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História Maçãs & Carmesim - Recordações


Escrita por: RuiMiori

Notas do Autor


Oi oi oi genteeee
Demorei? Talvez um pouco kkkk Adivinhem quem passou direto e agora vai pro terceirão? EUZINHA UHUUUUUULLLL
Espero que gostes do capítulo! Está um pouco menor do que os outros, mas ainda assim na média...rs
Ele pode parecer sem graça no começo, mas foi a única maneira que vi de começar, não desistam da leitura!
Então, sem mais delongas, se divirtam!

Capítulo 14 - Recordações


“No fundo eu era uma suicida que encontrou o desejo de uma morte natural.”

 

Aquele lugar me trazia recordações, mas infelizmente não eram coisas boas, pois estas estavam completamente ofuscadas pelo aroma de sangue tão bem registrado.

Havia gasto uma farta quantia para retomar a casa das mãos do governo, o preço que a tinham posto era absurdo, todavia eu pagaria o que fosse necessário para recuperar a moradia.

Era mais que uma casa, era meu passado, tudo que fui. Os corpos não estavam mais lá, tanto a neve quanto o tempo fizeram o trabalho de apagar qualquer vestígio, porém as memórias jamais seriam deletadas.

— Preciso fazer uma reforma — digo para mim mesma ao ouvir o ranger da madeira quando ando pelo assoalho.

Aquele lugar estranhamente não rendia-me dor, o fechar inconsciente de punhos mostrava que tudo não passava de um vácuo que só podia ser preenchido por ódio,  sentimentos negativos, a raiva, angústia, tudo, tudo transparecia no brilho insano de meus olhos.

Senti que se pusesse um pouco mais de força na maçaneta acabaria por quebrá-la, não controlava meus movimentos, a sede de destruição e vingança transbordou na lágrima solitária que escorreu por meu rosto quando a visão ampla da sala encheu-me o campo.

Os móveis podiam estar cobertos, mas ainda assim lembravam-me de todas as noites frias que passei em frente á lareira. Eu sabia que era fruto da minha imaginação, porém a imagem perfeita da mamãe tricotando algum cachecol e papai a polir sua espingarda com os pés apoiados na mesa de centro... Era tudo tão real que ou estava a ver fantasmas ou de fato cedi á loucura.

— Voltei.

Mas ao receber nenhuma resposta entendi que era mesmo só fantasia.

Nunca mais ganharia um abraço acolhedor ou beijo de boa noite.

Nunca mais.

— Ás vezes esqueço que vocês estão a sete palmos abaixo da terra — era tão fácil iludir-me com esperança, principalmente quando até a poeira remeti-me a lembranças — Ou perdidos em alguma constelação — recordo-me de quando mamãe disse que quando pessoas boas morrem viram estrelas, assim poderiam de alguma forma continuar a iluminar as trevas de alguém. Eu não acreditava nisso, todavia não se passava uma noite em que deixasse de encarar a imensidão negra, a procura de um brilho especial era minha forma de sobreviver.

Mesmo depois de tantos anos não fui capaz de superar, bom, não é como se no fundo isso almejasse.

 — Aqui é onde os fantasmas se tornam mais reais — digo para o além quando contorno a sala — Ou pelo menos onde minha imaginação aflora.

O lar da insanidade.

E foi a passos vagos que cheguei no segundo andar, quando dei por mim estava parada em frente a uma porta que logo foi destrancada graças a uma das várias chaves no molho.

Era um misto de ansiedade e temor, girar uma maçaneta nunca foi tão difícil, o peso do passado estava sob o metal.

Reuni toda a coragem que adquiri na Associação, porém esta não foi um escudo forte o suficiente para neutralizar a onda de marasmo vinda do cômodo. Fora os muitos quilos de ácaros tudo estava impecável.

O guarda-roupa branco que combinava com a penteadeira — a mesma possuía um espelho partido que jamais fora concertado, o que no momento rendeu-me uma visão distorcida quando encarei-me nos cacos — As paredes de tom acinzentado estavam gastas assim como a madeira do chão, e nas prateleiras acima da cama ainda se encontravam três bonecas de pano com seus vestidos de retalho e olhos de botão — mamãe as tinha feito quando mal tínhamos dinheiro para comida, o que dirá brinquedos — Ao lado meu único livro de histórias infantis, uma coletânea de princesas com seus finais felizes. Porque eu lia este tipo de coisa? Tão distante da minha realidade...

A cama sem lençóis ou travesseiros estava pequena para mim agora, também pudera, era o local que uma criança dormia. Sentei no colchão velho e joguei o pescoço para trás, só deixei-me absorver o espirito depressivo daquelas paredes. As cortinas e janelas fechadas impediam qualquer luz, mas não tinha recordações de um quarto iluminado, ele era exatamente assim em minha memória. Um abrigo de trevas.

O cavalinho de madeira fazia ecoar seu balanço, poucas vezes usei aquele brinquedo, era meio inútil. Já estava deitada, e graças a minha atual estatura metade do corpo ficou de fora do móvel.

— É tão estranho estar de volta — digo encarando teto — É como voltar ao passado — respiro fundo, deixando que a poeira perfure meus pulmões, o que rendeu-me umas três tosses seguidas — Eu não sei ao certo o que sinto, papai, parece ódio, tristeza, melancolia. Mas ao mesmo tempo não passa de um nada.

Estou tão cansada dessa vida que poderia dormir agora mesmo.

Pego de meu bolso um papel, era a passagem de Busan, daqui algumas horas estaria desconfortável em um assento de trem.

— Precisava descarregar tudo aqui, nessa casa, antes de ir pra lá. Já faz um tempo que me sinto sufocada, desde que me formei pra ser mais especifica. Acho que foi por isso que voltei antes de iniciar de vez minha carreira — suspirei já cansada da longa viagem que seria até lá — Estou dando o meu melhor, pai, eu juro — a passagem de tom amarelado com letras grifadas de preto passavam de mão para mão — Mas ainda não me encontrei nessa vida, embora eu saiba que é meu lugar ideal pareço perdida em meu próprio currículo. As armas são meu refúgio, e o sangue é minha cor, então porque continuo vagando de cidade em cidade, matando cada vez mais, sem ver sentido nisso? — estava longe de chorar, mas a dor de cabeça latente provava que em meu peito um órgão estava sendo esmagado — Mas é tudo o que tenho... Por isso vou continuar até vingar vocês e todas as vidas aniquiladas naquela noite — como eu podia me ver perdida em minha única certeza? — E depois eu também vou virar um pontinho no céu — claro, assim que a justiça fosse feita não haveria significado em minha existência. Doce Vingança, o revolver que seria o gatilho para a morte do inimigo também daria um fim a mim mesma, já estava tudo planejado.

Porém, ao tocar o modesto fio vermelho em meu dedo lembrei-me que carmesim estava novamente em minha vida, só que dessa vez de uma forma diferente das demais. Era um vermelho alegre.

  — Ou talvez eu encontre outro objetivo.

A imagem de Tae veio-me como um lampejo, ainda era incerto nosso futuro. Ele me amava, e eu de alguma forma retribuía este sentimento, ele me pediu em casamento e aceitei. No fundo eu era uma suicida que encontrou o desejo de uma morte natural.

— Quem sabe vali a pena me arriscar um pouco mais — lembrar-me do loiro sempre trazia um sorriso inconsciente, e agora não foi diferente — Talvez ele de fato seja o meu “Felizes para sempre”.

Há algum tempo eu perdi a noção do que era felicidade, duvidei até de sua existência, porém sorrir era bom, certo? Então, quem sabe, eu devesse acreditar em um “nós”.

Eu podia ter defeitos, erros e pecados, mas todo devedor merece um pingo de esperança. A minha se chamava Kim TaeHyung.

— Você ganhou um genro, papai — eu podia imaginar perfeitamente a expressão do Caçador Park ao receber essa notícia — Fique calmo, ele faz muito bem a sua filha.

A visão de uma família veio-me a mente, provavelmente a vida ainda poderia me conceder a oportunidade de ser uma boa mãe e esposa.

— Eu só queria que o senhor pudesse me levar ao altar — Era melancólico saber que não teria a imagem dos dois nesse dia, porém eu sabia que, mesmo sem ter seu braço a me apoiar, sua presença de alguma maneira se faria presente. Assim como a mamãe, ela passaria as mãos pelo coque bem feito e envolveria meu pescoço com um colar de pérolas. Nossa relação ultrapassava as barreiras de vida e morte, assim nada os tiraria de minha memória, nada — Não sei se com Tae terei o mesmo que você e a mamãe compartilhavam, mas acho que posso encontrar nele... Alguma coisa.

Refaço o laço que aos poucos estava se desfazendo, guardo a passagem de volta no bolso e me levanto. Era hora de partir para outro cômodo, um que talvez remetesse lembranças mais profundas e desencadearia uma loucura doentia, mas eu precisava encarar aquela insanidade.

Deixo o quarto de uma Park Sue inocente, que hoje estava morta, e sigo em rumo ao próximo corredor. A casa era modesta, mesmo que grande.

Tinha novamente mais uma porta em minha frente, e com as mãos trêmulas toco a fechadura. Era o quarto dos meus pais. Sim, eu já sentia a presença deles, mas entrar neste cômodo em especifico faria com que a perda se tornasse mais real, quase palpável. Ali eram guardadas a memória dos dois, o amor deles e as demonstrações de afeto se restringiam aquelas quatro paredes, embora fosse visível a idolatria de um pelo outro.

Eu iria enfim desvendar de que cor eram as paredes, como estavam distribuídas os móveis e as possíveis fotos espalhadas. Acho que nunca entrei neste quarto, porque não lembro de absolutamente nada relacionado a seu aspecto. Talvez não fosse uma criança curiosa, ou simplesmente respeitosa o suficiente para não invadir aquele lugar “sagrado”.

Não consegui abrir já que um som alertou-me os ouvidos.

Algo havia quebrado, parecia vidro, pois o som do estilhaço ecoou pela casa toda.

Larguei a maçaneta e desci as presas, quase tropeçando em meus pés, deixaria para mais tarde a descoberta.

Ao chegar novamente na sala diminui a velocidade, com cuidado retirei um pequeno revolver do cinto e a passos cautelosos avancei para a cozinha, o som parecia ter vindo de lá. Quem seria tolo o suficiente para assaltar uma moradia abandonada? Era burro o suficiente para supor ter algo de valor perdido em meio ás teias de aranha?

Não, não era um ladrão.

Poucos Caçadores conseguiam desenvolver a capacidade de sentir a presença de vampiros, eu era um deles. Alguns captavam quantos eram, outros a distancia que se encontravam, o restante simplesmente sentia a presença deles.

Eu não era chamada de prodígio atoa.

Era um único vampiro, e estava a cinco metros fora da casa, provavelmente na direção norte.

Mesmo com essa informação continuei a seguir para a cozinha, o que quer que fosse não foi quebrado em vão. Ele sabia que eu estava aqui, obviamente, queria meu sangue, me matar ou arrastar para o Conselho?

Quando cheguei percebi que uma janela tinha o vidro quebrado, e no chão uma pedra de tamanho médio junto aos cacos estava jogada. O que ele queria com isso?

Ao tomar a pedra em mãos notei algo grifado em branco nesta.

 

Aqui fora.

 

Ótimo, ele estava me pedindo para sair. Com agora outro revolver em mãos estava mais segura.

Sim, eu sairia, ficar aqui dentro não adiantaria nada. Porém a única forma de entrar e sair era pela porta da frente, e eu sabia que ele me esperava lá, mas como a besta fez questão de se preocupar com o recado podia julgar que esta não iria pular em meu pescoço assim que saísse. Mas isso não queria dizer que seria uma conversa civilizada, não deixaria a casa já a tiroteios, todavia nem por um instante dar-me-ia ao luxo de abaixar a arma.

Respiro, inspiro, e seguro mais firmemente em minhas mãos os revolveres.

A presença estava mais perto, podia sentir com precisão o vampiro a espera.

Com cuidado chuto a porta e aponto para o horizonte em busca do alvo.

Sinto meus olhos se arregalarem com a incomum visão de um albino com olhos escuros e feições falsamente angelicais. Em suas mãos gritava um chamativo buque de rosas vermelhas.

A imagem era mais assustadora do que se visse uma besta sedenta de olhos opacos e garras afiadas. Ele estava querendo me por medo? Pois estava conseguindo, nada podia ser mais perturbador do que um sorriso meigo no rosto de açúcar daquele demônio.

— Gosta de vermelho, certo? — pergunta calmo, pegando do formoso buque uma das flores de cor rubra e a estendendo para mim, como se pedisse para que aceitasse aquele mimo.

Continuava com a mira intacta, não é porque ele aparenta ter vindo em paz que largaria a arma, afinal, onde ele pisa acontece destruição. Esse era um solo amaldiçoado.

— Sim, é a minha cor.

Como ele tem a coragem de voltar ao lugar onde meu pais morreram?

Meu sangue fervia, borbulhava, em minhas veias. O que eu não daria pela satisfação de perfurar seus olhos e arrancar seu coração agora?

Calma, ser levada pela ansiedade não seria viável. Deixe-se consumir de repulsa e a libere em seu gatilho quando a oportunidade aparecer.

Ele é um vampiro, Nobre, em seu estado ele ganharia facilmente um combate direto.

Espere. Saiba o porquê de ele ter vindo aqui.

— Esse fiozinho não combina com você — diz apontando para meu dedo — Tenho algo mais digno da sua beleza.

E de seu bolso saem dois anéis dourados, alianças.

— Em poucos meses estarão em nossos dedos — completa tornando a guarda-los — Um símbolo muito bonito, não acha?

Eu ri alto, tanto que chegou-me a faltar ar e doer a barriga, as gargalhadas saiam entrecortadas pelo frio. Lágrimas caiam de meus olhos, aquela era de fato a piada do ano, algo impossivelmente cômico.

 — Não sabia que demônios podiam ser engraçados.

Suga não parecia ofendido, nem um pouco, na verdade sua expressão continuava tão amena quanto antes.

E ignorando meu comentário ele prosseguiu.

— Busan terá de ficar para outro momento, Caçadora, nesta madrugada você estará imensamente ocupada.

 — E o que poderia ser mais importante que o dever, meu caro morceguinho? — indago entrando em seu jogo, embora não fazendo ideia de onde ele queira chegar.

— Digamos que minha cama é confortável e tenho um ótimo estoque de vinho.

Definitivamente ele era hilário.

— Não sinto atração por mortos-vivos — respondo girando um dos revolveres e jogando meu longo cabelo para trás — Principalmente quando estes são insanos.

Ele sorri de canto, uma mistura assombrosa de sarcasmo e perversão.

— A loucura tem seus charmes, Caçadora.

 

 

  


Notas Finais


Então, estão gostando do andamento da história? Acho que ela será longa, porque, como podem ver, eu enrolo bastante com descrição e sentimentalismo kk Mas é que não gosto de só passar por cima dos pensamentos, quero que sintam o que a Sue sente para entrarem mais na história quando a coisas começarem a se complicar. Contudo, estou tentando agilizar mais as coisas para não ficar tão tedioso, os próximos cap terão mais emoção e revelações, então peguem os lencinhos! kkkkk
Spoiler: O próximo será na visão de nosso misterioso, porém já amado vampirinho Yoongi <3
COMENTEM! QUERO SABER SE ESTÃO GOSTANDO!


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