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História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Reencontrando alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 11 - Reencontrando alguém


REENCONTRANDO ALGUÉM

Eu fiquei com os olhos fechados por grande parte do trajeto, apenas abria-os para ver onde estávamos. Minha mãe cantarolava no volante, o que me fez acreditar que ela estava até um pouco animada em voltar para nossa antiga cidade. Eu decidi ignorá-la. Abri os olhos pela primeira vez quando estávamos entrando na cidade. Eu vi a placa de boas-vindas passar e ouvi o barulho de caminhões e carros na rodovia. Estávamos mesmo voltando, eu não acreditava nisso até ver que realmente estávamos lá. Consegui ver os mesmos prédios que notei quando tínhamos saído da cidade. Mas agora estávamos voltando, e tudo, tudo ia se repetir. Eu sabia que ficar pensando dessa forma pessimista não ajudaria em nada, mas não conseguia afastar a ideia de que tudo podia voltar.

            — Monique e Ryan estão nos esperando em casa. — Disse minha mãe, olhando pelo retrovisor. Eu olhei para ela por um nanossegundo e voltei-me para a janela outra vez.

            Não respondi.

            — O que acha disso? — Ela perguntou, por fim, forçando-me a falar.

            — É legal. — Respondi. — Quero dizer, estou com saudade deles. Vai ser bom revê-los.

            — Sim, vai ser. — Ela respondeu. Depois de uma pausa que pareceu durar uma eternidade, ela bufou e olhou pelo retrovisor de novo. — Olha — disse ela —, eu sei que você passou por vários problemas lá, e que pensa que tudo vai se repetir, mas ter esse pensamento pessimista apenas piorará as coisas.

            — E? — Perguntei, sem entender aonde ela queria chegar.

            — Eu... Apenas prometa para mim que vai tentar retomar sua vida. Consegue fazer isso?

            Uma longa troca de olhares se seguiu entre mim e ela, pelo retrovisor, tão longa que eu tive de olhar para o outro lado com medo que ela batesse o carro.

            — Posso. — Respondi, apertando as folhas de CMA no braço. — Posso tentar.

            — Ótimo. — Ela disse, com orgulho. — Eu não aguento vê-lo dessa forma. Eu sei que aconteceram coisas terríveis para você e para seus amigos, mas ficar se lamentando apenas piorará as coisas.

            — Então por que você insiste em ficar tocando nesse assunto? — Rebati. Ela olhou pelo retrovisor novamente, e seu olhar era de uma extrema incredulidade, como se eu tivesse falado algo completamente horrível.

            — Eu sou sua mãe, Greg. Era para eu ser sua melhor amiga. — Ela argumentou. — Estou tentando conversar.

            — Eu sei.

            — E... — Ela continuou, me ignorando. — Eu agradeceria se fosse um pouco mais aberto em relação a seus pensamentos.

            — Mãe, eu escrevi uma história de mais de cem páginas sobre a minha vida e dei para a senhora ler. Como quer que eu seja mais aberto? — Perguntei.

            — Eu não sei. Apenas... Apenas me diga como está se sentindo.

            — Sinceramente?

            — Sinceramente.

            Eu parei de olhar o retrovisor para poder apreciar a vista da janela. Prédios e mais prédios passavam de ambos os lados do carro, e embora os vidros estivessem um pouco embaçados, consegui ver que havia começado a chover.

            — Eu... Eu não sei. — Respondi. — Quero que tudo seja como antes, antes de eu conhecer Andrew, mas também quero que essa situação se resolva o mais rápido possível. É uma questão de desejos, eu acho. Tudo depende dele.

            — Oh... — Minha mãe exclamou. — Isso foi sincero. Mas, me diga Greg. Você nunca pensou em outra pessoa dessa maneira? Quero dizer, depois do Andrew...

            — Você está perguntando se eu me apaixonei por outra pessoa além de Andrew? — Perguntei. Ela fez um “uhum”. — Bom, não. Acho que não.

            — Eu pensei que, já que ficamos tanto tempo fora... Pensei que você podia ter mudado seus sentimentos. — Ela disse. — Mas, tudo bem. Eu só acho que está na hora de você deixá-lo ir.

            — Mãe, ele não morreu. Essa é só uma história de amor que não correspondido, nada mais. Não tenho que “deixá-lo ir”. E até acho que não conseguiria se tentasse. — Respondi.

            — Como sabe que não conseguiria se nunca não tentou? — Ela rebateu. — Me faça um favor: prometa que vai tentar esquecê-lo. Sei que não será fácil, porque você gostou dele por muito tempo. Mas, apenas tente. Ele faz mal para você.

            — Eu não sei, mãe. Não sei se gostaria de esquecê-lo completamente. — Respondi. — Eu sei que ele me fez mal, mas isso faz parte de uma parte muito importante da minha vida. Não posso simplesmente esquecê-lo e tentar apagar qualquer vestígio da sua existência.

Ela olhou para frente e ficou por um longo período em silêncio. Se eu tivesse uma audição canina, conseguiria ouvi-la bufar. Tinha certeza de que ela ficaria brava comigo, ou magoada, e foi por isso que decidi não contar como me sentia. Mas, depois da longa pausa, ela respirou lentamente e disse:

— Eu entendo.

Ela não entendia, é claro que não. Ninguém entendia pelo o que eu estava passando, porque era muito íntimo. Nem meus pais, nem meus amigos.

— Então sorria. — Ela acrescentou. — Sua irmã já tem problemas demais, não quero que ela veja que você está triste.

Eu ouvi as palavras dela como se fossem veneno, entrando na minha mente. Como eu podia sorrir? Não era como se tudo fosse se resolver caso eu sorrisse. Eu sabia que a maioria dos acontecimentos ia retornar. E, mesmo assim, olhei para ela pelo retrovisor e sorri.

 

Foi Ryan que abriu o portão para nós. Ele deu um pulo para o lado quando o carro começava a entrar na garagem, e não parecia se importar com a chuva – que já caía furiosamente. Minha mãe desligou o carro e se virou para mim, para ver se eu estava sorrindo. E eu estava.

— Vamos. — Disse ela, abrindo a porta.

Eu saí logo em seguida, batendo a porta atrás de mim. Era estranho estar ali novamente, na minha antiga casa. Tudo bem, não tinha passado tanto tempo fora, mas mesmo assim era estranho. As paredes pareciam mais empoeiradas, o chão mais sujo e a garagem mais bagunçada.

Ryan fechou o portão e voltou correndo para a garagem, sacudindo os cabelos e jogando pingos de água por todo canto. Ele sorria, mas eu não consegui adivinhar se era de felicidade genuína ou se ele estava daquele jeito para agradar a nossa mãe.

— Finalmente! — Disse ele, vindo à direção de minha mãe.

Eles se cumprimentaram numa intensa troca de beijos e abraços, sorrisos e falas de carinho, até que Ryan virou-se para mim. Ele se parecia muito comigo, diziam, quase como meu irmão gêmeo. Mas eu podia ver nossa diferença e ela era astronômica.

— Irmãozinho. — Disse ele, com um sorrisinho, estendendo a mão para mim. Eu esperava um abraço e até, quem sabe, um beijo; mas ele se limitou a apenas um aperto de mãos.

— Ryan. — Ecoei, apertando a mão dele.

Minha mãe entrou em casa e eu a segui como um cãozinho obediente. Ser tratado como visita na sua própria casa é muito estranho, e foi, para mim, naquele momento. Ryan se ofereceu para pegar as malas, mas eu e minha mãe dissemos que tudo ia chegar com o "pessoal da mudança". Enfim, Ryan foi para seu quarto, que era o nosso quarto, e se trancou lá. Eu e minha mãe ficamos sozinhos na sala de estar por um tempo, até Monique aparecer pelo corredor, correndo feito uma criancinha.

Ver minha irmã tão feliz daquele jeito – apesar de ter "problemas", como minha mãe disse – fez meu coração derreter. Ela era minha protetora, e foi ela quem me ajudou quando Andrew sofreu o acidente. E ali estava ela, uma verdadeira dona de casa e responsável de maior por meu irmão.

— Mãe! — Disse ela, debruçando-se sobre os braços da minha mãe. O abraço das duas foi o abraço mais maternal que eu já vi na vida

— Greg! — Monique acrescentou, me puxando para perto dela. Nesse momento, eu sorri, de verdade. Ela me deixava feliz. — Que bom que voltaram!

— Eu também te amo. — Respondi, com minha voz abafada pelo abraço a três.

Monique parecia radiante, usando as roupas que minha mãe havia deixado naquela casa antes da mudança. E seu sorriso transmitia uma genuína felicidade, diferente de Ryan. Ela parecia realmente feliz em nos ver, e, embora não tenha dito isso, parecia querer dizer que nos amava.

— Vocês têm muito o que contar. — Disse ela, ainda sorrindo, afastando-se e interrompendo o abraço. — Foram meses!

— Três, para ser exata. — Disse minha mãe, provocando uma risada de Mon.

— Isso. — Disse Monique. — Três meses. Parece tão pouco tempo, mas muita coisa pode acontecer em praticamente noventa dias. Greg, vou terminar de cozinhar, e você vai me contar tudo enquanto comemos!

 

Monique preparou um verdadeiro banquete para nossa chegada. Todos os tipos de guloseimas, e tortas, e bolos, e pães. Não consegui imaginar o motivo de tanta felicidade. Afinal, como ela havia dito, três meses podia ser pouco tempo.

Enquanto comíamos, eu expliquei para ela sobre tudo que tinha passado no colégio da outra cidade, e ela geralmente complementava com um "é mesmo?" ou com um "nossa", além de muitos sorrisinhos. A comida estava ótima - Monique era uma bela cozinheira -, mas eu não consegui ficar por muito tempo na mesa. Estava ansioso demais para fazer qualquer coisa. Então, saí da mesa e entrei no meu antigo quarto.

Minha cama, que ficava bem afastada da cama de Ryan, estava no mesmo lugar de sempre, cuidadosamente arrumada. Eu fui até ela e me sentei, passando as mãos pelo acolchoado. Ryan não estava lá - sabe-se lá para onde ele tinha ido – e eu decidi que seria melhor ficar sozinho por um tempo. Então, comecei a me preparar para o momento que viria, para o reencontro.

O que eu potencialmente poderia falar? O que, em qualquer possibilidade, poderia fazer todos os que eu magoei me perdoarem? Dizer que sentia muito? Pouco provável de funcionar. Mostrar meu arrependimento? Eles não dariam à mínima. Fingir que não me importava, e que não me importei durante os três meses que fiquei fora? A opção mais clara.

Era isso, então. Eu devia fingir que não me importei com a ausência deles. Afinal, tinha quase certeza que eles não se importaram com a minha.

 

***

 

O dia prosseguiu normalmente. Minha mãe conduzia a maior parte das nossas conversas, contando sobre como era a outra cidade e como era meu outro colégio. Eu expliquei para Monique e para Ryan toda aquela história de expulsão e dos Sérios. Eles riram quando disse que chamávamos meus instrutores de "Os Sérios". Meu pai, junto com o Pessoal da Mudança, chegou quando já estava quase escurecendo. E eu dei graças a Deus, porque a casa ficava muito vazia sem os outros móveis que tínhamos. Quando nos mudamos para a outra cidade, levamos quase tudo e a casa ficou parecendo um monte de salas sem nexo; com exceção, é claro, aos quartos e à cozinha. Não tinha mais a TV, nem os sofás, e eu duvidava que Mon e Ryan ligassem para isso. Enfim, ajudei meu pai e o PDM (vulgo, pessoal da mudança) a descarregar o caminhão de frete e depois ajudei novamente, colocando cada coisa em seu devido lugar.

Quando terminamos, já estava escuro e estávamos todos cansados e famintos. Meu pai pediu pizza. Sentamo-nos no chão da sala de estar (ainda não tínhamos colocados os sofás) e comemos, conversando e rindo. Eu sorria quando era apropriado, comentava quando era apropriado e ouvia quando era apropriado. Nada mais do que o apropriado.

Terminamos o "jantar" e fomos direto para nossas respectivas camas. Quando Mon se mudara, há meses atrás, o quarto dela tinha passado para Ryan, mas, agora que ela tinha voltado para nossa casa (não por muito tempo, segundo o que ela mesma me disse), eu e meu irmão tínhamos que dividir um quarto. Era péssimo. Ele ficou falando durante um longo tempo sobre jogos de caminhões e política. Eu não consegui me aguentar, e interrompi.

— Ryan?

— Sim? — Ele respondeu. Já estávamos deitados, e a luz estava apagada, mas eu juro que ouvi sua irritação por eu estar interrompendo.

— E Alanis? — Perguntei, temendo a resposta. Um silêncio desconfortável se seguiu, interrompido apenas pelo som dos grilos no quintal. — O que aconteceu enquanto eu estava fora?

— Eu... — Ele hesitou. — Eu não sei. Tipo, apareceu um cara, um tal de Jhon, e ele tá dando em cima dela. Só isso. Não sei se é recíproco, mas, com certeza, eu não tenho a mínima chance.

— Por quê? — Rebati. Odiava interpretar o papel de conselheiro para alguém, principalmente para Ryan, mas alguém precisava espantar o pessimismo dele.

— Porque não tenho. — Ele respondeu, parecendo verdadeiramente irritado. — Não sei se você já notou, mas eu sou muito diferente de Alanis.

— Isso não significa nada. — Respondi. — Olhe, lembra quando eu disse que você deveria dizer o que sentia para ela, antes que fosse tarde demais?

— Lembro... — Ele respondeu, com um tom de pergunta, como se estivesse me perguntando se lembrava.

— Então, era disso que eu estava falando. Já imaginou... E se você tivesse falado tudo para ela antes? Será que ela ainda daria bola pra esse tal de Jhon? — Rebati. Ele ficou em silêncio durante um bom tempo, o que me deixou mais nervoso. Se ele estava nervoso, irritado, e queria discutir, era só falar, e não ficar em silêncio.

— E o que você sabe sobre isso? — Ele perguntou, por fim, com um tom hostil. — Quero dizer... Olhe só para você! Arruinou todos os relacionamentos que tentou ter. Aposto que Andrew não dá a mínima para você!

Eu fiquei horrorizado. Nem a pessoa mais horrível e perversa do mundo poderia ser tão cruel a esse ponto.

— Isso não é verdade.

— E como pode saber? Ele te ligou, mandou uma mensagem ou te encontrou durante todos esses meses?

— Não, mas... Mas ele me mandou uma carta. — Respondi, relembrando como rasguei as palavras dele como se não significassem nada para mim. Rasguei e queimei. — Ele disse que sentia muito e que sempre estaria lá quando eu precisasse.

— E ele estava?

— E quem disse que eu precisava? — Respondi, deixando-o quieto. Mas eu não podia ficar ali, correndo o risco de ele continuar a me atacar com seus argumentos, então me levantei, puxando meus cobertores, e corri para a sala de estar. Ouvi um "vai chorar?" antes de sair correndo pelo corredor.

Lágrimas ameaçavam aparecer. O pior de tudo é que ele estava certo. As palavras de Andrew na carta eram lindas, mas ele não tinha ligado, não tinha mandado uma mensagem e definitivamente não tinha pedido para me encontrar em algum lugar. Ele mentiu naquelas palavras, pois disse que sempre estaria lá quando eu precisasse. E ele não estava.

Não me permiti chorar. Não. Nunca mais choraria por algo assim de novo. Essa foi a promessa que fiz quando rasguei a carta de Andrew, e essa sempre será minha promessa. Não vou chorar mais por ele, nem por ninguém.

Com destreza, estiquei um dos cobertores no chão, colocando meu travesseiro na diagonal, e me deitei, cobrindo-me com o cobertor que havia sobrado. Não estava frio, mas também não estava exatamente calor. Tinha certeza de que teria que responder diversas perguntas do porquê de estar dormindo na sala, sendo que havia uma cama pronta para mim no meu quarto – no nosso quarto. Eu deveria ter expulsado Ryan de lá, e não ter saído como uma criancinha fujona.

 Tentei esquecer tudo isso. Afinal, já era de noite, o que significava que na manhã seguinte eu teria que acordar e ir para o Colégio Vargas. Meu estômago revirou só de pensar. Mas eu o encontraria lá, eu veria Andrew novamente. Não podia dizer que estava totalmente feliz por isso.

 

Foi minha mãe que me acordou, com um leve empurrão em meus ombros. Eu despertei assustado, e levemente suado, provavelmente vestígios da noite de uma noite de sono mal dormida. Ela franziu o cenho para mim.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou e eu apenas consegui enterrar meu rosto no "colchão de cobertores".

— Eu estava dormindo, até agora. — Respondi. Ela bufou e me deu um empurrãozinho.

— Não faz diferença, eu acho. Vamos, você tem que levantar.

Sem me opor por muito tempo, levantei-me e comecei a me arrumar. Meu antigo uniforme do Colégio Vargas – um conjunto de roupas azuis de muito, muito mau gosto – ainda estava nos fundos do guarda-roupa de Ryan. Vasculhei até achar a camisa e a calça, retirando as vestes que vestia e colocando as novas. O uniforme cheirava a pó e naftalina, mas eu não fiz cara feia ao vesti-lo – principalmente porque o uniforme não seria a pior parte do dia.

Passei na cozinha, agarrando um pedaço de bolo – que minha mãe havia feito exclusivamente para o café da manhã – e voltei para o quarto com o propósito de arrumar meus materiais. Eu não sabia exatamente o que levar, e mal sabia meu horário de aulas. Já estávamos no segundo semestre, então eu supus que não precisava levar algum livro. Não levei. Coloquei apenas alguns cadernos velhos e usados na mochila e saí.

Meu irmão me esperava no portão. Meus pais tinham que conversar com seus chefes e blá blá blá, então não puderam nos levar para o colégio. Nem mesmo olhei para Ryan quando começamos a andar. Ele continuava a falar sobre caminhões e política, como se nada tivesse acontecido na noite anterior, e eu não me permitia dar atenção. Em um dos meus ouvidos, o fone tocava Ellie Goulding, e o outro ouvido se atentava em captar o timbre da fala de Ryan. Apenas o timbre. Se ele me fizesse uma pergunta, eu responderia, mas nada além disso.

Quando começou a tocar Winner, nós chegamos.

O prédio do Colégio Vargas parecia o mesmo. Ou, deveria dizer, os prédios. A quadra poliesportiva se erguia à direita e a cantina à esquerda. Os seis caminhos do colégio (biblioteca, auditório, cantina, pavilhões, secretaria e sala de informática) estavam repletos de alunos, e eles olharam para mim e para Ryan como se fôssemos dois terroristas. Após entrar, eu me lembrei da vez que colei os cartazes de Alexia por todo o colégio. No momento, foi divertido, mas depois, com as consequências, se tornou uma verdadeira idiotice. Eu deveria ter percebido isso no momento que fiz.

Eu e Ryan fomos para o local onde sempre ficávamos: embaixo da rampa que levava à entrada do auditório. Aparentemente, ninguém vinha encontrá-lo durante o tempo que fiquei fora, e senti uma pontada de dó por isso, mas então me lembrei da forma como ele me magoou na noite passada e a dó passou. As pessoas andavam na passarela acima e eu apenas continuava a prestar atenção à música. Naquele momento, tocava Tessellate.

Eu apenas estava pensando em como a voz da cantora era verdadeiramente angelical, quando, de repente, o sinal tocou. Assim como no passado, era uma sirene, o que me lembrava de que parecia que estávamos numa prisão. Despedi-me de Ryan e comecei a andar. Em dias atípicos, nesse mesmo trajeto, eu encontrava Andrew parado no final da passarela.

Mas ele não estava lá.

Subi umas escadinhas até a passarela superior e comecei a andar na direção do meu antigo-novo pavilhão. E então algo atingiu as minhas costas. Eu fui subitamente para frente, perdendo um pouco de ar e timidamente consternado. As pessoas olharam para mim e depois para minha frente. E então percebi que alguém havia literalmente trombado em mim enquanto corria.

Foi um garoto. Enquanto eu recobrava minha compostura e arrumava meu fone de ouvido, ele se virou para mim. Não consegui conter o espanto. Ele era incrivelmente lindo. Era uma cabeça mais baixo do que eu, magro e pequenino, parecendo uma criança, mas quando falou, sua voz surgiu como um trovão.

— Desculpe.

Eu apenas consegui olhar nos olhos dele – que eram de um lindo tom castanho-escuro, com cílios longos e pretos –, até que ele se virou e saiu correndo novamente. Fiquei parado por um longo tempo, olhando para as pessoas à minha volta. O garoto parecia tão pequeno; era menor do que eu e tinha um porte não muito, digamos, maduro, mas alguma coisa nele me dizia que já estava no ensino médio. Ele correu rápido e não consegui ver para onde foi. Abaixei a cabeça e comecei a andar.

As pessoas passavam de ambos os lados e me olhavam como se eu fosse uma aberração. Aquilo doía, embora eles estivessem sorrindo. Eu não queria ser visto como uma aberração. Eu era só um garoto.

Estava vendo algumas marcas que tinham surgido em minhas mãos após o susto com o garoto bonitinho e não percebi que tinha chegado ao final da passarela. Levantei o olhar, não esperando encontrar algo em particular.

E, parado ao lado da entrada ao pavilhão, estava Andrew.

 

***

 

Vê-lo foi como ver um monstro ou algo que ameaçasse a minha segurança. Meu coração disparou no peito, como um peixe fora d'água, minha respiração se tornou profunda e pesada, como se não conseguisse captar o oxigênio do ar. Ele estava ali. Finalmente. Ele, e apenas ele. Eu parei de andar imediatamente, sentindo que as pessoas ainda olhavam para mim, e agora mais ainda. Por sorte, ele não estava olhando para mim, ainda não tinha me visto, mas era só uma questão de tempo; e as minhas pernas pareciam congeladas, não conseguia movê-las. Fiquei parado, encarando-o, quando ele levantou os olhos e me viu. Nem me lembrava da sensação de ter aqueles lindos olhos verdes me observando, mas naquele momento redescobri. Ele mostrou uma pontinha de espanto a me ver, primeiramente, e depois pareceu analisar cada centímetro do meu rosto. O olhar dele derreteu o gelo que prendia minhas pernas e eu finalmente consegui andar. Desviei o olhar.

— Greg? — Perguntou ele, quando eu entrava no pavilhão. Ignorei. Sei que deveria ter me virado, ter dito oi e o atualizado sobre minhas desavenças e aventuras na outra cidade. Mas apenas não consegui aguentar aquele olhar – aquele que dizia que ele realmente estava me vendo e não apenas me enxergando ali. Segui em frente. Afinal, não era para isso que treinei durante esses meses? Para seguir em frente? Não podia mais olhar para ele sem me lembrar do que havia acontecido conosco, então continuei a andar. Eu não ia suportar tudo novamente.

Felizmente, a sala era a mesma, uma das últimas do colégio, por isso ficava nos fundos. Entrei e fui recebido com olhares de espanto e olhares de estranheza. A maioria das pessoas (ok, não havia muitas pessoas lá, mas, mesmo assim) me olhou como se eu fosse prendê-los na sala e assassinar um a um. É claro que não fiz isso. Olhei pro outro lado da sala e continuei andando. Um grito estridente, não muito alto, me assustou. Eu levantei os olhos e sorri.

— Greg!

Aqua. Ela tinha gritado.

Sentadas na parede oposta da sala, estavam todas as minhas amigas: Aqua, Alison e Alicia. Vê-las também disparou meu coração, mas não tão intensamente quanto Andrew. Elas estavam assim como eu me lembrava: Aqua, baixinha e de aparência simpática, tinha pintado os cabelos de verde; Alison, com os cabelos ruivos, sentava-se em cima da mesa e parecia mais alta do que já era (ela era a mais alta de todos nós); e Alicia parecia simpática e receptível como sempre, com o cabelo incrivelmente liso. Todas usavam o uniforme do Colégio Vargas, com algumas alterações.

— Greg! — Alison gritou também, sorrindo. Eu sorri e não parei de andar. Em menos de dez segundos, já estava numa espécie de abraço quádruplo entre mim e elas. Nesse momento me senti mais bem-recebido do que em qualquer outro momento da minha vida.

— Vocês vão me matar sufocado. — Eu disse, parando o abraço. Todas sorriram e voltaram para seus lugares. Aparentemente, os assentos dos alunos haviam mudado e eu devia sentar atrás de Alison. Deixei minha mochila na mesa e me virei para elas.

O que... Você voltou? — Disse Aqua.

— Sim. — Respondi.

— Por quê? O que aconteceu? Algum problema? — Alison perguntou, atrapalhando-se nas próprias palavras.

— Por problemas no outro colégio. Não sei de onde retiraram isso, mas eu sou incapaz de ficar lá. — Respondi. — Eles investigaram meu passado e descobriram sobre tudo que aconteceu aqui. E, como é um colégio particular, eu fui expulso por "má conduta".

— Ah, entendi. — Disse Aqua. — Mas...

— Me atualizem! — Respondi entusiasticamente, antes que ela fizesse mais alguma pergunta, principalmente uma que eu não gostaria de responder. — O aconteceu enquanto estive fora?

— Ah, nada demais. — Alison respondeu, balançando as mãos. — Provas, trabalhos, mais provas e mais trabalhos. Aulas chatas e professores. Você sabe como é.

— Não. — Eu disse. — Não sobre isso. Sobre tudo que já aconteceu. Tem alguma... Consequência?

— Consequência? Tipo, se fomos punidas pelo que aconteceu com Alexia ou coisa assim? — Aqua perguntou. Eu assenti. — Não, não. Eles nem ligaram para a gente. Apenas para você. Mas, agora que voltou, acho que tudo está normal outra vez.

— Sim. Meu pai falou com a direção. E, além disso, eu não acho que eles têm prova de que fui eu que expus Alexia daquela maneira. — Respondi. — E, por falar nisso, o que aconteceu com ela?

— Alexia?

Assenti novamente.

— Bom, continua na mesma coisa. — Aqua respondeu. — Ela ainda está aqui, nesta sala.

— O quê? Nesta sala? Mas...

— Você contou para a gente que foi ela que empurrou Andrew na frente do maldito carro, a garota que causou o acidente. Nós acreditamos, mas eles, a coordenação e a diretoria, não. — Ela interrompeu. — Ela continua vindo aqui, só que agora não fala mais com ninguém, exceto com uma garota nova na sala.

As palavras dela me motivaram a procurar por mais algum rosto conhecido na sala. Alguns dos olhos ainda estavam voltados para mim, mas eu ignorei e continuei procurando. Nesse exato momento, por destino ou por alguma ação divina, enquanto eu olhava para a porta, Andrew entrou. Ele olhou imediatamente para mim e depois abaixou o olhar, passando a mão na nuca. Retirei meu olhar dele outra vez e procurei novamente por pessoas novas. Estava quase desistindo quando vi, do outro lado da sala, um grupinho de quatro pessoas que eu não conhecia; e, uma delas, era o garoto que havia me atropelado no caminho para o pavilhão.

— Garota nova? — Perguntei.

— Sim. O nome dela é Aimee. — Aqua respondeu. — Ela aparentemente é amiguinha da Iliana e da Alexia.

Eu mirei o grupinho de quatro pessoas outra vez. Todas estavam rindo e conversando. Nem Alexia nem Iliana estavam por perto, e então me permiti olhar para o garoto que havia me encontrado no caminho.

— E aquele garoto?

— Qual? — Aqua perguntou.

— O baixinho, de olhos castanhos. — Respondi. — Quem é ele?

— Ah, o nome dele é Larry. — Respondeu ela. — Ele é amigo daqueles outros dois garotos novos que chegaram, que são, respectivamente, Pierre e William.

Alison e Alicia deram um sorrisinho e Aqua bufou.

— Sério? Vocês sempre vão dar essas risadinhas quando eu falar o nome dele? — Disse Aqua, virando-se para as duas. Eu arqueei as sobrancelhas.

Nossa. O que houve? — Perguntei. — De quem está falando?

— De Pierre. As garotas sempre ficam rindo quando falo o nome dele. — Aqua respondeu impaciente.

— Por quê?

— Porque aconteceram algumas coisinhas entre nós. — Disse Aqua. — Não, não é nada do que você está pensando. Eu não fiquei com ele, e definitivamente não estou namorando-o. Ele só... Enfim, é muita coisa pra atualizar. Te passo tudo depois.

Eu sorri e olhei para o lado novamente. O grupinho de pessoas transferidas não parava de rir e conversar, e Larry parecia conduzir grande parte da conversa. Ele tinha um jeito diferente, percebi, um rostinho de aparência muito frágil para um garoto da minha idade. Seus olhos eram escuros e suas bochechas formavam covinhas quando sorria, e ele sempre abaixava o rosto quando o fazia. Pisquei, tentando parar de olhar para ele.

Quando voltei meus olhos para as garotas, elas me olhavam como se estivessem analisando cada movimento meu, como se esperassem alguma reação desastrosa da minha parte. Eu dei de ombros.

— O que houve? — Perguntei e ninguém respondeu, apenas Aqua olhou para o lado levemente. Eu olhei também e percebi o motivo da apreensão.

Na cadeira ao meu lado, Andrew estava sentado, e, na frente dele, Alexia sorria durante uma conversa entre os dois.

 

Eu olhei para ele, e ele me olhava. Apenas consegui pensar em "droga, droga, droga. Desvie esse olhar!", mas não consegui. O olhar dele me prendeu e eu não tinha forças para escapar. Pelo menos, até que Alexia disse algo. Levou um tempo para eu acreditar no que estavam fazendo, mas os dois realmente estavam conversando, como melhores amigos. Ele dizia alguma coisa e ela ria.

— Eh, Greg... — Alison disse. Olhei para ela. — Isso... Isso é o que queríamos te contar em segredo.

— O quê? — Perguntei, parecendo completamente indiferente. — Isso? Mas não há nada demais!

— Greg, pare com isso. Nós somos suas amigas, sabemos quando algo te magoa. — Alison respondeu. Eu repousei minha mão no ombro dela. Todos já haviam ido aos seus lugares. Em ordem, era Alicia, Aqua, Alison e eu.

— Não, sério, Alison. — Eu disse. — Pretendo esquecê-lo o mais rápido possível. E, se for assim, terá que começar daqui. Mas, depois você me explica porque diabos os dois estão conversando.

Ela sorriu gentilmente e eu sorri de volta.

 

Era aula de Biologia. Não existe nada no mundo que eu odeie mais do que biologia. Nem Alexia, nem Andrew, nem eu mesmo. Eu odeio e odeio Biologia com todas as forças. A professora chegou, com sua voz irritante e estridente, falando sobre osmose e parede plasmática, dizendo tudo no diminutivo, como se fôssemos crianças. Parei de prestar atenção na terceira vez que ela disse "célulazinha".

— Eu odeio Biologia. — Cochichei para Alison. Ela respondeu sem se virar para trás.

— Eu também.

Ri e voltei-me para o lado. Eu e as garotas sentávamos na última fila da sala, a que ficava na janela, o que significava que eu podia ver todos da sala inteira. Virei-me, colocando os pés no apoio da cadeira, para poder observar. Todos olhavam para a professora como se a matéria fosse a coisa mais importante do mundo. Só Deus sabe como eles odiavam Biologia tanto quanto eu. Andrew estava parado, debruçado sobre a carteira, e não tive dúvidas de que ele estava dormindo. Alexia estava prestando atenção na aula, aparentemente, e eu quis interromper o falatório da professora apenas para perguntar o que havia acontecido durante o tempo que fiquei fora, mas permaneci em silêncio.

A voz de Larry era inconfundível, provavelmente a voz mais grave que eu já havia escutado. Eu conseguia ouvi-lo através das palavras da professora, conversando com Pierre. Os dois sorriam a cada frase, e eu tive uma vontade súbita de me levantar e ir até ele, abraçá-lo. Segurei-me. Era impossível uma pessoa se apaixonar tão rapidamente por outra.

Quando a professora terminou de explicar sobre células e substâncias, e se sentou na sua esplendorosa mesa de professores, vi Larry se levantar. Ele parecia tão magnificamente pequeno para um garoto de dezessete anos, mas lá estava, dirigindo-se para a mesa da professora. Eu ficava a uma distância de quatro mesas, mas, ainda assim, ele podia me ver. Tentei esconder-me atrás da Alison, mas não deu certo. A professora e ele começaram a conversar sobre algo, mas não foi essa parte que me deixou nervoso. Eu olhava para ele, quero dizer, realmente olhava para ele – tentava absorver o máximo de características: o jeito que falava, sua altura, sua voz, seu olhar – e de repente nossos olhares se encontraram. Ficamos por um tempo nos entreolhando. Ele deu um sorrisinho e voltou-se para trás, retornando ao seu lugar.

— Ele me bateu. — Foi a única coisa que consegui pensar. Alison se virou para trás como se eu tivesse dito que havia assassinado alguém.

— O quê? Quem? Quem te bateu? Você está bem? — Ela perguntou, esbaforida.

— Sim. Calma. Eu falei errado. — Respondi, tentando acalmá-la. — Foi o Larry. Eu estava vindo para a sala e ele literalmente trombou comigo no caminho.

— Ah, então foi por isso que perguntou quem ele era... — Alison disse, numa entonação que queria dizer "eureka".

— É, quase isso. Também porque o achei bonitinho. — Respondi. Ela arregalou os olhos e sorriu.

— Sério? Greg!

— O quê? Isso é supernormal. — Rebati. — Ele é bonitinho.

— Nossa, Greg, você tem que rever seus conceitos de beleza. — Ela respondeu. — Até Pierre é mais bonito do que ele.

— Não, não é. — Respondi, fazendo uma careta. — Ah, e por falar nisso... Qual é o lance de Pierre e Aqua?

Aqua, que sentava na frente de Alison, virou-se e bateu as mãos na mesa para me advertir. Ela deu um sorrisinho e eu imediatamente percebi que provavelmente estava deixando-a envergonhada.

— Greg. Fale baixo! — Ela respondeu, entredentes. — O que você disse para ele, Alison?

— Nada. — Alison se defendeu. — Estávamos apenas conversando sobre Larry.

Aqua respirou fundo, mirando a mesa de Alison, e depois olhou para mim novamente.

— Ok, eu vou contar. Greg, venha aqui.

Eu me levantei, limpando as mãos na blusa do uniforme, preparando-me para ouvir uma história que com certeza era hilária.

 

Quando Aqua terminou de falar, eu apenas consegui ficar parado, encarando-a e rindo. Ela sorriu envergonhadamente e gargalhou.

— Eu agradeceria se você falasse qualquer coisa. — Disse ela, baixinho. O professor de Filosofia já havia entrado na sala, mas nós estávamos ignorando-o. Alison e Alicia também estavam escutando nossa conversa, embora já soubessem de tudo. Eu era o desatualizado.

— Eu não acredito que isso aconteceu. — Respondi.

— Mas aconteceu. Eu tenho prints de prova. — Ela respondeu, sorrindo. — Foi tão rápido e tão espontâneo.

— Nossa...

— Eu e as meninas ficávamos brincando com ele, não vou mentir, mas era só brincadeira. Ele levou para o lado sério. — Aqua interrompeu. — Eu disse que não podia porque já amo outra pessoa e ele simplesmente completou com um "mas ainda podemos ser amigos".

— Meu Deus. Isso é uma tremenda novidade. — Comentei, consternado. Eu realmente não estava acreditando que aquilo era verdade. — E depois? Ele veio falar com você?

— Não. Ele parece ser tímido demais para falar fora do whats. — Aqua respondeu.

— Mas, e se ele também estiver brincando com você, Aqua? — Disse Alicia, falando pela primeira vez na nossa rodinha. — Porque, assim, nós brincávamos com ele; nada impede que ele faça o mesmo.

Aqua arregalou os olhos e sorriu timidamente, percebendo o verdadeiro motivo da fala de Alicia. O pior é que Alicia estava certa.

— Você tem razão! — Disse Aqua. — Ele pode estar brincando.

— Se ele estiver, essa é a maior sacanagem que eu já vi. — Respondi. — Tipo, uma coisa é brincar com olhares e algo do tipo, outra, bem diferente, é dizer que realmente gosta de você.

Aqua bateu na mesa outra vez.

— Ei. Fale baixo! Ele pediu para eu não contar para ninguém. — Disse Aqua. — Se ele souber que contei pra vocês, vou ser zoada pro resto da vida.

Eu, Alicia e Alison rimos na mesma hora.

 

Percebi naquele mesmo dia, enquanto voltava para casa com Ryan, que era bom estar de volta. Que, apesar de tudo que eu havia passado com Andrew e Alexia, e Anne e Thomas, e Iliana e as garotas... Tudo havia valido a pena. Eu estava de volta, estava ali para minhas amigas, para ajudá-las no que fosse necessário. E, além disso, não tinha como ficar pior do que já havia ficado.



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