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História Mais cinco minutos, talvez? - Capítulo 15- Erik


Escrita por: Celinn

Notas do Autor


Hey, gente, tudo bom? Peço desculpas por não atualzar aqui, mas eu ainda não me acostumei muito com o spirit e sempre me esquecia de atualizar aqui também :D Eu sempre postei mais no nyah e por isso a fic lá está mais adiantada...
Mas... espero que goste. E desculpa!

Capítulo 15 - Capítulo 15- Erik


— Você tem certeza de que não está doente? — Felícia me perguntou, pela milionésima vez, com um tom de voz de quem não sabia se eu estava fazendo birra ou se ela precisava urgentemente ligar para uma ambulância.

O motivo era simples: Eu havia me trancado no quarto e me isolado do resto da humanidade nos últimos dias. E, honestamente, não liguei nem um pouco para o quanto isso me fez parecer um maluco psicótico para o resto do mundo.

Eu estava quase virando um, de qualquer forma. E eu tinha vários motivos para isso.

É deprimente, mas é a verdade. O que mais eu posso dizer?

Eu tentei, várias vezes, dizer a mim mesmo que estava louco. Que aquilo era ridículo e que, obviamente, não havia sido real. E como poderia? Quer dizer, eu quase ter transado com Isaac no meu banheiro? Com aquele Isaac? Isso realmente tem alguma lógica? 

O meu cérebro, ou a parte sensata que sobrou dele, me dizia que não. Que não tinha nenhuma possibilidade de aquilo ter sido verdade. E eu queria acreditar nisso. Queria muito, mas... O meu corpo simplesmente não concordava com essa informação!

Não importava o quanto eu escovasse meus dentes ou quantas vezes eu tomasse banho, toda vez que eu fechava meus olhos eu podia sentir novamente a sensação das mãos dele me tocando em toda parte, ou a boca dele sobre a minha... E, para ser sincero, era isso que estava me enlouquecendo.

É um paradoxo, na verdade. Quanto menos você quer pensar em uma coisa, mais você vai pensar nessa coisa.

E quanto mais eu pensava, pior eu me sentia.

— Não estou doente. — Respondi a ela, também pela milionésima vez. — Só quero ficar sozinho.

— Você parece doente. — Felícia insistiu. — Sua voz está rouca. Uma gripe, talvez...

Respirei fundo. Contei até dez. E então coloquei um travesseiro na cabeça para calar a voz dela. Felícia me lembrava Isaac. E naquele momento, eu queria exterminar tudo o que me lembrava Isaac. Incluindo eu mesmo.

— Felícia, eu não estou doente. Eu só quero que me deixe em paz! — Meu tom de voz saiu lento, porém mais ríspido do que eu pretendia.

Ela não respondeu, mas eu sabia que tinha ficado furiosa pela minha resposta. Notei isso pelo modo como bateu a porta do quarto.  E porque eu ainda consegui escutá-la praguejando enquanto descia as escadas.

Honestamente, as vezes Felícia levava aquele papel de bancar a “minha mãe” muito a sério. Mesmo que todo mundo soubesse que aquilo era tudo uma fachada e que ela apenas estava desesperadamente tentando ser reconhecida pelo meu pai. Às vezes, imagino que na mente dela, eu era como um tipo de animal de estimação que ela ganhou de alguém que amava muito, e desde então tentava cuidar corretamente para que não morresse.

Mas por amor àquela pessoa. Não por mim.

Voltei a afundar a cabeça ainda mais no travesseiro e tentei me fundir ainda mais com a cama.

Por que tudo na minha vida tinha que ser tão errado e distorcido?

Aquilo era doentio! E ficar pensando em Isaac me tocando era ainda mais.  Quer dizer, Isaac era cruel como o inferno e, em noventa por cento do tempo, ele estava tentando me pôr para baixo. Há menos de uma semana, a simples ideia de conversar com ele me daria náuseas!

E exatamente por saber de tudo isso, eu me sentia cada vez mais corrompido e manchado. Desde que os limites já tinham sido atravessados, só me restava o arrependimento sujo e vergonhoso para lidar.

Porque, para falar a verdade, o que mais me corrói e me faz querer que o chão me engula vivo, não era exatamente o fato de ter sido tocado de maneira lasciva por Isaac. Não. O que realmente me destruía e me fazia sentir como se acabasse de fazer algo desprezível e irreal, era o fato de ter que admitir que... Naquele momento eu quis aquilo.

Ah, mas não me entenda mal. Eu não estou dizendo que eu queria ter ficado me agarrando com Isaac naquele banheiro. Por favor, não é isso! O que eu estou dizendo é que eu queria... Você sabe, ser tocado. 

Sem sentimentos a mais, eu disse a mim mesmo.

Então como foi que tudo saiu tanto do controle? E como eu pude deixar isso acontecer?

Eu estava com nojo de mim mesmo.

— Certo, chega. Não me venha mais com essa merda. —A voz de Diego grunhiu de repente, como se sinos altos badalassem na minha cabeça. — Você pode se trancar no seu mundo e chorar por dias, se você quiser. E você pode continuar me ignorando como você tem feito. Mas você está apenas escapando do tema principal. Está cada vez mais abstraído da sua própria vida. Você sabe disso, não sabe?

E aquilo realmente me pegou de surpresa.

Fazia tanto tempo desde a última vez que conversamos, que realmente achei que Diego tinha desistido de falar comigo. Quer dizer, eu estava ignorando-o por quase dois dias e meio. E isso meio que fazia o vazio existencial parecer menor.

E para falar a verdade, não é como se eu realmente não quisesse falar com ele. Eu apenas não conseguia!

Não apenas porque Diego foi o responsável por me fazer protagonizar uma das piores humilhações da minha vida, mas porque ele havia sentido tudo aquilo junto de mim. A pessoa que me deixou exposto e ainda viu o meu lado mais vergonhoso não tinha sido Isaac, tinha sido ele. E eu nem mesmo podia evitá-lo.

Eu estava preso no inferno.

O meu primeiro instinto sempre me dizia para culpar a primeira pessoa que vinha a minha cabeça; então era natural que eu colocasse a culpa nele, certo? Até porque a culpa realmente foi dele. Mas... Sempre que eu fazia isso, era como se eu tivesse contando uma grande mentira.

— Apenas diga o que você quer dizer, Erik. — Ele rosnou novamente. — Porque, no momento, eu estou tão confuso quanto você. Confuso, irritado e incomodado. E eu preciso de algumas respostas... — Era como se a raiva dele se rompesse a cada palavra e se tornasse quase uma suplica. — Por favor!

Soltei um longo suspiro.

Honestamente, para onde eu poderia fugir? Aquela era uma situação em que eu nunca teria imaginado estar. Então era natural que eu não soubesse como reagir.

 —O que quer que eu diga a você? — Acabei cedendo a ele. — Porque eu não sei o que dizer nem a mim mesmo. Tudo está pior do que nunca e eu não sei o que fazer...

— Por que não começa pelo básico? — A voz dele saiu mais branda dessa vez. — Como por exemplo: “ Eu estou puto com você pelo que aconteceu e eu acho que gosto do Isaac. ”. É isso que você está pensando, de qualquer forma...

— Não! — Interrompi, me sentando com pavor na cama. —Não, não! Eu não gosto. Eu ainda odeio ele, ok? — Quanto mais eu abria minha boca, mais ridículo eu me sentia. — Nunca gostei de Isaac, pra ser mais claro. Não gostei dele como amigo ou como um possível “ primo”. Nem mesmo como conhecido eu gosto dele. O que acontece é que, por algum motivo, o destino insiste em sempre botá-lo no meu caminho.

Diego ficou quieto durante um longo tempo. O suficiente para eu pensar que ele havia desistido daquela conversa sem futuro.

Infelizmente eu estava errado.

— Você sente alguma coisa por ele. — Ele insistiu.

— Não.

— Não foi uma pergunta. — Falou em uma voz baixa e grave. Irritação, talvez?

— Não. — Repeti.

— Você sabe que é perda de tempo mentir, não sabe? — Ele não ia desistir?

— Mesmo se for — Minha voz saiu em um grito. — O que isso muda? Isaac ainda me odeia, você ainda está parasitando o meu corpo e a minha vida ainda está uma droga. Então e daí o que eu sinto ou deixo de sentir?  Isso apenas me faz parecer mais patético do que eu já estou. Então será que você pode parar de insistir nisso como se alguma coisa desse tipo fosse da sua conta? Porque não importa o que você diga, nada vai mudar!

Respirei fundo novamente.

Não seria bom se Felícia me pegasse gritando para o além daquele jeito. Embora, por um minuto, eu tenha me sentido um pouco melhor. Em gritar com Diego, quero dizer. Talvez aquela coisa de “ colocar para fora” não fosse tão estupida como eu sempre achei que fosse, afinal.

— Eu sei. — Foi o que Diego me respondeu, entretanto. — Eu não posso consertar a sua vida. Eu entendi isso. Fui prepotente em pensar que podia. É por isso que eu estou a três dias tentando te pedir desculpas. Então... Desculpa, ok?

De repente me senti atordoado. Sem me lembrar se eu ainda deveria ou não continuar com raiva e gritando com ele.

Para ser sincero, as pessoas geralmente não me pedem desculpas. Porque, na realidade, elas não estão nem aí. Então eu não esperava que dessa vez fosse diferente. Quer dizer, eu esperava muita coisa de Diego. Coisas na maioria das vezes ruins, para falar a verdade. Mas não um pedido de desculpa. Muito menos um que soasse tão... Sincero.

E naquele momento eu meio que senti inveja dele. Quer dizer, ele ao menos conseguia ser sincero. Não importa o quanto as coisas saíssem dos trilhos ou o quanto tudo parecia estar desmoronando em nossa cabeça, Diego ainda conseguia ser mais fiel a ele mesmo do que eu jamais fui a qualquer coisa na minha vida inteira!

— Bem — Eu murmurei. — Não é como se...

— Por outro lado — Diego me interrompeu. — Eu espero de verdade que você levante a bunda dessa cama e veja que, ficar chorando em meio às trevas, também não vai te ajudar. E que a única pessoa que realmente pode fazer algo por você, é você. Entende? Ou você realmente quer continuar nessa situação deplorável?

Revirei os olhos.

Ok... O que eu estava esperando? É de Diego que estamos falando. É claro que sentimentalismo não era a cara dele. Não era uma novidade. E aquilo foi tão parecido com aquelas frases que a gente encontra em livrinhos de autoajuda, que chegava a ser ridículo.

— Você é péssimo em consolar as pessoas. — Observei.

— Mas eu não estou consolando você. — Ele respondeu como se fosse óbvio. — Estou tentando diminuir esse sentimento de autopiedade que eu estou sentindo e que está me fazendo querer explodir a minha cabeça...— Então ele fez outra pausa. — Olha, se isso faz você se sentir melhor, eu já estou fazendo um ótimo trabalho me martirizando sozinho, ok? 

É, pra falar a verdade, isso meio que me deixava melhor, sim. Pelo menos ele também estava sofrendo. Quer dizer, é isso que acontece quando o seu ego é ferido, não é?

Me pergunto se realmente valia a pena continuar com raiva dele...

—Então me responda apenas uma pergunta — Falei. — Por que beijou Isaac?

Pensei que levaria um tempo para que Diego organizasse os pensamentos para me responder, mas, para minha surpresa, ele disse praticamente instantaneamente:

— Porque me pareceu uma boa ideia. E porque eu queria te irritar. — E então emendou:  — Mas, cacete, eu não sabia que as coisas acabariam daquele jeito, ok? Eu sei que foi estupido e imaturo, então não comece com outro de seus discursos. Eu também não estou nenhum pouco orgulhoso disso.

De repente foi como se o meu carma voltasse para os meus ombros. Pesado.

— Então... Por que você não parou? Quando viu que aquilo estava indo além, quero dizer. — Perguntei novamente.

— Porque eu não conseguia! — Diego não parecia estar pensando muito nas respostas. Provavelmente porque ele também já havia se feito as mesmas perguntas. — Olha, eu não vou culpar você, Erik. Não sou tão hipócrita a esse ponto. Mas alguma coisa estranha aconteceu ali. Eu não tinha nenhum controle sobre as ações ou reações do seu corpo. Então, por mais que eu quisesse parar, eu não poderia, porque eu nem mesmo conseguia me focar na minha própria mente! Era como se...

 Diego travou em dizer a última parte. Como se ele ainda não estivesse muito certo do que dizer, na verdade.

— Como o quê? — Eu incentivei.

— Como se eu fosse você. — Ele concluiu, sem nenhuma entonação na voz. — Como se minha mente, também fosse sua. Como se... Eu não existisse, apesar de claramente estar ali...— Diego parecia incomodado. — Mas, e você?

— O que tem eu?

— Porque você não parou? — Ele perguntou de repente. Não havia nenhum tom acusatório em sua voz. Apenas curiosidade. — Digo, esse corpo é seu, na verdade. E é claro que você poderia ter tomado ele de volta. Então isso meio que está me incomodando. Por que não impediu aquilo antes que acabasse de forma tão humilhante?

Porque eu não quis, era, para meu completo desagrado, a resposta da maldita pergunta.

Mas não tinha a menor chance de eu admitir isso alto.

— Você não precisa realmente me dizer. — Ah, droga, como eu odeio quando ele faz isso!  — Você costuma ter pensamentos tão estupidos quanto os meus, então não é como se eu pudesse te julgar. Somos farinha do mesmo saco... — O tom dele mudou para deboche. — Mas acho que você está fazendo as perguntas erradas, para a pessoa errada.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que, não estávamos em dois, Erik. Estávamos em três. E apesar de esse ter sido o ménage à trois mais desastroso da história, há uma versão que ainda não ouvimos. — Ele riu, apesar de não ter muito humor. — E para alguém que prega o ódio como se não houvesse amanhã, acho que Isaac aproveitou muito da situação...

Senti o sangue subir para meu rosto.

Porque, francamente, eu não queria ter que voltar a pensar em Isaac. Até porque, como Diego disse, ele também estava envolvido naquilo.

E também, honestamente, o que Diego estava esperando que eu fizesse? Confrontasse Isaac? Isso era simplesmente ridículo! Eu nem sei se poderia olhar para ele novamente!

Então comecei a me perguntar o que eu faria quando a segunda-feira chegasse eu tivesse que voltar a escola. Porque não existia um “agir normalmente” numa situação daquelas. E agir com indiferença não era muito o meu forte. Será que eu realmente deveria fazer algo a respeito disso? Quer dizer, Isaac tinha perdido a dignidade tanto quanto eu, então não era totalmente impossível que ele também estivesse lidando com a auto-aversão.

E eu estava certo de que ele não ia realmente me abordar na escola para falar sobre aquilo. E por que ele iria? Digo, a última coisa que Isaac iria querer, era que aquilo acabasse vazando. E também não é como se tivesse significado alguma coisa para ele.

Talvez eu devesse ter me sentido seguro com isso. Quer dizer, a ignorância é um dom. Seria melhor não saber o que passava na cabeça dele.

Meu Deus, quem eu estava querendo enganar?

Eu não queria ir à escola!

Eu não queria sair da minha cama nunca mais!

Eu não queria olhar para Isaac Miller enquanto fosse vivo!

Porém, quando eu cheguei à escola na segunda de manhã, eu descobri que as minhas preces tinham sido atendidas: Isaac não estava realmente procurando por mim. O que era fantástico. Porque seria muito mais difícil esquecer o que tinha acontecido se eu tivesse que ficar olhando a cara dele dia após dia. E imagino que ele pensava o mesmo.

O lado ruim disso, entretanto, era que o mesmo não valia para os amigos dele.

Eu tinha conseguido sobreviver ao primeiro e segundo tempo sem ser atacado por ninguém (Créditos a Diego por isso.). De modo que, quando o sinal que anunciava o fim das aulas tocou, eu podia jurar que o meu inferno tinha finalmente acabado e eu poderia voltar para casa sem nenhuma ocorrência.

 Mas infelizmente, não.

— Bom dia, princesa! Aproveitou bem sua suspenção? — As palavras vieram acompanhadas de um golpe forte nas minhas costas. Por alguns segundos eu nem sabia o que tinha me acertado. — Ficamos sabendo do seu incidente com Zack...

Eu sabia que o que ele se referia, na verdade, era ao fato de Diego ter quebrado o nariz de Isaac. Não ao segundo acontecimento após aquilo. Mas como meu estado psicológico ainda não estava muito bom para escutar o nome “Isaac” e “incidente” na mesma frase, me coloquei na defensiva:

— Não aconteceu absolutamente nada entre a gente! — Me virei. Eram apenas dois. E Isaac não estava com eles. — Quer dizer... Fora o Nariz.

— Você não está nem mesmo arrependido? — O que tinha acertado as minhas costas riu.

— Acho que não seria ruim repetir a bela obra de arte. Combinaria muito com essa cara de garotinha que ele tem... — Um outro segurou meu ombro. Com muita força, aliás. — O que você acha?

Diego provavelmente teria ficado feliz com elogio. Eu, por outro lado estava começando a ficar nervoso.

Principalmente quando eles riram e levantaram o punho na minha direção.

E o mais engraçado, era que eu nem sabia de quem eu estava apanhando!

Quer dizer, não é como se eu tivesse me dado o trabalho de decorar o nome de todos os meus possíveis agressores. Assim como também não era a primeira vez que aquilo acontecia comigo. Mas dessa vez, meu cérebro estava pronto para gritar por Diego. Afinal ele era a única pessoa que eu sabia que poderia me ajudar naquele momento.

Quem pode me culpar?

— Ah, solte ele, Jay. — Uma voz calma e suave soou, entretanto. Fazendo cada parte do meu corpo se arrepiar — Não acho que se meter com alguém que acabou de voltar de uma suspenção fará bem a sua imagem.

Era como se meu sangue fosse drenado. Minhas mãos ficaram instantaneamente frias e tremulas. E não ia demorar muito para que a náusea também aparecesse.

Como sempre acontecia quando Isaac estava por perto.

E, para ser bem sincero, eu me senti muito mais assustado com aquilo do que em receber um soco na cara. 

— Oh, Zack, que bom vê-lo! — O garoto se deteve com um sorriso, se virando em direção a ele. — Você quer brincar também?  Olha como ele está tremendo!

A palavra “brincar” não me trouxe memórias boas. E pela forma que Isaac engoliu em seco, acho que a ele também não.

— Não. No momento eu só quero que vocês larguem o pescoço do Erik, e voltem para sua sala. — Isaac respondeu ainda calmo.

E aquilo meio que nos pegou de surpresa. Afinal, Isaac era quem liderava aquela bagunça. Ele geralmente era o primeiro a sugerir que alguém quebrasse algum osso da minha cara. Valia pontos, segundo ele.

— Sério? — Um dos amigos dele, o que estava apertando meu ombro, desdenhou. — Vai deixar o bastardo ir assim, fácil? O que tem de errado com você hoje?

Isaac riu e, pela primeira vez desde então, virou-se diretamente para mim, me dando a completa visão de seu rosto. E aí eu finalmente pude notar o hematoma na testa e o curativo nasal.

— E quem disse que eu ia deixá-lo ir? — Ele fitou os outros dois. — Eu disse para vocês irem. Eu ainda tenho assuntos a tratar com o Erik aqui.

Os dois idiotas na minha frente riram como se aquilo fosse o maior plano maligno do mundo.

Não que eles estivessem de todo errado em pensar que me deixar a sós com Isaac fosse pior do que apenas me darem uma surra, é claro.

Eu ganhei outro empurrão. Mas dessa vez em direção a Isaac.

—Entendi. Se é assim, ele é todo seu. — Jay, cujo nome eu tinha acabado de descobrir, falou. — Boa sorte, bichinha.

Meu Deus, não era nem meio dia ainda e eu só queria me atirar de um precipício.

E agora eu também precisava lidar com Isaac. Ótimo!

Malditamente ótimo!

— Eu pensei que você ia faltar a escola hoje. — A voz de Isaac soou de repente, fazendo meus nervos tremerem. — Fugir geralmente faz mais o seu tipo.

Precisei respirar fundo e me preparar antes de encara-lo.

“ Não importa”, eu estava repetindo como um mantra. “ Não importa o que ele diga, apenas não comece a chorar. Faça ao menos esse favor a si mesmo. ”. Mas eu estava tão preocupado em como conseguiria encarar Isaac depois daquilo, que eu apenas me sentia miserável e perturbado.

Então as palavras simplesmente saíram:

— Por que você sempre age como se eu te devesse alguma coisa? — Minha voz saiu amarga. — Me ver assim faz o seu ego parecer melhor?

—É, ver a sua cara fracassada sempre faz meu dia parecer mais brilhante. — Ele murmurou. Bem, isso realmente parecia algo que Isaac diria normalmente. Com exceção do fato de que dessa vez ele foi irônico.

Suspirei, me rendendo completamente.

— Por que me ajudou com os dois idiotas? — Perguntei. — Você geralmente encabeçaria a fila para me bater e tudo mais...

Isaac soltou uma risada sem graça, e quando voltou a me encarar, estava com sua expressão usual carrancuda.

— Porque... Estou sem paciência, Erik! — Ele rosnou, na sua voz típica. Muito mais familiar agora. — Alguém da droga da sua família espalhou que você quebrou a merda do meu nariz e agora está todo mundo me tratando como um idiota! E eu não te ajudei! Eu só não quero que aquelas duas bestas saiam por aí contando vantagem como se tivessem feito algo por mim!

— Foi a sua tia que contou, na verdade... — Murmurei e levantei meus olhos para ele.

Presumi que Isaac continuaria a soltar os cachorros em cima de mim até se sentir satisfeito e aquele martírio finalmente acabaria. Esperei que agisse de forma presunçosa e arrogante como sempre, mas ele estava apenas me olhando com uma expressão séria no rosto.

E aquilo não era mesmo o que eu esperava de Isaac Miller;

De repente me sentia ainda mais inquieto.

— Por que veio para escola, afinal? — Ele me perguntou por fim, como se eu tivesse cometido uma nova ofensa.

— Por que eu estudo aqui... — Falei em um fio de voz. Não é como se eu estivesse querendo desafiar Isaac ou algo assim. Eu apenas não tinha entendido a pergunta. Quer dizer, ele sempre implicou comigo e tudo mais, mas nunca tinha me impedido de ir à escola.

— Você é última pessoa que eu quero ver na minha frente agora. — Ele falou entredentes. — Você sabe disso, não é?

— Foi você que veio atrás de mim! — Eu acusei, sem conter a indignação. — Por que está agindo como se a culpa fosse minha?

— Porque a maldita culpa é sua! — Ele gritou, mais furioso do que de costume. — A culpa é sua... Sempre é sua.

A repentina explosão fez com que eu paralisasse.

Pelo menos até finalmente entender o porquê dele estar daquele jeito.

Engoli em seco. Meu estomago se contorcia tanto que parecia que eu ia vomitar em Isaac a qualquer instante.

— É por causa da semana passada? — Indaguei baixo, mas o suficiente para ele ouvir. — Você está com medo de mim ou algo assim?

Isaac diminuiu nossa distancia em dois passos, apontando o dedo para mim.

—Eu falei pra não tocar nesse assunto! E eu espero, de verdade, que você não esteja pensando em me fazer qualquer tipo de ameaça ou chantagem, por causa daquilo.  Não estou com humor para isso, Erik...

— Está preocupado com a sua reputação? — Perguntei, finalmente entendendo.  — De fato seria interessante se soubessem desse tipo de coisa vindo de você. Um grande escândalo! Somos bons em protagonizar escândalos.

A família de Isaac estava toda envolvida na política. É por isso que “reputação” era algo tão vital quanto oxigênio para eles.

E era algo que eu era muito bom em destruir também.

— Não se atreva, Erik...— Isaac me ameaçou novamente, embora tenha parecido mais um lamento.

Eu estava olhando diretamente para Isaac. Como há muito tempo eu não fazia. E eu percebi que os olhos dele eram tão confusos quanto os meus.

— Exatamente por que você age assim? — Me ouvi perguntando de repente. — Até quando, aliás, você pretende ir com isso? 

O olhar de Isaac vacilou e por um minuto pareceu confuso.

— Do que está falando? — Ele se fez de desentendido.

De repente, eu descobri que eu podia ficar com raiva também.

— Você já me humilhou de todas as formas possíveis, Isaac. — Esclareci para ele. — Há oito anos você vem fazendo isso. De todas as formas criativas, devo considerar. E agora... Depois do que aconteceu... Você ainda não está satisfeito? O que está faltando? Você realmente precisa dormir comigo para que isso acabe?

— Não seja ridículo! — Isaac pareceu desconcertado, já que ficou parado, olhando para os meus olhos como se dissesse “ Você está brincando comigo? ”. — Você enlouqueceu?

— Há muito tempo. — Respondi sem pensar. — Porque é isso que acontece quando você passa tanto tempo no fundo do poço. E você me jogou nele! — Sentia meus pulmões pegarem fogo, como se eu estivesse sufocando. E não era só isso que ardia. O fundo dos meus olhos também — Droga, por que você precisa me odiar tanto?

Isaac ainda me encarava impassível.

— Você é tão dissimulado! — Ele riu indignado e desviou os olhos por alguns segundos. — Você precisa que eu diga em voz alta, então eu digo: Eu odeio olhar para você. Odeio olhar para os seus olhos e nunca, nem uma vez, ver arrependimento neles. Odeio olhar para você e ver que tudo que no fundo realmente te assusta é que as suas mentiras venham à tona. E odeio ainda mais esse seu novo jeito de agir, como se na verdade você não temesse nada. Porque no fundo, você não se importa com nada. Então me diga , Erik, que motivos eu tenho para não te odiar?

De repente era como se meu rosto não tivesse mais expressão. Era vazio. Exatamente a sensação escura e solitária que eu sentia quando tinha vontade de desistir de tudo.

— Então por que apenas eu? — Minha voz saiu morta. E eu realmente esperava que as lagrimas não resolvessem cair. — Por que eu sou o único que você culpa? Por que não Felícia por nos apresentar, por exemplo? Ou ao seu pai, por ser um louco por dinheiro e ter praticamente vendido você para minha família? — Balancei a cabeça. — Você ainda tem medo dele, não é? Ele ainda bate em você, como quando éramos crianças?

—Não fale sobre o que você não sabe...— A voz de Isaac tremeu.

— Ah, mas eu sei. — Sibilei, interrompendo-o. — E, é exatamente por eu saber...  Que tudo se tornou esse inferno!

De repente eu não estava mais tão preocupado com as minhas mãos tremulas ou meu estomago enjoado. De repente, eu não me sentia tão idiota como eu sempre me sentia quando falava com Isaac. 

De repente eu realmente não ligava mais.

— Cala a boca... — Isaac tentou me cortar, vindo furiosamente na minha direção.

— Não, cale a boca você. — Eu disse rispidamente, recuando vários passos para longe dele. Eu não queria deixar que ele me encurralasse de novo. Eu não queria que tivesse o poder ali. — Eu vou dizer o porquê de você realmente me odiar, Isaac. É porque você só tem duas opções. Ou você me odeia ou você se odeia, não é? — De repente as palavras começaram a jorrar. Era como se o meu filtro tivesse sido quebrado. — E você só escolheu me odiar porque eu te lembro de tudo de ruim sobre você... Me diga, Isaac, você realmente acha que as coisas seriam diferentes pra você se não fosse por mim? Você realmente é tão ingênuo a esse ponto?

Os olhos claros de Isaac brilharam para mim. Magoa e ódio realmente prevaleciam dentro deles. Ele não parecia disposto a dizer nada, com sua mandíbula visivelmente tensa.

Voltei a encará-lo.

—Será que eu acertei os pontos, Zack? — Cuspi para ele.

Não havia nada que eu pudesse dizer para que alguma coisa mudasse. Diego estava errado. Não havia nada que eu pudesse fazer por mim também. Não havia nada que alguém pudesse fazer.

Às vezes eu queria que Isaac desaparecesse da minha vida para sempre.

E às vezes... Acho que eu só queria que ele não me odiasse.

O que com certeza não fazia muito sentido. Pincipalmente considerando que a última coisa que Isaac disse para mim foi:

— Você consegue elevar meu desprezo por você a outro nível...

Ele ainda me encarou por um tempo, antes de virar as costas e sair andando como um furacão pelo corredor.

Eu o deixei sem palavras. Eu me deixei sem palavras...

Precisei de uma seção de respirações longas e lentas para que minha cabeça não explodisse.

— Essa foi a primeira vez que eu vi você falando desse jeito. — Diego proferiu em seguida, calando parte da minha mente barulhenta. Me perguntei se ele também sentia o meu pesar por ter feito aquilo. — Foi interessante...

— Não, não foi. — Eu disse a ele com a voz hesitante. De repente, eu estava me dando conta do que tinha feito. E estava em choque. —Isso foi apenas uma prova do quanto eu sou cruel quando estou desesperado... — Soltei um riso sem graça. 

O que exatamente eu estava fazendo da minha vida? 

Talvez Isaac estivesse certo. Talvez eu realmente fosse muito bom em destruir a vida das pessoas... Mas, se eu soubesse que aquela seria a última vez que falaria com ele, eu gostaria de ao menos ter pedido desculpas.

— Hey, Diego, você gostaria de escutar uma história? É sobre dois garotos que foram amigos de infância... Até que um deles simplesmente ferrou com tudo...



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