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História Maçãs & Carmesim - Reencontro


Escrita por: RuiMiori

Notas do Autor


Terminei hoje!
Alguém ai fez o Enem? Gente... QUE DEMÔNIO ERA AQUELE??? MINHA SANTA HATSUNE MIKU!!!

Capítulo 8 - Reencontro


 

“Eu, melhor do que ninguém sabia o que era ter um coração partido. Então podia afirmar que, neste momento, até os cacos restantes viraram pó.”

 

Há quanto tempo estava ali? Séculos, anos, horas, minutos ou segundos? Qualquer medida de tempo criada pelo homem seria incapaz de calcular a eternidade que se passou até que tomasse coragem para, enfim, bater a porta.
Um. Dois.Três.
Nada, nenhuma resposta.
Eu já estava desistindo, talvez não estivessem em casa, se é que ainda lá moravam. Tudo estava em perfeito estado, até mais organizado do que quando os deixei. Provavelmente teriam vendido o local e o novo dono fosse mais cuidadoso com a aparência externa. Eram tantas perguntas, odiava sentir-me alheia desse jeito, parecia ser incapaz diante de tantas incógnitas.
Aish! 
Desisto, já tinha quase derrubado aquela porta de tanto bater, eles não escutaram? Não estavam em casa? Não queriam me receber? 
Diante da última probabilidade senti meu coração falhar uma batida. Ele não estaria me evitando... Estaria? 
Não. Cresci junto daquele par de irmãos, não teria porque me repelirem justo agora, não havia motivo.

Tentava enganar meu cérebro. Falhei miseravelmente.

Uma última tentativa e nada mais.
Cerrei o punho e fui contra a madeira — acho que usei força até demais — Não chamaria por seu nome, ainda tinha um pouco de orgulho, apesar da frustração.
Novamente só pude escutar o silêncio. Era como um vácuo no lugar do coração, não ser recebida doía, corroía, lacrimejava os olhos.
Tudo bem, não seria vencida pelo desejo de ir contra minha promessa anterior e tocar novamente.
Eu partiria sem deixar qualquer vestígio de que estive ali. Nada registrado, tudo oculto.  

Porque meus pés não moviam? E realmente desejava ficar ali?

Sim. Por mais patético que soasse era a verdade.
— Desculpe, estava no banho, em que posso... — o som de sua voz estremeceu-me a alma — Sue? — sua entonação estava mais melodiosa, sem qualquer resquício da menina que deixei há sete anos atrás — Sue!
Ela me abraçou. Poxa, meu coração rasgava como se fosse de papel, minha muralha desmoronava, tijolo por tijolo. Como seu abraço, um simples afago, descongelaria minha alma de iceberg? Eu amava aquela menina, ela era uma bondade que eu precisava.
Seu calor logo me deixou. Hyeon estava incrivelmente bonita, o cabelo que caia como cascata por seu corpo pequeno, e olhos claros ainda me lembravam o céu da manhã. Sua beleza era reconfortante, acalmava como o canto de uma sereia — talvez ela fosse uma, Ariel, este nome combinava com ela.
— Porque não avisou que viria? Podia ter me preparado! Sabe que não gosto de surpresas! — A euforia não mudou, seus gestos eram grandes, como uma mímica, sentia que sua alegria preenchia tudo ao redor, as coisas pareciam melhores com ela por perto, era como um abraço de palavras. Ela precisava usar as mãos e expressões para passar seus sentimentos, como uma criança, Hyeon era tão fácil de se ler — Senti saudades.
Aquilo doeu, mas de um modo bom, como uma flecha que acerta o alvo.
Eu tinha problemas com palavras, tanto com as próprias quanto recebidas, estas já me machucaram tanto que mal conseguia lidar com discursos. 
— Também senti — claro, eu não diria mais que isso, era muito a minha cara. Por favor, Hyeon, entenda meus sentimentos por trás de tais frases simplórias.
A mais nova não me convidou para entrar, mais que isso, ela já foi agarrando meu pulso e jogando-me para dentro da morada.
Tudo estava milimetricamente organizado, ela era uma boa dona de casa, e o cheiro delicioso de pão que vinha da cozinha mostrava seus dotes culinários. 
Hyeon seguia a risca o padrão de esposa ideal desta monótona cidadela, mas não penso que ela haja deste modo por obrigação, simplesmente gosta de usar desta personalidade. Não que a esteja julgando, longe disso, afinal, há alguns anos atrás era isso que queria para mim.
Casamento, filhos, animal de estimação. Ter como única preocupação o cardápio do jantar deveria ser ótimo, a morena esbelta era o perfeito espelho dos meus sonhos.
Chega a ser irônica minha atual posição. O que eu sou? Um misto de obrigações, títulos, prêmios e deveres. Tudo isso era um sobrenome. Park. Sinto o peso psicológico deste fardo em meus ombros.
Claro, era um orgulho admitir minha linhagem, assinar "Park Sue" em qualquer documento sempre elevou meu ego, o que dirá o olhar impressionado dos demais diante disto? Eu gostava, impossível demais para se negar. Eram boas as responsabilidades, tê-las me fazia sentir segura, madura, adulta por conseguir lidar com as mesmas.
A cada lição aprendida na Instituição conseguia entrar mais neste mundo, entender o porquê de meus pais terem escolhido este caminho, compreendia e admirava. Eu era um deles, a parte das costas próxima ao ombro direito continha o devido sinal, comecei a ser marcada ao completar o primeiro estágio. 
A tatuagem funcionava daquela forma, a cada estágio concluído — equivalente há um ano — um detalhe do brasão era posto. 
Hyeon fez sinal para que me sentasse no sofá de veludo vermelho, a lareira que queimava incessante aquecia todo o ambiente, era tão quentinho ali. Só agora, admirando os móveis e a decoração simples, pude perceber com clareza a dimensão da falta que aquele lugar fazia para mim. 
Aquele foi meu lar depois do... Bem, "acidente" com meus pais. Naquela época vendi minha própria casa afim de conseguir algum dinheiro já que os demais bens estavam no domínio da Associação. Quando descobri isso não aguentei o ódio, que tipo de pais preferem deixar os bens para o trabalho do que a própria filha? Caçadores, obviamente.
Ainda lembro de minha primeira noite aqui... Ah, tão constrangedor, a primeira noite de insônia que acarretaria em outras várias. Os irmãos Jeon foram meu esteio naquele momento, o amparo que precisava, mais presentes do que meus próprios parentes .

Eles eram minha verdadeira família — sinceramente? Considerava-me mais Jeon do que Park — A foto ainda estava ali, sem poeira na moldura, em perfeito estado.

Sorri inconscientemente pegando o quadro.

— Também amo essa foto — Hyeon torna da cozinha com uma bandeja em mãos, hora do chá das três.

— Parece que nada mudou de lá pra cá — comento vagamente ainda acariciando com o polegar o vidro do porta retrato, era como tocar o passado.

 A Jeon mais nova sorri de forma sem graça, parecia triste, sua face já não continha o mesmo vigor.

— Na verdade a única coisa que continua igual são os móveis — ela diz tão pausadamente que mais parecia falar a si mesma. Ao perceber que não tinha entendido sua fala ela força um sorriso. O que está me escondendo, Hyeon? — Fiz o seu chá preferido! — começa tornando a sua típica empolgação, a morena enchia tanto minha xícara que temi transbordar — Está bem quente, mas sei que gosta assim!

Tudo bem, ela não tinha obrigação de lembrar, afinal sete anos deletam muitas coisas da nossa mente.

— Agradeço a gentileza, Hyeon, mas eu só bebo chá gelado.

Por Deus, Hyeon! Esquecer isso não é algo tão terrível pra deixar o bule cair!

Aish, realmente, a mesma desastrada de sempre.

 — AÍ! — não entendi se sua exclamação fora pelo nervosismo ou pelo chá quente ter respingado em suas mãos, talvez ambos — Me desculpe, Sue! Puxa, como posso ter confundido isso?! — novamente, ela falava comigo ou consigo mesma? — Vou limpar isso e preparar seu chá gelado!

Nunca na vida vi alguém correr tão desesperada por panos de chão.

Foi impossível não rir agora que tudo se acalmou, ainda possuía nove anos, afinal.

O ranger da porta ecoou ao mesmo tempo que depositava o quadro em seu lugar de origem.

— O QUE ACONTECEU AQUI?!

Eu congelei.

Meus músculos enrijeceram e por um segundo minha respiração saiu do modo automático.

Minha ritma não estava em seu estado normal, não era fisicamente possível um coração bater de forma tão descompassada, era? Pisquei tantas vezes a fim de recobrar a consciência ao ponto de simplesmente fechar os olhos para não desmaiar. Meu corpo... Eu não o sentia — era tão leve que sentia que podia flutuar, mas também pesado o suficiente para me arrastar ao chão.

Eu cairia de joelhos, certamente, e para que isso não acontecesse virei-me por instinto.

Era ele, tão longe da imagem juvenil a qual guardei carinhosamente em minha memória esses anos todos, realmente estava diferente, mas em mim ainda tinha a certeza que o reconheceria em uma multidão.

Continuava sendo meu retrato da perfeição, e em seus olhos continuava o brilho da minha estrela cadente.

Jeon JungKook já era o homem que a muito desejava se tornar, e graças a seus hormônios e sua ótima genética agora este era o ser mais belo que meus olhos já tiveram o prazer de encarar, tudo lhe fazia perfeito, cada traço de seu rosto esculpido por anjos lhe transbordava grandiosidade. Esse estava em um patamar de beleza desconhecido, até mesmo as estatuas gregas o invejariam — haveria possibilidade de ele ser o tão temido anjo caído? Afinal, o mesmo não era tido como o mais belo dentre os demais?

O cabelo castanho escuro permanecia rebelde, o que só rendeu-me a saudade de ajeitá-los.

Estava alto, muito alto, felizmente eu igualmente portava uma ótima altura.

Os lábios pequenos e carnudos, tão rosados que rendiam a ideia de o homem usar maquiagem. Os dentes salientes continuavam ali, para meu alívio, era a única coisa que o distanciava da figura imponente e lembrava-me que, mesmo depois de tantos anos, ele ainda era o meu menino.

Sim, era ele, e estava a minha frente.

Por que parecia tão longe? Distante... Como se temesse minha aproximação, eu representava ameaça?

É claro, ele não acredita que estou aqui, não me esperava, só está assustado.

No fundo ele está feliz.

— Sue — ele quebra o silencio, parecia querer se convencer de que eu não era um fantasma.

  — JungKook  — foi minha vez de falar, mas só disse isso, esperei tanto por vê-lo e agora não sabia o que dizer? O que aconteceu com todo o discurso que preparei no trem a caminho da cidade?

Nessa eternidade de segundos distrai-me ordenando minha visão entre meus sapatos e o chão de madeira ainda molhado pelo chá. Já o mais velho não desviou seu olhar de mim, ele parecia ainda não acreditar que estava ali, tudo bem, eu também não acreditaria.

— Precisamos conversar — tomo coragem para dizer.

Ele confirma ainda desnorteado.

   — Sim, é por isso que está aqui — as palavras saiam como um sopro de seus lábios, parece um milagre poder o entender visto a distancia que estávamos.

Respiro fundo e exclamo a pergunta que tem me atormentado desde o desembarque.

— Não recebeu minha carta?

Ele encarava-me de modo que parecia ler minha alma, como o olhar intimidador de uma criança, era uma sensação horrível, sentia-me exposta a seu julgamento.

— A que dizia que voltaria hoje?

Então ele a tinha lido.

— Porque não foi me receber na estação?

Ele olhava impaciente para os quadros na parede, parecia buscar uma resposta ou desculpa no fogo incessante da lareira.

— Estava ocupado — ele não sabia mentir, por isso preferiu optar por uma meia verdade. Assim como Hyeon ele era fácil de se ler, pelo menos em momentos de nervosismo.

 — Ocupado demais para rever a melhor amiga?

Ele suspirou nitidamente impaciente.

Estava com medo desta conversa.

Onde estava a festa de boas vindas repleta de beijos carinhosos, abraços apertados e frases bregas como “senti sua falta” ou “cresceu, hein?”?

— Ocupado demais para receber a chave da cidade das mãos do próprio prefeito.

Aí.

Essa doeu, bem, bem no fundo.

Não foi sua frase curta que tirou-me o chão, mas sim saber que ele não recorreu as suas técnicas falhas de atuação.

Eu só queria que ele contasse uma mentira qualquer, com palavras gaguejadas e pausas forçadas. Nunca quis tanto ser enganada.

Tinha perdido a estabilidade.

JungKook, de todos os momentos, precisou ser franco justo agora?

Ele iria dar-me as costas e subir para as escadas que levavam ao segundo andar, porém a voz afoita de Hyeon o parou.

— Desculpe a demora Sue, não estava encontrando panos limpos e... — parou bruscamente ao ver a figura do mais velho — Oppa! Porque tão cedo em casa?

Como uma boa irmã ela foi ajuda-lo a retirar o casaco e empurra-lo junto a mim para a cozinha.

Antes que o Jeon pudesse responder Hyeon já nos havia sentado a mesa.

 — Deve estar faminto pelo trabalho maninho, e você, Sue, pela viajem. Ouvi dizer que comida de trem é sem gosto, por isso aproveite bem — disse apontando para as vastas opções de pães e bolos dispostos a mesa.

Fizemos um breve agradecimento e começamos a refeição.

Estava tão silencioso ao ponto de conseguir ouvir as mordias de todos ali, era de certa forma constrangedor.

  — Você cozinha muito bem, Hyeon, já pode casar — brinquei tentado quebrar o clima fúnebre que se instaurava gradativamente no ambiente.

A morena riu alegre.

— Quem dera fosse eu, Sue, na verdade sou uma negação na cozinha.Com a minha habilidade sou capaz de queimar água  — pela primeira vez JungKook sorriu, tímido, mas sorriu. Provavelmente recordava de algum acidente relacionado á comida que Hyeon provocou, com seu jeito atrapalhado era mesmo bem provável — Se não fosse pela Irene provavelmente morreríamos de fome!

Essa era nova. Irene? Seria a empregada deles?

— Irene? — indago curiosa já abocanhando mais uma fatia de pão.

Hyeon se calou instantaneamente e o cenho de JungKook tornou a fechar.

Tudo bem, o que estava acontecendo ali?

Pude escutar passos, alguém descia as escadas. Espera, quem podia estar ali?

O ser misterioso foi se aproximando até chegar á cozinha, se apoiou com toda graça e postura no batente da porta e pronunciou com uma voz risonha:

— Estavam falando de mim?

Que mulher era aquela? Nunca tinha á visto nem na cidade ou qualquer lugar, certamente recordaria de seu rosto, pois esta era incrivelmente bonita. Imponente com seus cabelos loiros ondulados e de mechas grossas, olhos tão verdes como a relva protegidos por cílios grandes e curvilíneos, mas principalmente o tom de pele nada claro que possuía uma coloração rosada a denunciava como estrangeira. Talvez de província Italiana ou Alemã.

— Sue — Hyeon pigarreia meu nome, ela estava nervosa? — Esta é Irene, ela é...

— Esposa do JungKook! — suas palavras contem uma felicidade jamais vista.

Eu, melhor do que ninguém sabia o que era ter um coração partido. Então podia afirmar que, neste momento, até os cacos restantes viraram pó.

  

 

 

 


Notas Finais


Não esqueçam de comentar! Gosto muito de saber o que pensam! Talvez o próximo capítulo demore um pouquinho prá sair, sabem como é né... Final de ano, várias provas... :\
Ps: Meu olho tá doendo horrores, espero que não seja conjuntivite >-<


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