1. Spirit Fanfics >
  2. Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) >
  3. Como se iludir por alguém

História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se iludir por alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 4 - Como se iludir por alguém


Fanfic / Fanfiction Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se iludir por alguém

COMO SE ILUDIR POR ALGUÉM

Alguma voz em minha cabeça dizia que a próxima semana não seria mais fácil. Algo ficava repetindo em meus pensamentos que nada seria solucionável e que, se eu não tomasse uma medida drástica, as coisas poderiam piorar. Mas eu não dei atenção às vozes. Ao invés disso, retornei achando que algo poderia melhorar. Afinal, Alexia queria ficar com Andrew, mas quem havia dito que ele gostaria de ficar com ela?

            Entrei no Colégio Vargas como se estivesse em um dia qualquer. Nós nos instalamos onde sempre ficávamos na hora da entrada, num lugar embaixo da passarela que levava à porta do auditório. Ryan não parava de tagarelar sobre jogos de caminhões ou computadores “mega potentes” (como sempre fazia). Mas eu não estava a fim de conversar sobre tal assunto e mudei o rumo da conversa.

            — Será que Alanis vai vir hoje? — Perguntei, deixando uma subjetiva interpretação no tom de minha voz. Pelo silêncio que se formou, Ryan poderia facilmente descobrir qual era meu intuito.

            — Sei lá. Por quê? — Respondeu ele, com descaso.

            — Ah, você sabe. — Retruquei. — Você e ela...

            — Eu e ela o quê?

            — Ah, qual é, você acha que não é notável o que se passa entre vocês? — Disse. — Tá na cara que você gosta dela.

            E então o silêncio. Acho que fiquei traumatizado por meus problemas de relacionamento que acabei por colocá-lo em uma posição constrangedora. Depois de uns três segundos, ele arquejou.

            — É, isso pode ser verdade. — Respondeu ele. — Eu gosto dela, mesmo. Você sabe como é. Eu só não quero nada entre nós agora...

            — Como assim não quer nada com ela? E não, eu não entendo. Você sabe que minha posição é bem mais diferente da sua.

            — Eu até posso gostar dela, mas acho que não daria certo um namoro entre nós. — Respondeu ele.

            Ryan parecia profundamente magoado, de certa maneira, como se sentisse algo que eu não podia sentir. Por isso, decidi quebrar o rumo da discussão.

            — Sim, mas você sabe que ela precisa saber, não é? — Respondi.

            — Sei.

            — E você vai contar?

            — Não.

            — Por quê? — Perguntei.

            — Porque eu não quero que ela saiba. Ela deve saber, mas não quero que seja eu a contar.

            — Ah, entendi... — Comentei. — Você sente vergonha.

            — Vergonha? Claro que não! Nós nos conhecemos há mais de dois anos, por que eu sentiria vergonha dela?

            — Não sei. — Respondi. — Talvez você não sinta vergonha dela, mas sim dos seus sentimentos por ela. Isso é ok. Você vai ver.

            — E o que você sabe sobre gostar de alguém? — Disparou ele. Ai, aquilo doeu.

            — Eu sei de muitas coisas sobre isso. — Respondi. — E sei que você tem muita, muita sorte em se apaixonar por alguém que, digamos, possa gostar de você.

            — O que isso quer dizer?

            — É um conselho: fale tudo para ela, antes que alguém entre nas suas vidas e acabe roubando-a de você.

 

***

 

            O sinal tocou, felizmente cancelado nossa conversa. Não queria discutir sobre a sorte tremenda que Ryan tinha. Subi as escadas que levavam ao primeiro pavilhão do colégio e encarei as pessoas, na esperança de encontrar algum sinal (ou alguém) que pudesse me indicar do que poderia encontrar na sala de aula. Não vi Alanis, nem mesmo Eleonora, felizmente. A última coisa que precisava era elas tagarelando no meu ouvido sobre seus problemas pessoais. Contornei o primeiro pavilhão, deixando Ryan em uma das salas, e indo em direção ao último pavilhão, onde ficava o meu lugar.

            Havia poucas pessoas dentro da sala: Thomas, um grupinho de garotas que nunca falavam comigo, e um grupinho de garotos que eram famosos por causa dos jogos de futebol. Thomas como sempre, me cumprimentou sem muita ênfase, mal proferindo a frase “bom dia” em bom som. Tentei dizer oi da forma mais alegre possível, até porque essa era uma forma que usava para esquecer-me do que estava por vir.

            A sala de aula foi enchendo aos poucos. Vi Anne chegar, enquanto conversava com Thomas. Ela usava um suéter cinza que combinava com a cor de seus cabelos e a calça do uniforme, as mãos mexendo instintivamente no telefone celular. Ela se sentou ao meu lado, depositando sua mochila rosa em cima da mesa. Sempre estranhava quando via aquela mochila, pois Anne não era do tipo que usava “coisas de menininhas”, como mochilas cor de rosa, unhas pintadas com cuidado em cores pastel, cabelos sempre muito bem penteados ou mais coisas do tipo.

            — Oi. — Disse ela, especialmente para mim. Olhando assim, com o suéter e os cabelos cinza, ela até parecia uma menininha.

            — Oi. — Respondi.

            — Sabe se tinha alguma coisa para hoje? Tipo, um dever de casa...

            — Acho que não. — Respondi.

            — Ah, ok.

            Havia uma entonação naquelas duas palavras, “Ah, ok”, que parecia deixá-la triste. Deveria estar, afinal, o melhor amigo dela estava sendo “roubado” por uma “intrusa”.

            A professora de Sociologia – uma senhora baixinha, loira e que sempre usava roupas extravagantes – entrou na sala logo após o término do sinal (que era sempre uma música). Ela fechou a porta com tanta força que todos concluímos que o dia não estava sendo fácil para ela.

            — Cadernos. Agora. — Ordenou ela.

            — Nossa, sem nem um “bom dia”? — Disse Anne, mais com um tom de acusação do que uma pergunta. Assim como outras garotas da sala, Anne quase sempre deixava transparecer sua irritabilidade quando um professor passava dos limites.

            — Sem. — Respondeu a professora. — Nós estamos atrasados no que diz respeito ao conteúdo... Não podemos demorar mais. Eu quero que vocês façam uma redação e, como o tema desse bimestre é “sexualidade”, esta deverá ser sobre a sua visão sobre o homossexualismo.

            — Com licença, professora. — Eu interrompi, erguendo a mão. — O termo correto é “homossexualidade” e não “homossexualismo”. O termo correto foi adquirido quando os gays e lésbicas pararam de ser considerados como doentes. Na maioria dos casos, “ismo” pode significar doença.

            — Então... — A professora respondeu lentamente. Senti todos os olhares voltados para mim e uma agitação estranha surgiu no meu estômago. — Essa redação deve ser fácil para você, não deve? Parece que conhece muito bem do assunto, Greg.

            Escutei as pessoas ao meu redor rindo, exceto Anne. Os garotos da sala bateram palmas e praticamente urraram para mim, como se estivessem deixando evidente que ser gay é um problema. Ninguém ali sabia, apenas Anne, e eu preferia que continuassem sem saber. Por isso, mantive minha boca fechada e encarei uma folha de caderno em branco.

            Ok, pensei. Eu posso fazer isso. Mas não tinha certeza quanto a Thomas. Lembrava-me perfeitamente sobre o final do ano que se passado, quando ele me disse algo terrível.

 

            Estávamos na aula de matemática, cuidadosamente ministrada por um professor estagiário. A sala estava cheia, mas, naquela época, eu nem ligava se Andrew estava presente ou não. O estagiário nos deu uma folha repleta de exercícios, que deveriam ser respondidos antes do término da aula. Thomas, como sempre, estava sentado à minha frente, tentando resolver os problemas matemáticos. Eu já não conversava com ele naquela época, e ainda estávamos naquela primeira fase da amizade, onde os envolvidos tentavam se conhecer.

            De repente, ele bateu em meu braço. Primeiro pensei que fosse um acidente, como já havia acontecido, mas depois percebi que tinha sido mesmo de propósito. Ele bateu com tanta força que chegou a doer. Meu primeiro impulso foi argumentar hostilmente, mas o sorriso no rosto dele me fez perceber que havia sido uma brincadeira. Brincadeira de garotos, eu nunca vou entender.

            — Sério, cara, o que você faria se seu filho fosse gay? — Disse ele. Não entendi porque ele queria tocar nesse assunto naquele momento, mas decidi responder.

            — Sei lá. Tipo, eu deixaria ele quieto. Qualquer um tem o direito de amar quem quiser... — Escolhi as palavras com cuidado, para não contar para ele que eu mesmo era gay. Ainda bem que não contei.

            — Sério, se eu tivesse um filho gay, bateria nele até ele virar homem. E ainda colocaria alguns filmes indecentes para ele assistir.

 

            A lembrança daquela conversa não foi nem um pouco recebida com carinho. Mas eram nessas horas que eu me perguntava: por que eu ainda insisti na amizade com ele? Talvez porque nós já éramos amigos há um ano, e seria estranho simplesmente parar de falar com ele.

            — Boa sorte. — Disse para Thomas, sabendo que fazer um texto sobre homossexualidade o mataria por dentro.

            Dediquei-me à minha redação. Poderia falar sobre qualquer coisa com relação à homossexualidade, mas decidi discursar sobre o preconceito. Preconceito aquele que sofremos sempre que nos apaixonamos, sempre que decidimos ser aquilo que somos.

            E, depois de cinco minutos, contrariando tudo o que eu esperava, Andrew entrou pela porta.

 

***

 

            Ele veio andando em minha direção, com um sorriso no rosto. Era estranho vê-lo agora. Ele parecia distante, inalcançável, e ao mesmo tempo tão perto quanto a minha sombra. Contrariando ainda mais o que eu acreditava saber, ele deixou sua mochila em cima de sua mesa e puxou uma cadeira para sentar ao meu lado. Parecia ter acontecido alguma coisa séria entre ele e Anne durante essa semana de “folga” que tivemos.

            — Oi, Greg. — Disse ele, com uma entonação cômica na voz.

            — Oi. — Respondi.

            — O que é pra fazer? — Perguntou ele, claramente se referindo à tarefa.

            — Um texto sobre homossexualidade.

            — Ah, então tá.

            E foi só isso. Era incrível como uma conversa mínima como aquela já me deixava contente por falar com ele.

            — Greg, eu estou sem ideias. — Disse Thomas, como se fosse uma criancinha procurando por ajuda dos pais.

            — Eu não posso fazer nada. — Respondi. — Eu posso te ajudar com a gramática e ortografia, mas apenas isso. Talvez você precise escrever o que acha sobre o tema... E eu até acho que sei o que você vai escrever.

            Thomas retornou sua atenção para a folha, usando meu último conselho como ajuda, eu acho. Andrew permanecia ao meu lado, com os olhos fixos no caderno. Podia conversar sobre qualquer coisa com ele, mas não conseguiria interrompê-lo em seu raciocínio.

            Depois de dez minutos, Thomas largou o caderno em cima da mesa.

            — Pronto. — Disse ele.

            — Posso dar uma olhada? — Perguntei, praticamente me arqueando por cima dele para pegar o caderno.

 

            “Eu acho isso extremamente errado. Homem foi feito para ficar com mulher e mulher foi feita para ficar com homem.”

 

            Parei por um tempo, olhando o caderno, praticamente incrédulo. Sabia que ele ia escrever algo do tipo, claro que sabia, mas fiquei abismado por causa dos erros de português e falta de enredo.

            — Ah, sério, Thomas? — Perguntei, largando o caderno. O conjunto de folhas caiu no chão fazendo barulho, atraindo toda atenção para nós.

            — O que estava escrito? — Perguntou Andrew, enquanto Thomas se abaixava para pegar o caderno.

            — Ele disse “homem foi feito para ficar com mulher” e vice-versa. — Respondi.

            — Nossa...

            — É o que eu acho. — Argumentou Thomas. — É a minha opinião.

            — Uma opinião um tanto quanto antiga. — Respondeu Andrew, subitamente defendendo os ideais em que eu acreditava. Não sabia que ele poderia apoiar a causa LGBT+. — Meus avós pensam assim.

            — E eles estão certos. Homem não foi feito para ficar com homem, isso é nojento. Fora que um homem não pode engravidar. — Retrucou Thomas.

            — Opa, espera um pouco. Tem uma diferença entre ser “macho” e ser homem. — Interrompi. — Macho é todo aquele ser que se atraí pela fêmea. Homem é um papel social que representa força, responsabilidade e caráter. Não que a mulher também não seja, mas enfim...

            — Sim. E homem com homem não é certo. — Ele interrompeu.

            — E quem disse isso foram os homens. — Afirmou Andrew.

            — Não, foi Deus.

            — Através da Bíblia, a qual foi escrita por homens. — Interrompeu Andrew. — Ninguém tem o poder de dizer o que devemos fazer, com quem devemos ficar. Por exemplo, meu pai espera que eu seja hétero, mas e se eu não quiser? Se eu quiser posso foder com uma mulher ou com um homem. Sou eu quem decide.

            Fiquei em silêncio, muito tentado a me revelar gay para todos ao meu redor. Andrew falou a última frase com tanta convicção que eu jurei, por qualquer divindade, que ele poderia mesmo ser gay, ou bi. Mas, é claro, essa era uma pergunta que eu devia guardar.

 

***

 

            No intervalo entre a primeira e a terceira aula, Anne quebrou o silêncio e voltou a conversar com Andrew. Eles pareciam no meio de uma briga, quando a professora entrou na sala, mas isso não os impediu.

            — É só falar para ele! — Disse Andrew.

            — Não é tão simples assim, Andrew, e você sabe disso. Ele é tímido e ficaria apavorado se eu me aproximasse dessa forma.

            — Não, pelo contrário, você não vai aproximá-lo, vai afastá-lo. — Disse ele, como se esse fosse o melhor conselho do mundo.

            Não pude conter minha curiosidade e decidi entrar na conversa.

            — O que houve? — Perguntei.

            — Sabe o Matheus, da outra sala? — Perguntou Andrew.

            — Sei.

            — Então, ele gosta da Anne, mas não quer vir falar isso.

            — Andrew acha que é simples. — Disse Anne.

            — E é. É tão difícil alguém chegar aqui e dizer que gosta de você? Veja. — Ele disse, me surpreendendo ao me segurar pelos braços. Sua mínima força me obrigou a olhá-lo nos olhos. E então ele disse. Não deveria ter dito, mas disse.

            EU TE AMO.

            Ficamos em silêncio. Anne olhava para Andrew com dúvida, e eu fiquei boquiaberto.

            — Viu, não é tão difícil. — Disse ele.

            — Para algumas pessoas é sim. — Argumentei. Pelo olhar dele, pude facilmente comprovar que tudo não havia passado de uma encenação, mas havia algo na voz dele que me fez querer acreditar. Soltei-me de seus braços e me virei de costas, preparado para sair de perto dele. Eu havia ouvido os boatos. Muitas pessoas diziam “ele ficou com ela”, “Andrew tá pegando a Alexia” e “sortudo!”. Eu tinha certeza que algo havia ocorrido entre ele e Alexia durante a semana que ficamos de “folga”. Sem pensar duas vezes, acrescentei:

            — Sim, para algumas pessoas é muito difícil dizer o que sentem para quem elas amam.

 

***

 

            Ao longo dos dias que se seguiram, eu permaneci apenas ouvindo boatos. Pessoas diziam coisas, e essas coisas chegavam a meu ouvido, mesmo que eu não quisesse ouvir. Conseguia distinguir alguns boatos que se assemelhavam. Pelo que parecia, por vários dias depois da entrada de Alexia em nossas vidas, Andrew acabou ficando com ela, mais de uma vez. Eu costumava repetir para mim mesmo que aquilo ia passar, mas nunca passava. Ele parecia cada vez mais distante.

            Algumas vezes, quando eu saía para o intervalo, via ele abraçado com outra garota. Mas eles não pareciam ter um relacionamento muito profundo, pois ele parecia mal querer tocá-la.

            Aconteceu tudo tão rápido. Ele parecia tão perto, mesmo que não me relacionasse muito com as pessoas ao meu lado, e de repente foi embora. Parecia tão fácil ficar com ele, como se fosse mais simples do que respirar, tão automático quando o bater de um coração, mas ele nunca sequer reparou nisso.

            Anne parecia com a mesma tristeza que eu. Eles brigavam habitualmente, quase todos os dias antes da chegada de Alexia, mas depois as discussões se intensificaram. É claro que é de extrema má-educação ficar escutando a conversa dos outros, mas era impossível não ouvi-los brigando, sendo que ambos se sentam ao meu lado. Anne, quase sempre, colocava Alexia no meio da conversa, acusando Andrew de “trocá-la” por uma garota que ele mal conhecia. Obviamente, dentro dela, o sentimento que mais a corroía, assim como eu, era o ciúme. Por vários meses eles foram a dupla dinâmica, os amigos inseparáveis, os colegas feitos um para o outro, e de repente Alexia estragou com tudo.

 

            Houve uma terça-feira estranhamente peculiar que a discussão dos dois acabou trazendo consequências boas (ou más) até mesmo para mim.

            Havíamos saído para o intervalo. Estranhamente, Andrew e Anne pareciam inseparáveis. Saíram de mãos dadas. Eu tinha motivos de sobra para não gostar que Anne se aproximasse tanto assim de Andrew, mas não queria ser possessível, além de que eu conhecia ela há anos e sabia que não seria capaz de ficar com um garoto de que eu gostava. Ela era humanamente sensível, ao contrário de Alexia.

            Saí da sala com Thomas e fomos para os fundos do colégio, onde sempre ficávamos para conversar com Alanis, El e Ryan. A conversa estava animada e tudo o mais, pelo menos até Eleonora tocar na ferida do meu irmão.

            — Vá falar com ela. — Ela ordenou, quase como um sussurro, apontando na direção de Alanis, que estava a metros de distância.

            — O quê? — Disse Ryan. Olhei para os lados, para encenar que não estava prestando atenção no que eles estavam dizendo.

            — Vá falar com Alanis. — Respondeu El.

            — Não. Por quê?

            — Oh, bem, se você não quer falar, eu falo. — Disse ela. Senti meu irmão ficar apreensivo enquanto El se dirigia à Alanis, mas, claramente, nada de sério foi dito.

            — Você viu isso? — Cochichou meu irmão para mim.

            — Não queria ter visto, mas vi. — Respondi, com um sorrisinho.

            — Essa tal de El tá me enchendo o saco. — Disse ele. — Se eu quiser falar qualquer coisa para Alanis, não precisarei de ajuda. Quem ela pensa que é?

            — Ela é amiga da Alanis desde quando apenas eu as conhecia. — Respondi. — E isso foi há muito tempo. Ela se sente no direito de zelar pela saúde emocional da amiga.

            — O que isso quer dizer? Você acha que ela pensa que eu posso magoar a Alanis?

            — Acho. E eu também acho que você pode, sim, magoar a Alanis. — Respondi, quase grosseiramente. — Você já pensou, sei lá, na possibilidade de ela também gostar de você? Como acha que ela se sentiria ao descobrir que você supre sentimentos desse modo, mas que nunca quis revelar?

            — Eh... Eu não sei. — Respondeu ele, confuso.

            — Ela ficará magoada. Alanis é gentil e legal, e se magoará quando você não contar, porque ela achará que há algum problema em si.

            — Eu não acho que você saiba do que está falando.

            — Lembra quando eu te disse que alguém, alguma hora, iria entrar na vida de vocês e “roubar” a Alanis?

            — Lembro. — Respondeu ele, confuso.

            — Então, Eleonora também tem esse medo.

 

***

 

            Voltamos para a sala lentamente. Havia um local que sempre virávamos para podermos entrar em nosso pavilhão, e a visão que se abria mostrava um pátio pequeno. Eu vi, no fim do pátio, sentados num gramado, Andrew e Alexia se abraçando. Fechei os olhos e parei por um momento, ressentido, mas Alanis, que já estava a par da minha situação, colocou a mão em minhas costas e empurrou-me gentilmente.

            — Tenha força. — Disse ela, deixando claro que também viu os dois se abraçando.

            — Eu tenho. — Respondi, praticamente mentindo.

            Thomas foi à frente e entrou na sala antes de mim. Conforme as pessoas chegavam, eu sentia que algo estava errado. Anne retornou à sala com a “cara fechada” e se debruçou sobre sua mesa, claramente chateada com alguma coisa. Pensei em perguntar o que havia ocorrido, mas a imagem de Andrew desapontado entrando na sala me respondeu. Alguma coisa aconteceu entre eles.

            Para minha surpresa (embora isso já tenha ocorrido várias vezes), Andrew se aproximou de mim e não de Anne.

            — Greg, pode me ajudar em uma coisa? — Disse ele, com a voz baixa e grave.

            Ele tinha um costume, que eu costumava achar que fazia apenas comigo. Sempre que íamos conversar ele se inclinava para frente, como se quisesse me ouvir melhor. Geralmente eu me afastava, com medo de passar alguma impressão errada estando tão próximo dele. Mas naquele dia eu não fui para trás, deixei que ele se aproximasse. De perto, seus olhos pareciam mais brilhantes, com pontos de dourado ao lado das pupilas. Seu perfume inundou meus sentidos e senti uma estática percorrendo meu corpo, muito, muito forte. Queria puxá-lo e beijá-lo ali mesmo. De onde eu estava, podia facilmente fazer isso.

            — Ok. Ajudar no quê? — Perguntei, afinal.

            — Parece meio infantil, mas eu preciso de ajuda. — Continuou ele. — Eu disse para Anne que andaria com ela nesse intervalo.

            — Mas você não andou? — Interrompi, com quase certeza da resposta.

            — Não. — Respondeu ele, como se estivesse com vergonha. — Eu fiquei com Alexia.

            Fiquei em silêncio. Ainda queria beijá-lo, mas me forcei a prestar atenção. Não poderia dizer para ele se afastar da Alexia, poderia? Isso não seria muita ousadia?

            — Olha, eu não sei o que dizer sobre isso. — Respondi.

            — Porra, Greg. — argumentou ele.

            E dessa vez ambos ficamos em silêncio. Ele se afastou de mim.

            — Isso já está ficando sério. — Disse Andrew, se afastando.

 

            Pensava que o assunto deles já havia se esvaído quando o sinal para a quinta aula tocou, pois os dois pareciam ter resolvido qualquer problema que estivesse dificultando seu relacionamento. Andrew parecia estar tentando ao máximo evitar tocar no assunto “Alexia+Ele”, e Anne parecia feliz novamente. Como sempre, ele ficou fazendo trancinhas no cabelo dela enquanto conversavam.

            Mas, quando o sinal tocou e Andrew saiu para ir ao banheiro, Anne abandonou os sorrisos e se aproximou de mim.

            — Eu preciso de um conselho. — Disse ela. — E Thomas, pare de prestar atenção na nossa conversa! — Acrescentou grosseiramente, ao ver que Thomas estava olhando para nós. Ele virou para o outro lado.

            — O que é? — Perguntei.

            — Eu preciso saber o que fazer agora. Tenho duas opções. — Respondeu ela. — Você sabe que eu e Andrew somos próximos, amigos, e ele não tem “medo” de quebrar a barreira física entre nós.

            — Sei.

            — Então, eu, Alexia, ele e mais alguns amigos estávamos saindo ontem e, quando estávamos indo embora, ele me abraçou e me deu um beijo no rosto. Nada demais. Só que Alexia não viu isso como amizade. Ela me mandou uma mensagem dizendo que já vem aguentando a minha proximidade com Andrew há muito tempo, e que não quer mais me ver ao lado dele nunca mais, ou ela fará eu me arrepender.

            — O que ela quer dizer com “arrepender”? — Perguntei, um pouco assustado.

            — Eu não sei. Mas veja — continuou —, eu tenho duas opções. Eu posso contar que ela disse isso, para Andrew, ou manter silêncio e me afastar.

            — Eu acho melhor você contar. — Respondi.

            — Mas daí eles poderão terminar e ele ficará triste. — Protestou ela.

            — É, eu sei, e não quero que você faça isso para “liberá-lo" dela. Mas eu tenho medo do que pode acontecer daqui pra frente. Pense, Alexia não é uma boa namorada se o impede de ter amigas ou amigos...

            — Ela nunca foi uma boa namorada, nem uma boa pessoa. — Disse ela, saindo de perto de mim, quando Andrew retornou.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...