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História Made of stars - Let me go home.


Escrita por: bunnykook

Notas do Autor


É importante dizer que Yoonkook é um couple 100% nostálgico pra mim, e me faz um bem enorme sempre que eu estou numa crise existencial fodida, ou pensando demais sobre coisas que eu não deveria pensar. Eu espero que gostem dessa OS, porque começou como algo tão pequenininho, onde era pra ser apenas uma drabble, e se transformou em algo muito importante pra mim.

Ah, e me desculpem também.

Capítulo 1 - Let me go home.


Existem tantas pessoas que viram músicas e poesias, e ainda assim nunca vamos saber. Esse mundo é repleto dos fantasmas de memórias esquecidas e palavras não ditas. Memórias são coisas silenciosas, e é exatamente assim que devem permanecer.

Memórias nunca trazem nada além de dor, mesmo as felizes, porque você se lembra do quanto se sentiu bem aquela de tarde na praia, enquanto segurava a mão dele e jurava que não precisava se preocupar com o final de tudo, porque parecia tão distante.

Mas chegou tão rápido.

Jeongguk nunca esperou que eu fosse bom, ou generoso, ou gentil o tempo todo. Ele entendia meus momentos frios, e entendia até mesmo quando era difícil de entender

Jeongguk mandava mensagens as três horas da manhã dizendo querer pizza, e também as três horas da tarde dizendo que me amava. Eu ignorava todas as duas ocasiões. Jeongguk não precisava de confirmação sobre o que éramos, mesmo que meu revirar de olhos fosse considerado uma ação afetuosa.

Jeongguk nunca quis muito. Eu oferecia o presente mais caro; E ele só queria colo. Eu oferecia um jantar no restaurante mais renomado da cidade; E ele preferia me ouvir tocar o piano velho na minha sala de estar. 

Eu nunca entendi sua fixação em mim, e odiava o molhado que deixava em minha bochecha quando a beijava. Sempre reclamei de seu nariz grande roçando no meu, no que ele chamava um beijo de esquimó. E certamente me incomodava com sua necessidade de gritar toda música que passava no rádio do carro. E me incomodava ainda mais que essa necessidade acabava passando para mim.

—Alabama, Arkansas

I do love my ma and pa (Eu amo minha mãe e meu pai)

Not the way that I do love you (Não da forma como eu amo você)

Odiava que ele ficasse me olhando com aquela carinha de cachorro chutado no meio da chuva, esperando que eu continuasse a música. Eu nunca continuava. Mas ele não desistia.

—Man oh man you're my best friend (Cara, oh cara, você é o meu melhor amigo)

I scream it to the nothingness (Eu grito para o nada)

There ain't nothing that I need (Não há nada de que eu precise)

E odiava quando começava a rir contra meu pescoço, fazendo cócegas ali, e não me permitindo manter uma expressão séria. Jeongguk sempre sabia como me ganhar. Então eu continuava:

—Well, hot and heavy, pumpkin pie (Bem, torta quente e pesada de abóbora)

Chocolate candy, Jesus Christ (Doce de chocolate, Jesus Cristo)

Ain't nothing please me more than you (Não há nada que me agrade mais do que você)

Ainda que eu entrasse em sua brincadeira, ainda o olhava torto quando este se debruçava muito para cima de mim. Eu sempre tinha que passar o cinto em Jeongguk quando entrávamos no carro, e isso me fazia odiar seu jeito tão infantil. Enquanto cantávamos, ele ria toda vez que eu o empurrava de volta para o próprio banco, como se fizesse aquilo de propósito. Como se quisesse chamar atenção. O que não seria muito novo vindo de Jeongguk.

—Ah home. Let me go home (Ah, casa. Deixe-me ir para casa)

Home is wherever I'm with you (Casa é qualquer lugar que eu esteja com você)

 

Minha história com Jeongguk nunca foi como aquelas de filmes. Quando eu o vi pela primeira vez, ele estava sangrando, caído perto de uma casa, e gemendo como um cachorro no cio. Eu vou ser sincero, eu realmente não queria me envolver com aquilo, mas em algum momento de lucidez, minha mente criou vários cenários onde na manhã seguinte eu veria seu corpo morto em algum noticiário, e seus pais chorando, e eu pensaria em como eu poderia tê-lo ajudado mas não o fiz. Eu não sabia seu nome, não sabia quem ele era, e nem se talvez aquilo tudo fosse um plano de uma mente doente, e de repente ele poderia me atacar com uma faca. Eu apenas peguei seu corpo e o coloquei em meu carro, ignorando todas as regras da medicina, onde eu deveria apenas ter chamado a porra de uma ambulância. Nós não conversamos nos primeiros segundos, eu apenas o escutava chorando, mas então tudo ficou quieto. Quieto demais. E então, o lado da minha mente que me mantinha fora de problemas começou a gritar que agora tinha um corpo morto em meu carro, e eu não poderia escapar daquilo. Respirei fundo, pronto para dar de cara com um cadáver, mas quando olhei para trás rapidamente, o garoto estava bebendo de uma garrafa de vodka que eu havia esquecido no banco de trás, e ao mesmo tempo que senti um alívio passar por meu corpo, também fiquei irritado. Jeongguk me irritou desde o primeiro dia.

—Que porra você está fazendo?!— Gritei. Alternava entre olhar para o garoto, e prestar atenção na estrada, o que era uma tarefa difícil, mas eu estava completamente incrédulo.

—Morrendo.— Respondeu simplista, e eu admito que era engraçado o jeito que ele chorava e bebia ao mesmo tempo. Seu sangue manchava o banco do meu carro, e eu pensava no quanto seria um saco para limpá-lo.

—Ah, não. Você não vai morrer no meu carro. Sabe o quanto eu trabalhei pra conseguir essa merda? Você já está sujando tudo, e se morresse eu nunca conseguiria entrar aqui de novo sabendo que seu espírito provavelmente ficaria preso no banco de trás.

—Eu estou morrendo e você está preocupado com seu carro.— Eu o ouvi resmungar, seguido por uma risada fraca, e um soluço. O observei pelo retrovisor, e o vi olhando em volta. —Você está certo. É um carro legal, é modelo deste ano?

 

Mais tarde naquele dia eu fui descobrir que Jeongguk estava tentando entrar pela janela do quarto do ex namorado para fazer sua pequena vingança, já que havia o pegado na cama com outra pessoa. Mas, bem, já sabemos que não deu muito certo, e ele acabou quebrando o braço e se machucando em vários lugares, mas não foi tão grave assim, e ele não estava nem perto de morrer. Eu senti a necessidade de passar a noite no hospital com ele, e  na manhã seguinte, quando eu acordei com o pescoço dolorido por ter dormido de mal jeito naquela poltrona horrível, dei de cara com seu rosto me olhando curioso, e um pouco preocupado.

—Você precisa de ajuda pra tirar as manchas no banco do seu carro?

E, por que porras alguém se preocuparia com aquilo enquanto estava na merda de um hospital? Mas, era Jeongguk ali, e só hoje eu entendo. 

Depois de um tempo, as manchas de seu sangue no banco de trás foram substituídas por sua mochila, ou por seu casaco, e ás vezes por seu próprio corpo quando não conseguíamos esperar o bastante para chegar em meu apartamento. Nosso apartamento. Jeongguk costumava passar mais tempo jogado no meu sofá, ou perdido entre os lençóis da minha cama, do que na própria casa. Eu sempre reclamei da sua bagunça, e da mania que tinha de espalhar tudo por onde passava. Um tênis perdido na porta de entrada, e o outro no meio do corredor. Seus cadernos e livros jogados no chão da sala, e a desculpa de que depois terminaria um trabalho. Os farelos de biscoito em minha cama, e a porra da mancha de suco que deixou em meu edredom favorito. 

Porém, eu não consigo por em palavras o quão relaxante era vê-lo dormindo com a cabeça em meu travesseiro. Sua respiração tão calma, e os lábios entreabertos, com a franja caindo ligeiramente sobre seus olhos, e como as vezes franzia o nariz como um coelhinho.

Jeongguk sempre andava com sua câmera pendurada no pescoço, e uma vez eu achei um álbum em seu notebook apenas com fotos minhas. Quando o perguntei sobre o porque daquela mania, ele disse que fotografava tudo que tinha medo de perder em sua vida. A partir daquele dia meu celular era repleto de fotos suas adormecido, ou distraído. Nunca deixava que ele me pegasse o fotografando, preferia suas expressões sérias ao observar as próprias fotos na câmera, ou quando estava concentrado em seus exercícios. Mas ainda assim, minha preferida era quando íamos passar o fim de tarde na praia, e como ele fechava os olhos e tombava a cabeça ligeiramente para trás quando escurecia e as estrelas começavam a aparecer. Como se conversasse com elas. 

Uma vez, quando eu o perguntei do porque parecer tão indiferente enquanto estava sangrando em meu carro, ele respondeu que não se importaria se morresse ou não. Me contou que cada átomo de nossos corpos já haviam sido estrelas, então não iríamos morrer, apenas ir para casa.

Jeongguk era uma alma alegre e livre. Porém, seu lado obscuro era pesado demais também. Enquanto me dava carinho e beijos pelo nariz durante a maior parte do dia; Facilmente destruía minha sala de estar e gritava até ficar rouco quando se irritava. Nossas brigas eram um caos, como se fossemos nascidos para destruir. Era como a morte e a guerra colidindo, nos deixava ofegantes, e enquanto meu rosto tomava uma cor avermelhada, suas mãos tremiam sem parar. Eu nunca ousei encostar em qualquer parte de seu corpo nessas horas. Deixava que ele me empurrasse e esmurrasse meu peito da forma que preferisse, já que minutos depois tudo que Jeongguk se resumia eram lágrimas e gemidos, e pedidos silenciosos para que eu nunca o deixasse.

E como eu poderia o deixar?

Sabe quando você está no trânsito, e está chovendo demais, e você passa por baixo de uma ponte, e enquanto está ali embaixo tudo é quieto e você quase se sente em paz, e quando você finalmente sai debaixo da ponte, tudo parece te atingir um pouco mais forte do que antes?

Jeongguk era minha ponte. Era o garoto que eu amava. Um pouco bagunçado, um pouco arruínado, um lindo desastre. Assim como eu.

Na última vez que ouvi sua voz, ele gritava muito. Estávamos na rua, voltando de uma social na casa de um amigo, e ele havia se irritado quando, no meio de algumas brincadeiras, me perguntaram se eu amava alguma coisa na minha vida que não fosse dormir. Eu respondi que amava minha cama. É claro que não levaram a sério e apenas riram, mas, Jeongguk não. Jeongguk esperou até que fossemos embora, e foi só colocarmos o pé para fora do apartamento que começou seu sermão sobre Como Min Yoongi era um idiota e Que não sabia o porque continuava se afundando nisso.

A questão é que eu nunca disse para Jeongguk que o amava. Enquanto ele cantarolava as três palavras em meu ouvido o tempo todo. Quando chegava da aula. Quando me mandava mensagem me desejando um bom trabalho. Quando ia dormir. Quando eu demonstrava afeto primeiro. Quando estava ofegante abaixo de mim, e suas unhas fazendo uma constelação em minhas costas. Jeongguk me amava, e era um fato impossível de negar.

Eu fiquei calado enquanto ouvia suas reclamações, e quando soluçou me pedindo para olhar para ele, já que eu estava andando a três passos na sua frente. Eu não olhei. Estava ocupado demais tentando organizar a bagunça em minha cabeça, e formulando alguma frase que o fizesse parar de gritar tanto. Alguma coisa que eu pudesse dizer e o fazer entender que era a porra da coisa mais importante na minha vida.

—Yoongi!

Foi a última coisa que ouvi, antes de um estrondo ensurdecedor se fazer presente no local. Sua voz carregava tanta mágoa, e um desespero para que eu o olhasse. Eu deveria ter olhado. 

Naquele momento, foi como se tudo, de repente, passasse em câmera lenta. Tudo ficou quieto demais, mas, diferente da primeira vez que vi Jeongguk, eu não conseguia respirar, eu não conseguia me virar, e a única coisa que se parecia com o dia em que ele estava sangrando no meu carro, era meu medo de dar de cara com um cadáver. 

Só voltei a mim mesmo ao ouvir um grito feminino dizendo para alguém chamar a ambulância, e então me virei. E meu coração pareceu despedaçar por inteiro. Jeongguk estava tão pálido, havia uma poça de sangue ao seu redor, e um pouco saindo de sua boca e nariz também. Eu me agachei ao seu lado, tirando a franja de seu rosto, e só percebi que estava soluçando quando vi minhas lágrimas pingando em sua bochecha.

Jeongguk sempre me disse que eu era feito de estrelas temperamentais e rabugentas. Mas, Deus, se ele me dissesse para brilhar, eu me destruiria em milhões de pedacinhos para achar uma parte clara em mim, apenas para formar uma constelação para guiar seu caminho até em casa. Eu escreveria poemas sobre cada partezinha que ele teima odiar em si mesmo. Eu ficaria em pé nas sombras dentro de sua alma, e o diria que não tenho medo do escuro.

Eu sinto falta do jeito que seus dedos se movem como o oceano ao tirar a própria franja dos olhos para olhar nos meus, como se soubesse que eu não sou nenhum anjo, mas criaria asas apenas para levá-lo para longe daqui.

A primeira vez que disse que o amava foi quando ele não pôde ouvir. Todas aquelas máquinas ligadas em seu corpo, ele estava adormecido, mas não parecia relaxado. Estava muito quieto, e a inquietação de Jeongguk foi o que sempre me fez o admirar. Era tão irritante, e me fazia o odiar por gostar tanto daquele fogo.

—Eu amo você.

Já perdi a noção de quantas vezes repeti a mesma coisa sem parar. 

—É tudo um saco, Jeongguk. O mundo, as pessoas. Como podem serem feitas de estrelas?

Seu silêncio sempre gritou mais do que todas as horas que passava tagarelando sem parar em meu ouvido. Agora era eu quem ficava com a garganta seca de falar, falar e falar, e não obter uma resposta.

—Você não pode amar alguém sem amar a si mesmo primeiro. Isso é uma mentira, sabia? É só.. Pura merda. Eu nunca amei a mim mesmo. Mas, você.. Jesus Cristo, eu te amo tanto que as vezes esqueço como é me odiar.

Todo o tempo que você passa internado naquela droga de hospital, preso naquela droga de coma, isso tudo só deixa mais fácil com que minha sanidade desapareça por completo. E, semana passada me perguntaram se eu já cheguei na época mais feliz e triste da minha vida. Eu não entendi muito bem o que aquilo queria dizer, mas então fui explicado que todo mundo, em algum momento, chega no ponto alto de sua vida, que, ironicamente, por ser alto demais, acaba sendo também o mais baixo, já que se houver um tombo, o estrago vai ser horrível. Bem, sim. É claro que já cheguei. Por que? Porque nada me deixa mais feliz, e nada me deixa mais triste do que você.

Então volta, Jeongguk, porque meu edredom faz um frio insuportável, e minha sala está arrumada demais. Volta, porque eu já não tropeço mais em seus sapatos, e meus armário estão vazios de doces. Volta, porque semana passada eu chorei ao ver que a mancha de suco finalmente havia sumido. Volta, porque eu já não me lembro a letra de Home, e o banco de trás do meu carro parece vazio demais.

Volta. Ou eu vou para casa.


Notas Finais


Você todos são feitos de estrelinhas <3


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