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História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Procurando alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 13 - Procurando alguém


PROCURANDO ALGUÉM

            A sala de aula parecia mais vazia no dia seguinte. Poucas pessoas tinham ido, talvez umas dez, no máximo. Aqua e Alison tinham faltado, então apenas Alicia ficou para conversar comigo e me fazer companhia. Porém, por mais que as pessoas tenham decidido faltar naquele dia específico, Andrew e Alexia foram. Eles mal trocaram olhares ou palavras, mas pude perceber que não havia uma tensão entre ambos. Andrew estava, de fato, se reaproximando de Alexia.

Eu havia chegado mais cedo, antes de Alicia, Andrew, Alexia ou Larry. Estava sentado na minha mesa, como sempre, muito quieto e antissocial, quando Andrew entrou. Ele havia voltado a ficar da forma como eu o conheci: com um moletom bordô, a mochila de um lado só e os cabelos desgrenhados caindo pelas têmporas. Parte de mim queria correr para ele, abraçá-lo e dizer que sentia muito, mas a outra parte me fez ficar quieto. Quando ele deu o primeiro passo na sala, seu olhar recaiu sobre mim e eu prendi a respiração. Esperava qualquer coisa, qualquer reação, desde raiva até nojo, mas ele apenas me ignorou. Ele simplesmente foi até seu lugar predeterminado (ao lado do meu – sim, o destino é cruel) e sentou-se, sem ao menos olhar mais alguma vez para mim. Ele podia ter feito qualquer coisa – qualquer coisa –, mas me ignorar era ruim demais, pois deu o sentido de que ele não se importava mais comigo.

Talvez não se importasse.

Alicia chegou alguns minutos mais tarde, cheia de sorrisinhos, e me deu um oi animado.

— Nossa... O que houve? — Perguntei, tentando descobrir o motivo de sua felicidade.

— Nada. É só meu namorado. Ele disse que vamos fazer algo especial no Dia dos Namorados. — Ela respondeu, sorridente, sentando-se à mesa à minha frente. — Como você vai?

— Eu vou bem, obrigado. Só estou um pouco... Nervoso, sabe, sobre o que aconteceu ontem. Mas e você?

— Eu também estou bem. — Ela respondeu, balançando os pés. — Mas, espere, nervoso por quê?

— Ah, você sabe... — Respondi, misteriosamente, numa altura que eu sabia que iria atingir os ouvidos de Andrew. Ele se virou por um milésimo de segundo e olhou na nossa direção. Quase gargalhei. Eu não estava falando dele, mas foi divertido fazê-lo acreditar que sim. — Sobre o Correio Elegante.

— Ahhh — Alicia exclamou, arqueando as sobrancelhas. — O que ele disse? Ele ficou bravo? Gostou?

— Ele não disse nada. Acho que ele nem se importou com o fato de ter um admirador (ou admiradora) secreto. — Respondi. — Na verdade, eu encontrei com ele no parque, ontem.

Alicia deu um gritinho feminino demais até mesmo para ela e pulou da mesa, sentando-se na cadeira desta vez. Ela sorria como uma criancinha.

— Meu Deus! Me conte tudo! — Ela ordenou, dirigindo seus olhos castanhos arregalados para mim.

Eu e Alicia nunca fomos muito próximos. Mal conversávamos, porque sentávamos muito longe um do outro, mas, naquele momento, eu não medi as palavras. Contei tudo, cada palavra que Larry tinha dito, cada mínima coisinha – exceto o fato de Larry se chamar, na verdade, Lucas. Ocasionalmente, Andrew parecia se virar na nossa direção, mas eu decidi ignorá-lo. Foquei em Alicia e na história de Larry.

— Ai meu... — Disse Alicia, respirando fundo, quando eu terminei. — Deus. Greg, seu louco!

— Ei, a culpa não foi minha. Eu não queria encontrá-lo lá. Não tenho culpa se pintou um clima entre nós. — Rebati.

— Mas, por que você foi ao parque? Essa parte você não falou...

Olhei para o lado. As palavras de Alicia se tornaram distantes, encobertas por meus pensamentos, e eu olhei para Andrew. Alexia já tinha chegado e estava sentada na frente dele, e ambos estavam conversando. Não vi motivos para não falar a verdade.

— Por causa de Andrew. — Respondi. — Nós brigamos ontem, logo após o Correio Elegante.

— Oh. — Alicia exclamou. — Isso é bem... Estranho. Mas, você acha que Larry sabe que você é o "admirador secreto" do bilhete?

— Bom, eu acho que não, caso contrário ele teria falado alguma coisa ontem, quando conversamos. — Respondi. — Mas ele nem tocou no assunto. Mal parecia se lembrar.

— Entendi. — Ela respondeu, balançando a cabeça. — E o que mais tinha no bilhete além da sua mensagem?

— Meu número de telefone.

Alicia arregalou os olhos.

— Greg, seu maluco, você não quer que ele saiba quem é o admirador secreto, mas colocou seu número de telefone?! E se ele te adicionar no whats? Vai aparecer sua foto lá!

Droga, eu não tinha pensado nessa parte. Abaixei a cabeça, comprimindo os olhos e me xingando internamente por ser tão estúpido.

— Mas que merda! — Praguejei. — Eu não tinha pensado nessa parte.

— Vamos, tire sua foto já! — Ela sugeriu.

— Não dá. Eu não tenho internet.

— Então, quando chegar em casa, faça assim mesmo. — Ela respondeu. — Isso pode te dar um problemão!

A última frase de Alicia soou alto demais e metade das pessoas que estavam na sala olhou para nós. Eu retribuí os olhares, tentando transparecer que estava tudo normal, mas havia um olhar no meio dos outros que me prendeu. Larry.

— Acho que você falou muito alto. — Comentei, olhando para Alicia. Ela sorriu e eu também. Em questão de milissegundos, estávamos gargalhando como duas hienas histéricas.

— Isso é hilário. — Ela respondeu, secando as lágrimas dos olhos, que tinham aparecido por causa das risadas. — Você é muito...

— Corajoso?

— Eu ia dizer idiota, mas ok. — Ela respondeu. Levei na brincadeira. Estava óbvio que era uma brincadeira. A caridosa e atenciosa Alicia nunca me xingaria de idiota, não seriamente.

Estávamos prontos para começar a copiar o conteúdo posto no quadro-negro, quando alguém surgiu ao lado de Alicia e se mostrou como uma parede de cabelos loiros e uniformes. A pessoa colocou a mão no ombro de Alicia, abaixando-se e dando um beijo em seu rosto. Quase pulei de susto.

Era Iliana.

A garota virou para mim, com um sorriso de espanto.

— Greg! — Disse ela, virando-se para o outro lado e saindo como se nada tivesse acontecido.

— Mas que merda acabou de acontecer? — Perguntei, consternado, olhando Iliana se sentou numa cadeira ao lado de Alexia e Andrew. — Por que... Por que você deu oi para Iliana?

Alicia levantou as mãos, como se estivesse dizendo "não se preocupe". Seu olhar estava tão digno de compreensão que eu não tive condições além de compreender.

— Ela está numa Reinserção. — Alicia respondeu.

— Reinserção? — Perguntei. — O que diabos é isso?

— Bom, quando você foi embora, Alexia não conseguiu continuar seu namoro com Andrew e então ela descontou toda sua raiva tentando se vingar de nosso Time. — Alicia respondeu, abaixando a voz. Tive que me inclinar para ouvi-la. — Nós não fomos atingidos. Digo, eu, Aqua e Alison. Mas Iliana foi humilhada na frente do colégio inteiro.

— Meu Deus! O que Alexia fez?

— Ninguém tem certeza de quem fez o que, mas Iliana, num certo dia, foi encontrada nua no palco do auditório, quando os primeiros alunos entraram para os armários. Ela ficou em choque e precisou até de uma terapia com psicólogos. — Alicia continuou. — Dizem que ela foi drogada e colocada lá. Para mim, Aqua e Alison, não há a menor dúvida de que foi Alexia que fez isso. Então, para melhorar o psicológico de Iliana, fomos instruídos a tratá-la como amiga, para ela não se sentir constrangida.

— Entendi. — Respondi bem lentamente, analisando a situação. — Mas, se vocês têm certeza de que Alexia fez isso, por que não a deduraram?

— Não temos como provar. — Disse Alicia, franzindo o cenho. — Mas temos quase certeza.

Assenti lentamente. Afinal, ela tinha razão: seria muito perigoso arriscar nossa saúde emocional acusando Alexia de qualquer coisa.

Apenas confirmei, mostrando que tinha uma simpatia com o plano das garotas, e voltei minha atenção a meu material, decidido a copiar o conteúdo do quadro negro. Mas, pelo visto, aquele dia não era um bom dia para estudar. Quando retirei meu caderno da mochila, outra pessoa se aproximou de mim e de Alicia. Eu a vi olhar para a tal pessoa, arregalar os olhos, olhar para mim e depois se virar para frente. Não sabia por que tamanha exaltação, até olhar para o lado.

Era Larry.

Ele estava ao meu lado, com o quadril encostando-se à minha mesa. Seus olhos castanhos me perfuravam como lasers e senti a tensão em sua expressão: seus lábios, agora brancos, estavam comprimidos numa linha tão rija que inibia a passagem de sangue; seus olhos tinham uma inclinação aparentemente irritada e frustrada. Desviei o olhar do dele. Era estranho olhá-lo daquela maneira. Ele parecia irritado com alguma coisa, eu só não sabia com o quê. Olhei para baixo e vi que sua mão estava em cima da minha mesa, segurando um pedaço de papel que eu já tinha visto.

— Greg, preciso falar com você. — Ele disse, seriamente. Sua voz saiu muito mais grave com a entonação de frustração. Eu não respondi. Ele estendeu a mão, deixando o bilhete cair na mesa. — É sobre isso.

Prendi a respiração enquanto lia o que estava escrito.

“Você não sabe quem eu sou, mas gosto de você. Me liga.”

 

***

 

Fiquei sem reação. Minha boca ficou seca, meus lábios se comprimiram sozinhos, e eu tive o desejo animalesco de querer enfiar minha cabeça embaixo da terra. Ele estava me olhando com uma acusação praticamente certa. Ele sabia. Ele descobriu.

— Calma. — Eu disse. — Não podemos conversar sobre isso agora. No intervalo a gente...

— Por quê? Qual o problema? — Ele interrompeu grosseiramente. — Eu preciso que você diga se...

— Ok, ok. Apenas não desconte sua frustração em mim. Eu apenas...

— O quê? Eu preciso da sua ajuda. — Ele interrompeu novamente.

Foi o momento mais estranho da minha vida. Ele, ali, parado como se quisesse me matar e me ajudar ao mesmo tempo. Mas foi mais estranho ainda porque ele parecia inclinado a não acreditar em algo.

— Espere. — Eu disse. — Você sabe quem mandou isso?

Não existe ateu quando se está numa situação como aquela. Apenas conseguia rezar. Por favor, diga não. Não. Não.

— Não. Eu deveria? — Ele respondeu confuso. — Por isso vim pedir ajuda a você. Precisamos descobrir quem mandou isso.

Soltei o ar que não sabia que estava segurando. Graças a Deus.

— Ok, mas vamos para outro lugar. — Respondi, levantando-me.

Inclinei-me rapidamente na direção do professor de Direito para perguntar se eu e Larry (ou deveria chamá-lo de Lucas?) podíamos ir ao banheiro, mas ele apenas disse sim com um aceno em direção à porta. Eu sorri, confuso, e comecei a andar. Pude sentir os olhares das pessoas queimando nossas costas, certos de que eu e Larry íamos fazer alguma coisa em segredo. Abri a porta da sala, segurando-a até que Larry já estivesse do lado de fora, e então a fechei novamente.

Era isso. Estávamos a sós.

— Posso fazer uma pergunta? — Perguntei.

— Pode.

Fiz um silêncio misterioso, olhando-o por um momento, e depois acrescentei:

— Por que não pediu ajuda para seus amigos de futebol?

— Aqueles caras não gostam de assunto assim. E vai por mim, véi, você é minha melhor opção.

Oookay. — Respondi lentamente, franzindo as sobrancelhas, enquanto tentava ignorar o fato de ter sido chamado de “véi”. — Mas por que eu?

— Por causa da nossa conversa de ontem. Você sabe, toda aquela história de pessoas que são diferentes de outras e tals... — Ele disse. — Você sabe.

— Eu sei?

— Sabe.

— Sei do quê?

— Sabe que é diferente dos outros. Sabe que eu o acho diferente dos outros. — Ele disse.

Nossos olhares se encontraram por um milésimo e a única coisa que eu conseguia pensar era no significado de diferente. Será que eu era diferente para ele na forma boa? Ou na forma ruim? Decidi não perguntar. Além de que, ele podia romper qualquer laço comigo quando soubesse que fui eu que enviei aquele bilhete. Maldito bilhete. Foi incrível como um pedaço de papel quase arruinou a minha vida.

— E então? — Perguntei, quebrando o clima. — Você tem alguma ideia de quem enviou isso?

— Não. — Ele respondeu. — Mas os caras me disseram que viram Aimee se aproximar da bancada do Correio. Eles acham que ela tá na minha. Engraçado que eles também te viram lá, escrevendo para alguém.

Eu gelei.

— Sim, eu escrevi. — Respondi.

— E para quem? Pra Andrew? Porque, olha, sinceramente, ele parece que tá cagando pra você.

— Eu não usaria esses termos, mas sim, também acho que ele está me ignorando. — Respondi, rindo. — Mas eu não quero falar dele. Você acha que foi a Aimee?

— Hmmm, sinceramente? Não. — Ele respondeu, comprimindo os olhos. — Ela não parece estar na minha. Você sabe, eu saberia se ela estivesse. Tenho meu sensor.

— Sensor? — Perguntei, rindo mais ainda. — Claro. Porque todos os caras têm um sensor...

— Todos os homens têm. — Ele respondeu. — Eu sei quando uma garota tá afim de mim. É coisa de cara, tá ligado?

Assenti, mesmo não fazendo a mínima ideia do que era uma “coisa de cara”.

. — Respondi usando a linguagem de gírias dele. — Mas eu acho, de verdade, que foi ela. Quem mais poderia ser?

— Não sei. — Ele respondeu, após uma longa pausa. — Pode ser qualquer um. Uma garota...

— Ou garoto...

— Ou garoto. — Ele respondeu com um sorrisinho. Não sei se aquilo que eu tinha (costumeiramente chamado pelos leigos de “radar gay”) era o sensor de que ele estava falando, mas alguma coisa dentro de mim apitou.

— O que você faria se descobrisse que foi um garoto? — Perguntei, casualmente.

Ele sorriu generosamente, abaixando a cabeça para desviar o olhar.

— Não sei, cara, não sei. — Respondeu. — Mas, enfim, fora a Aimee, eu tenho outra suspeita. Aquela tua amiguinha.

— Alicia. Ela tem namorado...

— Não, não essa. Acho que a outra, a que se chama Aqua. — Ele interrompeu. Eu fitei seus olhos por um tempo, sem saber o que dizer. Ele não podia achar que Aqua estava apaixonada por ele. Isso seria muito, muito estranho.

— Por que acha isso? — Perguntei.

— Não sei. — Ele respondeu. — No dia que você chegou, naquele dia que eu trombei em você, ela ficou olhando para mim e dando sorrisinhos. Achei isso estranho.

— Entendi. — Eu respondi, lutando para não gargalhar. Mal sabia ele que Aqua estava rindo porque eu estava afim dele. — Mas não acho que tenha sido ela. Aqua é muito tímida. Nunca escreveria um Correio Elegante.

— Será?

— Tenho certeza.

— E como pode ter certeza? Você teria coragem?

— Eu tive. — Respondi. Ele ficou em silêncio, olhando-me profundamente nos olhos. O olhar dele parecia perfurar a minha mente e alcançar a minha alma. Lutei contra o impulso de sair correndo dali.

Ele se aproximou. Não havia nada entre nós e a parede do corredor me impedia de ir mais para trás. Estávamos tão próximos que eu podia sentir seu perfume e sua respiração.

— Greg. — Ele disse, falando bem lentamente, estreitando os olhos. — Para quem você escreveu?

Eu não respondi. Não conseguia. Conversar com Andrew sobre tudo que tínhamos passado não tinha sido tão difícil do que conversar com Larry sobre o Correio. Ele estreitou ainda mais os olhos para mim e a única coisa que fiz foi sorrir timidamente.

— Para Andrew. — Respondi. — E, além disso, acho que já ficamos tempo demais aqui. Deveríamos voltar.

Ele soltou uma interjeição como “hum” e se afastou. Passou perto, mas ele ainda não sabia do escritor de seu Correio Elegante. Olhei para a porta da sala, que estava entreaberta, e sugeri que ele fosse à frente.

Quando ele entrou – e apenas nesse momento – me deixei expressar todo meu nervosismo com caretas e sorrisos ansiosos.

 

            Toda a sala ficou em silêncio quando entrei, como se estivessem falando de mim – o que, na verdade, era bem provável. Vi Andrew olhar para mim, com um olhar preocupado, mas apenas segui em frente e não sustentei o olhar por muito tempo. Continuei andando até a minha mesa, puxando a cadeira e me sentando.

— Greg, você está muito pálido. — Disse Alicia, preocupada.

— Está tudo bem. — Respondi.

— O que houve? O que ele perguntou?

Aproximei-me da mesa de Alicia, quando todos começaram a conversar novamente. O professor não parecia estar dando a mínima para o barulho de conversas, mesas sendo arrastadas ou risadas. Olhei para ele e depois para Alicia.

— Ele queria falar sobre o Correio Elegante. — Respondi. Ela arregalou os olhos. — Mas, calma, não é isso que está pensando. Ele não sabe que fui eu. Desconfia, mas não sabe. Ele quer minha ajuda para descobrir quem é.

— Nossa, que estranho. — Disse Alicia. — Eu nem saberia o que fazer se estivesse no seu lugar.

— É, eu também não sei. — Respondi. — Posso dizer para ele de uma vez, ou posso levá-lo a pistas que provavelmente levarão para mim novamente.

— Ou... — Disse ela. — Você pode mentir. Usar pistas falsas.

— Como?

— Tipo, você pode falar que sabe quem foi. Pode falar que foi qualquer pessoa. — Alicia explicou. — Claro, se você quiser isso.

Ela estava certa, como sempre. Eu queria e não queria que ele soubesse sobre isso. Queria porque ele saberia o que eu sentia, mas não queria porque não tinha certeza se ele reagiria positivamente ao fato de um garoto estar gostando dele. Essa foi a primeira vez, naquela sala, que eu parei para pensar se realmente estava apaixonado por ele, ou se estava só gostando dele. É algo complicado de se pensar.

Estava pronto para argumentar com Alicia, tentando elaborar um plano, quando ela estendeu um folheto para mim. A folha amarela era atrativa, cheia de enfeites e parecia ser um convite. Peguei o papel e li cuidadosamente.

 

Iliana.

Festa de 18 anos.

11/08

Na R. West, nº 45.

Vá fantasiado.

           

— Uma festa? — Perguntei. — Da Iliana?

— Sim. Todos foram convidados, o que inclui Larry também. — Alicia respondeu. — Quem sabe essa pode ser sua oportunidade.

— Oportunidade para quê?

Ela olhou seriamente em meus olhos e respondeu:

— Não sei. A festa é só daqui a um mês. E, até lá, tudo pode acontecer.

 

***

Poucos dias depois...

 

Meu telefone apitou três vezes até que eu conseguisse desbloqueá-lo. Era um toque estridente e eu odiava-o, mas sempre me esquecia de trocar para algum sinal mais animado. Quase dei um pulo da cama. Procurei pelo aplicativo de mensagens e o acessei, esperando encontrar algo de Alison ou de Aqua, mas não eram as duas. Grande parte de mim queria deixar para lá, mas a outra se agitou imediatamente quando viu o dono da mensagem.

Era Larry.

 

Ele: “olá, tem alguém aí?”

 

Fiquei estagnado, olhando a tela do celular. Já tinham se passado três dias desde que decidi ajudá-lo a achar o escritor, ou escritora, do Correio Elegante (que, no caso, era eu mesmo), mas desde então ele não tinha vindo falar comigo mais alguma vez. A mensagem significava que ele havia lido o Correio Elegante e tomado coragem para descobrir quem havia escrito.

A luz do sol mal entrava no meu quarto. A janela estava fechada, transformando o recinto numa câmara de aprisionamento, então me levantei e fui até as cortinas, afastando-as e abrindo as janelas. Imediatamente, o som de minha mãe e Ryan conversando entrou pela janela. Eu ignorei. Meu coração estava disparado.

Ele havia tomado coragem suficiente para mandar uma mensagem para o número do Correio. O que eu deveria fazer? Responder? Mas, se o fizesse, ele não descobriria? Agradeci a Deus mais de uma vez pela ideia de Alicia, que disse que eu deveria ter excluído minha foto do Whatsapp. Sorri quando lembrei que tinha apagado meu nome também. Então não havia como ele saber que era eu ali, no outro lado da internet. Eu estava anônimo.

 

Eu: “e aí? Quem é?”

 

Dez minutos de vácuo.

 

Ele: “Você tem vida?! Pensei que tinha sido trolado...”

                   “Quem é vc?”

Eu: “Ninguém. Pq?”

Ele: “pq me passaram seu número”

       “escuta, foi vc que fez isso?”

 

Meu coração deu um salto quando vi a foto do Correio Elegante. Mordi o lábio, pensando numa resposta. Podia mentir e levá-lo à outra pessoa – até podia dizer que conhecia quem havia escrito –, mas o que aconteceria se eu tivesse falado a verdade? Decidi naquele momento que meu relacionamento com Larry deveria ser diferente de meu relacionamento com Andrew. Eu não ia mais me esconder da vontade de ficar com ele.

           

Eu: “fui eu sim. Vc gostou?”

Ele: ... “eu não sei, deveria?”

Eu: “bom, se alguém tivesse gostado de mim, eu deveria saber”

 

Foi estranho responder essas coisas para ele, como se eu mesmo levasse aqueles conselhos para a vida. Tentei não chorar enquanto escrevia.

 

Ele, após uns cinco minutos: “vc não respondeu a minha pergunta, quem é vc?”

Eu: “acho que vc vai ter que descobrir, vc nem imagina quem sou”

 

Não aguentei mais de tanta vergonha naquele momento, então agarrei o celular e o joguei em cima da minha cama, tentando deixar para lá. Mas foi estranho se passar por outra pessoa. Eu ainda podia voltar atrás, contar toda a verdade. Mas, se o fizesse, o que aconteceria? Lembrei-me que com Andrew tudo foi um mundo desmoronando: nós vivemos meses e meses “juntos”, e, quando a parede de farsas caiu, nos magoamos muito. Com Larry não podia ser assim. Eu não podia simplesmente enganá-lo e depois fingir que nada aconteceu. E se ele descobrisse depois? Eu tinha que ajeitar tudo.

Procurei por meu celular no meio dos cobertores e desbloqueei a tela novamente. Ele tinha mandado outra coisa.

 

Ele: “nossa, que mistério”

           

Imaginei a frase que eu mandaria. Tudo estava muito claro em minha mente. A frase, as palavras, a letra, o significado. Nosso relacionamento ficaria muito abalado daquele momento em diante, mas eu decidi que não devia me importar. Afinal, como saberia que não ia dar certo se nem ao menos havia tentado?

 

Eu: “Desculpa, Larry, eu estava brincando. Sou eu, o Greg. Sim, fui eu que escrevi o Correio. Desculpe-me por ter te enganado. Só não se zangue comigo. Preciso falar com você pessoalmente sobre isso.”

 

Minha mão tremia quando terminei de digitar. Revisei o textinho umas duas ou três vezes, cuidando para não haver erros ortográficos. Não havia nada, como sempre. E, como sempre, eu estava estragando mais um de meus relacionamentos. Primeiro Andrew me pegou de surpresa, mudando seus sentimentos drasticamente. E agora Larry, que provavelmente me mataria ao saber que eu gostava (realmente gostava) dele. Meu dedo se colocou em cima do botão de enviar e então congelei. Outra mensagem havia chegado. Meu coração disparou e eu tive certeza que iria vomitá-lo em breve, mas não era Larry. Era Aqua.

           

Ela: “Greg, onde vc tá?”

Eu: “Em casa. Pq?”

Ela: “Larry veio falar comigo. Ele quer te ver, dizendo para encontrá-lo no parque, seja lá qual parque for, em cinco minutos. Ele disse que vai estar no mesmo lugar que vcs se encontraram há alguns dias.”

Eu: “ok”.

 

Eu não estava OK. Se tinha coisa que eu não estava, essa coisa era OK. Meu coração pareceu derreter quando li a mensagem de Aqua, transformando-se em líquido. Ele estava ali por perto, me esperando. Imediatamente pensei no por quê: por causa da conversa entre o suposto “outro eu” e ele. Mas, mesmo assim, saber que Larry queria se encontrar especificamente comigo me fez repensar o modo como ele havia me tratado. Ele conversava muito com os amiguinhos dele, mas quando vinha para perto de mim, era como se fôssemos amigos desde sempre. Eu me sentia livre para compartilhar qualquer coisa com ele, e tentava deixá-lo à vontade da mesma forma. Sabe que é diferente dos outros. Sabe que eu o acho diferente dos outros, ele havia dito.

Levantei-me num pulo. Passando as mãos rapidamente pelos cabides que havia atrás da porta do meu quarto, agarrei uma blusa preta de capuz. Ainda não tinha retirado o uniforme (tinha acabado de chegar do colégio), então apenas vesti a blusa por cima da camisa azul e segui em frente.

 

Driblar minha mãe e meu irmão seria a parte mais difícil. O que eu falaria para eles? Que eu queria, do nada, ir dar um passeio no parque, sendo que era a pessoa mais sedentária na face da Terra? Simplesmente não ia funcionar, então, pensei em outra alternativa. Dizer a verdade.

— Mãe. — Disse, chegando à sala de estar, onde ela e Ryan estavam conversando. — Preciso falar com você.

— Diga. — Ela ordenou.

— Eu... Bom, eu preciso ir até o parque.

— O parque? Por quê? Greg, você sabe que lá é perigoso! — Ela protestou. Eu mordi o lábio para não me descontrolar.

— Eu sei, você já disse isso. Mas é que há alguém me esperando lá.

Hmmmm — Ela resmungou, bem lentamente. — Não sei, não. Você fica.

Decidi que fazer o papel de adolescente rebelde não daria certo, então tentei usar minha carta na manga: bancar o filho excluído socialmente e magoado. Tinha de funcionar. Olhei fundo nos olhos dela, arqueando minhas sobrancelhas.

— Mãe, por favor. É um garoto. — Eu disse. — Um garoto muito especial.

Ela levantou os olhos e encontrou os meus olhando-a com sinceridade. Ela tinha de dizer sim. Após uma longa pausa desconfortável, seus olhos se abaixaram outra vez.

— Ok, tudo bem. — Disse ela. — Mas Ryan vai junto.

Meu irmão pareceu tentar argumentar algo, mas eu apenas o segurei pelo ombro. Queria gritar e sair dali correndo, mas sabia que minha mãe não ia gostar do grito. Então só saí correndo, com Ryan me seguindo rapidamente.

 

A imagem de um parque semiabandonado numa sexta-feira à tarde não é a mais acolhedora das imagens de parques numa sexta-feira. Havia poucas pessoas no gramado central, cada qual com seu grupinho de amigos. Poucas delas eram da minha idade, aparentemente. Havia também cachorros doentes e famintos passeando de lá para cá, esperando que alguém lhes desse comida – partia meu coração vê-los assim, mas não podia fazer nada. Ryan estava ofegante e ficou extremamente vermelho por causa da corrida. Cinco minutos, repeti para mim mesmo. Cinco que se transformaram em zero.

— Quem... Quem é esse... — Disse ele, procurando por mais ar. Eu também estava ofegante, mas mesmo assim respondi.

— É Larry. Você ainda não o conhece. Ele é novo no colégio.

Meu irmão arqueou as sobrancelhas e eu virei o rosto para poder tentar achar algum sinal de Larry no meio do gramado. Ninguém. Estava tudo vazio.

Continuei andando, seguindo pela via de pedestres do parque, desviando de eventuais poças de água ou buracos no asfalto. Eu gostava daquele parque, sempre gostei. Estar entre as árvores sempre me trouxe, desde criança, um sentimento de renovação. Mas saber que Larry estava ali deixava tudo com um ar diferente, tudo adquiria um significado novo.

Meu irmão me seguiu à risca, respirando profundamente. Em questão de minutos, já tínhamos chegado ao local do “encontro”.

— É aqui. — Eu disse.

Ryan olhou para ambos os lados, abrindo os braços e dando um sorriso sarcástico.

— Bom, parece que você foi zoado. — Ele disse. — Não tem ninguém aqui.

Ele estava certo. Olhei também para os lados, e tudo que se podia ver ou ouvir eram as árvores. Aquilo tinha sido uma péssima piada de mau gosto, fosse de Aqua ou de Larry. Meu irmão estava rindo da minha cara. Por que me levar àquele lugar sujo, molhado e frio? Apenas para me zoar? Apenas para me deixar com cara de bobo, esperando encontrar alguém que não estava lá?

Sentei-me no chão, sujando minha calça de grama.

— Vamos esperar. — Comentei. Meu irmão olhou para mim.

— Você tá brincando, né? — Ele disse. — Eu nem queria ter vindo.

— Mas você veio, então sente e espere ou volte para casa. — Respondi grosseiramente. Já não bastava ele rir da minha cara. — Eu vou ficar. Ele ainda vai vir.

Eu queria, realmente queria acreditar naquilo. E então, como se estivesse numa espécie de ritual de invocação de Larry, refiz as mesmas coisas que antes. À minha frente, o lago parecia imóvel e azul, refletindo o céu. Eu dobrei minhas pernas e agarrei meus joelhos, abraçando-os, puxei meu capuz e cobri minha cabeça. Naquele momento, rezei para que ele aparecesse.

 

— Ah, você está aí! — Uma voz grave me tirou do devaneio. — Estava te procurando!

Levantei a cabeça, procurando a origem do som.

Larry estava parado, olhando-me de trás duma árvore seca. Seus lábios sorriam, embora seus olhos parecessem tristes. Lutei contra o impulso de sair correndo para abraçá-lo, mas ainda assim sorri. Ele estava sem o uniforme do colégio e eu me senti o garoto mais estúpido por ainda estar usando aquele conjunto azul. Larry havia colocado uma calça jeans preta e uma jaqueta cinza-escura.

Olhei para Ryan de soslaio e sorri gentilmente.

— Ry, eu preciso de um minuto. — Disse, me levantando. A grama gélida tinha deixado minhas calças frias e estremeci quando o vento soprou contra minhas costas. Não retirei o capuz (na verdade, não queria que Larry visse o caos do meu cabelo).

— Onde você estava? — Perguntei.

Ele balançou a cabeça, colocando as mãos nos bolsos. Era (infelizmente) uma jaqueta-regata-com-capuz. Todo mundo sabia que aquele tipo de blusa já estava ultrapassado há mais de uma década, exceto ele. Mas eu não me importei. Quando ele colocou as mãos nos bolsos e pressionou os braços contra o corpo, eu pude ver os músculos se contraindo. Ele tinha uma tatuagem em ambos os antebraços.

— Eu não... — Eu disse. — Eu não sabia que você tinha tatuagens.

Ele olhou para baixo.

— Bom. Para todos os efeitos, eu tenho mais de dezoito anos, ok?

Eu sorri.

— Ok.

            Ele olhou seriamente para mim, semicerrando os olhos de uma forma que suas íris ficaram mais escuras. Percebi, com um pouco de admiração, que um princípio de barba crescia abaixo de suas costeletas.

— E aí, descobriu algo? — Perguntei casualmente, tentando mudar de assunto. — Aqua disse que você queria falar comigo e...

— Sim, na verdade. — Ele disse, aproximando-se de mim. Usava um perfume muito bom, percebi. — Eu conversei com a tal pessoa.

— Usou o telefone que estava no Correio? — Perguntei, ainda casualmente, mas imediatamente me repreendi por ter feito a coisa mais estúpida do mundo.

Ele se afastou, retirando o celular do bolso.

— Espere. Eu nunca disse que havia um telefone no Correio. — Ele disse, olhando-me com as sobrancelhas franzidas. Senti o sangue subir para meu rosto e lutei para esconder o que estava ocorrendo internamente comigo.

— Ah, eu ouvi dizer... — Respondi, tentando parecer neutro. — Você sabe. Lá na sala de aula, as paredes têm ouvido. O que a pessoa respondeu?

Ele fez um “tsc”, murmurando um “uhumm”, e se aproximou novamente. É claro que não acreditou no que eu disse. Quem acreditaria? Eu fui muito estúpido em falar as coisas tão na lata. Prometi a mim mesmo, naquele segundo, que apenas falaria o necessário.

Essa foi por pouco, pensei.

Ele mostrou a tela do celular para mim. Nossa conversa ainda estava aberta, exibindo nossas frases trocadas, e eu suprimi um gritinho de triunfo quando vi que estava off-line.

— Eu comecei tentando ver se alguém estava lá. — Ele disse, com sua voz grave soando muito alta perto de mim. — Quer ver?

Larry estendeu o celular e eu peguei o aparelho. Estava quente por causa do aperto das grandes mãos dele. Olhei a tela de cima à baixo, absorvendo cada detalhe. Estava tudo lá.

 

Eu: “e aí? Quem é?”

Ele: “Você tem vida?! Pensei que tinha sido trolado...”

                   “Quem é vc?”

Eu: “Ninguém. Pq?”

Ele: “pq me passaram seu número”

                   “escuta, foi vc que fez isso?”

Eu: “fui eu sim. Vc gostou?”

Ele: ... “eu não sei, deveria?”

Eu: “bom, se alguém tivesse gostado de mim, eu deveria saber”

Ele: “nossa, que mistério”

 

As palavras travaram em minha garganta. Não sabia o que dizer.

— Isso é... — Comentei afinal, dizendo nada com nada.

— Bem louco. — Ele completou. — Eu sei. — O telefone foi retirado da minha mão antes que eu pudesse ver mais alguma coisa. — Mas, agora temos um contato.

— Contato? O que somos agora? Detetives? — Perguntei, sorrindo. Ele sorriu de volta.

— Quase isso. Somos dois garotos tentando descobrir quem está apaixonado por mim.

Hmmm — Eu disse. — Isso é mais louco.

— Eu sei.

Essa foi a primeira vez que eu o vi e ouvi gargalhando. Sua voz se alterava muito quando ria, ficando mais grave, e seu sorriso se abria de orelha a orelha. Era uma coisa linda de se ver.

— Vamos andar. — Ele disse.

— Mas meu irmão... — Argumentei. Ele interrompeu com um aceno bem-humorado.

— Ele sabe o caminho de casa, não sabe? Então vamos.

 

Nunca soube qual era a graça de ficar sozinho com alguém dentro da mata, mas naquele dia, com Larry, eu descobri. As árvores formavam uma espécie de parede natural, abafando nossas vozes e ocultando nossas formas nas sombras. Larry foi à frente, afastando as folhagens com a mão. Não perguntei se ele tinha medo de uma aranha ou outro bicho subir por seu braço.

— Então... — Ele disse. — Qual a sua experiência em relacionamentos amorosos?

Ele parou subitamente e se virou para trás com um sorrisinho.

— Você sabe que é estranho perguntar isso para mim aqui, enquanto estamos sozinhos no meio da mata, não sabe? — Respondi.

Ele sorriu timidamente, abaixando o rosto.

— Sim, eu sei. Mas, e aí? Você já se deu bem com alguém?

Olhei seriamente nos olhos dele, tentando passar toda a minha irritação. Eu não estava irritado de fato, não com ele, mas com as lembranças que as perguntas me trouxeram.

— Eu já te disse. — Respondi. — Foi um fiasco com Andrew.

— Sim, você já disse. — Ele respondeu, aproximando-se lentamente. — Mas não houve outro garoto antes disso? Ou garota?

— Cara, eu sou completamente gay, então não houve uma garota. — Respondi. — E nem outro garoto, aliás. Mas eu não vejo qual é o motivo da pergunta.

Fiquei com a garganta fechada e senti que poda desmaiar. Ele estava perto o suficiente para que eu sentisse seu perfume, misturado com o odor das plantas, e sentisse sua respiração sobre mim.

— Ah tá, você é gay. Claro. — Ele respondeu timidamente. — Estou perguntando isso porque preciso saber. Sabe, eu e você deveríamos nos tornar amigos. E não é isso que amigos fazem?

— Sim. — Respondi.

— Então. — Ele completou. — Mas e agora? Não há um garoto especial na sua vida?

Eu segurei um grito. Droga, ele perguntou, realmente perguntou aquilo. A única coisa, além de suar feito um porco, que consegui fazer foi fitá-lo seriamente nos olhos.

— Bom... — Respondi. — Tem.

            Ele deu um sorrisinho digno de um abraço e eu quase o abracei.

— Quem é? — Ele perguntou, olhando-me curiosamente. Ok, isso já foi longe demais, pensei. Se ele queria jogar daquela forma, por que eu não poderia?

— Só vou responder se você me disser quem é a pessoa importante na sua vida, seja ela homem ou mulher. — Respondi. Ele fez uma careta, mas não pareceu ofendido ou coisa parecida.

— Minha vida amorosa é complicada. — Respondeu. — Acontece que eu gosto de uma pessoa, mas essa pessoa talvez não retribua meus sentimentos.

Havia um sorrisinho triste no canto de sua boca pela 38252529ª vez e eu tentei não abraçá-lo.

— E você já tentou? Quero dizer, já tentou ver se a pessoa retribui? — Perguntei. O sorrisinho nos lábios dele se transformou em algo muito mais travesso.

Os pés de Larry se moveram pela terra e se aproximaram de mim, deixando-o mais perto. Sua voz saiu num sussurro.

— O que acha que estou tentando fazer?

Meu coração provavelmente deve ter feito ginástica quando eu ainda era um feto, pois pulou de lado a lado no meu peito. Minha garganta se trancou, inibindo as palavras. Tudo que eu queria fazer era pular no lago e me afogar drasticamente, mas, mesmo assim, estiquei um braço e toquei o peitoral de Larry. Uma rede de sensações subiu por mim, deixando-me arrepiado e com calor. Eu realmente havia tocado nele.

— Então... — Eu disse. — Essa pessoa deve ter muita sorte. Talvez você a faça feliz. Só não a deixe descobrir sobre o Correio.

Com isso, me virei para o outro lado e comecei a andar na direção da saída da mata. Larry me seguiu, mas não pude ver se ele estava triste, bravo ou qualquer outra coisa.



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