Minha sobrancelha direita arqueou voluntariamente ao ver Alec ainda nu na minha cama, afinal, que horas eram?
Glória a Deus! Olhei no relógio somente para constar que a tal noite de foda já tinha cabado, eram oito horas da manhã, então o que aquele imbecil europeu ainda fazia aqui? E que merda, eu tinha lhe dado mais que uma noite.
Ignora, Loreen.
Levantei da cama levando o lençol vermelho comigo, tomei um banho naquela banheira mágica e depois vesti um vestido longo de malha fina e frente única coral. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e coloquei um par de brincos de argolas de ouro, por fim, calcei um par de saltos anabela de couro crú com palha dourada.
E finalmente virei-me para dar atenção ao encosto desmaiado na minha cama.
— Levanta. - cutuquei sua testa e obtive um resmungo em resposta. Ah, ele não queria acordar?
Abri a gaveta e tirei uma pistola, engatilhei perto o suficiente para que ele escutasse e então encostei o cano em sua testa.
— Eu mandei você levantar.
— Caralho! - Alec arregalou os olhos pulando de susto para fora da cama. — Tá louca?
— Se eu tivesse que repetir você não iria escutar, pode ter certeza. - devolvi a arma para a gaveta. — Agora vaza daqui, você teve a sua noite.
— Está falando como se não tivesse gostado.
— Estou falando como alguém que cumpriu um acordo. Agora some do meu quarto, eu tenho mais o que fazer. Além de que, você disse disse uma noite e eu te dei duas semanas.
Duas malditas semanas, porque eu não tinha porra nenhuma para fazer sem ser ler e reler um monte de papelada, conhecer cada um dos clientes de Dominic e saber exatamente o que infernos Ascrav estava fazendo ao redor do mundo. Eu tinha sido uma boa garota durante esse tempo, ao que parece Dom não me queria chamando a atenção por aí, pelo menos até a poeira abaixar e a polícia me esquecer por um tempo.
O que me levava a outra questão, será que Batman estava me procurando? Ah, melhor! Coringa estava me procurando?
Eu seria uma mentirosa se não disse que sentia sua falta, o sexo era incrível e apesar dele ser um perfeito babaca eu o amava. Mas ele tinha feito merda, meu pobre palhaço tinha ultrapassado qualquer limite comigo e agora eu estava furiosa e magoada, mais controlada do que dois meses atrás. Ainda assim sentia vontade de tê-lo pagando por me arruinar.
Mas não agora, eu ainda precisava saber o que diabos ele estava aprontando. Gotham estava quieta demais e desde que seus cartões tinham chegado a grandes executivos ninguém sabia o que esperar. Eu não era a única querendo saber, Dom tinha um medo fodido disso acabar com seus planos e trazer prejuízo, então uma das suas ordens para mim era a de descobrir o plano maligno e provavelmente infantil do Coringa, porque ele realmente achava que eu conhecia aquele homem melhor do que qualquer um.
— Eu preciso sair dessa casa! - resmunguei para Andrei ao descer as escadas depois que Alec finalmente tinha saído do meu quarto. — Preciso ver gente, respirar e fazer compras! Preciso comprar roupa de cama.
— Roupa de cama?
— Sim, se eu tiver que sentir o cheiro de inutilidade do Alec mais um pouco vou surtar, de novo.
— Não faça isso, ainda estão reformando o fórum.
— Eu preciso de uma reforma na minha vida, isso sim! Não aguento mais essa monotonia. Coringa pode ser um bosta, mas a vida era divertida.
— Ele te enlouqueceu, Loreen, depois te largou.
— Nós vamos para uma festa! - ignorei seu comentário. — Vamos para a Baixa Leste e eu vou dançar até não sentir minhas pernas e depois sabe o que eu vou fazer?
— O que? - seu desinteresse palpável me fez rir.
— Eu vou enroscar as minhas pernas adormecidas em um cara alto, forte e delicioso. - joguei um beijo em sua direção. — O que você acha disso?
Era divertido provocar Andrei, ele era tão sério, fazia parte do seu charme russo, mas eu poderia apostar que o cara era um furacão na cama e eu estava tentando confirmar essa teoria já fazia um tempo.
Eu sei, eu sei, meu bom senso tinha mandado adeus faz um tempo, mas e daí? Agora eu poderia fazer qualquer coisa, sem restrições, sem ameaças, sem regras, sem sociedade julgando. Gente, eu nunca estive tão bem! Chega dessa merda de mi mi mi, vamos deixar as fodidas opiniões das pessoas nos rabos dela!
Ok, isso não fez sentido.
— Acho que você precisa ser colocada nas rédeas. - ele bufou.
— Andrei, me diga. Você é gay? - seus olhos abriram em surpresa. — Não tô te julgando, eu nem posso. E Dilan é gay, não acho que somos mais amigos, afinal ele assinou meu atestado de insanidade, mas cara… eu sinto falta dele.
— Você se tornou muito falante. - ele estava reclamando?
— É. Fiquei tempo demais sozinha, é horrível ter tempo pra pensar. Então…?
— Eu não sou gay, Loreen.
— Bi?
— Bi? Que? Não! Para de ser irritante.
— Então você tem uma namorada?
— Loreen. - ui! Ele estava ficando nervosinho.
— Se você tem, ela está fazendo um péssimo trabalho, você é tenso demais!
— Eu vou te dar uma coça.
A risada veio antes que eu pudesse frear. Andrei não era do tipo brincadeiras e merdas, isso nem combinava com a sua personalidade, mas eu tinha aprendido a gostar dele, não era um sujeito que sairia por aí te chamando de louca e dizendo que seria melhor você estar atrás das grades.
— Vamos sair às dez. - disse me dirigindo para a cozinha. — Vamos no meu carro.
— Sabe que existe a probabilidade dele estar lá, certo?
— Sim, mas isso não é ruim. Eu ainda preciso descobrir o que ele pretende fazer.
Mordi um pedaço do bolo de chocolate que Talia, a empregada, tinha feito mais cedo.
— Eu vou precisar me aproximar uma hora ou outra, Andrei. Eu estou bem, não se preocupe.
— Sem sentimentos, então?
— Eles estão aqui, mas é diferente agora, eu sei o que tenho que fazer e não vou deixar isso me atrapalhar. - e eu tinha muito trabalho a fazer. — Agora, que tal eu começar com aquela ligação para o Sr. Downton? Dominic disse que ele tem uma linha aérea direto com a Suíça e muito dinheiro rodando com os cassinos em alto mar.
— A linha direta dele está mais para táxi aéreo para ricaços. Sua frota vai e volta do mar. Ele foi esperto, um cassino em águas internacionais não pode sofrer danos pela legislação.
— Sim. Nós podemos visitar qualquer dia, Andrei.
— Claro, mas enquanto não vamos, o que você vai tratar com Downton?
— Ele quer alguém da Família para proteção, alguns boyevik ¹.
— E você vai conseguir isso como? Sei que você tem autoridade, mas não é nenhuma brigadier², não tem seus próprios soldados.
— Não tenho. Mas sei quem tem. E se tivermos gente nossa lá vamos poder vender as drogas. - como eu amo as águas internacionais!
— E quanto a Gotham? Nada sobre distribuir armas e drogas?
— Andrei, meu bem. Eu fiz isso e deu certo? Não. - gesticulei apontando para mim a fim de esclarecer como as coisas poderiam dar erradas se agisse sobre a cidade agora. — Vamos por partes.
Fui para o escritório com Andrei atrás de mim. Ele se sentou atrás da minha mesa e abriu o notebook, minutos depois me entregou o número de telefone e esperou enquanto eu discava.
— Bom dia, gostaria de falar com Vicent Downton em nome de Dominic Rossi. - fiz a educada para sua secretária. Esperei alguns segundos e logo estava na linha com o homem.
— Dominic me falou que ligaria, Srta. Johnson.
— Me chame de Loreen, por favor. - disse no mesmo tom cordial que ele usava.
— Claro, Loreen.
— Nós temos muito interesse em ajudá-lo com sua estratégia de proteção no navio em que recebe seus clientes.
— E quando mandarão seus homens?
— Calma. Primeiro temos que discutir os números e a minha cláusula de aceitação para esse acordo.
— Dominic não falou nada sobre cláusula alguma! E eu já ofereci duzentos mil por trinta dos seus homens. - o descontentamento soou claro em sua voz alterada.
— Acredito que o Sr. Rossi preferiu deixar a negociação para que eu resolvesse, Sr. Downton. - pausei para que o homem caísse em si. Não existia forma alguma de que eu mandaria trinta soldados de Ascrav para o meio do mar por míseros duzentos mil. — Faça das minhas palavras as de do Sr. Rossi quando te digo que ele não vai seguir com os planos se tudo não estiver de acordo com os meus termos.
— Termos? - ele cuspiu debochado, mas não me irritou, pelo contrário, me divertiu. — Eu nem sabia que a máfia russa usava putas para negociar. Que eu me lembre suas bucetas são apenas escravas e acordos matrimoniais.
— Então devemos ser gratos que eu não sou uma puta russa.
Andrei me encarou curioso, eu acenei para que soubesse que estava tudo sob controle. Não me importavam os insultos, o que qualquer um pensava ou dizia sobre mim já não servia para me ferir ou tirar do sério. Aquele fodido só estava nervoso porque mesmo que eu não fosse uma pakhan³ ou um brigadier eu ainda era uma sovietnik, uma conselheira.
— Eu não vou deixar que espalhe suas drogas no meu navio!
— Então também não estarei espalhando meus homens. É simples.
— Você não pode fazer isso! Eu direi a Dominic o que está fazendo e terei a sua cabeça se os soldados não chegarem em cinco dias.
— Claro, claro. Até Sr. Rossi. - desliguei ainda ouvindo o velho me amaldiçoar. — Ele não está feliz.
— Compreendo. - Andrei virou a tela do notebook para me mostrar o rastreamento via satélite e onde o navio estava agora. O imbecil nem ao menos escondeu o sinal do satélite. — O que vai fazer agora.
— Eu vou dar um motivo para ele aceitar os meus termos. - sorri travessa discando para Sergie, o Pakhan mais próximo dos Açores. — Sergie! - comprimentei animada. Aquele era um homem que sabia o que fazer, se ele não fosse um ser humano poderia até dizer que não tinha sentimentos. — Como tem passado? É a Loreen.
— Bem. Você não me liga a menos que queira algo.
— Assim você me ofende. Mas sim, hum… eu preciso de um serviço.
— Prossiga.
— Estava falando com Downton, você deve estar por dentro.
— O babaca do cassino náutico. É, eu sei, Dominic me falou sobre ele. Que porra eu tenho haver com isso?
— Pois é, ele não aceitou o acordo, achou que os duzentos mil seria a única coisa que iríamos querer, mas eu tenho outros planos, se é que me entende. Por isso preciso que você envie alguns torpedos⁴ para ele. Você é o mais próximo do lugar onde ele ancorou.
— Quer fazê-lo sentir que precisa de nós? Você é manipuladora, Johnson. Tudo bem, terei alguns assassinos a bordo. Me mande a localização exata.
— Ok. Mate alguns clientes, alguns daqueles ricos desconhecidos que mexem os pauzinhos por trás das cortinas. Nada que vá fazer falta no meio público.
— Sei o que fazer, Loreen! - grunhiu um aviso.
— Entendi, Sergei. Nada de ensinar o padre a rezar a missa.
— Quando terminar, você terá notícias.
— O… k. - o filho da mãe tinha desligado na minha cara.
Parece que alguém estaria sem escolhas logo, logo.
— Quem é o próximo da lista? - perguntei para um Andrei sério, muito diferente do meu ânimo atual. Sério, era divertido trabalhar nas negociações, as aulas de administração não faziam jus ao que realmente acontecia. Apesar de que havia uma grande diferença entre o comércio de armas e o de sei lá, vinho.
Passei a tarde sentada na ponta daquela mesa fazendo ligações e lidando com uma porrada de idiotas, todos acreditando que por ser mulher eu me rebaixaria às suas ofertas míseras em troca de armamento ou drogas. Por isso, saí encomendando mais algumas mortes. Respeito, cara. Essa é a única coisa que preciso.
— Com você no comando o índice de mortalidade vai subir cem por cento pelo resto do ano. - Andrei comentou baixo, seus olhos verdes focados na tela do computador. — O pahkan de Moscou mandou um email.
— Moscou?
— Gustaf Orekhov.
— Aquele cão conseguiu uma promoção? Merda!
Gustaf, o filho da puta estava louco para colocar suas mãos em mim desde que eu tinha vendido aquelas malditas armas. Pra quem eu tinha vendido mesmo?
Ah, isso não importa mais. A minha preocupação agora era outra, a família Orekhov era o alto escalão da Bratva, enquanto a Ascrav seguia as ordens superiores, sendo uma organização menor com maior profundidade na sujeira.
Eu só posso torcer para que Gustaf não esteja pedindo a minha cabeça via email com uma foto anexada. Aí que bela bosta!
— Ele quer se reunir com você pessoalmente, dentro de uma semana. Aqui diz que é um assunto do seu interesse.
— Do meu interesse? Eu não estou exatamente interessada em me encontrar com uma faca afiada.
— Está mais para planos da Bratva, uma expansão.
Mais merda. Será que essas porras não conseguem se contentar com o que tem? Por que todo mundo precisa expandir os negócios em Gotham? Por que ninguém pode aprender com os meus erros?
Gente! Eu tentei! Eu me fodi em Moscou, me lasquei com essa merda de máfia, voltei pra cá achando que ia abalar e o que eu consegui? Um punhado de cicatrizes e um atestado de loucura. Não vale a pena, galera!
— Tanto faz. Ele vem pra cá?
— Na quinta.
— Ok, eu vou estar pronta para ele. Me consiga todas a documentação do que tem se passado em Gotham, como estamos em território, domínio de mercado e essas merdas. Eu odeio mexer com essa merda, mas faça um levantamento dos celeiros e as perdas. - levei uma mão para massagear minha testa, toda aquela dor de cabeça e burocracia me deixava estressada.
Continuamos discutindo alguns detalhes do que seria preciso para essa maldita reunião, a empregada trouxe nosso almoço e ficamos mais tempo ali, haviam muitos livros de gerenciamento que precisavam ser lidos e corrigidos. Quando decidi parar o relógio já marcavam oito horas.
Pra terminar de sugar meu bom humor, Alec adentrou o escritório ajeitando as abotoaduras do blazer negro feito sob medida, em seu punho esquerdo um rolex adornado com diamante chamava a atenção de mulheres interesseiras e bandidos. Olhar para aquela cara de mauricinho pau mandado me dava vontade de vomitar. E ele ainda tinha aquele sorriso galanteador que fazia calcinhas caírem ao seu redor. Ah, me poupe! A única coisa que o imbecil tirava de mim era a vontade de viver.
— Achei que tinha mandado você sumir, Alec.
— Tão ingrata. - sorriu debochado ao balançar a cabeça de um lado para o outro. Seu cabelo liso estava tão duro de gel que não chegou a mover um milímetro.
— E o que você queria que eu fizesse, Alexander? - levantei minhas mãos com irritação, para peitá-lo. — Você disse uma noite, eu te dei bem mais do que isso. Então que merda você ainda quer?
— Você poderia voltar a colocar essa boca no meu pau. Seria um bom jeito de agradecer.
Ri com gosto.
— Espero que você tenha gravado esses momentos na sua cabeça oca, porque isso nunca mais vai acontecer. Você se sente tão inferior que precisa me lembrar a cada minuto que estou aqui porque você me ajudou? Pare de ficar no meu pé!
— Você ainda virá para mim, Loreen e eu vou pisar em você até que se arraste mendigando meu perdão. - seus olhos azuis semicerraram em ameaça.
— Claro que vai. - rebati tomando meu controle respirando devagar. — Agora saia dessa casa antes que eu ligue para Dom e decida fazer algumas reclamações.
Antes de ir Alec ainda cuspiu no chão de madeira, tão teimoso e infantil que me tomou alguns segundos ali, parada, tentando entender a mente daquele idiota.
— Que babaca. - Andrei resmungou ao se levantar e vir até mim. — Não vai se arrumar? Achei que tivéssemos uma festa para ir.
— E temos! Eu preciso recuperar minhas energias.
Depois do jantar tomei banho e me troquei. Vesti uma blusinha frente única preta com um short hot pants vinho e calcei um par de Jimmy Choo amarelo sol. Soltei meu cabelo deixando ao natural, uma cascata negra ondulada que caía até um pouco abaixo da metade das minhas costas. Passei uma maquiagem leve e caprichei no batom matte, vinho.
Não demorei muito e já estava de volta ao térreo, tendo Andrei me esperando na sala.
— Você vai mesmo de terno? - indaguei num meio sorriso. — Nada contra, você fica ótimo, mas está na hora da gente variar seu guarda roupas.
— Não me faça desistir desse passeio insano.
— Tá, vamos logo!
Entramos no meu Bugatti Veyron vermelho e preto, meu bebê. Dei a partida e saímos pelas ruas silenciosas dos limites de Gotham.
Era incrível que nada, absolutamente nada tinha mudado. Da ponte que separava o bairro pobre da cidade grande e rica eu podia enxergar o símbolo gigante das empresas Wayne, a maior torre que já tinha visto. E então veio o estrondo, a música tocando alta de algum carro nas ruas aversas da Leste.
Adrenalina varreu minhas veias, eu precisava estar lá! No emaranhado de pessoas disputando um espaço no círculo de carros com meu coração agitando pelas batidas. Saudades do tempo em que as coisas eram mais simples bateu-me rápido, assim como se foi. Agora eu tenho um nome, as pessoas me conhecem pela criminosa que me tornei e disso… disso eu não me arrependo.
— Você tem certeza? - Andrei me perguntou assim que estacionei o carro a uma distância segura para não sermos vistos.
— Não preciso ter certeza. Nós só precisamos sair do carro e andar. - minha lógica era simples, mas o fez arquear uma sobrancelha antes de concordar comigo.
Dubrovisk abriu a porta do carro, mas parou quando me viu abrir o porta-luva ao seu lado e tirar uma Colt 1911 preta com o cano incrustado por brilhantes. Brilhantes, sim! Eu sou princesa!
— E você está armada. - resmungou fechando a porta.
— E eu estou armada. - ri.
— Sem escândalos, Loreen. Nós precisamos manter a discrição.
— Eu sou um poço de discrição, querido.
E até tentei. Não cheguei dando tiros pro alto, não foi preciso, meu rosto estava nos noticiários, eu era famosa agora e não foi necessário fazer muito para ser reconhecida. A música felizmente não parou, mas minha caminhada juntamente com Andrei foi um verdadeiro abre alas. E quando o primeiro rosto conhecido surgiu não fiquei surpresa por ser Megan.
— O que você está fazendo aqui? - a mesmo loira com voz irritante de sempre, e o bronzeado estava em dia, a mina parecia ter levado uma injeção de betacaroteno.
— A mesma coisa que você.
— Todos acharam que você tinha morrido, ou sei lá! Você é muito louca, Loreen. Onde foi se meter? Tem noção do quanto a Alisson está louca te procurando?
— Eu voltei. - levantei as mãos para a minha “surpresa”. Os olhos de Megan voaram para a arma. — É melhor prevenir do que remediar. Esquece isso, eu tenho um amigo para te apresentar. Andrei. - chame e dei uma passo para o lado. — Esta é Megan. Megan divirta meu amigo enquanto eu bebo alguma coisa.
Mas antes que eu pudesse correr, Megan agarrou meu punho.
— Você precisa ir embora. Ele está aqui.
— Ah… está? - senti o sorriso riscar meus lábios. — Isso é bom. - me soltei e sai.
Eu não estava com medo de encontrar o Coringa, na verdade havia uma ansiedade que estava me deixando inquieta. Eu queria gravar os detalhes da sua expressão ao me ver ali, viva e livre. Também queria dar um soco na cara dele, pra largar de ser um filho da puta traidor e eu iria, é claro! Mas antes precisava esperar pacientemente o momento certo.
Havia uma grande agitação mais ao fundo daquela baderna de gente bêbada, quanto mais me aproximava os gritos ficavam mais nítidos, vinham em palavras soltas como “chuta” ou “sangue”.
Então eu o vi, não o Coringa. Parei ao lado de Albert, algumas coisas não tinham mudado, como o seu gosto por ternos careta e cabelo cuspido.
— Que bagunça. - falei segurando um riso sobre o homem rolando no chão com alguns dentes faltando. Não procurei pelo malfeitor, já sabia quem era, porém precisava me preparar psicologicamente para enfrenta-lo, essa porra de coração batendo rápido mal me deixava respirar.
Albert virou com olhos arregalados para mim.
— Srta. Loreen! - sua expressão era puro choque.
— É bom te ver também. - me concentrei nele. — Você parece pronto para me dizer que eu não deveria estar aqui.
— Não é isso… E-eu… - seus olhos desceram para minha mão segurando a arma travada. — Estou falando a verdade quando digo que é muito bom vê-la. Apenas estou surpreso. Onde esteve?
O homem no chão grunhiu.
— Trabalhando, mais do que nunca.
— Seus registros desapareceram. É como se nunca tivesse existido, Loreen.
— Estava me procurando?
— Ele esteve. - acenou a nossa frente com a cabeça.
Coringa estava devorando o homem com os olhos, fúria líquida quase escorriam de suas íris azuis e seu sorriso estava carregado de um sentimento cruel, aquecido com diversão. O seu brinquedo era um soco inglês prata reluzente gotejando sangue.
Ok, eu admito. Essa é uma visão quente, pra porra! E tinha um monte de vagabunda-interesseira-mulher-de-bandido babando nele que estava mal vestido naquele colete, sem camisa e blazer. Só um colete roxo, uma calça preta, sapatos de couro escuro e ouro pesado rodeando seu pescoço. E prata. Parece que as combinações ainda não eram seu forte.
— Ele não vai admitir. Os últimos dois meses tem sido um inferno sem você. - Albert deu um passo para trás quando Coringa deu um chute que fez o homem rolar aos nossos pés. — Tentamos te encontrar, mas alguém apagou tudo, até sua conta bancária foi excluída.
— Vocês nunca poderiam me achar, eu estive longe, na minha linda bolha com piscina e sauna. - fiz uma careta para a desfiguração do desconhecido no chão. — Ele me traiu, Albert. E me destruiu de muitas formas.
— Ele te ama do jeito que sabe amar, do único modo que pode.
— Eu não posso aceitar o jeito dele.
Olhando para o homem semi inconsciente vi o par de sapatos bem lustrados agora manchados de sangue á minha frente. Levantei meu olhar até encontrar seu rosto, ele continuava o mesmo, talvez um pouco mais maníaco.
E ainda assim, a minha vontade era de agarrar aquele homem e não soltar nunca mais, depois de dar um soco naquela cara e um chute nas suas bolas.
Estranhamente, ele estava quieto demais, o sorriso de antes tinha desaparecido dando lugar a uma torção raivosa em seus lábios vermelhos.
— Surpresa! - levantei a mão livre forçando um sorriso. A verdade é que minhas pernas tremiam com as mil e uma possíveis reações dele.
— Você. - rosnou numa severa acusação.
— Eu.
— Você.
— Eu.
— Você. - ok, isso estava ficando estranho, tinha uma veia saltando na sua testa.
— Eu…?
O maldito homem gemeu aos nossos pés.
— Oh, cale essa boca! - destravei a arma e acertei um tiro limpo na sua cabeça. O bastardo já estava me irritando. — Eu voltei. Bom… mais ou menos. Estou só de passagem. - mentira, mas ele não tinha que saber que eu estava firme e forte pra descobrir suas merdas.
— Onde você esteve? - Coringa mordeu um grito, ao que parece ele não queria daria um show maior do que o que tinha dado. — Em que caralho de mundo você estava com a cabeça?
Agora me obrigue a responder.
— Por favor, continue com o seu ato de Jogos Mortais. Estou aqui apenas para assistir. - canalizei todo o meu cinismo.
— Loreen! - Andrei me chamou do outro lado, foi uma das poucas vezes que vi traços de preocupação em seu belo rosto.
Coringa virou, encarou meu assistente e tornou a me encarar.
— Um novo homem? - se ele tivesse uma sobrancelha ela estaria arqueada.
— Talvez. Você achou que iria me trair e eu me esconderia debaixo do meu cobertor com um pote de sorvete? - gastei uma risada de escárnio. — Eu fui presa, não tive muito tempo pra sofrer, eu precisei achar uma maneira de sair ao invés disso.
— Parece que arranjou tempo para se tornar uma menina respondona. - ele torceu o pescoço para o lado enquanto sorria outra vez. — Vamos ter que concertar isso, bolinho.
Pensei numa resposta a altura, mas lá estava Coringa me sequestrando pela o que? Vigésima vez?
Andrei saiu da multidão e começou a nos seguir, ele tirou um revólver do cós da calça, mas eu enviei um olhar de advertência. Ele precisaria me deixa ir, só assim eu conseguiria descobrir a merda na qual o Coringa estava envolvido. Ah, é! E eu poderia ver se ele tinha mudado de esconderijo e se a puta loira estaria lá. Me lembrava bem daquela vaca no seu carro.
Acabando com a minha linha de raciocínio Coringa me empurrou para dentro da Lamborghini depois de tomar minha arma, fingi um pouco de luta até estarmos em movimento e então torci para que Andrei cuidasse do meu bebê, o Bugatti era minha nova paixão.
— O que está fazendo? - perguntei.
— Onde esteve?
— Aqui.
— Aqui? - me encarou enraivecido. — Esteve aqui esse tempo todo e não me avisou? - agora ele gritava.
— Eu não vi motivos para te avisar desde que você tomou preferência por vagabundas loiras.
— Você agiu como uma cadela ciumenta.
— Porque tinha uma puta em cima do meu homem.
— Seu? - o desgraçado sorria.
— Não mais. - fiz a Cleide desinteressada. — Agora não me importa com quem você transa, mata ou rouba.
— Aquele homem… - vi suas mãos apertarem o volante com força. Isso seria interessante.
— Andrei? Ele não é um lindo pedaço do paraíso?
— Continue com esse tom, pirralha, e eu vou fazer o seu pedaço do paraíso descer ao inferno!
— Ciumento.
Ele riu debochado. Pura farsa.
— Claro, querida. Engane-se o quanto quiser.
— Ok, então. Para onde está me levando?
— Para casa. Pro lugar onde você nunca deveria ter saído.
— Você está um pouco atrasado, Coringa. Eu já tenho uma casa, que por um acaso não é a sua. - pisquei sem vergonha. Eu poderia estar me divertindo com a situação, no entanto ao olhar pela janela percebi que estávamos muito longe, no lado oposto da minha casa. Talvez eu estivesse começando a ficar tensa.
— Você vai me dizer exatamente onde esteve e o que o esteve fazendo.
Droga! O homem estava sério e irritado e ao que parece tinha esquecido completamente que isso era tudo culpa dele. Além de estar se distanciando para o que eu percebi ser uma fábrica abandonada. Sério? De um prédio abandonado para uma fábrica abandonada? Tão original.
O lugar era enorme, deveria ter sido uma metalúrgica, tinha um estacionamento grande ocupado agora por alguns caminhões de carga, que por sinal, eram as únicas coisas novas a vista.
Um arrepio começou em minha nuca quando o carro parou dentro da fábrica e cara! Isso era insano de tanto luxo, se parecia com um parque de diversões para gente grande só que com rubis e diamantes. Tinha pedras preciosas em todos os brinquedos! Putz, tinha um navio pirata!
Alguém tinha roubado um parque.
— Tem um carrossel aqui. - as palavras saíram da minha boca automaticamente quando saí do carro. — Tem um Batmóvel no carrossel. Você trouxe a sua estante de mini Batman's?
— Venha. - rosnou correndo os dedos por meu braço e saiu me empurrando. Saí tropeçando nos saltos e caí graças a sua brutalidade, felizmente fui jogada em um sofá fofinho de couro branco macio. — Não me faça repetir!
— Eu… não… vou… te dizer! - as pausas dramáticas o irritaram. — Estive bem, longe e relaxando.
— Relaxando?
— É. Longe de problemas.
E lá estava sua risada esganecida outra vez.
— Você não fica longe de problemas, boneca. Você atrai o caos do universo como a maldita entropia.
Entropia? Isso é droga?
— Tá, olha… - vou fingir que entendi. — Agora que você sabe que eu não vou dizer nada, posso ir?
— Ir. - me imitou irritadiço. — Você sumiu por meses!
Eu tinha sumido? Eu estava presa por culpa dele e ele agia como se eu fosse a noiva que tinha fugido do altar e então voltado com filhos de outro cara?
Será que ele não tinha se colocado no meu lugar nem por um minuto? Eu esperei que ele fosse me tirar de lá. Não vou negar que tive esperança, e que quando as semanas começaram a se arrastar e eu precisei aceitar que o Coringa não viria e que o Batman estava certo foi uma merda, eu sofri pra caralho, porque eu não era a rainha, eu era um peão e tinha sido facilmente descartado. Foi uma bosta admitir isso.
Agora mais e mais segundos se passavam, minutos… e eu já não aguentava mais o discurso dele com aquelas metáforas que eu não entendia porra nenhuma. Então me desliguei e esperei ele terminar. Até que o desgraçado percebeu meu claro desinteresse e descarregou a porra da mão na minha cara.
Na minha cara!
— Seu filho da puta! - soquei colocando toda a minha fúria naquele golpe. Coringa deu três passos para trás recuperando o equilíbrio. — Eu disse que você nunca mais me machucaria e você não vai!
— Eu faço o que quiser com você! Você é minha! - gritou puto segurando o rosto.
— Eu era sua! Mas aí você me abandonou! - gritei de volta.
— Ah, Loreen, cresça! Você decidiu que eu te traí! Fez isso sozinha antes de decidir matar alguém! - ainda gritou apontando o dedo na minha cara.
— Você é um babaca!
— E você me ama, você é mais babaca do que eu!
— Você também me ama! - nossa infantilidade já estava chegando ao fundo do poço e vocês pensam que parou por aí?
— Você me deu um soco, caralho!
— Você me deu um tapa e antes disso um tiro!
— Você me deu um tiro primeiro, sua imbecil!
— Você me es…
— Chega! - oh! Parece que cutuquei a ferida.
Queria continuar a provocar e saborear minha vitória, mas isso foi antes do Coringa enrolar uma mão no meu cabelo e usar a outra para puxar minha cintura para si. Meu corpo chocou no seu e sua boca grudou na minha em um beijo digno de filme pornô. Em menos de um segundo a mão na minha cintura desceu para a minha bunda e o beijo tornou-se mais calmo do jeito que eu gostava, da única maneira que fazia meu corpo aquecer e se incendiar de verdade.
Minhas mãos tinham criado vida própria, deslizavam por entre seu cabelo, desciam pelo pescoço, entravam pela abertura do colete e o tocavam sem minha permissão. E lá estava a cicatriz que eu tinha feito, a acariciei e quase pude ouví-lo ronronar.
— Não vai. - ele sussurrou colando a testa na minha. — Não vai. Você não pode ir de novo. Não pode! Eu não vou deixar!
— Por que me traiu? - sussurro de volta. — Por que me abandonou?
— Não... Não... Não. Não te traí, eu não traí você, merda!
— Me abandonou. - acusei cautelosa por sua reação, esse homem é um poço de imprevisibilidade. — E agora eu estou fora, não quero mais ser a sua boneca. Sou livre e vou me manter assim.
— Você não pode se livrar de mim, eu te mataria antes disso acontecer. - seus olhos brilharam com um sentimento possessivo.
— Eu sou livre, Coringa.
Emputecido, ele me soltou bruscamente e andou até uma grande estante atrás de um bar feito de mogno com detalhes dourados. Tirou uma garrafa de whisky e bebeu da boca antes de voltar para mim.
— Eu sei! Eu sei, porra! - gritou e jogou a garrafa longe. — E a culpa é minha! Mas eu ainda posso te trancar no meu mundo. Você pode ser a minha linda Rapunzel. - seus olhos continham um brilho louco, desesperado para fazer daquelas fantasias, realidade.
— Você não pode. Essa liberdade já me custou muito. - andei até ele. — Eu não quero ser o seu peão, sua cúmplice no crime, um corpo que esquenta sua cama ou uma simples boneca pra você brincar de foder. Eu quero ser importante pra você, que me ame e aceite que sou minha própria dona. - suspirei, nunca deixando seus olhos. — Mas você não pode aceitar isso, certo? Então eu vou viver a minha vida sem estar no seu caminho. - me aproximei ainda mais e beijei sua bochecha onde havia socado. — E se você tentar me impedir, com qualquer coisa, de qualquer forma… eu vou te matar. - falei tão calma quanto pude, mesmo que meu coração estivesse parecendo ensaio de escola de samba. Coringa precisava entender que era pra valer.
E enquanto me virava para sair eu escutei algo quebrar, depois tiros, mas nenhum veio para me acertar. Ele gritou meu nome e me disse para voltar, entretanto, apenas peguei minha arma no banco de trás do carro e fui para a estrada torcendo pro meu celular ter sinal.
Não vou negar que eu quis voltar e me entregar a ele, mas eu já tinha batido nessa tecla vezes demais.
Agora, as coisas teriam que ser do meu jeito.
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Boyevik¹: soldado.
Brigadier²: é uma autoridade, sendo o comandante em um grupo de homens.
Pakhan³: o chefe, aquele que controla tudo.
Celeiros: são bordéis com escravas sexuais que pertencem à Bratva.
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