1. Spirit Fanfics >
  2. Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) >
  3. Como revelar algo para alguém

História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como revelar algo para alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 5 - Como revelar algo para alguém


Fanfic / Fanfiction Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como revelar algo para alguém

COMO REVELAR ALGO PARA ALGUÉM

            Na hora da saída, senti como se estivessem retirando minhas entranhas e despedaçando-as. Eu nunca tinha visto o Andrew com a Alexia, tipo, realmente juntos. Mas, quando passávamos o portão do colégio, no meio da multidão, eu tive um pequeno vislumbre do que me esperava. Primeiramente, achei que eram outras pessoas, pensei que Andrew já tinha ido embora, mas não, ele não tinha. Eles estavam se beijando, literalmente na minha frente.

            Eu engoli em seco e desviei o olhar exato momento em que ele colocou as mãos na nuca dela.

 

***

 

            Desliguei-me completamente enquanto voltávamos para casa. Quando Ryan perguntava alguma coisa, eu apenas respondia com sim ou não. Chegamos à frente de onde morávamos e ficamos surpresos ao encontrar nossa mãe sorridente, nos esperando.

            — Bom dia. — Disse ela, sorrindo. Apenas conseguia pensar “Ok, o que houve?”, mas acabei respondendo outra coisa.

            — Bom dia. — Disse.

            — Como foi no colégio? — Ela perguntou, abrindo o portão para que pudéssemos entrar.

            — Legal. Eu acho. — Respondi, entrando. Sei que devia ter sido mais simpático, perguntado como foi o dia dela, mas havia algo em sua alegria que me deixava com medo. Ela estava como um animal pronto para o ataque. Afinal, antes da tempestade vem a calmaria.

            Entramos em casa. Estava tudo limpo, como sempre ficava quando ela não ia trabalhar. Mas, sentado no sofá, estava um fator que eu não esperava.

            — Olá. — Disse meu pai.

            — Oi. — Respondi, deixando minha mochila de lado no sofá. — Não foi trabalhar?

            Meu pai, provavelmente, viu minha cara de estranheza e riu.

            — Fui, mas saí mais cedo. Digo, fui dispensado mais cedo. — Ele respondeu, sorrindo. — Espere sua mãe vir. Nós temos um assunto sério para tratar com vocês.

            Quase caí. Meus joelhos começaram a tremer, minha boca ficou seca, minhas mãos começaram a suar. Estava assustado, de certa maneira, com tudo o que ocorrera. Primeiro, a visão de Andrew e Alexia se beijando; e agora isso. Algo estava diferente.

            — Sentem-se. — Disse minha mãe, animadamente, quando entrou pela porta. Ryan, sem retirar a mochila, sentou no sofá e eu o segui. Meu pai e minha mãe sentaram na superfície da mesa-de-centro vazia à frente. Felizmente, a madeira era grossa e aguentou os dois sentados nela. Percebi que eles estavam verdadeiramente felizes, porque várias vezes discutiam com nós por colocarmos os pés sobre a mesa de centro, e agora estavam sentados nela.

            — Podem ficar calmos. Isso não é uma briga. — Disse meu pai, sorrindo. Aliviei a tensão de meus músculos. Geralmente, quando ele dizia isso, era verdade.

            — Nós vamos dar a vocês uma escolha. — Disse minha mãe. — Se nós perguntássemos, vocês poderiam “abandonar” (entre aspas, vejam bem) seus amigos e todas as outras pessoas que conhecem fora de casa?

            Eu e meu irmão trocamos olhares.

            — Por quê? — Perguntei, receoso.

            — Porque eu recebi uma oferta de trabalho. — Respondeu meu pai.

            — E?

            — E para aceitá-la nós teremos que ir para outra cidade. — Explicou ele. Ponderei a situação por um momento.

            — Oh, então vocês querem saber se nós aceitamos a mudança? — Perguntei novamente.

            Essa foi a vez de meus pais trocarem olhares.

            — É. Isso mesmo. — Respondeu minha mãe.

            Olhei para o chão, tentando pensar em algo que pudesse dizer. Eu não sentia que algo ia dar realmente certo entre eu e Andrew, mas ainda achava que valia a pena investir em meu relacionamento com ele. Apenas olhei fundo nos olhos do meu pai e ergui uma das sobrancelhas.

            — Eu preciso responder agora? — Perguntei.

            — Não, claro que não. Vocês têm até o final de semana. — Respondeu meu pai.

            — Por mim, tudo bem. — Interrompeu Ryan. — Eu não tenho muitos amigos mesmo.

            Algo nas palavras dele me deu uma raiva súbita. Ele nunca se cansava de bancar o garotinho sozinho, sem ninguém. Falso.

            — Então, só falta a resposta de Greg. — Disse minha mãe.

 

***

 

            É claro, eu não tinha certeza do que poderia acontecer se decidisse ficar, mas mesmo assim me conformei que o necessário seria analisar se valeria a pena ou não me mudar. Levantei no próximo dia com um cansaço estranho, como se estivesse correndo enquanto dormia. Certa vez, li que os cansaços emocionais também geravam cansaços físicos...

            Eu e meu irmão fomos ao colégio como sempre, exceto pelo fato de que aquela poderia ser nossa última semana. Pelo ar de aprovação de Ryan, pude concluir que ele não se importava mesmo. “E Alanis?”, queria perguntar, mas não quis deixá-lo sobrecarregado com o mesmo sentimento que eu tinha. Ao entrar no pátio, percebi o inevitável. Eu não conseguiria deixar Andrew. Nem que a oferta de trabalho fosse no lugar mais lindo do planeta. Eu não conseguiria.

            Quando o sinal tocou, entrei na minha sala e encontrei Thomas jogando no celular. Jogos de Zombies. Como ele podia nunca se cansar desse tipo de coisa?

            — Oi. — Eu disse, me aproximando dele.

            — Oi. — Ele respondeu, guardando o celular. Esse, pela primeira vez, foi um sinal de que ele queria prestar atenção em mim.

            — E aí? — Perguntei, me sentando. Ele me fitou com olhos arregalados e fixos. Estranhei. — Thomas, o que houve?

            — É bem isso que eu queria perguntar. O que houve... — Respondeu ele, sarcasticamente, com a voz afetada. Ele parecia bravo com alguma coisa.

            — Thomas...

            — Não. Não fale nada. — Ele interrompeu, e um silêncio se formou na sala inteira. Ele disse a última frase numa altura que fez todos olharem para mim. A sala ficou cheia mais rapidamente, eu não tinha percebido. Felizmente, Andrew não estava lá para me olhar do jeito que todos olhavam.

            — Eu não...

            — Não fale. — Ele interrompeu de novo. — Por que nunca me contou que está apaixonado por Andrew? Por que nunca me contou que é gay?

            Engoli em seco. Senti como se um frio imenso estivesse percorrendo minha pele.

            — O quê? Do que você está falando? — Perguntei. Tinha a mera consciência de que alguém havia parado na porta, e esta pessoa usava um moletom bordô, mas não consegui desviar o olhar de Thomas.

            — Ah, não banque o desentendido. Seu segredo já saiu para todos os lados, Greg. Confesse, você está apaixonado por Andrew, não está? — Ele disse.

            Ouvi as pessoas inspirando ansiosamente. Thomas se levantou, indo para porta e eu vi quem estava parado lá. Andrew. Olhei fundo nos olhos verdes dele e, com a boca seca, respondi.

            — Estou.

 

***

 

Uma explosão de comentários apareceu ao meu redor. Thomas franziu as sobrancelhas e contorceu o nariz, de nojo e de raiva, daquele jeito que pessoas irritadas fazem, e saiu da sala. Vi Andrew olhando para mim, mas sua expressão era confusa e desentendida. Para meu agrado, ele levou as mãos às orelhas e retirou o par de fones de ouvido.

— O que aconteceu? — Perguntou ele, confuso. Todos olharam para Andrew com perguntas no olhar, inclusive eu.

— Você não ouviu? — Perguntou Anne, mais confusa do que ele.

— Ouviu o quê?

Vimos o corpo de Andrew se virar bruscamente e uma mão segurando seu ombro. Eu tranquei o ar em meus pulmões. Thomas estava segurando Andrew pelos braços, olhando-o fundo nos olhos, com muito, muito ódio.

— Greg disse que está apaixonado por você, seu filho da puta. — Disse ele. Andrew não teve tempo (nem fôlego) para contrariar o que ouviu, pois Thomas o atacou com uma joelhada diretamente no estômago.

Andrew se curvou e caiu no chão. Seu celular e sua mochila atingiram o solo com força e eu ouvi o momento em que o aparelho se quebrava. Ele permaneceu ajoelhado, com a mão sobre o estômago, lutando por ar. Enquanto isso Thomas aproveitou a oportunidade e deu outro chute, dessa vez no rosto de Andrew, o qual, após dar um grito de dor, caiu no chão com uma linha de sangue saindo da boca.

— Thomas, pare! — Gritei, mas ele me ignorou e se ocupou em chutar Andrew outra vez no estômago. — Pare!

Por sorte, havia alguns garotos fortes na minha sala, que eram os que geralmente jogavam futebol, e eles seguraram Thomas antes que ele matasse o Andrew. Eu mesmo queria segurá-lo e puni-lo pelo que fez, retrucar, mas não conseguia me mexer. Por que tanta raiva? Por que ficar com ódio? Será que, por algum motivo, ele estava com ciúmes?

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou o professor de educação física, ao chegar à frente de nossa sala. Ele viu Andrew abaixado no chão, quase desmaiado, e arregalou os olhos. — O que houve?

Anne, ao perceber que Thomas já havia sido contido, correu até Andrew e se abaixou ao seu lado. Ele murmurou algo que eu não pude ouvir e ela o abraçou.

— Thomas. — Ela disse, quase chorando. — Thomas brigou com ele.

— Brigou? Como assim? Thomas é um dos meus melhores alunos. Por que ele brigaria com alguém? — Retrucou o professor, também se abaixando ao lado de Andrew. As pessoas formaram uma roda em volta deles, mas eu me recusei a chegar mais perto.

— Greg disse alguma coisa que deixou Thomas muito, muito irritado. — Disse Anne e eu senti todos os olhares na minha direção. O professor olhou para mim e franziu as sobrancelhas.

— Muito bem, Andrew precisa ir para a enfermaria. — Ele disse. — E Greg, você vai ter que se explicar. Para todos.

 

Segui o professor e mais um aluno, que carregavam um Andrew quase inconsciente. A ideia de que Thomas poderia ter mesmo matado ele fez meu estômago revirar, mas, pensando bem, o ódio no olhar do meu “amigo” bem que confirmava a possibilidade disso. Porém, eu não via Andrew como alguém que pudesse ser facilmente nocauteado. Claro, ele foi pego de surpresa, mas eu não conseguia imaginar alguém do porte de Thomas derrubando-o. Andrew tinha o corpo largo, era grande, não tinha músculos potentes (eu acho; nunca tive a oportunidade de ver), mas parecia ser bem resistente. Já Thomas era baixo, quase da minha altura, magro e aparentemente fraco.

Quando vi uma linha de sangue que saía da boca de Andrew e pingava por seu queixo, percebi que tinha acabado de ver a quase morte dele. Meu coração disparou e percebi que estava sendo muito frio.

— Ele vai ficar bem, não vai? — Perguntei, nervosamente. — Tipo, vocês já tiveram algumas brigas assim, não tiveram?

— Se você está perguntando se ele vai sobreviver então a resposta é sim. — Disse o professor, enquanto ajustava o braço de Andrew por cima de seus ombros. O garoto ferido se apoiou no professor e em mais um aluno, passando seus braços pelos ombros dos dois, sem poder andar. — Mas acho que vão ficar algumas sequelas.

Segui os dois mais um pouco, subindo os degraus que marcavam a saída do pavilhão, e paramos no pátio onde vendiam os alimentos. Eles colocaram Andrew em um dos bancos que havia lá e saíram para pedir ajuda. Fiquei ao lado dele por precaução. Nem sabia que tínhamos uma enfermaria no colégio, pensei, mas percebi que, de fato, não tínhamos; pois fomos para o pátio.

— É verdade? — Ele sussurrou, acordando da pequena inconsciência. Sua voz estava rouca e ele tossiu ao falar.

— Não, não fale... Você precisa descansar. — Respondi tristemente. Aproximei-me dele, ajoelhando no chão, e senti seu olhar me fitando.

— Eu preciso saber. — Ele continuou. — O que Thomas disse. É verdade?

Aproximei-me mais. Aparentemente, nunca iria me acostumar com o fato de que os olhos dele eram incrivelmente lindos de perto.

— É. — Respondi. — Mas não vamos discutir isso agora. Você está machucado e precisa descansar.

— Valeu a pena. Lutar com ele, você sabe.

Sorri e até ele deu um meio-sorrisinho no canto dos lábios.

— Não foi bem uma luta, mas... — Eu disse.

— É, mas valeu a pena. Por você. — Ele disse, fechando os olhos. Vi a região onde o chute de Thomas o acertou, uma área ao redor dos olhos.

— Ai meu Deus, Andrew, seu olho está péssimo! — Exclamei, me aproximando para tocá-lo. Ele não se afastou, mas sorriu. Droga, ele não podia ter sorrido naquela hora. Deixei minha mão percorrer o traço de suas têmporas, até seu cabelo. Passei meus dedos pelos fios negros. Ele esticou a mão e tocou um ponto ao lado dos meus olhos, então disse:

— E eu sempre gostei dos seus.

 

O professor e o outro aluno retornaram e eu me afastei de Andrew. Ele sorriu para mim enquanto eu ia para longe. O que aconteceu em seguida foi só um borrão. Eles vieram, levaram Andrew para dentro da Secretaria, várias pessoas apareceram para ver o que tinha acontecido e vi Thomas saindo pelo portão do colégio, junto com os pais.

 

***

 

Nada nem ninguém poderiam retirar Andrew da minha cabeça naquele dia, então, tudo que aconteceu dentro de minha casa mais parecia um vulto da verdade. Meus pais me pressionaram por uma resposta, mas eu respondi que ainda precisava pensar e eles assentiram, afinal. Até mesmo ideia da mudança não era tão importante quanto o assunto do que havia acontecido no colégio, mas, é claro, ninguém em casa parecia importar com meu dia.

Acordei na manhã seguinte completamente empenhado em descobrir o final da trágica história de Thomas e, por isso, mal me arrumei e já saí de casa, praticamente arrastando um Ryan zangado. Chegamos ao Colégio Vargas mais rápido do que o normal, por causa de minha ansiedade. Eu, ao invés de ir para a sala, corri para a Secretaria.

Infelizmente, não reconheci as pessoas que estavam lá. Disseram que a coordenadora não havia chegado e muito menos a diretora estava presente. Retornei, então, para o lugar onde ficávamos antes da primeira aula. O sinal tocou e eu nem me despedi de Ryan, apenas corri para minha sala.

Thomas não estava lá.

As pessoas foram chegando e, conforme sentavam-se, miravam-me com olhares desconfiados, mas nenhum deles se prontificou em me perguntar algo. Porém, eu podia sentir o que eles queriam perguntar. “Tudo bem, eu sou gay!”, eu queria gritar, mas fiquei em silêncio, olhando para minhas próprias mãos. Seu olho está péssimo. E eu sempre gostei dos seus. Peguei-me pensando em Andrew e em como não tive o menor medo de dizer que estava apaixonado por ele. Mas, por mais que eu estivesse preocupado com sua recuperação (física, mental e emocional), não podia deixar de lado que, provavelmente, agora Thomas me odiava. Tinha que me concentrar em resolver as coisas com ele.

De repente, a coordenadora entrou na sala e veio direto para mim, fornecendo, assim, mais motivos para meus colegas ficarem me olhando.

— Thomas não vai mais vir. — Disse ela. — Mas ele deixou isso e me disse para entregar para você.

Peguei um pedaço de papel, cuidadosamente dobrado, que a coordenadora queria me dar. Dei um sorrisinho.

— Obrigado.

Ela, sem falar nada, se virou e saiu. Além de tudo que tive que aguentar, agora tinha que lidar com a grosseria dos outros. Ótimo.

Abri o papel lentamente. Foi impossível não esconder o espanto ao ver que havia apenas uma frase escrita, em letra cursiva, e ainda menos ao perceber o significado.

 

“EU TE AMAVA.”



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...