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História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se apaixonar por alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 2 - Como se apaixonar por alguém


Fanfic / Fanfiction Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se apaixonar por alguém

COMO SE APAIXONAR POR ALGUÉM

         Naquela noite, minha mãe disse que queria fazer algo especial. Eu não esperava o que estava por surgir, mas ela meio que me deu uma dica: disse que precisava ter uma conversa séria com Monique. Ela convocou toda a família para o jantar, algo que raramente acontecia, pois sempre jantávamos em períodos diferentes, cada um no seu canto. Meu pai quase não ficava em casa, minha mãe sempre estava depressiva e minha irmã era tão egoísta... Então, por que eu deveria colocar mais problemas sobre a mesa? Por que deveria revelar quem eu verdadeiramente era? Meus pais não sabiam que eu era gay, e, se soubessem, a reação deles não seria nada agradável. Escondi todos meus problemas atrás de uma parede.

            Comecei a escutar os sons da conversa enquanto caminhava para a sala de jantar. Todos já estavam lá, exceto a mim.

            — Você acha que ele é uma boa pessoa, sério mesmo? — Perguntou minha mãe.

            — Eu não sei, mãe. Eu só... Eu só não sei o que eu quero. — Respondeu minha irmã, com a voz estridente de quem defende um argumento.

            — Você acabou de dizer. — Interrompeu meu pai, com sua voz grossa. — Você disse que quer se mudar... E nós não vamos...

            Não consegui mais aguentar de curiosidade e entrei na cozinha. Eles interromperam a discussão imediatamente e pararam, olhando para mim e com espanto.

            — Greg! — Disse minha irmã, aparentemente feliz em nos ver, mas assustada ao mesmo tempo. — Como foi o primeiro dia de aula?

            Eu não respondi.

            — Foi legal. — Disse Ryan. — Foi bem divertido, não tanto como aqui, pelo que posso ver... — Comentou, utilizando seu tom já conhecido de sarcasmo.

            — Eh... — Interrompeu meu pai. — Vocês podem esperar lá fora um pouquinho? Nós estamos no meio de uma discussão muito importante: coisa de adulto.

            — Não. — Retruquei. — Não vamos esperar lá fora. Eu ouvi o que você disse, antes disso. Disse que Mon vai se mudar. Isso é verdade?

            Monique, minha irmã (a quem eu chamava de “Mon”), me olhou com uma expressão de gratidão e ao mesmo tempo compreensão. Ela esperava que eu fosse concordar com sua mudança. Mas não. Eu era a pessoa que mais discordava com sua ideia de sair da casa.

            — É. — Respondeu ela.

            — Não, nós não permitimos... — Disseram meus pais, praticamente ao mesmo tempo.

            — Eu não preciso da permissão de vocês. Eu tenho mais de dezoito anos, já sei cuidar de mim mesma. — Retrucou Mon.

            — Você não vai se mudar por você, então não diga que já é responsável por onde mora. — Respondeu minha mãe. — Você vai se mudar pelo interesseiro do vizinho e não tente bancar a adulta comigo!

            — Eu já disse, eu não vou me mudar por ele, eu vou me mudar por mim. Acho que já tá na hora de eu viver minha vida.

            E então o silêncio. A frase pareceu atingir meu pai e minha mãe como uma onda devastadora. Eles não podiam dizer que ela não estava certa. Na idade de Mon, minha mãe já estava grávida pela primeira vez.

            — Nós entendemos isso. — Disse meu pai, compreensivo. — Mas você não entende que o momento não é o certo.

            — E qual será o certo? Quando eu estiver com trinta, quarenta anos? — Respondeu Monique.

            — O momento certo será quando o idiota do vizinho não estiver traindo a mulher dele e enganando você! — Berrou minha mãe, instaurando o silêncio novamente. Vi lágrimas surgindo nos olhos de minha irmã.

            — Eu vou me mudar, mesmo que vocês não queiram, mesmo que achem que o momento não é o certo. Vou fazer isso por mim. — Disse ela, se levantando da cadeira onde estava sentada. — Eu encontrei alguém para buscar as minhas coisas e sairei daqui na próxima quarta-feira. — Completou, indo para seu quarto e batendo a porta atrás de si.

 

ALGUM TEMPO DEPOIS...

 

            Monique sempre foi aquela que me ajudava quando eu precisava. Ela me entendia como ninguém entendia, sabia sobre os problemas que eu passava e tinha em mente a nossa situação. E, apesar de nossas brigas, eu a amava. Claro que amava. Ela era minha irmã.

            Mas nem o amor que eu sentia por ela, nem a insistência de meus pais, convenceram-na de que o certo era ficar. Eu estava lá quando o caminhão do frete chegou, e ela, com a ajuda de meu pai, colocaram seus objetos dentro do veículo. Eu estava lá quando eles esvaziaram seu quarto, deixando um guarda-roupa vazio e uma cama sem colchão. Eu estava lá quando ela, momentos antes de partir, veio em minha direção e me abraçou. Não dizemos nada. Não havia algo para dizer. E eu estava lá quando ela entrou no caminhão e ele saiu pela estrada, rangendo.

            Por uns três dias, eu não tinha ideia do que a mudança dela significava para mim e para minha família. Era muito mais do que eu imaginava. Ela, de fato, tinha um caso com o vizinho (que estava em processo de divórcio) e quis se mudar por causa dele, provavelmente.

            Mas, depois de algumas semanas, num domingo, ela retornou para casa, não para morar, mas sim para passar um tempo comigo e com Ryan. Sinceramente, se era para se afastar, então preferia que ela ficasse afastada. Era como um curativo: quanto mais rápido eu o retirasse, mais rápido a dor sumiria.

            E, para piorar, um dia antes, no sábado, eu tinha recebido a pior notícia de todas da minha vida. Ao longo desses dois meses que se passaram, eu decidi não ficar mais tão introvertido e comecei a conversar mais com as pessoas ao meu redor. Desenvolvi meu relacionamento com Anne, com Thomas e até com algumas garotas desconhecidas (depois, descobri que se chamavam Aqua, Alicia e Alison). Mas, acima de tudo, eu me aproximei de Andrew. Começou como conversinhas bobas sobre Game Of Thrones e coisas do gênero; eu falava que “O Senhor dos Anéis” era melhor, mas ele sempre discordava e dava argumentos contrários. E era, sempre, a cada fala, um sorriso.

O sorriso dele era lindo, e eu percebi que ele foi a primeira pessoa que me fez pensar dessa maneira. É claro, eu já tinha sentido atração por outros garotos, mas tais paixonites não chegavam nem aos pés dos sentimentos que eu tinha por Andrew. Eu sentia algo diferente por ele, algo muito mais íntimo, quase recíproco, como se ele também gostasse de mim da mesma maneira. Sempre me perguntava se eu estaria apaixonado por ele... E, naquele sábado, enquanto eu vagueava por minha “linha do tempo” no Facebook, descobri que ele não permaneceria comigo. Descobri que ele iria se mudar no final do ano. Se não me apressasse, nunca conseguiria fazê-lo sentir por mim o mesmo que eu sentia por ele. Nunca poderia me aproximar ao máximo, criando a íntima afinidade de pessoas que são mais do que amigos. Nunca poderia sentir por ele o que esperava tanto de um garoto. Nunca mais poderia olhar aqueles lindos olhos brilhantes, ouvir suas risadas, observar seus sorrisos, ou conversar sobre sabe-se lá o quê.

            Eu fiquei destruído, como se fosse feito de vidro. Tenho certeza que já havia ouvido algo assim, numa história amadora uma vez (que dizia ser um relato real); “Eu sou um Garoto de Vidro. Qualquer pressão sobre mim e as rachaduras já aparecerão”.

            A questão é que a notícia da mudança dele não trouxe rachaduras para mim, trouxe destruição. Eu senti meu coração, aparentemente de vidro, se estilhaçando em um turbilhão de milhões de pedacinhos... E eu sabia que seria impossível, de alguma forma, mas queria que ele remontasse o que sobrou de mim.

 

            — Decidiu ficar, então? — Perguntou minha mãe, quando estávamos nos preparando para o jantar daquele domingo.

            — Não, eu só disse que vou ter que ficar mais alguns dias... — Disse minha irmã, com o mesmo tom de defesa. — Eu quero passar mais tempo com Ryan e Greg.

            Sorri.

            — Então por que se mudou? Poderia ter ficado aqui. Tenho certeza que eles não sairiam de casa. — Retrucou minha mãe.

            — Porque o motivo de eu me mudar é mais forte do que minha vontade de ficar. — Respondeu minha irmã, subitamente calma. — Eu sinto muito se eu cresci, não tive como evitar.

            — Você não cresceu, tornou-se imprudente. — Interrompeu meu pai, grosseiramente. — Como quando era criança e quebrou o nariz porque não parava de correr pela casa. Dizíamos para parar, mas você nos ignorava.

            — Não vejo o que isso tem a ver...

            — Eu quero dizer que você quer correr pela casa novamente, mas logo irá se machucar em algum lugar. — Respondeu meu pai. — Se você não fosse um problema tão grande, talvez nós mesmos tivéssemos saído de perto de você. Assim como seus irmãos.

            Ai. Aquilo doeu. Em mim, em Mon e em Ryan. Pude ver lágrimas nos olhos de minha irmã novamente, elas brilhavam e começaram a cair pelo rosto.

            — Então é isso que vocês pensam de mim, que sou um incomodo? — Disse ela, com a voz rouca, e então se levantou, saindo pelo corredor.

            Meus pais ficaram estagnados. Pude ver a expressão de espanto no rosto de minha mãe, denunciando que nem mesmo ela achava que meu pai poderia falar algo daquele nível. Eu abaixei a cabeça. Por algum motivo, por algum estranho motivo, lágrimas também surgiram em meus olhos, mas não permiti que elas caíssem.

            Como eles não podiam ver o que estava acontecendo? Minha irmã se mudou por amor, e atire a primeira pedra quem nunca fez algo errado ou proibido em nome do amor... Se ao menos eles soubessem de tudo que se passava quando estavam fora.

            — Por que você falou isso? — Perguntou minha mãe, com a voz aguda, incrédula.

            — Porque é verdade. Você sabe que se fosse por ela e Greg nós já teríamos ido morar em outro estado. — Respondeu ele, como se justificasse suas grosserias. Eu entendi o que ele queria dizer. Há algumas semanas atrás eles apareceram com um projeto de mudança, mas eu disse que não concordava. Não porque não queria ir, mas porque não queria “abandonar” Andrew. Se bem que não faria diferença: ele nem ligava se eu existia ou não.

            — Não fale assim. Vá se desculpar com ela. — Respondeu minha mãe.

            — Nós precisamos dar um choque de realidade neles! — Disparou meu pai.

            E então eles olharam para nós, esperando respostas. Eu desejei que eles não tivessem feito isso.

            — O problema é que vocês não sabem o que se passa com nós, e vêm dizendo coisas sem sentido. — Comentei, roucamente, o que era verdade.

            — O quê? — Perguntou minha mãe. Ryan ficou em silêncio.

            — O que está acontecendo com vocês? — Perguntou meu pai. — Conte-nos agora.

            Não consegui suportar, e deixei as lágrimas caírem. Senti uma ardência no fundo da garganta, o que sempre acontecia quando eu misturava raiva à pressão.

            — Nada. — Respondi, levantando da mesa.

            — O que é? Fale!

            — Greg, fale agora!

            — Não está acontecendo nada! — Insisti, indo para meu quarto, mas meu pai fez questão de responder, dizendo:

            — Greg, você não irá a lugar algum se não me disser o que está acontecendo.

            E então eu não aguentei. Era muito para suportar. A mudança de minha irmã. A indiferença de Andrew. A pressão por viver em um lugar onde seus próprios pais não te aceitavam por você ser gay. E eu gritei. Gritei tão alto que cheguei a machucar minhas cordas vocais.

            — O problema é que eu estou apaixonado por um garoto que vai embora!

            Apenas depois de falar percebi que havia socado a mesa de vidro, e ela havia se quebrado em vários pedaços cortantes, machucando minha mão e fazendo-a sangrar. Naquela fração de segundo, enquanto mirava o sangue escorrendo por meu punho, percebi que tinha feito aquilo por Andrew. Por mais estranho que pareça, aquela foi a primeira vez que me machuquei por ele. A primeira vez que me apaixonei por alguém.



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