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História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se vingar de alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 7 - Como se vingar de alguém


Fanfic / Fanfiction Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como se vingar de alguém

COMO SE VINGAR DE ALGUÉM

            O meu time (Aqua, Alicia, Alison e, obviamente, eu) trabalhou cuidadosamente por uma semana, em segredo. Com a ajuda dos integrantes do nosso grupo, conseguimos contatar os melhores profissionais de imagem, que conseguiram ampliar e melhorar a qualidade das filmagens que Aqua fez. Alicia tinha um tio que conhecia um cara que tinha uma editora; ela disse que poderia fazer impressões de fotos ou cartazes.

            Mas, o maior problema era quando iríamos por nosso plano em prática, definitivamente. Eu tinha a clara percepção do que queria fazer, do impacto que eu iria causar, mas, para isso, eu teria que fazer contato com uma garota nova na minha sala de aula. Iliana. Ela conhecia o funcionário que guardava as chaves do colégio, e havia chegado à nossa turma há alguns dias. Não conversava muito, o que me levou a acreditar que não tinha relações amigáveis com Alexia.

            — Nós precisamos da sua ajuda, Ily. — Disse Aqua, de repente. Estávamos parados, olhando para a garota tímida, numa sexta-feira.

            — O... O quê? — Ela perguntou confusa. Nós nunca tínhamos conversado com Iliana antes e, é claro, do jeito que tentamos nos aproximar, ela ficou constrangida.

            Notei algo familiar nela, como se já a tivesse visto. Ela era loira, alta e, digamos, corpulenta. Possuía olhos escuros e parecia simpática, mas havia algo escondido sob seu olhar que não me passava confiança.

            — Nós precisamos que você nos ajude em uma coisa. — Repetiu Aqua. — É um segredo. E olhe, eu sei que a gente não conversa muito com você, mas precisamos mesmo disso.

            A garota, Ily, ficou olhando para nós por um tempo e depois acrescentou, consternada:

            — É claro.

            — Mas você tem que entender que é um segredo extremo. — Interrompi. — Pode manter um segredo?

            Ela me olhou como se eu tivesse a insultado e essa foi a primeira pista de sua personalidade não muito convidativa. Pude ver suas intenções por baixo de seu olhar.

            — Eu posso. — Ela respondeu.

            — Então... Isso tem a ver com Andrew, Alexia e um garoto desconhecido. — Prosseguiu Aqua. — Você deve saber, Alexia namora, há algum tempo, com Andrew. Mas eu segui ela há alguns dias atrás e gravei algumas imagens comprometedoras dela...

            — Como assim?

            — Ela está traindo o Andrew, com um garoto que não conhecemos. — Interrompi, quase sem paciência.

            — Oh — disse Ily —, ok. Mas por que vocês precisam da minha ajuda?

            — Nós sabemos que você conhece o “guardião das chaves” do colégio, e nós precisamos delas para entrar aqui no domingo à noite. — Disse Alison. A garota olhou para Alison com o mesmo olhar inquisitivo dirigido a mim.

            — Vocês querem que eu roube as chaves do colégio?!

            — É exatamente o que queremos. — Respondeu Aqua. — Se você não quiser, ok. Mas não espalhe nosso segredo.

            — Ah, qual é, deve ser simples pegar algumas chaves. — Argumentou Alicia.

            — Não é bem assim. O “guardião das chaves” é o meu pai! — Respondeu Iliana, fazendo todo mundo ficar quieto. Felizmente, as pessoas que estavam ao nosso lado na sala de aula não perceberam.

            — Então, tudo bem. Vamos achar outra... — Comentou Aqua, se levantando, mas Ily segurou seu antebraço e a forçou a se sentar novamente.

            — Tudo bem. Encontrem-me na hora da saída.

 

***

 

            A realização do nosso plano não impedia que a falsidade de Alexia continuasse. Pelo contrário, naquela sexta-feira, ela e Andrew pareciam um casal normal de novo. De vez em quando eu olhava para os dois e via-a sorrindo quando ele se aproximava, ou ele sorrindo enquanto ela se aproximava. Era ruim fazer aquilo, elaborar todo aquele plano e colocá-lo em prática, principalmente porque eu sabia que isso ia magoar Andrew de uma forma ou outra. Mas, se eu não fizesse, ele ia terminar magoado de qualquer jeito. Restava apenas descobrir como magoar alguém.

            Afastei a ideia de que ele poderia sair magoado no final e me concentrei em me vingar de Alexia, vingar-me por ele e por minha alegria que fora roubada sem nenhuma piedade.

            Na hora do intervalo, encontrei-me com Ryan e disse para que ele fosse sozinho para casa porque eu precisava ficar no colégio. Disse que era para um trabalho de Biologia. Tudo bem, ele era meu irmão, mas mesmo assim eu não podia arriscar a deixar o plano ser divulgado.

            O meu time se encontrou com Ily na hora da saída, como foi marcado, e mecanicamente a incluímos no grupo de vingança. Deixamo-la a par de tudo que pretendíamos fazer.

            — Vocês têm cartazes? — Ela perguntou, incrédula.

            — Sim. Alicia conseguiu imprimir para nós. E temos uma impressão gigantesca também, mas ela é tão grande que eu não pude trazer ainda. — Disse Aqua, entusiasticamente.

            — Eu acho que vai dar errado, mas, se vocês insistem... — Argumentou Iliana, entregando o molho de chaves para Aqua. — E, se permitem a pergunta... O que eu vou ganhar com isso?

            Eu e as garotas trocamos olhares ansiosos. Não tínhamos pensado nessa parte. O que ela iria querer? Dinheiro? Popularidade? Garotos? Sem pensar duas vezes, respondi bruscamente:

            — Nossa eterna gratidão.

            — Gratidão? Eu não posso comprar nada com gratidão!

            — Espere... Eu vou pensar em alguma coisa. — Aqua interrompeu. — Você vai ter o seu pagamento, não se preocupe.

            — Ok, então. — Ela respondeu.

 

***

 

            Contei os segundos até a “hora do show” no domingo. O meu time, exceto por Ily, marcou o horário da vingança para oito horas da noite. Claro, eu tinha elaborado, também, um discurso para convencer meus pais e eles, após titubearem um pouco, aceitaram. Eu disse que estava indo para um curso de administração. Fui andando até o Colégio Vargas sozinho, na escuridão das ruas desertas, e percebi que tinha sido o primeiro a chegar.

            Dei graças a Deus (culpadamente) pelo colégio ser de baixa renda, o que significava que ele não tinha câmeras de segurança, guardas contratados para verificar o perímetro e o portão não era eletrônico. De repente, vi um carro chegando, e dele desembarcaram Aqua, Alicia e Alison. As três carregavam sacolas imensas de plástico e Aqua trazia um grande rolo de papel que havia colocado em baixo do braço esquerdo.

            — Greg, me ajude aqui. — Ela disse. Corri até ela e segurei suas sacolas e o grande rolo de papel. Percebi que era uma impressão gigantesca em material de fotos. — Eu preciso abrir o portão.

            — Quem trouxe vocês? — Perguntei, curioso.

            — Meu namorado. — Respondeu Alicia, orgulhosamente. — Ele não incomodou fazendo perguntas e apenas aceitou em nos trazer.

            Assenti, ainda curioso, mas não pude perguntar mais nada porque Aqua havia destrancado o portão de entrada. Arrastei o rolo de impressão e as sacolas cheias de cartazes para dentro.

            — Para onde vamos primeiro? — Perguntou Alison, com um aparente medo de ser descoberta.

            — Eu acho melhor começarmos pela quadra poliesportiva. — Respondi e elas concordaram.

            — Tem colas e fitas adesivas nas sacolas. — Disse Aqua. — Mãos à obra!

 

***

 

            Para onde quer que se olhasse, em todas as paredes e todos os adornos, havia cartazes colados. Todos mostravam fotos de Alexia beijando o cara desconhecido. Era quase dez horas da noite quando decidimos pendurar o rolo de impressão, e havia um lugar perfeito para isso: havia uma rampa que levava até a entrada do auditório, o qual ficava em cima de um pavilhão, então, era um bom ponto.

            Subimos a rampa e, com a ajuda de cordas e um pouco de fita adesiva, conseguimos amarrar o rolo de impressão. Descemos novamente, ofegantes, e percebemos o que havíamos feito.

 

Vingança.

 

Após terminarmos de colar todos aqueles cartazes por todo o colégio, Alicia ligou para seu namorado e ele nos levou para casa. Aqua disse que tinha que ir para a casa de Iliana e entregar as chaves do colégio para que Ily devolvesse sem seu pai perceber (o que era praticamente impossível). Todos nós sabíamos que o que estávamos fazendo era muito, muito perigoso. Mas mesmo assim decidimos fazer.

            E foi quase impossível segurar os risos quando cheguei ao Colégio Vargas na segunda-feira de manhã. Havia chovido um pouco na madrugada e os cartazes estavam um pouco molhados e rasgados, mas as imagens ainda podiam ser vistas: Alexia no fundo de uma foto, agarrada a um garoto e beijando-lhe na boca. Ouvi os murmúrios das pessoas que entravam no pátio. A grande foto impressa e pendurada na rampa de entrada ao auditório era a primeira noção da mudança no colégio. Quando as pessoas entravam, essa era a primeira coisa que viam. As paredes da quadra poliesportiva estavam todas repletas de imagens coladas, dos mais diversos tamanhos. Os muros e as paredes exteriores, dos pavilhões, também tinham várias fotos anexadas. Porém, é claro, nem todos conheciam Alexia e a mensagem não atingiu a todos, mas algumas pessoas passavam cochichando “é a Alexia!”.

            Vários alunos retiravam seus aparelhos celulares e fotografavam as imagens, colocando-as diretamente nas redes sociais. Mesmo que Andrew chegasse à segunda aula, mesmo que todas as imagens já tivessem sido retiradas, ele com certeza veria na internet ou alguma pessoa contaria. E, obviamente, Ryan percebeu algo estranho.

            — Você não tinha um trabalho para fazer aqui ontem à noite, não é? — Ele perguntou, quando viu as diversas fotografias espalhadas.

            — Não. — Respondi, cheio de orgulho.

            — Eu acho que você passou dos limites.

            — Por quê?

            — Olhe o que você fez! — Ele argumentou, apontando para ambos os lados. Olhei para ele com uma expressão hostil, mandando-o calar a boca. Ele abaixou a voz.

            — Isso é muito menos do que ela merece. Não fiz isso por mim, fiz por Andrew. — Respondi e me afastei dele. Ryan até podia “dedurar” para as autoridades, mas eu tinha conseguido meu objetivo. E ele não faria uma coisa dessas. Ele era meu irmão. Além de que eu sabia segredos que ele desejava manter escondidos.

            As pessoas foram chegando, cada vez mais, e a maioria parava no pátio de entrada, vendo a grande foto pendurada. Tive que conter o impulso de sorrir e me forcei a parecer confuso, enquanto olhava as imagens. E então Alexia chegou.

            Nunca tinha visto-a chegar, eu acho. Ela entrou no pátio e, no primeiro momento, parecia feliz, conversando com suas amiguinhas. Mas depois parou, horrorizada, olhando as imagens. Ela estava com um celular na mão e o deixou cair com um barulho de engrenagens se despedaçando. Ela começou a caminhar na direção da foto pendurada, com a boca em formato de espanto, formando um “O”, os olhos com lágrimas. Queria gritar “quem se magoou agora?”, mas fiquei em silêncio. Entrei atrás da multidão para que ela não me visse.

            — Quem colocou essas imagens?! — Gritou ela, boquiaberta e cheia de ódio. As pessoas se afastaram dela. Parecia uma cena de um filme: a pessoa que antes fora tão poderosa, tão egoísta e cheia de si, caiu à loucura e todos decidiram se afastar. As pessoas aproveitaram para registrar tudo com seus celulares e, de repente, um garoto surgiu do meio da multidão, rompendo o meio-círculo que se afastava dela. Reconheci seus cabelos negros e sua jaqueta branca. Primeiramente pensei que fosse Andrew, mas este era diferente. Era o garoto que Alexia estava beijando, na hora em que a foto fora tirada.

            — Você fez isso. — Disse ele, com ódio.

            — Eu? — Perguntou ela, confusa, entre soluços. Confesso que uma pontinha de compaixão me atingiu, mas aí me lembrei de que ela estava traindo Andrew e a pontinha desapareceu.

            — Não se faça de burra. Você sempre quis ficar comigo e como é um pavão no quesito de egocentrismo, quis fazer um show! — Disse ele, sarcasticamente. — Se você queria terminar com seu namorado e ficar comigo, era só ter feito isso. Não precisava me expor dessa maneira.

            — Não fui eu, seu idiota! — Berrou ela. — Acha que eu sairia colando essas coisas por aí, durante a noite?

            — Você é a Alexia. Acho bem provável. — Com essa frase, percebi que ela tinha uma imensa influência no colégio, embora eu quase nunca tenha visto. — Nunca mais fale comigo.

            Ele começou a se afastar novamente, aparentemente magoado. E acho que um medo de perder todos com os quais já ficara se abateu sobre Alexia, porque ela avançou contra ele, segurando seu antebraço e impedindo-o de avançar.

            — Não vá. Por favor...

            Suas palavras foram cortadas por um som estridente e ela caiu ajoelhada no chão. O movimento foi tão rápido que eu quase nem vi. A mão dele se abaixou lentamente e a vi cobrir o rosto que começava a ficar avermelhado, evidenciando, assim, que ele deu um tapa nela. Gargalhei por dentro.

            — É isso que você merece. — Disse ele, e então se retirou.

 

***

 

            O sinal tocou e todos entraram em suas respectivas salas. Era impossível ignorar os comentários das pessoas que passavam por mim. O assunto era Alexia e sua traição.

            Entrei na minha sala e me perdi em meus pensamentos. As outras garotas do meu time não vieram, incluindo Ily, mas Anne sabia que eu tinha feito algo. Ela fez um sinal de “OK” com a mão para mim e eu sorri discretamente. Ela também tinha sentimentos de amizade por Andrew.

            Peguei-me pensando nele e no que eu tinha feito. Será que aquilo podia magoá-lo mais do que a traição de Alexia? De repente, a coordenadora bateu na porta e pediu ao professor para me deixar sair. Senti os suspiros dos meus colegas. Era assim sempre que um coordenador chamava alguém. Engoli em seco e me levantei, indo até a porta. A última coisa que vi antes de sair foi Iliana conversando com Alexia.

            Será que os coordenadores tinham descoberto que fui quem fez aquilo? Tinha alguma chance? Todos do meu time prometeram segredo absoluto... Não havia como alguém descobrir.

            — O que aconteceu? — Perguntei, temendo a resposta.

            — Você tem uma visita. — A coordenadora respondeu, enquanto caminhávamos rapidamente na direção do banheiro, que ficava ao lado da Secretaria Técnica.

            — É como uma prisão agora? — Perguntei sarcasticamente, rindo. Geralmente em filmes de presídios ouvia-se a frase “você tem uma visita”.

            A coordenadora ignorou meu comentário e parou na frente da porta do banheiro masculino.

            — Eu não entendi. — Respondi quando um silêncio desconfortável se formou entre nós dois.

            — Ele está aí dentro. Recusa-se a sair e disse que queria falar apenas com você.

            Engoli em seco novamente e entrei. Quem quer que fosse, eu pressentia que não era alguém bom. Comecei a tremer involuntariamente e minha respiração acelerou.

            No fundo do banheiro, entre as pias e as cabines, largado sobre os azulejos e com o rosto entre as mãos, estava Andrew.

 

***

 

            — Andrew? — Perguntei, me aproximando lentamente. Ele olhou para mim. Seu rosto estava vermelho e inchado, porque passou, provavelmente, os últimos minutos chorando, porém ainda podia ver sua beleza. Ele estava sentado nos fundos do recinto, com as costas apoiadas na parede de azulejos, a mochila largada ao lado do corpo e as pernas esticadas. Seu estado era deplorável. — Andrew?

            — Greg. — Ele ecoou, com uma espécie de esperança na voz.

            Aproximei-me lentamente. Não sei por que estava tão cuidadoso, mas sentia que se me aproximasse demais ele poderia se machucar. Ajoelhei-me na frente dele e, me assustando, ele se inclinou para frente e me abraçou. Nunca estivemos tão próximos, nem quando ele me chamou para conversar naquele dia que disse que amava Alexia. Ele colocou o rosto em meus ombros, com sua respiração no meu pescoço e passou os braços por baixo dos meus. Segurei-o como se fosse perdê-lo para sempre. Foi estranho, mas naquele momento eu percebi que ele cheirava a perfume, colônia pós-barba e goma de mascar. Ouvi sua respiração oscilar e senti-o tremer. Ele estava chorando.

            — Você me perguntou, não foi? — Disse Andrew.

            — Perguntei o quê?

            — Se eu amava Alexia. — Ele respondeu. — Eu disse que achava que sim. Nunca estive tão errado na minha vida.

            — Por que só notou isso agora? — Disse, com um tom cômico e ouvi-o rindo. Ele se afastou de mim, com as mãos em meus ombros e sua expressão estava muito melhor do que quando entrei no banheiro. E não sei por que quis falar algo do gênero, mas acrescentei: — Ou talvez ame. Caso contrário não estaria tão devastado assim.

            — Eu não estou assim porque ela me traiu. — Ele interrompeu. — Eu estou assim porque havia um garoto ingênuo dentro de mim, e agora ele está morto.

            — Isso é... Poético. — Eu disse. — Mas por que me chamou? Você não deveria ter uma conversa com ela ao invés de mim?

            Ele balançou a cabeça.

            — Não, não. Eu queria falar com você. — Ele se aproximou de novo, e colocou a mão sobre meu antebraço. Parecia feliz. — Você me disse que gostava de mim e por um momento eu pensei que fosse o único que conseguiria me entender.

            — Talvez eu seja. — Acrescentei.

            — Você é. — Ele respondeu. — Diga: o que vê quando olha para mim?

            — Nesse momento?

            — Não só agora, mas todas as vezes que me olhava.

            Estreitei os olhos. Nunca esperava que ele fosse perguntar algo assim.

            — Um garoto... Triste. Mas não, não do modo ruim. Aquele triste do modo convidativo. Tipo, eu olhava para você e quando você me olhava de volta, eu juro, parecia que dizia “venha conversar comigo”. Aquela vez que nós conversamos, há alguns dias, foi a primeira vez que eu fiquei perto de você. E...

            — Greg, você é BV? — Ele interrompeu, bruscamente. Eu fiquei consternado e envergonhado, mas sorri.

            — Eu sou... — Respondi, mais soando como uma pergunta.

            — Você nunca namorou?

            — Não.

            — Como uma pessoa que nunca namorou pode sentir coisas tão concretas sobre amar alguém? — Ele perguntou. — Por que ninguém nunca se apaixonou por você?

            Havia algo na pergunta dele que soava como “por que eu nunca me apaixonei por você?”, mas eu não respondi diretamente falando dele.

            — Não sei. Talvez seja porque eu sou muito tímido e quase não faço amizades. As únicas pessoas que são verdadeiramente minhas amigas são garotas, e todas elas sabem que eu sou gay. Já tentei encontrar alguém, já me apaixonei por alguém, e, por algum tempo, jurei que a pessoa “escolhida” sentia o mesmo. Mas eu...

            E então fui interrompido. Não por palavras ou por olhares, mas por um beijo. Andrew se aproximou significativamente de mim e seus lábios foram pressionados contra os meus. Não foi nenhum beijo técnico ou apaixonado, mas foi o suficiente. Conseguia sentir o calor da pele de seu rosto, a estática elétrica que emanava de seu corpo próximo ao meu. Ele se afastou, sorrindo. Seu rosto não estava mais vermelho e ele nem parecia com uma pessoa que estava chorando.

            — Você tem razão, você me conhece. — Disse ele. — Eu não podia deixá-lo sem esse... Privilégio, por assim dizer. — Ele acrescentou, então se levantou e saiu do banheiro, e eu fiquei sentado no chão, pensando em como ele conseguira me cativar.

 

***

 

            Retornei para a sala, e vi Andrew conversando com Alexia. Imediatamente, o choque por pensar que tudo voltaria ao normal, que o beijo não tinha sido nada além de uma distração, que ele ficaria com Alexia no final, que eu fui idiota, se abateu sobre mim. Mas quando eu entrei e o vi com ela, ele olhou para mim e piscou sutilmente. Sorri. Sentei-me ao lado de Anne, como sempre, e esperei pela hora da saída.

 

***

           

            O sinal da quinta aula tocou, após aulas exaustivas e sem propósito, e eu me levantei, saindo da sala. Contornei os vários grupinhos de pessoas até chegar ao pavilhão onde sempre me encontrava com Ryan, Alanis e El. Todas as imagens já tinham sido retiradas, e rasgadas, provavelmente. Estávamos quase saindo pelo portão, quando vi algo.

            Alexia estava saindo com Andrew, no meio da multidão, e segurava seu pulso. Mas ele parecia muito, muito irritado com ela e tentava retirar seu braço das mãos da garota. Ela, por sua vez, estava histérica e gritava “Andrew, olhe para mim” diversas vezes. Ninguém parecia notá-los, exceto eu. Os dois sumiram no meio da multidão, em direção da rua. E então alguma menina gritou, um grito agudo que invadiu a minha alma. Ouvi um carro reduzir a velocidade bruscamente e várias pessoas gritaram. Escutei um homem gritar “saiam da frente” algumas vezes e a correria começou. Corri, sem pensar duas vezes, na direção do tumulto, e ignorei Ryan, El ou Alanis.

            Atravessei o grande grupo de pessoas, até chegar à rua, e vi a desordem de carros. E, abaixo de um deles, estava Andrew, desmaiado.

            Segurei o impulso de sair correndo. Vários homens tentavam retirar Andrew da estrada. No momento em que o levantaram do chão, vi que uma linha de sangue saía de sua nuca e encharcava suas roupas. Pensei em sair correndo e beijá-lo, antes que algo mais grave acontecesse, mas fui impedido por uma voz sussurrando atrás de mim.

            — Você não deveria ter divulgado aquelas imagens. — Virei-me e vi Alexia parada atrás de mim, com o rosto vermelho de ódio. — A sua amiguinha, Iliana, me contou tudo por um preço de duzentos reais, que eu pude pagar muito facilmente. Eu disse para você ficar longe dele. Agora ele ficará longe de você.



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