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História Madness Queen - XVII. Losing Control


Escrita por: GloriusCatTree

Notas do Autor


Primeiramente, muitíssimo obrigada pelos comentários. Vocês são uns serumaninhos lindos!
Segundamente, essa palavra não existe - mas ontem eu disse espreizar então posso falar qualquer coisa - acho que até agora esse é o capítulo que eu mais gostei de escrever *-*

Eu não demorei viram? Uhuuuuul, palminhas para mim.
E perdoa os errinhos, porque a vida é assim kkkk errar é humano e permanecer no erro é errado.

Ta gente deliciosa! Ah é, esse banner na verdade é um GIF contudo, porém, entretanto, toda via... aqui não dá pra por o coisinha se mexendo.

Capítulo 17 - XVII. Losing Control


Fanfic / Fanfiction Madness Queen - XVII. Losing Control

Em minha opinião existem três sentimentos que são únicos, eles são os piores de se sentir e são totalmente distintos, são sentimentos que você não consegue ignorar mesmo que arranque um pedaço do seu cérebro. Medo, culpa e aquilo de quando alguém sente pena de você, angústia.

Era desse jeitinho que eu me sentia agora. Procurei no Google e vi que eles podem se tornar início de um quadro de depressão, eu estava deprimida, não ao ponto de cortar meus pulsos, mas eu estava estranha com essa situação sobre o Bruce, até mesmo intrigada. Eu sentia uma vontade enorme de passar todo o dia na cama, e a noite, e o dia seguinte, mas o meu telefone não parava de tocar e as mensagens da Alison não paravam de chegar a cada segundo naquela porcaria de secretária eletrônica.

 

Não era um direito meu passar o dia todo encarando o teto do meu quarto enquanto me afogo nessa culpa? O que Bruce tanto via em mim? Ele praticamente me conheceu bêbada, e não é só isso, naquela época eu estava sempre metida em escândalos. Eu era um rosto bonito, mal tinha personalidade, fazia o que me mandavam fazer e não discutia com ninguém.

Agora eu sou uma criminosa, uma farsa e um dia vou ser presa e pagar pelos meus crimes.

 

— … Matt disse que vai passar aqui em casa às oito. Você vai sozinha? - ouvi a voz abafada da Alison pela milésima vez.

 

Em cima da minha penteadeira havia um cheque e ele era realmente a única coisa na qual eu estava pensando no momento, um número seguido de um punhado de zeros. Uma boa ação para cobrir toda a merda em que eu estava metida.

 

— Quem é Matt? - fiz o esforço de rolar na cama e apertar o botão para atender.

— Um amigo da empresa, ele me chamou para ir.

— Não seria Matthew Donovan, seria?

— Esse mesmo.

— Ele é um bosta. - falei sem um pingo de preocupação em irritá-la. Aquele mauricinho provavelmente estava usando a Alison para se aproximar do Bruce e conseguir uma promoção. Eu conhecia a família Donovan, investem em biotecnologia e eram um bando de aproveitadores. — Não gosto dele.

— Eu não gosto de você sabe quem, mas não fico chamando ele de bosta por aí. - ela estava brava. — Pelo menos eu não vou sozinha.

— Estou começando a me arrepender.

— Do Coringa?

— Não. Bruce. - suspirei cansada de tanto pensar naquilo. — Se você visse como ele saiu transtornado…

— Ele me disse que você estava machucada.

— Um corte minúsculo em baixo do olho. - toquei de leve o ferimento que já cicatrizava. —  Não é muito bom discutir com o Coringa pela manhã.

— Você tem que parar de orbitar ao redor dele, um dia vai se queimar.

— Estou cansada. Com vontade de desistir de tudo, eu gosto do que eu faço, mas odeio causar essa dor nas pessoas. Deixar você preocupada, o Bruce triste, até o Albert está incomodado com a situação, mas os negócios me prendem aqui… eu só queria uma noite em algum lugar bem relaxante, sem problemas, sem apreensões.

— Vamos tirar umas férias então! - Alison soou animada. — Vamos para Las Vegas, jogar nos cassinos, ficar bêbadas e casar com gogo boys na igreja do Elvis Presley. - rimos juntas. — Podemos fazer isso no feriado.

— Vai haver um desfile no feriado, alguma coisa importante de Gotham. - tentei me lembrar do fato.

— Aniversário de Gotham. - ouvi ela praguejar um droga bem baixinho. — Falando em aniversário, a sua mãe me pediu para te avisar sobre a seu aniversário e ela quer que você vista amarelo.

— Por causa das margaridas? Vai parecer que tenho anemia.

— Você conhece a sua mãe…

— E você me conhece, não vou vestir uma coisa que me deixa horrível só porque ela quer. - a indignação foi tanta que até me levantei da cama para escorar na cabeceira. — Não sei que roupa vou usar, mas não vou de vestido amarelo e se ela reclamar diz que vou de burca. Já estou fazendo muito comparecendo á essa festa, eu não pedi por nada disso.

— Loreen, você está mesmo estressada. Que tal agendar uma consulta com um psicólogo, desabafar pode te ajudar.

— Vai ajudar no que? Que merda eu vou falar pra ele? Oi doutor, eu ando muito estressada com a minha vida no crime, também estou fugindo dos meus pais e de um homem maravilhoso. Ah é, e eu gosto de um doido que é um perigo para a humanidade, mas to bem. - ironizei.

— Aí vai tomar um chá então, eu tenho que trabalhar. - desligou irritada.

— Droga!

 

Levantei com brusquidão da cama, empurrando as cobertas com os pés como se a culpa fosse delas por eu estar me sentindo tão mal. Café. Fui passar um café bem forte.

 

Deus sabe como eu me controlei para não pegar aquele celular e ligar pro Bruce pedindo desculpas por ser uma vadia desmiolada, mas ao invés de me humilhar pensei em fazer algo mais produtivo. Por isso troquei meu pijama por um shorts jeans, uma baby look branca lisa, um blazer preto, meia calça preta e botas da mesma cor. Coloquei uma máxi colar de correntes douradas com pedras vermelhas e um conjunto de pulseiras que combinavam.

Ignorei as ligações do Grigory enquanto procurava a chave do carro e desci para a garagem.

 

É, eu tinha mil problemas e ia fazer compras. Primeiro porque isso iria me relaxar, segundo porque eu tenho que comprar a porcaria de um vestido para a festa beneficente em que eu iria sozinha. Sozinha! Eu odeio essa ideia, infelizmente odeio ainda mais a possibilidade do Coringa ir atrás do Bruce.

O que me deixou ainda mais na bad foi a música que tocava no meu player, Dead to me de Melanie Martinez. Assim não dá, até a música está colaborando para que eu me jogue da ponte. Desliguei aquele monstrinho para ficar apenas com a minha mente cheia de pensamentos ruins, minha culpa e a raiva que eu sentia de mim mesma.

 

Percebi que estaria sempre sozinha quando comecei a andar pelos corredores do shopping. Eram imagens perturbadoras; crianças felizes com seus pais, garotas da minha idade com meia dúzia de amigas rindo alto de qualquer coisa, adolescentes paquerando, casais de namorados sorridentes andando de mãos dadas e eu, Loreen Johnson, caminhando sozinha. Sua companhia? Um cartão sem limites. Porque eu nunca faria nada daquilo.

E ainda parecia tão pouco, eu precisava de algo mais substancial.

Uma angústia forte me abateu tomando de mim o fôlego, tive de me sentar em um banco de madeira polida em um dos corredores. Sem perceber abaixei a cabeça para não vê-los, parecia que a felicidade dos outros me atingia como tiros de uma arma de paintball e fraturavam meus pulmões e meu cérebro.

 

— Você está bem? - uma voz macia preencheu meus ouvidos junto a um toque em meu ombro.

— Não. - minha voz saiu falha, minha respiração entrecortada com a minha repentina falta de ar.

— Devo pedir ajudar? - ele estava preocupado.

— Não. - eu não conseguia formar uma frase digna. — Só preciso de um tempo. - me esforcei para dizer.

— Tudo bem. - sentou-se ao meu lado.

 

Minha vontade foi mandar a pessoa se afastar, não porque eu queria ser grosseira, mas era perigoso, podia ter alguém me espreitando.

Fui subitamente tirada do meu transe quando ele me ofereceu uma garrafa de água gelada, aceitei e bebi um pouco sentindo meus pulmões voltarem a funcionar pouco á pouco. Ainda assim o que eu sentia era esmagador, uma coisa que me afundava e ao mesmo tempo me desesperava. E eu não podia fazer nada para sair.

 

— Obrigada. - estendi a garrafa de volta. Fiz um esforço sobre humano para conseguir encará-lo. Era um desconhecido. Um homem muito bonito de olhos verdes e cabelos loiros, sua pele era levemente bronzeada e ele tinha um ar jovial de quem vivia na Califórnia.

— Melhor? - seu sorriso era gentil. — Não gosta de multidões?

— Como assim? - afinal o shopping estava praticamente vazio se comparado aos finais de semana.

— Seu pequeno ataque de pânico. - olhou-me preocupado. — Você tem agorafobia?

— Eu… não. - franzi a testa tentando entender o que ele dizia. — Isso nunca aconteceu antes.

— Você deve estar sob muita pressão. Ah! Meu nome é Dilan Ferraza.

— Loreen. - apertei a mão que ele estendeu.

— Você tem um aperto de mão forte. - ele riu surpreso e eu me permitir sorrir. — Quer conversar? Eu sou um bom ouvinte. - Dilan tirou um pequeno cartão do bolso e me entregou. Então ele era médico. — Psiquiatra. - comentou quase como se pudesse ler meus pensamentos. Por outro lado, eu levantei num sobressalto assustando-o.

— Não sou louca!

— Eu sei. - foi a sua vez de se levantar, calmo como um monge. — Mas as vezes não podemos falar o que queremos, guardamos e remoemos isto dentro de nós, o que não é bom. Não pense em mim como médico, eu sou um estranho que topou com você em um shopping e então fomos tomar um chopp e conversar sobre coisas que não contamos a ninguém.

— Sério? - eu o olhei desconfiada, ele acenou afirmando suas palavras. — Prefiro suco de morango.

— Suco de morango então. - falou animado, satisfeito com a minha decisão.

 

Sentamos em algum lugar afastado da praça de alimentação. Eu com meu suco e Dilan com um milkshake de limão. Se a situação era estranha? Magina…

— Um adulto tomando milkshake de limão? Que vergonha. - brinquei fazendo-o rir.

— Ei! Isso soou muito ofensivo. Eu sou um adorador de junk food.

— Sei… - falei vagamente balançando o canudo dentro do meu copo. — Você não é de Gotham, né?

— É tão perceptível assim?

— Você não é pálido, não tem olheiras, seus ombros estão relaxados. Além do mais, você tem um ar de serenidade que nenhum assalariado de Gotham tem.

— Mas eu sou um assalariado de Gotham. - inclinou a cabeça para o lado e estalou a língua no céu da boca. — Desde a semana passada. Trabalho com pacientes nível cinco no Asilo Arkham.

— Ah… e o que são pacientes nível cinco? - perguntei curiosa.

— Algo entre depressão clínica e graus avançados da esquizofrenia. - respondeu inseguro. Hum, deveria ser algo sigiloso.

— Não é perigoso?

— Menos que os pacientes nível sete. - falou antes de tomar um gole do milkshake.

— Tipo Charles Manson? - brinquei para descontrair.

— Tipo isso. - ele deu de ombros. — Aquele que fugiu meses atrás… como era mesmo o nome? - coçou a nuca forçando a se lembrar. — Coringa. - meu coração disparou, um arrepio transpassou minha coluna. — Eu ainda não estava aqui, mas ele estava trancado no nível sete, terapia intensiva e tal.

— E você leu a ficha dele? Algum arquivo? - Dilan me olhou estranho. Droga, eu me afobei. — Deve ser um caso curioso.

— Bem difícil. Não é muito ético te contar sobre isso, mas acredito que sofra de transtorno de personalidade antissocial. - ditou sério e eu não entendi porra nenhuma, mas fiquei curiosa. — É um quadro que bate bastante com ele.

— Pobre homem. - pobre de mim, isso sim! — A família deve sofrer.

— Ele não tem família. - suspirou melancólico. — Sem família, sem nome, sem origem. A única coisa que sabemos é a sua idade e ainda não há certeza porque foi extraída num exame de sangue. Em algum momento da vida dele suas digitais foram removidas, como se tivessem sido queimadas e isso impossibilita a identificação em qualquer banco de dados.

— Você acha que ele faria algo assim? - porque eu achava. — É doentio.

— Uma das características do transtorno de personalidade antissocial é o desrespeito pela segurança, tanto dos outros quanto a própria. E impulsividade.

— Ele não é impulsivo. - murmurei sem pensar.

— O que?

— Ah! Você já deve ter visto as coisas mirabolantes que ele fez, não podem ter sido por puro impulso. — respondi rápido.

— Mas não estamos aqui para falar dele. E qual é a dessa sua agorafobia?

— Não sei. - tomei um gole do meu suco. — Tenho estado em alerta, o tempo todo. Eu não tenho medo das pessoas, foi apenas um mal estar.

— Falta de sono?

— Pelo contrário. - ri. — Nos últimos dias eu durmo onde encosto, outro dia dormi lendo um documento, acabei pegando no sono em cima da minha mesa e a minha secretária me pegou babando em cima de um contrato importante.

— Eu fiz isso no meu trabalho de conclusão de curso. - comentou distraído. — Passei dias a base de energético e café.

— Não terminei a faculdade. Mas ao contrário do que minha mãe achava, eu conseguir “vencer” na vida, administro a Farmac International. Quem não gostou muito foi meu pai, ele queria que eu herdasse o banco.

— Está feliz com a sua vitória?

— Foi por vingança. - respondi constrangida. — Uma vingança que foi por ralo abaixo.

— Você é de escorpião?

— Não. - ri com a piada idiota. — Áries.

— E o que deu errado?

— Eu me apaixonei por ele ao invés de me vingar.

— Que foda. - Dilan sacudiu a cabeça com um semblante tenso. — Eu sou de sagitário, nunca tentei me vingar de alguém.

— Nem tente, não vale a pena. Estou falando sério, esse é o único conselho bom que eu posso dar a alguém. - falei com humor.

— Mas você pelo menos está com ele? - sua pergunta veio cheia de expectativa.

— Dilan, se você o conhecesse não me olharia cheio de animação. - era engraçado falar sobre o Coringa com alguém de fora, que não sabia nada sobre isso. — Ele é doido.

— Talvez eu possa ajudar. - ele brincou, mas o pensamento que me ocorreu foi: só se for um dos médicos nível sete.

— Vou tentar empurrá-lo para uma consulta. - entrei na brincadeira. — Mas enquanto isso não acontece eu preciso comprar um vestido.

— Vamos comprar um vestido então. - ele se levantou segurando o milkshake e eu o olhei boquiaberta.

— Você vai comigo?

— Vou.

— Com esse milkshake ridículo?

— Sim, e enquanto isso vou te contar sobre como a minha ex tentou colocar fogo na minha casa. - o jeito natural com que ele falou me espantou. — Tô falando sério.

— E por que ela fez isso? - perguntei enquanto andávamos. — Ela te pegou na cama com outra?

— Quase… - ele fez aquela coisa de inclinar a cabeça e estalar a língua. — A outra na verdade era outro.

— Você é gay? - eita porra! Essa me atingiu como um raio. — Desculpe. - disse ao perceber que tinha chamado a atenção para nós. — E eu já estava pensando em te apresentar para a Alison.

— Eu gosto de dizer que não tenho predileção. Amor humano, sabe? As pessoas precisam disso.

— Estou impactada.

 

Mas logo passou, de repente conversávamos como se nos conhecêssemos há anos. Dilan não tocou mais no assunto sobre Coringa e nossa coisa indefinida, entretanto falou e falou e falou sobre suas aventuras amorosas que não eram poucas. Eu tinha a impressão que ninguém sabia sobre ele, provavelmente se escondia sob a fachada de um médico certinho. Eu o entendi.

 

E entre tantas lojas e cores eu escolhi a merda do vestido, um Dior preto e longo de decote generoso e degradê branco na saia.

 

— Eu quero que você vá.

— Onde? - me olhou confuso após jogar o copo vazio no lixo.

— A festa beneficente, venha comigo, por favor.

— Mulheres como você não saem por aí pedindo acompanhantes para festas.

— Eu tive que rejeitar um convite.

— Por causa do doido? Ele não vai com você? - esse jeito descontraído de falar era muito engraçado. — Tá, vai. Eu faço esse sacrifício.

— Obrigada.

 

Nos despedimos após trocar nossos números e fui para o meu carro me sentindo leve, Dilan havia sido uma distração muito boa e inesperada. Se eu o tivesse conhecido a meses atrás teria mandado ele ir pastar no inferno, odiava pessoas tagarelas porque eu não sabia ouvi-las, definitivamente não tinha paciência. Mas parece que o tempo tende a mudar as coisas e agora até eu havia me tornado uma pessoa mais comunicativa.

 

Estava me sentindo melhor após o susto no shopping. Acabei rindo quando uma mensagem chegou ao meu celular, era Dilan dizendo que achava uma droga ter que combinar a gravata dele com o meu vestido e antes que eu pudesse responder outra mensagem chegou, nela havia um endereço que me levaria às docas do outro lado do porto de Gotham, o depósito para onde Coringa tinha levado Alison.

 

Passei os próximo quinze minutos tensa e curiosa. Estacionei ali perto e sai do carro ajeitando os óculos de sol em meu rosto, eu sempre deixava algum no porta-luvas e mesmo que não estivesse fazendo sol decidi que ninguém precisava encarar minhas olheiras mal cobertas por base e pó.

 

O que chamou minha atenção quando entrei no local, não foram os homens do Coringa armados formando um círculo ao redor dele, nem as risadas altas do idiota, foram os gritos dolorosos de um homem junto a um cheiro de carne queimada.

Não precisei pedir licença, ao me verem o cães adestrados abriram espaço. Finalmente pude ver, um cara forte e negro estava acorrentado em uma cadeira, seus braços presos em cima de uma mesa onde tinha um suporte parecido com um pequeno fogareiro, em cima dele vi um pequeno recipiente de metal com água fervendo, a coloração estava num tom claro de vermelho.

O homem ofegava e suava, seu olhar se dirigiu a um Coringa parado a sua frente sorrindo de forma doentia.

 

— O que está acontecendo aqui? - perguntei andando até parar ao seu lado, consegui enxergar Albert ao fundo desconfortável com a situação. — Quem é ele? Meu Deus, que cheiro horrível!

— Eu chamo de truque da luva. - então ele pegou a mão do sujeito e enfiou na água fervendo, o grito foi agudo seguido de um pedido de misericórdia. Após alguns segundos Coringa tirou a mão dele de dentro do troço e puxou as peles que soltavam do tecido queimado. Eu quase gritei de agonia junto com o homem. — Viu? É como uma luva. - riu orgulhoso com o próprio feito.

— Você tem um bom motivo para isso? - engoli o sermão que eu estava preparada para disparar frente a sua crueldade.

— Ah, sim! Sim, sim. Eu tenho sim. - ditou com a voz arrastada, num teor de ensandecimento que fez com que eu me afastasse o passo que deu em minha direção. — Não é mesmo Taylor? - virou a cabeça em direção ao homem acorrentado. — Eu peguei esse garotão tentando invadir isso aqui. Recentemente descobri que ele pertence ao grupo de vadios que tentou me roubar no porto.

— Ok…

 

Coringa estava tão estranho naquela aura psicopata que eu só pensei em me afastar e assistir a tortura enquanto ele tirava mais informações do tal Taylor. Um tempo se passou, nem tão longo, mas também não muito curto; a mão do rapaz era sangue e carne exposta. Coringa praguejou um xingamento quando não ouviu um grito de dor, provavelmente as terminações nervosas do pobre coitado já não existiam mais, sua sensibilidade era mínima.

Mas ele arrumou outro método, pensei que fosse fazer o mesmo com a outra mão, não, Coringa se entediava fácil. Acompanhei com os olhos sua caminhada de passos ensaiados até um dos homens que trabalhavam para ele, tomou das mãos dele um alicate de ponta achatada.

 

— Um nome. - aproximou-se do prisioneiro quase desacordado, deu-lhe um tapa forte no rosto e por consequência a cadeira caiu. Eu franzi a testa em uma careta dolorosa observando o que se passava. Taylor era dor, sofrimento e raiva, seus olhos fuzilavam o torturador. Coringa por outro lado, estava mais do que satisfeito, os gritos de dor que preenchiam seus ouvidos era a sua sinfonia favorita.

 

Uma gargalhada escapou da sua garganta após arrancar uma unha da mão boa do negro.

 

Não tinha um pingo de remorso em seus olhos e a palavras de Dilan ecoou em minha mente, ressaltando a falta de consciência do Coringa para com os outros.

Ouvi Taylor dizer que não sabia o nome, que o homem que havia contratado eles não revelou o nome, mas tinha uma tatuagem de dragão no pulso. Minutos depois seu corpo jazia inerte sobre a cadeira, em sua cabeça uma bala alojada.

 

— Todo esse exercício me deu fome. - gesticulou com a Glock dourada na mão. Eu engoli em seco quando ele se aproximou de mim com aquilo engatilhado. — Comida chinesa?

— Claro. - respondi receosa evitando encarar o morto.

— Limpem essa bagunça meninos. - ditou em bom humor recarregando a arma, um outro lacaio apareceu e entregou dois cartuchos cheios para ele. — Está armada?

— Eu estava no shopping.

— Ótimo. - revirou os olhos antes de assobiar. Olhei para o lado e vi Um se aproximar com uma caixa nas mãos. — Não vai pegar? - sua fala mansa me instigou a tocar a tampa do invólucro.

 

Dentro do embrulho havia uma pistola Taurus, não me espantei com o design chamativo da arma, era a cara dele fazer essas coisas, mas era bonita, isso não dava pra negar. Era preta, com a base vermelha, um traçado delicado dourado desenhava a arma entre as pequenas pedras de diamantes como se fosse o galho seco de uma árvore segundo até o final do cano por onde a bala sairia.

 

— É minha? - nem percebi a empolgação na minha voz, só quando voltei a olhar para Coringa e ele repuxou um dos cantos dos lábios avermelhados num sorriso ladino nada parecido com a psicose de antes.

— É sua. - respondeu estendendo a mão sobre meus óculos e os tirou de mim para guardá-los no bolso do seu blazer branco. — Assim é melhor.

— Não é muito romântico dar uma arma a alguém. - comentei provando a leveza da arma. — Obrigada, é muito bonita.

— Então vamos deixar isso mais romântico. - Coringa enlaçou minha cintura com um braço conduzindo nossa caminhada até um Mazda Shinari branco e sob o meu olhar confuso ele sorriu abertamente. — Vou te levar para jogar tiro ao alvo no Bairro Chinês.

— Você tem problemas demais com a Tríade. - não tentei esconder minha preocupação. — Eles são um grupo grande.

— Eu sou grande! - bradou irritado dando a partida no carro. — Esses chineses são burros. Você mesma diz que eles são um grande número, mesmo assim, não usam isso ao favor deles. Eu mato um líder e eles simplesmente mandam outro; não sabem e muito menos possuem coragem para me tirar do poder.

— Recomendarei Game of Thrones, acho que podem aprender alguma coisa sobre usurpar o trono com isso.

— Faça isso. - inclinou a cabeça para me encarar. — Eles roubam seu lugar ao sol também, pirralha.

— Meu lugar ao sol? Que lugar é esse que eu ainda não achei? To meio perdida, desculpe. — exagerei no sarcasmo em meu drama pessoal. — Onde fica esse lugar?

— Hoje você está engraçadinha.

— E você irritado. - rebati e me virei para olhá-lo, reparei em como ele contraia a mandíbula com força. — Sei que tem alguém metendo a mão no nosso dinheiro e tentaram te roubar, mas eu vou dar um jeito na grana e agora estamos indo prestar contas com os chineses ladrões. Então, o que tanto te enerva?

— Você acha que é apenas isso? - não entendi o que ele quis dizer. — Acha mesmo que não existem outros negócios por trás disso, mais problemáticos e até interessantes? Você vai resolver essa merda com as drogas, docinho. Porque se você não tivesse inventado essa ideia de me afrontar eu nunca teria que me juntar a você. E eu não estaria perdendo a minha grana.

— Então a culpa é minha? - não levantei o tom da minha voz, também procurei contar até dez e não gritar. — Se você é tão bom assim, por que não vai sozinho até lá?

 

Ele não respondeu, isto me ressentiu mais ainda. Como ele podia me dizer essas coisas quando eu perdia uma vida por sua causa? E minha sanidade, aos poucos eu a sentia esvaindo; o ataque de pânico no shopping era apenas mais um aviso. No entanto Coringa não se importava, as coisas estavam fugindo do seu controle e essa era a sua prioridade, lidar comigo era um estorvo. Eu não queria ser um estorvo.

 

— Não vou com você. - proferi baixo. — É melhor você ir sem mim.

— Não começa com o sentimentalismo. - sua frieza veio ameaçadora.

— Estou cansada. Acho melhor ir pra casa ou vou acabar te atrapalhando. - não iria discutir, não desta vez. — Você pode não saber, mas eu tenho uma uma vida fora disso, ou pelo menos deveria ter. E ela inclui meus próprios problemas.

Awn… você está cansada? - debochou. — Está cansada? O problema é seu! O dinheiro dessas armas também vão pro seu bolso então é melhor você estar bem disposta para descarregar esse pente na cara daqueles filhos da puta.

 

Eu ia descarregar a arma na cara dele, mas infelizmente ele tinha razão e agora os negócios teriam de vir em primeiro lugar, de certa forma eu também seria prejudicada caso a Tríade Chinesa conseguisse por as mãos na mercadoria, principalmente por não poder cometer deslize algum com Gustaf, este sim estava louco pra enfiar uma bala na minha cabeça.

 

Não protestei mais, meu psicológico pedia arrego e praticamente levantava uma bandeira branca desejando fuga daquele campo de batalha. Então senti meu celular vibrar, um convite eletrônico para um brunch no sábado na mansão Wayne. Essas pessoas ricas de Gotham não curtem muito o sossego.

 

— Palmas para a otária que vai aparecer sozinha. - murmurei relendo a mensagem. — Pra variar.

Hum? - seu desinteresse era claro. Coringa olhava para a rua, provavelmente pensando em algum novo método de tortura.

— Nada. - não pensei que minha voz fosse soar tão cortante.

— Chegamos. - ele estacionou e antes que eu pudesse sair ele segurou meu punho. — Concentre-se, pirralha.

 

Saindo do carro percebi que outros três carros vinham atrás, todos com os fiéis seguidores do babaca ao meu lado. Ele foi na frente, seu andar poderia ser comparado ao aspecto de uma cobra prestes a dar o bote; elegante, sedutor e frio. Sua paciência estava por um fio e isso inquietava a todos fazendo  cada face presente encher-se de apreensão.

 

Entramos em um restaurante simples decorado com tons de vermelho e gueixas desenhadas nas paredes, o cheiro de tempero e especiarias era forte, a temperatura lá dentro era alta e a quantidade de pessoas parecia fazer alguns graus aumentarem.

Os clientes e alguns funcionário olharam para nós, um garçom avançou para os fundos onde seu chefe deveria estar.

 

— Tem muita gente aqui. - falei notando famílias ali dentro.

— E daí?

— Há crianças aqui. São apenas pessoas inocentes... - pedi vagamente sob o olhar preocupado de uma senhora acompanhada por duas crianças que eu julguei serem seus netos. — Por favor.

— Essa sua moral me irrita. - qualquer coisa te irrita. Encarei seus olhos para mostrar que eu falava sério. — Como quiser, boneca. - ouvi o estalo do seu pescoço. — Saim! - ordenou contrariado.

 

As pessoas começaram a sair apressadas evitando cruzar olhares com qualquer um de nós; a senhora que eu tinha visto aproximou-se com as crianças e murmurou um agradecimento para mim. Meu coração se apertou num misto de emoções abstratas e antes que eu pudesse dizer algo o barulho das persianas por onde o garçom atravessou chamando minha atenção.

Asiáticos em geral não fazem meu tipo, mas aquele era até formidável, não era nenhum gordo oleoso com barbicha e trocentas tatuagens. Era magro, alto e trajava um terno azul marinho com abotoaduras .

Foi quando ele passou a mão direita nos cabelos negros que eu pude ver uma tatuagem de dragão em seu punho. Tão novo e já está perto da morte.

 

— Isto foi demasiadamente rápido. - ele disse entre um sorriso forçado.

— Você é qual? Xao Feng, Lian Hua, Mao Tsuki? - Coringa indagou com seu deboche habitual. — Vocês asiáticos são todos iguais, nunca sei distinguir. Escória por escória, tanto faz.

Hum. - o chinês soltou um riso anasalado pedindo para que os seus amiguinhos baixassem as armas. — Raymond Chen. Presumo que esteja incomodado com o troco.

— Ah! Então estamos brincando? - aquele sorriso macabro surgiu em Coringa, ele andou em direção ao asiático e parou na frente dele. — Eu pessoalmente prefiro jogos. Sou um ótimo jogador Raymond, adoro uma boa competição. Mas vocês não são muito bons nisso e ficam se multiplicando no meu território como pinos de boliche, eu preciso ficar fazendo strike atrás de strike. Isso é cansativo… entediante e eu de certa forma gosto mais de poker.

— Tenho uma proposta, então. - o sorriso arrogante do mafioso equivalia ao do Coringa. — Vamos jogar. Ambos somos homens e ocupados, nada melhor do que um jogo prático. - Raymond estendeu a mão para um dos seus homens e pegou uma arma, uma pistola calibre 38 com tambor. — Acredito que todos conhecemos este jogo.

— Uh...adoro. - meu coração acelerou quando Coringa respondeu sem hesitação alguma.

— Ganhe o jogo e me terá morto, além de uma bela grana lhe esperando em meu cofre… - sua cabeça virou lentamente para os lados, os olhos negros pousando em mim. Merda! Eu sempre me ferrava. — Se eu ganhar; você morre, a Tríade fica com Gotham e eu mostro a sua garota o que é um homem de verdade.

— Lamento, isso não será possível. - sentir certa raiva em sua voz. — Eu já mostrei a ela o que é homem de verdade. - sua fala sob o sorriso mal intencionado fez meu rosto queimar.

 

Enquanto Raynard tirava as balas da arma eu me aproximei do Coringa, não queria que ele fizesse isso, mas impedi-lo seria impossível.

Seus olhos azuis voltaram brilhantes para os meus e eu constatei que ele se divertia.

 

— Não quero que morra. - sussurrei.

— Estou numa maré de sorte. - disse cheio de convicção.

— Não morra. - ordenei séria, ele sorriu pequeno.

— Você não se verá livre de mim tão já, amor. - deu de ombros.

— Vamos logo com isso. - o chinês desgraçado fez um gesto com a arma e eu me afastei com ondas de raiva emergindo em mim.

— Primeiro as damas. - Coringa reverenciou exageradamente arrancando um riso nervoso do outro.

 

Lentamente ele levou a pistola à cabeça e apertou o gatilho. Nada, apenas o rolar do tambor foi ouvido.

 

— Sua vez. - entregou a arma para Coringa. Achei que teria um ataque cardíaco quando o vi girar o tambor e apontar a arma para a própria cabeça, reprimi minha vontade de gritar para que parasse. — Ei Raymond! Sabe o segredo de uma boa comédia? - sorriu prepotente ao apertar o gatilho. Meu corpo gelou enquanto aquele palhaço imbecil se divertia em sua tentativa suicida. — Tempo… - afastou o cano da arma, só que ao invés de entregar a pistola para o outro ele girou o tambor outra vez e apontou para sua própria bochecha. — O que é coragem… - apertou aquele gatilho outra vez. Eu tentei andar até ele e parar aquela loucura, mas Um segurou meu braço e acenou com a cabeça para que eu não prosseguisse. — É graça sobre pressão. - e novamente girou o tambor apontando a arma embaixo do queixo. — E… quem é o Rei? - apertou o gatilho outra vez, o sorriso psicótico nunca abandonando seu rosto. — Eu sou o Rei! - em uma gargalhada contida entregou a pistola para um Raymond perplexo. — Sua vez.

 

Demorou alguns segundo para o asiático se tocar, segundos este que eu levei para normalizar minha respiração. Se Raymond atirasse estaria morto... eu ansiei por isso. Queria o corpo daquele homem jogado no chão por quase matar a pessoa que eu amo, desejei que ele fosse burro o bastante para atirar na própria cabeça.

Depois de deixar a arma nas mãos do filho da puta, Coringa se virou caminhando em minha direção. Então eu vi, atrás dele Reymond se preparava para puxar o gatilho e a arma não mirava sua cabeça.

Não pensei muito, na verdade, nada; apenas peguei a Taurus que tinha ganhado e destravei antes de atirar quatro vezes no peito do maldito chinês.

 

Bastou isso para que um tiroteio começasse e Coringa me arrastasse dali. Eu? Estava em choque e mal vi quando ele me colocou dentro do carro e seus homens saíram pela porta atirando contra os capangas de Reymand que agora estava morto.

 


Notas Finais


Ah é! Não posso esquecer, essa parte da roleta russa eu tirei da série Gotham e as falas são do Jerome que cá entre nós é outro doidinho lindo *-*

Beijinhos fofurinhas!!


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