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História Maçãs & Carmesim - Chegada


Escrita por: RuiMiori

Notas do Autor


Eu estou com uma vontade enorme de escrever esses dias kkkkkkk
Nesse cap terá a chegada de mais um membro querido!
Está maior que o anterior para compensar hihi
Leiam com carinho, nos vemos nas notas finais ;)

Capítulo 18 - Chegada


“Ele era uma figura a ser estudada com cautela.”

 

As nuvens choravam naquele dia de inverno, as gotas finas que antes cortavam minha pele agora apostavam corrida na vidraça embaçada da carruagem. Aproveitando o tédio desenhei um rosto no vidro, era um autorretrato.  

— Ele está triste — comenta a besta ao meu lado vendo minha nova obra de arte.

— Sorrisos não combinam comigo — explico sem o encarar, sabia que se o fizesse certamente não controlaria a raiva e acabaria por forçar minhas mãos contra seu alvo pescoço — Principalmente agora.

Ele suspirou pesadamente e depois sorrio, um mover de lábios tão nojento que tive vontade de arrancar-lhe dente por dente com um alicate enferrujado e sem anestesia.

— Você foi pedida em casamento, Caçadora, outras mulheres já estariam planejando o modelo do vestido — respondeu descarado, passando o braço por cima de meus ombros. Resumindo, apenas enxotei seu braço, talvez o jogando com certa força para o outro lado do acento, e por sua expressão pareceu ter entendido o recado — Mas claro, você é única — e sem um pingo de medo ele se reaproxima, ousando até mais já que seu hálito bate contra minha orelha — A mulher perfeita pra mim.

Reviro os olhos e lhe afasto novamente.

— Somos tão perfeitos um para o outro como cães e gatos — respondo inalando o máximo de ar possível para manter a sanidade, a dor de cabeça só crescia á medida que a carruagem avançava. Aish, eu definitivamente não sobreviveria até o fim da viajem.

Fecho os olhos e tento imaginar algo tranquilo, que pudesse me acalmar, alguma coisa como um tiro de metralhadora no crânio desse Nobrezinho de merda. Vou confessar que relaxou-me por instantes e trouxe uma satisfação favorável.

— E nessa relação eu sou o gato, certo? — não tinha ideia que vampiros podiam ser tão cansativos.

— Sim, e um bem preto pra me trazer tanto azar — replico e vou vendo seu ego esvair-se á medida que a frase é formada — Vampiros podem se olhar no espelho?

— Claro que sim, se não como eu saberia o quão magnifico eu sou?! Não sei de onde vocês, humanos, tiram essas lendas.

— Se pudesse mesmo se enxergar veria que mais parece uma lagartixa anêmica — debocho, só precisava ver a fumacinha de nervos saindo por suas orelhas para deixar o momento mais engraçado. Certo, esse seria meu passatempo enquanto estiver de passagem por esse inferno — Deixe um pouco de lado esse egocentrismo, querido, porque no final não a nada do que se orgulhar nesse corpo magrelo.

Depois disso ele se enfezou e tratou de ficar calado do outro lado do banco. Finalmente, um pouco de paz!

Tudo o quebrava o silencio era o som da chuva que rapidamente ia se intensificando, o primeiro raio iluminou o céu nublado fazendo meu coração palpitar acelerado pelo estrondo que se seguiu. Não que tivesse pavor de trovoadas, apenas fui pega de surpresa, diferente da besta que teve seus olhos esbugalhados e corpo petrificado.

— O que foi? —sorrio divertindo-me com seu estado — O vampirinho tem medo de trovões?

O garoto de cenho fechado ajeitou o sobretudo escuro, recostou-se melhor no estofado e respondeu sem me encarar — ele parecia estressado demais para provocações. E eu? Estava amando vê-lo sem resposta.

— Não que seja da sua conta, mas... Eu já estou condenado ao inferno, acha mesmo que barulhinhos da natureza me assustariam?

Suas respostas afiadas pareciam ter sido formadas durante todos seus séculos de experiência e moldadas ao decorrer das situações, não era admirável, só curioso. Ele era uma figura a ser estudada com cautela.

 — Não vou mentir, se você tivesse medo eu riria muito da sua cara e usaria isso como vantagem todos os dias — fui o mais franca que consegui, era verdade, não conteria nenhuma gargalhada — Mas todos nós temos nossas fraquezas, e por mais que esse medo seja bem patético ainda é aceitável — no fundo eu não julgaria, apenas jamais o deixaria descobrir meus medos estúpidos. Ainda posso lembrar de todas as aranhas de brinquedo que os colegas da Associação puseram no meu armário — Nem um vampiro, Nobre e de sangue puro como você escapa dessa chatice que é temer alguma coisa — isso lembrava eu mesma — É um fardo que carregamos enquanto trilhamos esse mundo, independente do quão imortal você seja.

Não era para ser uma terapia ou aula filosofia, mas acabou se torando uma seção de psicologia.

Acho que foi fácil direcionar a ele palavras que não saíram como agulhas porque, sem querer, esse era um recado indireto a Park Sue. Minha consciência precisava lembrar-me que estava tudo bem ter medo, que não ter absolutamente tudo sob controle faz parte da juventude. E que no final, independente de quem seja, todos vamos falhar em algum momento.

— São bonitas palavras que formaram um discurso sábio, Caçadora — ele finalmente encarou-me, após longos minutos — Só é uma pena que você não acredite em sua própria ideologia.

Engoli em seco.

— Acha que não aplico em mim mesma essa teoria?

— Exato — começa — A senhorita acredita em coisas que não segue. Você acha que precisa sempre ser perfeita, que o peso do mundo está em suas mãos, e em alguns aspectos realmente está, afinal, precisa salvar centenas de vidas humanas de bestas como eu.  Todavia, contudo, não é porque tem essa rosa na mão — disse apontando para a tatuagem do brasão da Associação, todos precisavam tatuar em algum lugar esta rosa de sangue, eu escolhi as costas da mão esquerda, pois era a que preferia para atirar, assim sempre que fosse matar uma besta lembraria quem eu era. Park Sue, uma soldada formada em glória pela Instituição — que está livre de temer qualquer coisa. A Associação não pode tirar os detalhes da sua humanidade, portanto vai continuar com medo tanto de coisas banais como relevantes. Você não é uma medrosa, Caçadora, mas infelizmente viver está atrelado a este martírio que é, por vezes, ser um covarde — eu absorvia todas as suas palavras, e era perturbadora a forma como estas faziam tanto sentido — Você tem esse sentimento, e mesmo que o tente combater ele sempre retorna. Park Sue teme nunca vingar a morte de seus pais, essa é sua fobia.

Sim, Suga, e sabe qual é meu novo medo? O fato de você entender tão bem meus problemas.

— E você? Qual sua fobia? — tento desesperadamente mudar a rota do assunto, desviar a atenção de mim, porque se tinha uma coisa que não queria era intimidade com esse ser.

— Interessa em mim, meu bem? — não, só preciso também entender a mente do meu inimigo — Deixe-me pensar, o que esse magnifico Nobre pode temer? — fechei os olhos em desgosto e deixei-o fazendo a si mesmo elogios — Eu também temo não fazer a vingança que á muito tempo jurei cumprir.

Aquilo já era mais interessante.

— Então você também tem alguém de quem quer se vingar, é?

Ele suspirou, aparentemente lembrar daquilo não lhe fazia bem.

E recostando a cabeça no vidro, com as pálpebras recém fechadas o albino me respondeu.

— Todos temos algo a qual queremos fazer justiça — respondeu em tom monótono, parecia embargado com lembranças — A diferença é que alguns de nós estão dispostos a fazê-la com as próprias mãos. Bom, nem sei por que estou me dando ao trabalho de explicar isso, você melhor do que ninguém sabe o que é liberar o pior de si para combater monstros maiores.

Claro que sabia, foi o que tive de aprender desde que você matou meus pais.

Mas o que me veio á mente foi como ele parecia vulnerável naquela posição, era um ótimo momento, se fosse silenciosa o bastante conseguiria tirar alguma arma do cinto.

— Nem tente fazer isso, Caçadora — droga — Não é porque estou cansado que meus cuidados diminuem, é bom saber disso. E alias, é melhor desistir dessa ideia de me matar, cancele todos os planos, porque se eu descer ao inferno não é só da minha vida que a senhorita terá que se despedir — bufei internamente, definitivamente precisava de uma estratégia, atacar do nada não seria viável — Já dei ordens a um subordinado confiável para que tome, digamos, providencias em relação a vossa senhoria caso eu venha falecer.

Ele não era um adversário qualquer.

— Chegamos, senhor! — anuncia alto o cocheiro.

Ao me virar novamente encontro um vampiro com o sorriso mais diabólico possível.

— Pronta para conhecer sua nova casa, Caçadora?

Engoli em seco.

Era agora, a hora de conhecer o covil inimigo.

Quando avistaram a carruagem os porteiros empurraram a porta que no mínimo devia pesar toneladas.

Aquilo não era um portão, estava mais para muralha com aquelas paredes! Devia ter o que? 15 metros?

— É moda ter uma floresta como jardim? — pergunto ao perceber a imensidão de árvores que formavam o horizonte, tampando qualquer sinal da tal mansão.

— Porque esta reclamando? É bem excêntrico.

Revirei os olhos e passei a admirar a paisagem repleta de árvores secas e sem folhas devido á estação. Agora entendi porque não deixamos a carruagem no portão, fala sério, eram uns vinte minutos de mata fechada até avistarmos o inicio de uma passarela florida.

O tempo estava feio, e mesmo tudo encharcado pela chuva não podia negar a beleza do local. Mais ao longe estufas podiam ser contempladas, e no chão uma grama perfeitamente alinhada e verde dividia espaço com os ladrilhos polidos pela qual passávamos — nem posso imaginar como conseguiam deixar o gramado sem nenhum vestígio de neve, só de pensar no tempo que deveria levar para retirar cada floco minha coluna já latejava — Fizemos a volta em um estupendo chafariz que jorrava água límpida. As flores e arbustos iluminavam a paisagem que parecia inacabável de tão vasta, e as incontáveis macieiras lutavam para também chamar atenção de qualquer passageiro.

Aquele terreno era banhado de maravilhas.

  — Deslumbrada? — perguntou um vampiro convencido por sua propriedade.

— Até que é bonitinha.

Eu sabia que ele sorria. Não se vanglorie por seus jardineiros, vampirinho.

Suavemente paramos, então percebi que tudo tem um fim, inclusive esta expedição.

Era hora de entrar na casa de assombrações.

— Vamos? — ele descera tão rápido que mal pude ver, e ao abrir minha porta estendeu a mão como em uma cavalheiresca ajuda.

Ignoro-o e desço por mim mesma, não estava disposta a qualquer contato físico, nunca estaria.

Vejo o homem de meia retirar minha mala do bagageiro, pelo visto ele era um simples Comum, e por seu trabalho presumo não ter boa linhagem — isto se não fora feito vítima de algum Nobre para se transformar — Vou até ele para pegá-la, mas ao tentar fazer ele se curva instantaneamente. Aquilo era respeito.

— Pode deixar que eu levo, senhorita — Eu sabia que essa formalidade não era por ser acompanhante de seu mestre, podia sentir que era por mim mesma. Aqueles olhos opacos eram de alguém que já provou a humanidade, e ainda um admirador da causa dos Caçadores. Uma vítima que agora servia esses demônios.

Com um aceno de agradecimento assenti. Pobre homem...

 — Então... — a besta se espreguiça e vem até mim a passos largos, quase saltitando. Um vampiro de bom humor é a coisa mais assustadora que poderia existir — Vamos depressa, você precisa aprender a andar por essa mansão antes do jantar!

— Essa empolgação toda é por estar destruindo a minha vida? — indago áspera o suficiente.

Suga para abruptamente quando me escuta. E com o maior sorriso que já deve ter dado respondeu.

— Também sabe ler mentes, querida?

Você.

Está.

Definitivamente.

Morto.

— Está tão ansiosa que não pode andar, coitadinha.

Eu não era a melhor costureira, mas com uma boa agulha e bastante linha poderia fazer um belo remendo nessa boquinha desgraçada.

— É mais fácil eu paralisar de fome — retruco já parada em frente ás portas gigantescas de madeira.

Não posso mentir, um frio me passou pela barriga e pensei na opção de sair de lá em uma corrida maratonista. Era uma confusão de sensações muita estranha, mas de uma coisa tinha certeza: Eu realmente não queria passar por aquelas portas.

Porém elas foram abertas, e meus pés sozinhos fizeram o trabalho de carregar-me para lá dentro. E foi quando as mesmas se fecharam atrás de mim que aceite este pesadelo. Já não havia como fugir.

O cocheiro silenciosamente entregou minha mala para um outro homem, que parecia ser alguma espécie sofisticada de mordomo, e em seguida entrou por alguma porta a qual não sabia para onde poderia levar.

— Gostou? — ouço a voz confiante de Suga que despertou-me do transe.

Estava tão imersa em pensamentos depressivos que mal notei a mobília, decoração e luxo que a sala de entrada ostentava.

— É bem... — busquei pelo adjetivo certo —Mais limpo do que eu esperava, imaginei morcegos no teto e rachaduras na parede.

Ele rio com a minha confissão. Também pudera, aquilo estava bem longe de ser uma bagunça. Assemelhava-se bem mais a casa do prefeito do que um lar de bestas.

E mesmo que sombrio era necessário admitir que o decorador fizera um bom trabalho. Era tudo impecável, desde o negro piano que reluzia brilho até o quadro de uma mulher disposto acima de uma lareira de tijolos cinzas. Mesmo as maçanetas — que eu ousaria dizer serem de ouro — resplandeciam, como se alguém passasse limpando-as a cada dois minutos.

As almofadas de cor vinho no sofá de mesma cor totalmente alinhadas, o carpete acinzentado e felpudo por debaixo da mesa de centro — que segurava um lindo arranjo de lírios e, aparente, caro tabuleiro de xadrez  — As vidraças se encontravam ocultas pelas grandes e pesadas cortinas de tom bordo com detalhes em dourado que iam do teto ao piso.

Todo o ambiente era iluminado por um gigantesco lustre e candelabros situados nos mais variados lugares. Não parecia frio o suficiente para se acender a lareira, todavia não é como se eles se incomodassem com o inverno.

O relógio no canto do cômodo nos dizia que já passara das quatro da tarde — aquela uma hora de viagem havia sido longa — e meu estômago faminto anunciava o inicio de um buraco negro.

E claro, por sobre o piso de madeira polida estava um tapete vermelho que seguia da entrada até se dividir entre a escadaria dupla centralizada no meio no recinto.

Depois de fazer uma varredura completa por tudo que meus olhos alcançaram e mãos tocaram só cheguei á conclusão que o que aquele lugar tinha de belo tinha de nojento. Demônios vivendo em completo esplendor enquanto pessoas morriam todos os dias em vielas imundas.

Vocês já estão mortos, não precisam de todo essa grandeza.

— Eu disse que não precisava se preocupar, Caçadora. Esse lugar combina muito mais com a sua beleza — disse se aproximando do sofá, que era onde eu me apoiava — Bem melhor do que aquela casa velha cheia de cupins, não concorda?

Seguro-me para não rosnar como uma cadela raivosa.

— Não importa quanta riqueza você possa me dar — falo já afastando em um puxão seus dedos que ameaçaram tocar meu cabelo — Nada, absolutamente nada fará com que eu tenha vontade de ficar aqui.

O vampiro puro suspirou em frustração.

— Os humanos são gananciosos desde o berço — diz desajeitando ainda mais seu cabelo bagunçado e pondo uma das mãos no bolso da calça — E não é esse certificado da Associação que banirá sua ambição, Caçadora — eu odeio do mais profundo do meu ser esse sorriso convencido — Querer conforto é normal, querida, não precisa se sentir mal por gostar da minha água encanada ou do travesseiro de plumas que irei lhe dar.

Cutuquei seu peito com meu dedo indicador, o fazendo cambalear para trás, mas sem cortar o contato visual que se estabeleceu.

— Eu não sou como essas vampirinhas fúteis que você deve estar acostumado a comprar — a vontade de socar essa cara até ficar roxa era grande — Nem vestidos, joias, sapatos ou lençóis de ouro fariam com que o meu ódio pela sua pessoa esfriasse. Então guarde seus mimos, porque não é essa Caçadora aqui que você conseguirá amansar com perfumes importados.

Viro-me em direção as escadas e começo a subi-las, onde quer que fosse meu temporário quarto devia estar no próximo andar.

— Mordomo Lee, por favor, leve-me até o quarto em que ficarei, qualquer lugar longe desse vampirinho açucarado deve ser melhor — antes de subir havia conseguido ver o crachá disposto minimamente no paletó bem passado do homem. O senhor parecia confuso sobre obedecer-me ou não, porém, após meio segundo ele juntou-se a mim nos primeiros degraus — Ah, mais uma coisa, não é porque “aceitei” vir para cá que desisti da minha vingança, a hospedagem aqui será só um mero tempo para eu arquitetá-la melhor — finalizo dando-lhe o meu melhor sorriso, um que dizia “É melhor estar preparado.”

Subi as escadas sem olhar para trás.

Estava cansada daquele dia, precisava recarregar as forças, estar dispostas nas próximas semanas não era uma opção. Aish, certamente eu ganharei rugas em uma semana.

— É aqui, senhorita Park — disse o mordomo abrindo uma das portas após algum tempo procurando — Terceira porta a direita no quarto corredor do segundo andar — E esta é a sua chave — entregou-me a mesma junto da mala — Se precisar de algo estarei a sua inteira disposição — terminou dando-me uma reverencia exagerada, ato que respondi atrasada já que estava perdida com tanta formalidade.

— Obrigada, mordomo Lee — ele era educado demais para um vampiro que lidava com uma humana. Nossas raças se odiavam a tal ponto que ele jamais aceitaria me servir — Não querendo ser grosseira, mas... — era difícil escolher as palavras certas — Por que o senhor, sendo vampiro, está me tratando com tanto respeito?

O mais velho suspirou pesadamente e endireitou tanto a coluna como os óculos que teimavam em escorregar por seu nariz fino.

— A senhorita ainda irá descobrir que todos os servos desta casa já foram como vossa graça.

—Humanos? — indaguei abismada.

Ele confirmou.

— Sim, mas cada um por seu motivo foi condenado a uma imortalidade vazia — o homem não possuía coragem para me encarar — Ou quase imortalidade, se é que me entende.

Eu compreendia, eles, como toda besta, poderiam viver para sempre desde que não tivessem o coração atingido. Era este o ponto fraco de todos, e para suprir esta clausula os mesmos se casavam.

Só assim para que o envelhecimento parasse e a total vida eterna fosse concedida.

 — Sim, entendo — eu igualmente mal podia encará-lo — Sinto muito pelos motivos que o levaram a estar aqui e pela vida que teve de deixar.

— Obrigada, senhorita. Eu igualmente lhe sinto por ter de se casar com o jovem mestre, isto deve ser uma desonra para um Caçador — E como... — Preciso ir, senhorita, o mestre deve estar precisando de mim.

Assenti e o dispensei.

Pronto, estava sozinha naquilo que seria meu refúgio por um tempo indefinido — Deus queira que não sejam todos os cinco meses — De fato o cômodo era bonito e espaçoso. As paredes em tom cinza e uma preta, esta era onde estava encostada a cama de casal coberta por lençóis e travesseiros brancos, e ainda ali eram apoiados diversos quadros das mais belas paisagens.

Uma modesta varanda que dava para frente do jardim, com uma deslumbrante vista do chafariz — a chuva tinha amenizado — E cortinas de cetim vermelho combinando com o sofá. Um grandioso guarda-roupa de madeira maciça — mesmo material de todos os móveis — Uma penteadeira disposta ao dado da lareira — em frente á cama e ao lado de uma porta que deveria ser um banheiro — Todavia, o detalhe que mais chamou-me atenção fora o vaso com rosas disposto no criado-mudo.  E, em meio ás pétalas, um cartão amarelo.

 

“Eu pessoalmente mobiliei, com certeza está a seu gosto, tão agradável e bonito quanto você, Caçadora. Nos vemos no jantar, as 20:00, não se atrase.

                                                                              Seu vampiro preferido”

 

Ele definitivamente gostava de mandar bilhetes.

Demoraria muito para o jantar, e eu já estava quase dormindo de fome. A melhor opção seria desfrutar dos manjares que poderiam existir na cozinha, afinal, se vou mesmo passar uma temporada nessa belezura de lugar uma vantagem tem que existir.

Só espero que em uma casa de vampiros tenha bolo.

                          

                                               ❋

 

Não existia nem açúcar.

Eu abri todos os armários e procurei em todas as prateleiras, como se não tivesse sido o bastante subir e descer escadas atrás dessa cozinha o máximo que encontrei foram cenouras.

Mas também, onde estava com a cabeça? — no estômago, talvez?!  — Esse é um ninho de morcegos, e desde que eles só podem beber sangue não a motivos para ter um estoque de biscoitos. Aquelas cenouras deviam ser para os cavalos na certa.

Eu morreria de fome, é isso?

— Quem é você e o que está fazendo na minha cozinha?

Olho na direção que veio a voz, a porta. E lá estava um homem alto, de cabelos castanhos totalmente arrepiados, com as roupas ensopadas — provavelmente vindo da rua — que provavam a inutilidade do guarda-chuva que carregava desajeitadamente por conta das dezenas de sacolas que trazia. Era melhor ajudá-lo antes que minha esperança de alimentação despencasse de suas mãos.

— Deixei-me carregar um pouco — ofereço já contornado a extensa mesa e pegando algumas bolsas transbordantes dos mais diversos produtos.

— E quem me garante que você não é uma ladra?! — indaga eufórico puxando tudo de novo para si — Não confio meus preciosos rabanetes nas mãos de qualquer um não!

— Que tipo de pessoa conseguiria invadir essa fortaleça? — questiono tomando a força uma sacola novamente, porém ele não me deixa ficar com nenhuma.

—Tá, ninguém seria louco a esse ponto... Mas então quem é você? — pergunta desconfiado.

— Uma pessoa faminta — reclamo já avistando os vastos legumes e carne em uma bolsa — Podemos fazer uma sopa com tudo isso!

 — Ei, ei, ei, ei — ele me toma a o tomate que tinha pego — Eu não vou cozinhar pra você!

— Tudo bem — puxo as batatas — Eu posso fazer sozinha!

— E deixar que mexam nas minhas panelas novas?! Nem pensar! Você tem cara de que queima até água!

— Olha aqui, seu moleque, pra sua informação eu já sobrevivi três meses sozinha na mata fritando gambás pra sobreviver! E estavam muito bons por sinal! — exclamo já tomando também o alface — E se a água queimar quem vai beber sou eu!

— Não me interessa, minha cozinha, minhas regras. O único que liga esse fogão sou eu e mais... — ele corta a própria frase bruscamente após ver alguma coisa — Esse brasão... VOCÊ É A CAÇADORA QUE VAI SE CASAR COM O MESTRE! — ele dispara a frase toda sem pausas — Mil desculpas, Sra. Min!

Min? Ok, ok, tudo bem, isso não é relevante.

— Calma, não foi nada — digo tentando acalmar seus nervos e com certa maestria colocando tudo por cima da mesa.

— Me perdoe, eu imploro, é que se ameaçam tocar nas minhas coisas eu perco a cabeça! Juro que não foi intenção lhe faltar com respeito! Eu não quis ser grosseiro, então por favor não conte isso para o... H-Hã... Sr.Suga.

Do que ele corrigiu a frase?

— Não vou falar disso com o seu chefe, pode ficar tranquilo — aquilo era como confortar uma criança.

— M-Muito o-obrigada, senhora... — e pela primeira vez eu vi seu sorriso, quase imperceptível pelas seguidas reverências, mas ainda assim notavelmente bonito.

— Senhorita, por favor, ainda não me casei — e nem pretendo, conclui em pensamento — Quer saber?! Eu detesto formalidades, só Sue já está bom — digo estendendo a mão em um aperto que aos poucos ele foi perdendo a desconfiança — E você, como se chama, rapaz?

Ele apertou mais a minha mão e olhou nos meus olhos para responder. E mesmo com a franja molhada lhe dificultando a visão foi impossível não perceber o notório brilho que suas íris castanhas possuíam.

Mas algo estava errado, alguma coisa nele era inexplicavel. Eu não podia decifrar sua áurea, qualquer que fosse sua espécie estava me confundindo os sentidos. Julguei ser mais um infeliz comum servo daquela casa, porém pouco parecia um vampiro. Ele era uma grande confusão, nem vampiro, nem humano, algo semelhante com ambos — pois algo nele me trazia os alertas de Caçadora e assim como os cuidados de proteção que sempre dei aos humanos — e ao mesmo tempo longe de qualquer semelhança.

Como sete anos não me fizeram forte o suficiente para saber diferenciar uma terceira raça? Ele era um mutante? Aberração? Injustiçado?

Meu talento de dedução, sempre excepcional, agora teve um bloqueio sem explicação.

Eu não sei o que você é, e não é seguro ficar sem uma resposta. A Associação precisa estudá-lo, e se ele for uma ameaça ainda maior que os Nobres? E se nem a nossa arma mais poderosa for capaz de lidar com o que quer que seja ele?

Para, Sue! Você esta indo a loucura! Você só esta cansada, tanto seu físico quanto emocional estão abalados, hoje foi um dia exaustivo, seus nervos estão á flor da pele. Sim, é por isso, de certo ele é só mais um comum a pouco tempo de transformação e eu que não estou sabendo me guiar pelos instintos.

Não.

Pare de se enganar, você já esteve em situações tão ou mais complicadas do que está e não se deixou abalar, que tipo de Caçadora seria você que perderia um dom para um ligeiro cansaço? Se for assim então “Prodígio” uma ova.

Se concentre, Park Sue, você sempre foi a melhor nisso. Suas previsões nunca falharam, então porque agora essa confusão?

Não era apenas isso. Não era dor, exaustão, dia longo ou perda de habilidade.

Alguma coisa além disso.  

O que está atrapalhando não é o que ele pode ser, mas sim quem ele.

E quem ele é?

— Eu me chamo SeokJin.

Eu não faço ideia.  


Notas Finais


Aquela perguntinha básica: Estão gostando?
Alguma ideia de qual seja o papel do Jin na fanfic? Quem será que vai aprontar nesse jantar? O Suga ou a Sue?
Eu sei que existem pessoas que Shippam a nossa Caçadora com o vampirinho ( Yoonue de cada dia nos dai hoje <3 ), outros já gostam mais do TaeTae com ela ( Taue, desculpem, não sei criar nome de ship ), mas e com o JungKook? Alguém ai shippa?
Vamos conversar pelos comentários, amo interagir com vocês! Saranghae minhas macieiras ( sim, esse é o fandom do livro, aceito sugestões melhores ).


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