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História Magoar, Perdoar e Esquecer (Edição de Ouro) - Como magoar alguém


Escrita por: GSilva

Capítulo 9 - Como magoar alguém


COMO MAGOAR ALGUÉM

Um mês depois...

            — Quando elas vão chegar? — Perguntou minha mãe, enquanto eu saía do quarto. Fechei a porta atrás de mim e olhei para ela com uma expressão sugestiva.

            — Às nove. — Respondi. Ela se encostou sobre uma das paredes do corredor e cruzou os braços, enquanto me fitava com um olhar estranho e duvidoso.

            — Tem certeza que foi uma boa ideia pedir para sua irmã vir com sua amiga? — Disse ela.

            Eu sorri, embora estivesse um pouco irritado.

            — Tenho. — Respondi, por fim, retornando para meu quarto.

            Havíamos nos mudado há um mês e eu ainda não tinha me acostumado com a nova casa. Minha mãe insistiu para que fossemos para o interior, onde o clima era mais quente e acolhedor, mas meu pai não conseguiu barganhar com seus superiores. Acabamos indo para uma cidade fria e sem muitos habitantes, porém muito bem equipada. Havia muitas lojas, restaurantes e shoppings. E eu havia marcado para me encontrar com Mon e Aqua em um dos pontos turísticos: uma fonte artesanal imensa, cercada por um jardim bem atraente. Minha mãe foi contra a ideia de chamá-las ao mesmo tempo, mas eu precisava de Aqua do mesmo jeito que precisava de Mon. As duas me ajudaram em períodos de dificuldade.

            Enquanto ainda pensava sobre o que faria em meu passeio com as duas, retirei minha calça e minha camiseta, trocando-as por uma calça jeans e uma camisa social. Havia acabado de cortar o cabelo, então apenas os arrepiei para cima. Após estar completa e devidamente arrumado, me joguei na cama e apoiei minha cabeça nos braços.

            — Já são mais de oito horas, Greg. Você já está pronto? — Gritou minha mãe, através da porta.

            — Estou. — Respondi, mas ainda assim não movi um músculo para levantar.

            Estava pensando em como tudo mudara. Tudo havia ficado diferente, de certa forma, e não só no fato de que mudamos de cidade. Lembrei-me perfeitamente, ainda deitado, sobre os últimos momentos que tive com Andrew. Lembrei-me de seus olhos inquisitivos me olhando com repulsa, da forma como ele falou “você foi o único que realmente aprendeu a como magoar alguém”. Ele estava com ódio de mim. Eu não precisei de mais nenhum sinal para saber que meus momentos com ele haviam acabado, então, liguei imediatamente para minha mãe e pedi para que ela encaminhasse o processo de nossa mudança. É claro, não nos mudamos de imediato, e eu fui obrigado a ainda frequentar o Colégio Vargas por um tempo. Nunca mais vi Alexia, porque, pelo jeito, ela havia ficado tão magoada que precisou faltar algumas aulas. Mas eu vi Andrew. Ele olhou para mim algumas vezes, e eu juro por Deus, em sua expressão havia uma espécie de culpa ou arrependimento. Não sei se ele estava arrependido por ter dispensado Alexia ou por ter me evitado tão grosseiramente quando fui visitá-lo no hospital. Sobre algo ele tinha razão: tudo foi culpa minha. Se eu não tivesse feito tudo que fiz, nada disso teria acontecido. Ele não teria se magoado, nem eu nem Alexia. Na verdade, eu não devia nem ter entrado em seu círculo de amizades; devia ter deixado ele com Anne ou com seus parceiros de amizade, mas não devia ter me intrometido. Foi uma espécie de lei da natureza, pois, eu invadi seu círculo social e, em resposta, tudo foi de mal a pior.

            Mas naquele momento não era hora de pensar sobre essas coisas. Levantei-me rapidamente e saí do quarto. Ouvi o barulho leve do motor na garagem, o que indicava que meu pai já estava pronto para me levar ao ponto turístico. Saí de casa e encontrei o carro ligado e meu pai esperando. De fato, após nossa mudança, ganhamos muito mais dinheiro e conseguimos, em um mês (supreendentemente) comprar um carro. Fui até o automóvel, abri a porta e entrei.

            — Para A Fonte? — Perguntou ele, começando a dirigir. “A Fonte” era como chamávamos o ponto turístico onde Mon e Aqua estavam me esperando.

            — Para a Fonte. — Respondi, colocando o cinto de segurança.

 

***

 

            O carro parou não muito longe do ponto turístico. Havia muitas pessoas andando de um lado para o outro, e todas pareciam felizes. Abri a porta e saí, não antes de sorrir como agradecimento para meu pai.

            — Quando quiserem voltar, me liguem. — Disse ele, religando o motor.

           

            O carro saiu rapidamente e de repente fiquei “sozinho no meio da multidão”. Procurei visualmente por Monique e Aqua e as encontrei perto de uma pequena árvore do jardim. Era impossível ignorar a imensa fonte d’água parada no meio da praça, então, conforme eu andava na direção delas, não desgrudei os olhos da construção. Elas não quiseram esperar eu chegar e imediatamente correram até mim.

            — Greg! — Exclamou Mon entusiasticamente, pulando em mim para um abraço. Retribui o gesto, enquanto ela me cercava por seus beijos e abraços. Ela era anos mais velha do que eu, mas ainda sim muito mais baixinha.

            — Greg. — Disse Aqua. Olhei por cima dos ombros de Mon e encontrei a “ex-amiga” de Andrew parada, a alguns metros. Sorri.

            — Aqua. — Ecoei, fazendo Monique interromper o abraço. Olhei para as duas orgulhosamente e acrescentei: — Como vocês estão?

 

            As duas me conduziram até a árvore e praticamente obrigaram-me a sentar no chão. Obedeci, enquanto meus sapatos esmagavam as folhas amareladas do outono.

            — Nós temos algumas novidades. — Disse Mon, ainda mais entusiasticamente, enquanto se sentava ao meu lado. O vento frio e impiedoso fazia seu cabelo chacoalhar e eu tive que me esquivar para não ser atingido pelos fios negros. Aqua se sentou no meu outro lado.

            — Nós só ficamos um mês separados. — Eu disse, rindo.

            — Muita coisa pode acontecer em um mês. — Interrompeu Aqua. — Aliás, eu não sei por que você quis se mudar.

            — Ah, eu conversei com vocês pela internet. — Me defendi.

            — Não é a mesma coisa. — Rebateu ela.

            — Ela tem certeza, Greg, você não precisava ter se mudado. — Disse Mon e de repente me lembrei das épocas em que brigávamos sobre coisas estúpidas. Estava a ponto de brigar com ela novamente.

            — E ter que ver Andrew todos os dias, sabendo que ele me odeia? — Respondi, e as duas olharam para o chão vagamente.

            — Não é bem assim. — Disse Aqua.

            — Como “não é bem assim”? Ele disse que eu o magoei e, da última vez que chegamos perto um do outro, ele se afastou como seu eu fosse machucá-lo. — Respondi.

            — Ele não está mais assim. — Ela continuou. As duas trocaram olhares conjuntamente, como se estivessem planejando algo escondido.

            — Gente, vocês têm alguma novidade espetacular para mim? — Perguntei, quando percebi que as duas pareciam esconder algo. Aqua colocou a mão no bolso e retirou um pedaço de papel.

            — Olha, eu queria entregar isso para você apenas amanhã, quando eu fosse embora, mas...

            Ela me entregou o papel e eu mais do que rapidamente tentei abri-lo.

            — Não leia agora. Vamos conversar... — Disse Mon.

            — Ok, mas quem mandou isso? — Perguntei. Aqua, pela primeira vez, me olhou como se tudo estivesse resolvido. Como se não houvesse mais nenhum problema no mundo, e depois respondeu:

            — Andrew.

 

***

 

            Chegamos em casa rindo igual hienas. Aqua tinha planos para se hospedar em um hotel por perto, mas eu insisti para que ela ficasse na minha casa. Monique, sem hesitar nem um segundo, aceitou a proposta. Mas eu, como não estava me sentindo muito bem psicologicamente e emocionalmente, fui direto para meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

            Estava apertando a carta em minhas mãos com tanta força que precisei alisá-la em cima da cama para poder ler.

 

            “Greg, sei que você provavelmente não liga mais para minha existência, e talvez nem se lembre mais de mim, mas eu preciso me desculpar. Você sabe que eu nunca fui muito bom com as palavras, então não me julgue. Além disso, nunca escrevi uma carta. Eu só quero que você saiba que eu sinto muito por ter te tratado daquela forma, por ter te magoado, por ter feito você de um mártir. Não era essa minha intenção. Eu queria protegê-lo. Me desculpe dizer, mas eu nunca realmente amei você e nunca vou amar, porém, você sempre foi uma amizade real para mim e eu sempre o estimei. Quero que você saiba que tudo bem se você for apaixonado por mim. Você me ama (talvez) e eu admiro a sua coragem por admitir.

            Saiba que eu sempre estarei aqui quando precisar. E me desculpe por nunca ter falado isso antes. Eu preciso de você de volta.

            Andrew.”

 

            Quando acabei de ler, meus olhos já estavam cheios de lágrimas. Reli novamente todas as palavras e, num último impulso sentimental, rasguei a carta em oito pedaços. Aquilo não estava certo. Não estava. Não queria novamente me embrenhar nos mistérios de Andrew e depois sair magoado. Não era meu objetivo perder o jogo de interesses. Pois, quem saísse magoado no final, perderia, segundo Alexia. E eu tinha conseguido superar, pelo menos até receber aquela carta. Até havia criado algumas amizades no meu novo colégio (apesar de que, o regimento da minha nova instituição de ensino era muito, muito mais rígido, com seus Inspetores e os Sérios). Mas não era justo, pois, depois de tudo que aconteceu ele dizer que tudo está resolvido.

            Olhei os pedaços da carta no chão e pensei que havia destruído o último vestígio dele na minha vida. “Você sabe que eu nunca fui muito bom com as palavras”. Fiquei olhando os estilhaços do meu passado por mais ou menos vinte minutos, enquanto chorava silenciosamente, e de repente tive uma ideia.

            Levantei freneticamente e procurei em cima do meu criado mudo por algo que havia usado muito nos últimos dias. Meu caderno de anotações, o qual me ajudava a criar minhas histórias. Procurei uma página limpa e segurei uma caneta que também havia encontrado. Eu ia fazer o que deveria ser feito. Ia escrever sobre tudo o que aconteceu e, quando colocasse o último ponto final, aquilo seria um cadeado que selaria o passado. Tentei pensar num título, mas não consegui nada. E, do nada, me lembrei do que Alexia havia me dito. Coloquei a caneta no papel e rabisquei três palavras, como título.

            COMO MAGOAR ALGUÉM.



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