História Magcon Tour - Dois lados de uma história

Cameron

Quarto do Hotel em New Jersey após a apresentação da Magcon e o Show do Justin

— Ela depositou expectativa no relacionamento de vocês. — Nash jogava algo no celular enquanto tentava inutilmente levantar meu astral.

— Não achei que isso fosse acontecer... Achei que para ela seria apenas, um beijo. — Respondi pensativo. 

Era possível sentir uma felicidade momentânea no meio disso tudo? Pois é, eu estava sentindo isso, por saber que minhas expectativas estavam erradas e para ela, não havia sido só mais um.

— Era o primeiro beijo dela cara, sabe como as garotas lidam com isso. Pelo menos as mais sensíveis, como ela. É tipo uma porta antes da virgindade, tem sua importância. — Taylor acrescentou.

— PRIMEIRO BEIJO? — Arregalei os olhos.

Eu havia sido o primeiro na vida da Hannah Collins. Quantos garotos pagariam para estar no meu lugar? Não sei, mas de alguma forma me sentia sortudo por ser eu. Não só por ela ser quem é na mídia social, mas por ter me encantado fora dela, por trás das câmeras, o que era mérito para poucos.

Porém por outro lado, se fosse qualquer outro, talvez tivesse valorizado melhor esse momento. Já que, por medo de me machucar novamente, eu ignorei qualquer sentimento que havia surgido, não só os meus, mas involuntariamente,  também os dela.

E nesse caso, isso parecia ser irreversível.

— Isso não é o tipo de coisa que alguém sai falando para todo mundo como se fosse um aviso. Se bem que deveria existir um alerta, para prevenir tragédias como essa. — Nash retrucou, digitando no celular.

— E como se isso não fosse o bastante dias depois você beija a inimiga número um dela, me surpreende que sua cara ainda esteja intacta, no lugar da Hannah eu teria te estapeado.  — Confessou Taylor.

— Obrigado, vocês estão fazendo com que eu me sinta ainda melhor. — Ironizei.  

— Você eu não sei, mas ela está ótima.

— Como assim? Vocês acabaram de me dizer que ela estava péssima e querendo ou não, isso transpareceu um pouco hoje. — Lembrei-me do rosto dela me evitando e da foto com os olhos inchados.

— Estava do verbo passado. — Taylor alisou seu cabelo.

— Ela está com Justin.

— Bieber? — Levantei da cama, caminhando pelo quarto.

— Bieber!

— Como? Quando? Onde? — Disparei perguntas sem nem ao menos questionar se aquilo era certo.

— Fomos ao show dele hoje.

— Eu sei disso, mas... Não sabia que ela tinha ido também.

— Como não? — Taylor questionou.

— Ela não respondeu minhas mensagens. — Me joguei na cama, revendo cada um dos SMS que havia enviado.

— Você foi a balada com Carter, Aaron, Gillinsky e Johnson, nós fomos ao show do Bieber, cada um com suas prioridades.

— Vocês deixaram ela sozinha com ele? — Levantei, indignado.

— Você fala como se ele fosse um estuprador. — Taylor comentou, simplesmente.

— Eu não sei. —Esbravejei.

—Relaxa, ele foi gente boa com ela Cameron. Ela quis ficar. Só isso.

— Ah cara... Ela está sozinha com ele, sozinha Taylor. Já pensaram o que o Jackson vai pensar sobre isso?  — Respirei fundo. — E a minha situação com a Bárbara é diferente, ela é gente boa, maior de idade e ficamos no calor do momento, só isso.

— Jackson não estava lá, mas tenho certeza que ele não iria se importar. Tipo, ele é o Justin. O que te leva a pensar que ele não é gente boa? — Nash deu de ombros. 

— Ele é mais velho e está sozinho com ela, que tipo de pessoa faz isso se não tiver outras intenções camufladas? — Indaguei. — Qual é, só eu estou vendo as proporções que isso pode tomar?

— Que proporções? Ela se apaixonar e acabar se machucando? Cara, você já fez isso e por coincidência, também é mais velho. — Retrucou. — A Hannah, infelizmente, aprendeu da pior maneira e não vai cair em uma dessas de novo. Ela só precisa curtir um pouco até encontrar alguém, e o Justin, pelo que conheci, pode ser essa pessoa. — Nash revelou sincero.

Essa era uma das características que eu mais valorizava na nossa amizade. Ele sempre me disse abertamente o que pensava, estando do meu lado ou não e aquela frase tinha sido um choque de realidade. Eu, que tinha tanto medo de me machucar, havia machucado alguém. 

Antes que eu pudesse responder, Taylor se manifestou. 

— A Bárbara é gente boa. — Taylor imitou minha fala, com a voz um pouco mais afinada e em seguida jogou uma almofada em meu rosto.  — Ela é a responsável pelo bulliyng contra a Hannah, tão gente boa essa garota. — Ironizou.  

As informações começaram a eclodir em minha mente como um verdadeiro quebra cabeça onde as peças haviam se encaixado. A forma como a Hannah encarava a Bárbara e por outro lado as ações da garota para provoca-la passaram a fazer sentido. Após o sucesso com mensagens positivas no vine, Hannah havia ganhado, literalmente, o mundo, e ainda que existisse quem criticasse, a defesa agora era muito maior. Por isso, Bárbara sabia que éramos importantes para Hannah e a partir disso, encontrou a fórmula perfeita para atingi-la novamente e eu havia feito parte disso como um verdadeiro protagonista.

— Eu não sabia...

— Cameron age como se realmente se importasse. — Lox adentrou o quarto se jogando na cama ao lado de Nash.

— Até você já sabe?

— Eu estava lá! Hannah ficou feliz em conhecer o Justin, ele quis passar mais tempo com ela e ela aceitou simples assim.

— Não é como se eu não me importasse. — Me defendi. — E porque ele quis passar “mais um tempo” só com ela? — Enfatizei o “mais um tempo” na frase.

— É sim, um dia você beija a garota e nos seguintes age como se nada tivesse acontecido, ela foi só mais uma para você? — A ruiva levantou, colocando as mãos na cintura. — Porque ela é mais que um rosto e corpo bonito.  — Respondeu.

— Lox, eu sei mais do que ninguém disso. Confesso que fiquei com ela também pela aparência, mas tinha alguma coisa... Diferente... — Tentei  me justificar, mas ela me interrompeu.

— Sem desculpas. Eu sei, mas do que ninguém o quanto você sofreu por causa da Rachel Cameron, mas isso não é motivo para que você nunca mais assuma que está verdadeiramente gostando de alguém. Se você ainda tem medo assuma pelo menos ele e pare de brincar com os sentimentos de quem não merece.  — Ela respirou fundo. — Você está agindo como ela.

E saiu, batendo os pés.

— Uou. — Taylor pigarreou.

Nash assobiou.

— E concluímos que, você foi um babaca.

— Valeu pelo apoio. — Deitei novamente na cama, colocando um travesseiro no rosto.

— Se você realmente gosta dela, se arrisca cara. O máximo que você pode receber é um não.

— Eu gosto dela, mas não desse jeito... Eu acho... Ah sei lá, eu não sei o que sinto sobre a Hannah e, além disso... Ela é menor de idade.  — Comentei qualquer coisa.

— Você não se importou com isso quando beijou ela. — Taylor retrucou.

— E o Justin, definitivamente, também não está nem ai para isso. — Nash levantou-se. — Afinal, ele quis passar MAIS TEMPO com ela. — Piscou.

Ignorei, para não socar o Nash.

— Aonde você vai? — Perguntei.

—Encontrar a Hadassah.

— Huuuuuuuuuum. — Taylor e eu fizemos um coro e Nash mostrou o dedo do meio.

— E você o que está esperando? — Questionou.

— Eu?

— Sim Cameron! Não vai fazer nada?  Pode não gostar da Hannah desse jeito. — Fez uma careta. — Mas pelo menos deveria corrigir a burrada que fez com ela. — E voltou a deitar na cama. — Mas caso você mude de ideia e queira algo com ela... Hum... o Justin Bieber que está passando MAIS TEMPO COM ELA, devo dizer,  é muito f*da, mas se você se esforçar talvez tenha chance.  — Enfatizou.

Revirei os olhos.

Ele era um ser humano como qualquer outro, não conseguia ver tudo isso que enfatizavam nele.

— O que você quer que eu faça? Eu não quero criar mais nenhuma expectativa entre a gente por que... Eu não posso ficar com ela e não quero ser o responsável por mais uma decepção.

— Mas se de alguma forma você se importa, vai saber o que dizer.

— Onde eles estão? — Disse, pensativo.  

— Vou mandar o endereço do hotel dele pelo celular agora e... Foi.

Um SMS com o endereço do hotel em que eles estavam chegou ao meu celular e rapidamente alcancei o moletom preto que estava na cama e corri para fora do nosso hotel, em busca dela. Não sabia bem o que diria, mas estranhamente senti que estava fazendo a coisa certa em relação a uma garota pela primeira vez na vida.

— De nada. — Taylor gritou do quarto.

— Se der errado pode ter certeza que eu vou te culpar por isso.

— Sem problemas. — Retrucou.

Coloquei as mãos no bolso da calça e o capuz do moletom e permaneci de cabeça baixa caminhando pelas ruas frias de New Jersey, esperava que naquele dia eu não fosse notado já que cada segundo perdido poderia ser uma nossa aproximação entre os dois e, de uma forma que eu não sabia explicar, aquilo me incomodava.

Hannah

Duas horas antes do show do Justin

New Jersey estava me surpreendendo. Não somente pelo público imenso que apoiava a Magcon e conseguiu ser ainda mais empolgado que Washigton, mas também pela forma como eu estava aprendendo a lidar melhor com o que eu estava sentindo em relação a Cameron, já que eu havia conseguido me afastar dele e entender que talvez eu estivesse me precipitado sobre meus sentimentos.

O show havia terminado há alguns minutos e agora estava posicionada em frente ao fundo com o logo da marca Magcon onde tirava mais fotos para o Meet & Greet. Recebi e contei histórias sobre a minha experiência nada agradável com o bulliyng, e nesse momento uma garota menor que eu, que parecia ter por volta dos doze anos me entregava uma carta com os olhos cheios de lágrimas.

— Tudo bem meu anjo, está tudo bem. — Acariciei seu rosto.

— Eu... Eu não sei como te agradecer por fazer parte da minha vida, eu superei por causa de você, agora não me importo se os outros acham feio o fato de eu ser gorda, só sei que eu aprendi a lidar com isso e gosto de ser assim. — Sua fala era pausada por inúmeros soluços e quando vi, eu também estava chorando.

Lembrei-me dos primeiros comentários a vídeos meus no vine, o quanto eu era “gorda” e que deveria utilizar meu tempo livre para emagrecer e não gravar vídeos idiotas. O resultado? Induzi o vômito inúmeras vezes, mas isso nunca foi o bastante, então me vi em meio a minha primeira experiência com a anorexia. Somente a terapia aliada a força que tive para não desistir de inspirar pessoas com a minha história que haviam sido a cura.

Uma das assistentes da produção tentou acelerar a nossa conversa já que o tempo de encontro era limitado, mas eu a ignorei para abaixar em frente à garota e olhar em seus olhos. Mamãe costumava dizer que era um bom jeito de transmitir segurança e demonstrar sinceridade.

— Eu fico muito grata por ter inspirado pessoas como você a superarem seus medos, e você tem razão, ninguém além de você mesma precisa gostar do seu corpo, do seu cabelo... — Alisei seus fios negros. — Qual seu nome?

— Luísa.

— Lu, você é linda assim. Do jeitinho que estou vendo. E estou muito orgulhosa por finalmente ter entendido isso. — Sorri, beijando sua bochecha.

Em seguida assinei sua camiseta.

— Hannah, vamos. — A mulher gritou.

Abracei Luísa fortemente e agradeci novamente por ter me contado a sua história. Era gratificante saber que um momento de dor na minha vida foi capaz de me motivar a inspirar as pessoas.

Era a última. Peguei uma garrafa de água enquanto observava os portões do salão serem fechados e a equipe iniciar a faxina pelo local.

Alcancei o celular e twittei:

@HannahCollins Mais uma parada concluída. Obrigada New Jersey, e lembrem-se, acredite que vocês podem e ninguém será capaz de provar o contrário. #MagconEmNewJersey

Em seguida guardei o celular, e bebi um gole.

— Preparada? — Nash pulou em minha frente, fazendo com que eu engasgasse com a água.

Respirei fundo.

— Para isso não, você quase me matou.

— Dramática. — Ele revirou os olhos. — E, você estava chorando?

— É impossível não chorar com as histórias que escuto aqui.

— Quando você pensar em desistir lembre-se delas. — Ele sorriu.

— Pois é. — Sorri.

— Poucos minutos para o show e vocês estão aqui jogando conversa fora. — Taylor se aproximou, como sempre, gritando. — Se não me ajudarem a convencer o Bart que precisamos sair mais cedo, vão ir do jeito que estão suados e descabelados.

— Vocês estão assim! Eu não. — Joguei meu cabelo para trás, rindo.

— Ah é? — Nash me encarou, aproximando-se.

— NASH SAI DAQUI, VOCÊ TÁ SUANDO! — O empurrei. 

Então pude ver Cameron discutindo algo com Bart. Eles sempre estavam conversando sobre algo, talvez por ele ser o mais velho e ter mais noção das necessidades da turnê, assim que me viu, ele acenou para Bart e correu para perto de nós.

Arregalei os olhos.

Eu não saberia o que dizer e nem queria falar com ele, por isso evitei contato visual durante o dia todo. Então acenei para os meninos e corri para perto de uma das assistentes de produção, inventando um assunto qualquer para que pudesse sair dali.

— Hannah. — Gritou.

“Não vou responder, não vou responder.” Pensei.

Ele ainda ainda gritou por alguns segundos, mas notei ao virar para trás que Nash havia chamado sua atenção para algo, que nesse momento discutiam. 

— O que você dizia mesmo? Que odeia azeitonas? — A assistente despertou minha atenção, perdida.

— Obrigada. — Beijei sua bochecha, ela não entendeu nada. Mas segui para o hotel onde me arrumaria para o show.