História Magia - Voltando para casa

Abro meus olhos no que são, aparentemente, as primeiras horas da manhã. Ainda meio lenta por causa do sono, olho para onde o corpo do recém-falecido deveria estar, mas ele sumiu. O sumiço dos corpos mortos pelos lutadores invisíveis é um mistério que ainda não desvendei.

Sento-me escorando num tronco particularmente grosso e busco a mochila com o olhar. Quando a acho, coloco-a bruscamente em minhas costas e, com uma última olhada de relance para a grama molhada de orvalho da manhã, rumo para fora da floresta. 

Percebo que meus passos estão estranhamente oscilantes, piso em falso e tropeço constantemente durante aquele caminho longo que traço solitária. Ao sair da floresta, ando lentamente até minha casa, pensando no que meu avô vai falar.

Sim, eu moro com o meu avô, já que meus pais morreram por algum motivo que não sei. E sinto que nunca saberei.

Continuo seguindo em direção à minha casa, devagar, sem sentir tristeza, raiva, nem nada. Não sinto nada. Estou acustumada a perder as pessoas que amo. Por todo lugar que vou, deixo um rastro de destruição. Não olho pelo caminho em que passo. É como se eu estivesse em um tipo de piloto automático. Não consigo pensar em nada. Minha mente está embaralhada e eu estou confusa. 

Finalmente viro a esquina da rua em que minha casa fica, que não tem nada de diferente das outras da cidade. Entro em casa pretendendo não fazer barulho, para meu avô não descobrir que fiquei fora de casa de novo. Ele não acredita em mim. Ninguém acredita. Não mais.

Pego minha mochila no canto do hall e saio porta afora.
De volta à rua.
Vou seguindo pelos tijolinhos iguais até a minha escola. Não quero ter que ir para a escola, levando em conta o que acabei de passar. Mas tenho que ir. E, hoje, um pedaço de mim vai fazer falta.