno corte vermelho na parte inferior, ele segurava uma sacola de gelo em seus hematomas para diminuir o inchaço, vi também um corte em cima da sobrancelha direita. Por que ele não se defendeu? Por que Arthur estava batendo nele? Que diabos aconteceu lá? Luna andou cuidadosamente até a beirada da cama e se ajoelhou acariciando seu cabelo, quase com medo de tocá-lo. Jason automaticamente se endireitou na poltrona, a olhava fixamente, cada movimento que ela fazia, ele a seguia com os olhos, nem piscava, parecia hipnotizado. Appolo se sentou devagar, tirou o gelo do rosto, ele estava sério, olhou Luna e sorriu timidamente.

- Como está se sentindo? – Luna sentou-se ao lado dele na cama, pareciam íntimos.

- Envergonhado, dolorido, com raiva. – Ele sorriu. – Mas eu estou bem. – Appolo olhou para mim, foi a primeira vez que vi seus olhos, parecia que eu estava mergulhando em buracos negros sem fim, olhos que me deixavam triste e excitada ao mesmo tempo, como se eu estivesse estrado em outra atmosfera, um lugar de trevas, mas também de luz, confusa e loucamente perturbada com esses olhos que me observavam incessantemente, ação que me deixavam constrangida e sem palavras, ele finalmente desviou o olhar, abaixou a cabeça, bagunçou os cabelos negros e voltou a me olhar.

- Quem é você? – Jason também me olhava curioso, e Luna apenas sorria.

- A-Amily Ravens.

- O que ouve com o seu rosto, Amily Ravens? – Se eu disser que levei um soco por tentar ajudá-lo ele vai pensar que eu sou fraca e provavelmente não vai me querer em seu grupo e terá que me aturar.

- Cai da escada e bati o rosto. – Menti olhando para o chão, brincando com os dedos. Luna franziu o cenho e se levantou, segurou meu braço e me arrastou delicadamente para perto de Appolo.

- Foi Arthur quem fez isso quando ela tentava ajudar você. Ela até me fez a empurrar da escada para distrair o diretor. – Luna linguaruda, não sabia onde enfiar minha cara.

- Não tinha uma maneira melhor de distraí-lo? – Appolo perguntou com um sorriso de lado.

- Não pode simplesmente agradecer? – Seu sorriso se alargou.

- Obrigado, Amily Ravens. – Luna e Jason, se entre olharam e sorriram um para o outro, achando graça de tudo.