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História Mais doce que açúcar - Cupcakes, brownies e você


Escrita por: nunytales

Notas do Autor


Então. Eu estou há três dias querendo terminar de editar/revisar/florear essa fanfic, mas ela é enorme, como vocês podem notar, então acabei indo por partes. Foi o outro ship que venceu uma enquete que eu fiz no twitter ERAS atrás (empatado com Markyeom), mas antes tarde que nunca é uma frase que eu aprecio bastante. É isso aí.

Fatos relevantes: Se eu gosto de YoonJin hoje é tudo culpa da Paz (espero que goste dessa coisinha aqui, obrigada por tudo, tudo ♡). E também: GENTE, desculpa a one-shot grande, mas vai ser publicada como um tiro só, sim. Beijos na bunda ~

Boa leitura a quem resolver se aventurar por aqui~~~~~~

Edit: Só pra constar, eu não usei os termos em coreano de tratamento, porque eu queria testar como é escrever assim, sem "hyung" e afins, então.............

Capítulo 1 - Cupcakes, brownies e você


 

A primeira vez que aconteceu- Ou melhor: a primeira vez que aconteceu depois de muitos anos, foi quando sua mãe ligou anunciando o casamento de seu irmão mais novo, comentando com satisfação cada detalhe dos preparativos, um lembrete do quanto ela estava feliz porque pelo menos um dos filhos não era uma grande decepção.

Seokjin deveria estar imune àquela altura. Fazia anos que ele saíra da casa dos pais, havia se formado na faculdade e, mais que isso, havia concluído mestrado e doutorado sem problemas. Havia conseguido um emprego, conseguira um bom apartamento onde morar, embora dividisse com outra pessoa – seu companheiro de moradia não era perfeito, mas era alguém com quem ele conseguia lidar muito bem.

Mas ouvir a voz da mãe assim que atendeu a ligação – a qual ele pensou em ignorar para se preparar psicologicamente – fez suor brotar em sua pele em uma fina camada, sua garganta secou de repente, e ele sentia como se não estivesse em total controle de seus sentidos. A voz do outro lado da linha continuava falando e falando enquanto ele tentava respirar calmamente. Soltava comentários apenas para manter as aparências, fingir que estava prestando atenção, embora mal conseguisse distinguir as palavras. Ele podia lidar com aquilo, claro que podia. Seokjin já era um adulto, não era mais o garotinho que se encolhia toda vez que ouvia a mãe levantar a voz porque ele estava fazendo algo “errado” ou sendo um “inútil”.

"Você vai vir, não é?", ela perguntou, e a linha ficou em silêncio, enquanto as palavras se sedimentavam na consciência de Seokjin. "Nós enviamos o convite, deve chegar em alguns dias, mas eu queria contar o mais rápido possível".

Claro, assim ela poderia fazer Seokjin lembrar as vezes em que ela soltara indiretas sobre sua sexualidade e sobre como ele nunca iria se casar como era esperado dele. Desculpe, mãe, ter destruído todas as suas expectativas, ter deixado meu irmão como sua última esperança, ele quis dizer, mas sabia que seria pior, então ele apenas sorria.

"Eu vou tentar ir, eu ando meio ocupado com o trabalho...", respondeu enquanto massageava o pescoço. Fechou os olhos e contou até dez mentalmente. Era o melhor que podia fazer.

Aquilo nem era uma mentira. Antes de ser interrompido por aquela ligação, ele estivera lendo os trabalhos escritos que pedira de seus alunos juntamente com o seminário. Ainda faltava uma boa quantidade para ler e avaliar, Seokjin não tinha certeza de que iria conseguir dar conta ainda naquela noite, mas ele não tinha como escusar-se de suas obrigações porque sua mãe escolhera aquela noite para ressurgir das cinzas a fim de assombrá-lo.

"Oh, eu entendo, mas ficaria muito feliz se você pudesse vir". Ao ouvir aquilo, Seokjin sentiu vontade de rir. Nunca imaginara que ouviria a mãe fazer questão de tê-lo por perto, alegando que sua presença seria condição para sua felicidade, sem a qual esta não existiria.

"Eu vou fazer um esforço", prometeu, ouvindo os últimos apelos de sua mãe antes de se despedirem.

Encarou o papel de parede do celular até que a luz do visor se apagasse, quando, com um suspiro, ele jogou o aparelho sobre o sofá e voltou a se sentar no chão, apoiando as costas no móvel e preparando-se para voltar ao que estava fazendo antes da interrupção.

No entanto, Seokjin não conseguiu se concentrar. Pedaços da conversa se repetiam em sua mente, enquanto ele batia o pé nervosamente contra o chão. As letras não faziam sentido e o suor não parara de umedecer sua pele mesmo depois de muitos minutos terem passado desde o fim da ligação.

Reconhecia aqueles sinais, sabia o que deveria fazer para se sentir melhor, mas tentou evitar que chegasse àquele ponto, afinal, ainda tinha muita coisa para ler. No entanto sabia também que, uma vez passada a crise, ele estaria pronto para seguir em frente, como o céu ficava limpo depois da tempestade.

Era pouco mais de uma hora da madrugada quando Yoongi chegou do trabalho – ele costumava ficar até tarde, perdia a noção do horário, e Seokjin estava constantemente tentando fazer com que ele se cuidasse mais, comesse regularmente, bebesse água o suficiente.

Seokjin estava sentado no chão da cozinha, exausto, quase adormecendo ali mesmo, mas ele ouviu com clareza quando a porta foi aberta e os sons produzidos pelo outro ao chegar puderam ser ouvidos pelo apartamento. Pensou em se levantar e cumprimentá-lo, prometendo que limparia a bagunça que havia feito e que se livraria de todos os doces que ele havia preparado, mas antes que ele pudesse pôr em prática todas aquelas coisas que havia planejado, ele pôde ouvir Yoongi proferindo um xingamento baixinho, parecendo surpreso, meio sem ar. Quando Seokjin então olhou para cima, levando uma das mãos até o rosto para ajeitar melhor os óculos sobre a ponte do nariz, pôde ver Yoongi olhando ao redor com olhos assustados, provavelmente se recusando a acreditar no que estava vendo.

"Eu posso explicar", Seokjin murmurou, levantando-se do chão com algum esforço. "E posso dar um jeito em todas essas coisas também."

 

 

 

"O que- O que você disse?! Quer dizer, isso é real?", Yoongi perguntou enquanto colocava a xícara contendo o chá que Seokjin prepara para os dois sobre a mesinha da sala. Eles estavam sentados de frente para o outro enquanto o mais velho tentava explicar tudo de uma forma que não fosse assustá-lo. Ou pelo menos de uma forma que não o fizesse soar como um maluco completo.

"É, eu...", prendeu a respiração, fazendo uma pausa necessária. Talvez porque esperasse mais incredulidade que surpresa da parte de Yoongi. "Eu realmente preciso cozinhar quando estou muito estressado, ajuda a, hm, impedir que eu enlouqueça de vez".

Então Yoongi ficou em silêncio, olhando para o fundo da própria xícara, embora, em verdade, tivesse um olhar desfocado, como se estivesse se recolhido para dentro de seu cérebro, pondo as coisas em ordem. Seokjin já o havia visto fazer aquilo outras vezes durante os meses em que moraram juntos. Yoongi não era idiota, mas podia precisar de um tempo para se organizar, acessar arquivos antigos, que estavam guardados no fundo de sua mente e que talvez contivessem as respostas corretas para as situações em que se encontrava.

Saber daquele detalhe, no entanto, não o ajudava a se manter mais calmo. Ele podia sentir o cheiro adocicado que emanava das tortas que fizera e começava a se sentir enjoado, ainda que soubesse não correr mais o risco de ter outra crise naquela noite. Vomitar também não estava dentro das possibilidades – ou pelo menos ele esperava que não, tudo que havia ingerido nas últimas horas fora o chá, que ele apenas bebericara.

"Eu imagino se isso é considerado muito e o que fez você precisar chegar a esse ponto", foi o que ele disse como resposta.

Seokjin olhou para todas as superfícies da cozinha em que suas tortas descansavam – oito no total. Ele já tivera dias piores, mas, para alguém que havia passado cinco anos cozinhando apenas as quantidades necessárias para as refeições, era uma quantidade considerável. Absurda, até.

"Poderia ser pior..." Seokjin respondeu com um murmúrio, mas, apesar da situação, ele não pôde deixar de sentir seus lábios se curvando para cima. Yoongi não parecia prestes a fugir dele, sequer parecia achá-lo insano. Fora algo que sempre admirara no outro, desde o primeiro dia, a capacidade de se adaptar às situações que se apresentavam à sua frente, mesmo que ele estivesse diante de uma coleção de pelúcias do Mário ou de uma cozinha cheia de tortas que eles dois certamente não conseguiriam comer antes de estragarem.

“Eu sei que nós não conversamos muito, mas se você precisar desabafar com alguém em vez de cozinhar para um batalhão, eu posso escutar. Eu sou bom escutando.”, ele coçou a nuca, sem encarar Seokjin.

Não havia dúvidas de que Yoongi tinha um bom ouvido, já que fora capaz de reconhecer muitas das músicas que o mais velho cantarolava quando estava na cozinha, preparando jantar para eles – nas vezes em que o mais novo não ficava trabalhando até tarde e finalmente voltava para casa para ter uma refeição decente. Seokjin tinha que admitir que também estava surpreso. Não iria imaginar que Yoongi iria se oferecer como um ombro amigo caso ele precisasse, mas havia tantas e tantas camadas sobre ele que era compreensível. Talvez não devesse nem ser tão surpreendente assim.

“Vou me lembrar disso da próxima vez”, prometeu ainda sem conseguir apagar o sorriso que ele tinha no rosto, recebendo de Yoongi um sorriso discreto também, que fez Seokjin se sentir ainda mais calmo, sabendo que ele tinha alguém com quem contar.

“Por favor”, Yoongi respondeu, mas logo apressou-se em complementar. “Não que eu espere que aconteça uma próxima vez, só... “

“Precaução, eu sei”, Seokjin completou, vendo as feições de Yoongi relaxando, o medo de ser mal interpretado se esvaindo a cada expiração, o sorriso de canto voltando a ocupar seu lugar em nos lábios finos.

 

 

Lidar com as tortas não foi realmente um problema. Yoongi levou uma parte consigo, brincando ao dizer que talvez até conseguisse vender algumas. Seokjin cuidou da outra parte, presenteando alguns dos professores do departamento ao qual estava vinculado na universidade.

Problema mesmo foi a aproximação do dia marcado para o casamento. O convite chegou alguns dias depois da ligação de sua mãe, contendo local, horário e uma mensagem, em uma fonte cursiva dourada. Havia uma foto do casal também – era possível sentir a felicidade emanando da foto, da reprodução dos sorrisos, mas, em seus lábios, Seokjin só conseguiu esboçar um sorriso fraco, e por um momento sua vontade falhou.

Talvez ele devesse ser forte uma última vez, estar presente naquele dia que certamente era importante para o irmão. Não por sua mãe ou pela sua família como um todo, mas porque ele não era um irmão mais velho tão ruim assim e queria que o outro fosse feliz, ele que havia ficado ao seu lado, tentando animá-lo mesmo que tudo conspirasse contra.

Foi assim que ele se viu vestindo seu melhor terno com uma blusa de gola alta por dentro, tentando imaginar que a gola era na verdade uma forma de proteger o próprio corpo dos olhares, do julgamento.

Chegou a tempo de cumprimentar o noivo antes da cerimônia. Os dois trocaram olhares cúmplices, risadas alegres e um abraço apertado. A alegria, no entanto, só durou até que sua mãe o visse, lançando-lhe um olhar que demonstrava o orgulho que sentia do filho mais novo, orgulho que ela nunca iria sentir do filho mais velho, não importava o quanto Seokjin ainda tentasse, lá no fundo, alcançar a perfeição.

"Você veio", ela disse ao se aproximar, e Seokjin se perguntou se ela estava feliz em vê-lo ou se continuava decepcionada.

"Eu disse que me esforçaria", respondeu seco e disse que ainda tinha muitas pessoas para cumprimentar como forma de fugir do papel de alvo principal dos olhares e dos comentários de sua mãe.

A cerimônia correu bem. A cada segundo que passava, Seokjin tinha certeza de que o irmão estava se casando com uma moça que o fazia feliz, se o sorriso no rosto dos noivos era alguma indicação.

Ao mesmo tempo, quanto mais observava, mais se sentia sufocado – talvez a gola alta não tivesse sido uma boa ideia afinal, ou talvez sua presença ali é que talvez não tivesse sido uma boa ideia.

Quando os noivos, seus pais, tios e avós foram para a sala reservada para a parte mais tradicional da cerimônia, em que os noivos prestavam seus respeitos aos familiares mais antigos de ambos, Seokjin se afastou, andando a passos apressados até a recepção do prédio onde o casamento estava sendo realizado.

Ali ele retirou o celular do bolso da calça, destravando a tela e buscando na lista de contatos algo que ele não sabia o que era até ver o nome de Yoongi.

Ele precisava ouvir o som da voz de alguém com quem ele pudesse conversar, alguém que o fizesse lembrar que muito havia mudado, que ele tinha uma vida naquele momento, que não revolvia ao redor de seus pais, nem do que quer que eles tivessem feito no passado.

"Jin?", Yoongi atendeu no terceiro toque. Seokjin teve então a certeza de que era exatamente aquilo de que ele precisava, da voz de alguém que soasse como um bem-vindo de volta, familiar e segura como um lar. "Jin?", ele repetiu quando a linha ficou silenciosa por tempo demais.

"Desculpa ligar assim. Você pode falar agora?"

"Posso", ele respondeu hesitante. Seokjin até podia imaginar o franzir de cenho e sentiu vontade de sorrir por ter memorizado as expressões de Yoongi o suficiente para dizer qual delas ele estava usando, mesmo que ele não pudesse ver para comprovar se estava certo. "Aconteceu alguma coisa?"

"Eu vim para o casamento do meu irmão”, explicou, enquanto colocava os pensamentos em ordem. “Eu não mencionei antes, mas parte do motivo por que eu fiz aquelas tortas naquele dia pode estar relacionado com isso. Não que eu esteja com inveja, eu acho que só... não esperava ter que lidar com a minha família e com... tudo", despejou de uma vez, mesmo que uma voz no fundo de seu cérebro dissesse para ele parar de falar tanto de si por telefone. Para Yoongi, ainda por cima.

Ao terminar, Seokjin não obteve qualquer tipo de resposta. Ele até afastou o celular do rosto, para garantir que a ligação não havia caído, mas ela estava normal.

"Yoongi?", chamou, mordendo o interior da bochecha, com medo de ter dito algo errado. Yoongi se oferecera para ouvi-lo, mas a oferta certamente não deveria incluir uma ligação numa noite em que ele provavelmente deveria ainda estar no trabalho.

"Onde você está?", Yoongi perguntou afinal, e por algum motivo Seokjin imaginou que a voz dele saíra bem mais firme, como se ele estivesse determinado – mas determinado a quê?

"O quê?", Seokjin perguntou se sentindo idiota, mesmo que ele tivesse entendido a pergunta da primeira vez.

"Onde você está?"

"Mas-"

"Eu estou indo pegar você, leva-lo para casa", Yoongi respondeu antes que Seokjin tivesse a chance de terminar a pergunta que ele sequer havia conseguido terminar de formular em sua mente. Aquela resposta causou uma nova onda de sensações no mais velho. Daquela vez, no entanto, nada tinha do desconforto causado pela concentração de pessoas ao seu redor ou pelo comportamento de sua mãe.

"Tudo bem", concordou antes de passar o endereço.

 

 

 

Yoongi dirigia calado, concentrado no caminho pelo qual seguia. Eles não haviam falado muito desde que o mais novo aparecera no lugar da cerimônia de casamento. Seokjin supunha que ele não deveria ter mesmo muito o que dizer, ao contrário de si, que tinha uma lista enorme de agradecimentos a fazer.

"Você não vai começar a cozinhar quando chegar em casa, vai?", ele perguntou com cautela, antes que Seokjin tivesse a chance de dizer algo do que havia ensaiado durante todos os minutos em que esperara por sua chegada, andando de um lado a outro do saguão.

"Acho que não. Quer dizer, eu poderia, mas não é necessário, eu estou... bem", apesar da hesitação ao atestar como estava se sentindo, sabia que não era uma completa mentira. Havia visto o irmão feliz e pudera sair antes que sua mãe voltasse para o jantar. Apesar dos pontos negativos, o resultado final havia sido positivo, e isso certamente era uma vitória.

Yoongi, aproveitando que eles haviam parado em um sinal, encarou-o como se buscasse sinais de que ele estivesse mentindo.

"Obrigado", soltou, respirando fundo e sorrindo – não precisou forçar, percebeu, tampouco precisou dos discursos elaborados, das palavras bonitas, porque sabia que seus olhos eram capazes de expressar toda a sinceridade, mesmo que as lentes dos óculos estivessem no meio do caminho.

Percebeu também que os olhos de Yoongi continuaram fixos em sua fisionomia além do que ele considerava necessário. Seu sorriso desapareceu lentamente, mas, mesmo assim, ele não foi capaz de desviar o olhar, fugir do escrutínio do mais novo.

O som de uma buzina quebrou o estranho encanto que havia caído sobre eles, e, ao olhar para frente, perceberam que o sinal estava verde novamente, esperando que eles seguissem seu caminho de volta para casa.

 

 

 

A segunda vez em que aconteceu foi, da exatamente da mesma forma que a primeira: depois de uma ligação de sua mãe.

No entanto, seu irmão não era mais o assunto que ela queria discutir, tampouco parecia feliz.

"Então, eu vi que você deixou a festa mais cedo", ela comentou, como quem não queria nada, o que fez todos os sentidos de Seokjin entrarem em alerta. "Por que você não nos apresentou o seu...", e então ela pigarreou, enquanto o sangue do filho congelava nas veias, seu coração provavelmente havia parado de bater por alguns segundos antes de explodir em batidas frenéticas que quase impediram que ele ouvisse as palavras que seriam ditas. Mas não era preciso ouvir, ele sabia o que estava por vi – ou pelo menos achou que sabia, mas só até ouvir a palavra sendo pronunciada afinal, provocando uma crise de tosse em Seokjin.

"Por que você não nos apresentou seu namorado?"

Depois de se recuperar da tosse, Seokjin tentou se recompor, fingir que ele não estava abalado, que a tosse fora apenas uma reação natural devido à secura de sua garganta. Não estava longe da realidade, de toda forma.

"Não sei do que está falando."

"Ora, Seokjin, não minta para mim! Eu vi vocês dois, ele foi buscar você na festa, não foi?"

"Não, mãe, aquele era Yoongi, ele é meu companheiro de apartamento, não o meu namorado", respondeu, segurando a ponte do nariz entre o indicador e o polegar para tentar conter a dor de cabeça que ameaçava despontar a qualquer segundo. Seus óculos repousavam sobre sua cama no quarto – havia tido esperanças de que fosse incapaz de ouvir se não os estivesse usando, contudo, a deficiência auditiva que usuários de óculos experimentavam quando não estavam fazendo uso do objeto parecia não ser a mesma coisa em casos de ligações.

"Vocês estão morando juntos?! Eu não sabia que você iria se relacionar com alguém a ponto de morar junto e sequer me contar."

"Mãe, o quê- Não- Eu-", tentou dizer algo, mas tudo no que conseguia pensar soava como um monte de palavras que não faziam sentido quando colocadas juntas. Desde quando sua mãe se interessava pela sua vida? Desde quando ele e Yoongi pareciam namorados?

"Ele é fofo", ela comentou, sem se deixar abalar pelas negativas do filho. "E eu vi a forma como vocês olhavam um para o outro. Você me olhava daquela forma quando eu deixava você me ajudar a preparar o almoço!"

Seokjin encarou a parede do quarto oposta àquela em que a cama ficava. Era uma das coisas que ele mais gostava de fazer quando mais novo, ajudar sua mãe a preparar o almoço. Ele sempre insistia, não aceitando um “não” como resposta, e ficava tão feliz com a permissão que poderia dançar, mesmo que ele não soubesse exatamente como iria fazê-lo. Cozinhando com a mãe, ele sentia que poderia ser útil, fazer algo bom. E era sempre elogiado com sinceridade graças a suas habilidades. Mas ele não imaginava como o conteúdo daquelas memórias poderia estar relacionado à Yoongi e à forma como Seokjin o encarava.

"Você poderia tê-lo convidado também, nós... Poderíamos conhecê-lo e..."

"Mãe, a senhora está imaginando coisas. Eu não estou namorando Yoongi. Aliás", ele adicionou, como um pensamento que lhe ocorrera somente naquele momento, mas era algo que o estava incomodando desde o início daquele tópico. "Por que esse interesse todo agora, tão de repente?"

"Acho que sempre tive medo de que você enfrentasse problemas por ser...", ela comentou distraidamente, mas com algo que fazia Seokjin imaginá-la com olhos tristes. "Achei que precisava proteger você dessa ideia absurda."

Seokjin quis dizer que não era uma simples ideia, tampouco era absurda, explicar que ele apenas era diferente, mas que havia muitas pessoas como ele no mundo; que, apesar das dificuldades de um mundo preconceituoso, ainda havia bondade; que a melhor maneira de protegê-lo era aceitando-o, para começar.

Mas Seokjin não disse nada daquilo, especialmente depois do que ouviu sua mãe dizer em seguida.

"Mas acho que não preciso me preocupar mais, não é? Você achou alguém, parece até que está mais feliz, menos estressado", ao ouvir aquilo, Seokjin ficou calado, sem saber o que dizer. Mal ouviu quando a mãe se despediu, só voltando à realidade muito tempo depois de a ligação ter sido encerrada.

Ele não poderia estar emocionalmente envolvido com Yoongi, mesmo que fosse uma estúpida paixonite unilateral. Que tipo de pessoa ele seria se estivesse nutrindo, inconscientemente, sentimentos pela pessoa com quem ele dividia o apartamento apenas por conveniência? Não um professor universitário em seus trinta e dois anos, com certeza.

Naquela noite, Seokjin não conseguiu dormir. Seu cérebro resolvera passar, como um filme, todas as vezes em que ele interagira com Yoongi, como se estivesse atrás de evidências que provassem o quanto sua mãe estava errada.

Conseguiu apenas que a dor de cabeça que o ameaçara durante boa parte da noite finalmente surgisse. Conseguiu ficar inquieto em sua falta de sucesso. Conseguiu sentir vontade de cozinhar de novo.

Pensando sobre as quantidades a serem utilizadas, no passo a passo que deveria seguir para conseguir produzir seus doces preferidos, Seokjin foi capaz de esvaziar a mente até que não restasse nada além de ingredientes, medidas, graus, minutos. Até que a cozinha estivesse cheirando aos doces preparados, até que todas as superfícies visíveis estivessem repletas de formas, pratos, bandejas.

Quando Yoongi acordou na manhã seguinte e encontrou Seokjin tentando colocar tudo o que produzira dentro de vasilhas plásticas, ele o observou com o cenho franzido, como se esperasse por uma explicação. Seria uma cena adorável, se o mais velho não estivesse mais preocupado com o que o outro diria – mas Yoongi estava parecendo fofo com os cabelos bagunçados, os olhos inchados e o andar arrastado.

Céus...

"Eu falei para você, Jin. Por mais que eu aprecie o cheiro de algo gostoso que acabou de sair do forno, e por mais que você faça coisas maravilhosas, eu não acho que cozinhar até seu estresse passar seja uma boa ideia".

"Eu sei, Yoongi. Desculpe por isso", pediu sem ter coragem de encará-lo. "Eu vou dar um jeito, não se preocupe."

"Será que eu posso...", ouviu a pergunta que soava meio sem jeito e mal pôde acreditar. Seokjin por um momento havia se esquecido de que o mais novo – e a ligação de sua mãe, Yoongi não era tão poderoso assim – era o motivo de seu estresse. "Posso ficar com alguns?", concluiu a pergunta afinal e talvez o mais velho estivesse vendo coisas, mas as orelhas do outro assumiam lentamente uma coloração rosada. "Quer dizer, meus colegas de trabalho adoraram as tortas da outra vez. Teve até quem dissesse que casaria com uma delas!", e então ele acrescentou em um murmúrio, parecendo subitamente irritado com algo, amargo: "Teve quem dissesse que se casaria com você".

“Oh”. Oh. Não era incomum que suas habilidades lhe rendessem elogios e demonstrações de afetos um tanto quanto exageradas, especialmente daqueles mais propensos a se apaixonarem por uma comida bem preparada. “Não tem problema, você pode ficar com alguns- Tanto quanto quiser”, respondeu, sentindo o rosto esquentar, embora tentasse ignorar a sensação – assim como tentava ignorar o pensamento, tímido e frágil, de que talvez ele apreciasse se fosse o mais novo a desejar se casar com ele.

“Mas não pense que está tudo bem, eu ainda prefiro quando você não se desgasta desse jeito”, Yoongi insistiu em um tom autoritário, um pouco preocupado também, tentando não deixar transparecer o quanto estava tentado a pegar um dos cupcakes que Seokjin fizera para dar uma mordida.

“Certo, certo. Não quer provar um? Eu apreciaria se você pudesse dar uma opinião sincera sobre eles, não confio em mim para dizer se algo está bom ou não”, ofereceu sem saber de onde havia surgido aquele sopro de coragem. Segurou uma das forminhas na direção de Yoongi e se esforçou para que seu sorriso não parecesse tão forçado, mas não foi preciso se esforçar muito: os cantos de seus lábios se curvaram com naturalidade quando notou a hesitação.

Como para fortalecer o poder de atração de seu doce, Seokjin desgrudou a forminha de papel da massa, voltando a apresentar o cupcake para Yoongi, mas desistiu de resistir, andando em sua direção enquanto fazia uma careta, que se modificou tão logo ele mordeu um pedaço do que lhe fora oferecido.

Seokjin tentou não prestar atenção na forma como os dentes afundaram com facilidade na massa, os lábios rosados se fechando para tentar evitar que farelos sujassem o chão. Uma das mãos cobriu a boca que mastigava e a outra continuou a tarefa de tentar impedir a queda dos farelos, formando uma superfície plana paralelamente ao peito. Era um desperdício que ele escondesse a boca ao degustar algo com tanta vontade, inspirando o ar com força, como se mal pudesse acreditar no que suas papilas gustativas estavam sentindo.

“Porra, dá para entender toda a coisa com o casamento”, ele soltou, sem qualquer sinal de culpa ou constrangimento pelo palavrão, pela menção a matrimônio. Seokjin se perguntava com qual dos dois ele casaria: se com o cupcake ou se com a pessoa que o cozinhara, motivo por que ele foi quem ficou constrangido. Afastou-se e procurou por um local distante da figura do mais novo para onde pudesse olhar sem sentir a miríade de sentimentos que aquela conversa estava começando a produzir em seu peito.

“Fico feliz que goste, obrigado”, disse polidamente, como se não tivesse sido afetado em nada – ou pelo menos ele esperava que sim.

“Eu não sei o que você tem passado, mas eu falo sério, certo? Tem que ter alguma vantagem em dividir o apartamento com um velho rabugento como eu”. Seokjin arriscou olhar para o rosto do mais novo, mas se arrependeu instantaneamente ao notar como as sobrancelhas dele se uniam e como os olhos dele já não mais brilhavam, embora a língua passeasse pelos lábios como se buscasse se livrar de qualquer resquício do doce.

O outro estava tentando ajudá-lo, no que ele estava pensando?!

“Você não é rabugento, Yoongi. Nem velho”, suas palavras eram sinceras, mas ainda não conseguia encará-lo de volta. Dessa forma não pôde ver a expressão do mais novo quando o ouviu responder.

“Então você não precisa ter receio de se aproximar, eu também não mordo”.

Quando Seokjin se virou para ter certeza de que aquilo era apenas uma brincadeira, Yoongi já tinha se virado e estava andando de volta na direção do quarto, provavelmente indo voltar a dormir.

 



 

Era para ser uma saída com seus colegas de trabalho, uma ida a um restaurante à noite, depois que todos os professores estivessem livres depois de terem lecionado todas as aulas do dia, para que pudessem relaxar e conversar um pouco, reclamar dos alunos e das obrigações que pesavam sobre seus ombros normalmente. O restaurante escolhido era um que Seokjin havia descoberto alguns meses antes e que ele havia visitado apenas uma vez, mas que foi aprovado por seu bom serviço e pela qualidade dos pratos oferecidos. Como todos reconheciam que suas descobertas gastronômicas não decepcionavam, resolveram dar uma chance ao local, sequer questionando sua sugestão.

Ao chegar lá, no entanto, uma das primeiras coisas que chamou a atenção de Seokjin no local foi o fato de que havia um outro grupo de colegas de trabalho ocupando uma quantidade considerável de mesas perto do local onde o grupo de professores se acomodou. Logo um par de olhos em especial atraiu seu olhar, fazendo com que Seokjin quase tropeçasse nos próprios pés.

Yoongi sorriu ao perceber que Seokjin o observava e até mesmo levantou uma das mãos em um aceno discreto que fez o mais velho sorrir envergonhado, esquecendo-se do que estava fazendo ali.

"Seokjin?", um de seus colegas o chamou, fazendo com que ele finalmente se lembrasse de que não estava sozinho, nem estava ali para encontrar Yoongi.

"Eu me distraí, desculpe." Pediu, apressando-se para sentar no lugar que seus colegas reservaram.

Mas o sorriso em seus lábios não desapareceu pelo resto da noite.

Ele estava feliz, pois sabia que o fato de que Yoongi estava ali com seus colegas de trabalho significava que ele não apenas ouvira os comentários que havia feito sobre o local quando ele primeiro o visitara, como ele não esquecera, mantendo vivo em sua memória o nome e o endereço do local. Não que Seokjin não considerasse a possibilidade de que um dos colegas do mais novo tivesse sugerido o local, mas ele se lembrava de que Yoongi comentara certa vez que ninguém nunca sabia para onde ir, motivo por que qualquer sugestão sempre seria bem-vinda.

A conversa em sua mesa era animada, assim como a conversa que se desenrolava na mesa de seu companheiro de apartamento, mas vez ou outra Seokjin se pegava encarando Yoongi, a forma como ele sorria das conversas que ouvia, o modo como as mãos se movimentavam para levar um copo de bebida ou um talher aos lábios.

Vez ou outra, Yoongi também o observava, e, quando os olhares dos dois se encontravam, era inevitável que eles sorrissem, como se trocassem confissões através daqueles simples olhares que duravam pouco mais de alguns segundos.

Os dois grupos deixaram o local ao mesmo tempo, formando uma pequena confusão do lado de fora enquanto todos se despediam após pagarem as respectivas contas. Aos poucos, no entanto, as pessoas foram se dispersando – algumas andando, outras deixando o local em táxis. Por fim, dos dois grupos, sobraram apenas Seokjin e Yoongi, que se fitaram, parados frente a frente.

"Engraçado encontrar você aqui", Seokjin provocou com um tom de brincadeira, vendo Yoongi abrir um sorriso que ia de orelha a orelha.

"De todos os dias, nós tínhamos que vir justo hoje", ele rebateu, sem perceber que Seokjin dizia muito mais do que aquelas palavras eram capazes de responder.

"Mas foi bom. Assim não precisamos voltar sozinhos para casa", Seokjin comentou displicentemente, tentando esconder a satisfação que aquele fato provocava em si, e andou até estar ao lado de Yoongi, que concordou, acompanhando cada movimento do mais velho com o olhar.

Nenhum deles soube quem deu o primeiro passo, talvez os dois ao mesmo tempo, talvez. O que importava era que eles se puseram a andar, sem mencionar para onde estavam indo – se para casa a pé mesmo ou se em buscar de um táxi que pudesse garantir que não precisariam esgotar suas energias em uma caminhada. A brisa fria da noite batia em seus rostos enquanto davam passos vagarosos, espantando o sono e a sensação de tontura pela qual a bebida fora responsável. O frio só não conseguiu espantar a sensação de leveza que ambos experimentavam. Seokjin não acharia ruim se pudesse sentir daquela forma todos os dias.

Nem mesmo a ausência de um diálogo entre eles era capaz de apagar o quão confortável aquele momento estava sendo. Seokjin sabia que Yoongi podia ficar calado por horas, sem qualquer necessidade de expressar o que estava pensando ou sentindo, ao contrário de muitas pessoas que ele conhecia e que não conseguiam ficar caladas por cinco segundos, a menos que estivessem dormindo.

Era confortável, também, saber que ele não precisava preencher o silêncio com assuntos aleatórios, que Yoongi apreciava sua companhia pelo que ela era e não pelas informações que ele podia fornecer ou por suas habilidades sociais – não que ele fosse uma borboleta social, mas ele poderia ser agradável, dispensando uma boa quantidade de energia à tarefa de entreter alguém.

Aquela paz que existia ao redor deles havia sido algo que se estabelecera desde o início, pelos modos discretos de Yoongi e pela sensação que aqueles modos causava em Seokjin.

“Você quer voltar pra casa agora?”, Yoongi perguntou de repente, assustando o mais velho, que o olhou confuso. Era o que eles estavam fazendo, não havia um motivo para tal pergunta. Certo?

“Por quê?”

“Nada”, respondeu em vez de explicar o que tinha em mente, deixando Seokjin curioso. Era raro ver Yoongi hesitar daquela forma, mudando de assunto, sem falar o que pretendia. Era verdade que ele não costumava falar muito, mas também era verdade que ele não voltava atrás quando tinha algo que necessitava botar para fora.

“Yoongi!”, repreendeu em um misto de raiva fingida e choramingo, os sons saindo meio embolados, sua língua grande demais para ser contida por sua boca. Talvez ele ainda não tivesse se livrado completamente dos efeitos da bebida.

“Nada, é que a gente podia, não sei, andar um pouco mais antes de voltar”.

“Isso soa bom pra mim.”, Seokjin confessou, com um sorriso convencido, satisfeito consigo mesmo por ver que o outro não resistira ao seu pedido implícito na forma como pronunciou o nome do mais novo. “A gente se conhece há bastante tempo agora, mas não costumamos sair assim, juntos”, comentou, não pela necessidade de dizer algo, mas pela necessidade de pontuar que era uma fuga da rotina deles que poderia ser repetida outras vezes, se Yoongi estivesse disposto.

Então Seokjin se lembrou do começo, de quando ele se mudou para o apartamento já ocupado por Yoongi. Eles foram apresentados por um amigo em comum, Hoseok, que soubera que ambos procuravam pelo outro, praticamente.

Seria natural que se tornassem estranhos morando debaixo do mesmo teto, mas não demorou muito para que qualquer barreira existente entre eles fosse derrubada, dando espaço para que ambos pudessem se apoiar mutuamente sempre que precisavam, a amizade florescendo com o passar dos meses, de modo tão espontâneo que era até difícil explicar como acontecera.

Não significava que não tivessem problemas com a convivência. Reclamações dos dois lados surgiram ao longo do caminho, mas suas habilidades em lidar com as diferenças se sobressaíra em cada um dos conflitos que surgira, por isso eles deram tão certo juntos.

“Isso é um convite para o futuro?”, Yoongi perguntou como se pretendesse soar como alguém que solta uma brincadeira, mas, ao olhar para o mais novo, Seokjin pôde ver que os olhos dele não transmitiam o mesmo tom leve de suas palavras. Na verdade, o olhar de Yoongi era quase predatório e fez o mais velho respirar fundo antes de conseguir pensar em uma resposta que soasse tão boa quanto uma brincadeira e tão verdadeira quanto o que realmente desejava.

“Eu não me oporia, você não é uma companhia ruim no final das contas”, tentou.

“Feliz em saber que minha presença é apreciada”.

“Acho que posso dizer o mesmo”, Seokjin rebateu, tentando esconder o quão envergonhado ele ficara de repente com o comentário do outro. “Caso contrário, não estaríamos aqui, não é?”

Yoongi apenas deu de ombros, desviando o olhar para observar o ambiente ao redor deles.

O caminho de volta, apesar de mais demorado a pé, não foi mais cansativo. Ao pararem de frente para a porta do apartamento, no entanto, eles hesitaram, em dúvida sobre quem deveria digitar o código que destrancariam o imóvel. Yoongi, no entanto, fez um gesto com a mão que indicava que ele estava deixando a tarefa para Seokjin, o qual digitou os números sem pressa.

Antes que qualquer um dos dois pudesse entrar, no entanto, Yoongi segurou o pulso de Seokjin, prendendo-o no lugar enquanto a porta esperava entreaberta.

“Vamos fazer isso mais vezes”, não era uma pergunta daquela vez, mas era possível ler um pouco de incerteza nas feições do mais novo, uma emoção incomum no que se referia a ele, que sempre parecia tão sério e seguro de si.

“C-certo”, balbuciou, odiando-se imediatamente por ter gaguejado.

Ao contrário do que o mais velho imaginara, Yoongi não parecia estar atento a detalhes como aquele, mais preocupado em observar o rosto de Seokjin com insistência, como se fosse a primeira vez em todos aqueles meses que ele realmente o via.

“Antes de entrar, tem mais uma coisa que eu quero saber”, ele murmurou, fazendo Seokjin se preocupar com sua pulsação acelerada, com medo de que Yoongi pudesse sentir pelo aperto de seus dedos em sua pele.

“O quê?” Tentou lutar contra a respiração que ameaçava ficar presa em sua garganta.

“Estou imaginando coisas ou…”, começou, aproximando-se devagar, mas não concluiu a pergunta. Seokjin sentiu os olhos pesarem e os fechou, sem pensar muito sobre o que estava fazendo ou o porquê – embora ele soubesse o que aquela reação de seu corpo significava.

Esperava, pelo menos, que ele não estivesse errado sobre as circunstâncias.

Mas Yoongi não fez nada, e a consciência de que ele interpretara errado o que estava acontecendo fez Seokjin sentir vontade de abrir os olhos e entrar no apartamento dizendo que estava cansado demais. Que bobo eu sou, estou quase dormindo em pé, ele treinara mentalmente, preparando-se para o que encontraria tão logo estivesse cara a cara com o fiasco que aquele final de noite se transformara.

Seokjin, contudo, não teve tempo de pôr seu plano alternativo em prática. Sua mente sequer manteve a existência daquele plano por muito tempo, uma vez que entrou em curto circuito tão logo os lábios de Yoongi finalmente tocaram os seus – tão delicados que mal dava para acreditar que era real.

Suas pernas ameaçavam ceder a qualquer instante e talvez o mundo estivesse girando de uma forma pouco natural, mas a verdade era que Yoongi o estava beijando, as mãos dele segurando sua cintura com firmeza, puxando-o delicadamente para perto e impedindo-o de cair.

Ou de flutuar.

Os lábios de Yoongi estavam ligeiramente ressecados devido ao vento frio, mas em pouco tempo a sensação de ressecamento desapareceu, enquanto Seokjin entreabria os lábios em um convite para que o outro aprofundasse o beijo.

Não que Yoongi tenha aceitado o convite prontamente, provocando o mais velho até que um gemido de frustração escapasse de sua garganta, o qual foi sorvido pelo outro com avidez quando por fim ele se rendeu, permitindo-se sentir cada canto possível da boca do mais velho. Beijava-o como se Seokjin fosse um de seus doces, que ele mal poderia esperar para ter em sua boca, para provar, saborear até o fim, ainda que não desejasse vê-lo acabar.

E Seokjin não tinha muita escolher a não ser sentir seu corpo relaxar, deixando que seus braços se movessem por vontade própria, agarrando-se ao corpo esguio do mais novo, enquanto suspirava. Buscava para si um pouco do outro, para que, quando estivessem deitados em suas camas dali a alguns minutos, ainda pudesse sentir o gosto dele em sua boca, mesmo depois de ter escovado os dentes.

“Acho que isso responde minha pergunta...”, Yoongi murmurou contra seus lábios, depositando um beijo contra o canto de sua boca.

 “Hm?”, encarou o mais novo, confuso, ainda sentindo a cabeça leve. Estava tarde, ele estava cansado e com sono, não podia lidar com os sentimentos em seu peito e as poucas palavras de Yoongi de uma só vez. Sequer lembrava o que estavam conversando antes do beijo. Seokjin tinha certeza de que eles estavam livres de qualquer influência alcoólica, mas desconfiava de que a intoxicação de seu corpo naquele momento tivesse outras causas.

“Não estou imaginando coisas”, ele revelou e sorriu, enquanto puxava Seokjin para um outro beijo.

 

 

 

O interesse da mãe de Seokjin por sua vida diminuiu abruptamente, e muitos dias se passaram sem que ele tivesse uma só notícia da família – embora não fosse difícil descobrir o que andava acontecendo, se ele quisesse, graças ao costume de se relatar tudo nas redes sociais, desde uma dor de dente até o falecimento de um ente querido.

O desaparecimento das ligações indesejadas, no entanto, não foi capaz de manter Seokjin longe de níveis altos de estresse, já que sua mente havia resolvido por si mesma criar problemas o suficiente para que ele estivesse novamente na cozinha em um sábado à tarde, quando Yoongi havia saído sem sequer dizer se deveria ser esperado para jantar.

Deitar-se no sofá da sala e ler um livro eram os planos de Seokjin. Tudo estava bem: pela primeira vez no semestre ele não tinha nenhum plano de aula para elaborar, não havia provas a corrigir, não havia trabalhos a avaliar. E ainda assim, manter-se focado nas frases havia se tornado uma tarefa de difícil realização. Estava na metade do primeiro parágrafo quando os dentes morderam o lábio inferior com força, primeiro sinal de que a muralha que ele havia construído em suas lembranças ameaçava ruir, deixando que ele fosse levado pela correnteza de memórias, perdendo-se no gosto da boca de Yoongi, o qual não era preciso nenhum esforço para evocar, ainda que fosse um truque, uma reprodução insatisfatória do beijo trocado semanas antes e que o atormentava sempre que ele baixava a guarda por alguns segundos.

Havia lutado contra perguntas como "o que aconteceu?" e "como ele pode agir como se nada tivesse acontecido?" – o que era ridículo, Seokjin sabia que também estava agindo como se nada tivesse mudado, incapaz de encarar o assunto com maturidade, como o adulto que ele era, cedendo à insegurança quando ele deveria estar indo atrás de seus interesses. Saber a verdade, pelo menos, era melhor que permanecer na ignorância.

Era fácil manter sentimentos por alguém em banho maria quando todas as coisas estão em seus devidos lugares. Mas bastava que o equilíbrio fosse quebrado por atos ou palavras para que a temperatura e a pressão aumentassem, ameaçando explodir toda a cozinha se a situação se mantivesse a mesma por muito tempo.

Seokjin, ao que parecia, havia chegado ao seu limite. Era para ser fácil, como nos romances. Eles já haviam se beijado, por tudo que fosse mais sagrado! O que eles ainda precisavam para seguirem em direção ao maldito final feliz que os contos de fada tão prontamente ofereciam?

“Você precisa se acalmar, Kim Seokjin!", disse a si mesmo, enquanto fechava o livro que tinha sobre o colo e passava a mão sobre os olhos, por baixo dos óculos, tentando evitar que a lente ficasse manchada. "Isso não é um conto de fadas, isso é a realidade e as coisas são bem mais complicadas... quando se é adulto-"

Mas por quê?, a pergunta ficou presa em sua garganta enquanto ele tentava respirar.

Seokjin estava confuso, irritado e frustrado, não só com Yoongi, mas consigo também, então era apenas natural que ele fosse para a cozinha. Ele iria conseguir se acalmar depois da primeira fornada de brownies, e não seria preciso causar muito alarde com um estoque digno da confeitaria mais movimentada da cidade.

Assim, quem sabe, eu consiga chamar a atenção de Yoongi também, pensou com amargura, enquanto colocava os ingredientes sobre o balcão da cozinha com mais força que o necessário, reprimindo o pensamento ao se dar conta do quão absurdo ele soava até para si mesmo. Mas era fácil sucumbir quando ele lembrava que, depois de entrarem no apartamento na outra noite, Seokjin adormecera quase instantaneamente, conseguindo por sorte chegar à própria cama antes de apagar, e, no dia seguinte, foi como se tudo tivesse voltado ao normal, exceto que pior. Mais estranho.

Maldito Min Yoongi e seu sorriso maravilhoso, seus dedos frios e gentis, seu olhar insondável e seus beijos deliciosos que não saíam de sua cabeça. Ele dissera que sua pergunta havia sido respondida, mas Seokjin não sabia mais o que era ter uma certeza e isso certamente refletia uma injustiça.

Começava a sentir a cabeça começando a doer, mas suas mãos continuavam trabalhando em receitas e mais receitas, o cheiro dos doces começando a aromatizar o apartamento sem que Seokjin se desse conta do quão longe ele havia ido daquela vez.

Até que o barulho da porta abrindo e fechando em seguida o fez ficar paralisado: Yoongi estava de volta, conclusão que fez seu coração e seus pulmões afundarem em seu peito.

“Seokjin?”, ouviu Yoongi o chamando, sem saber, porém, o que deveria dizer – explicar o que estava acontecendo ali estava fora de cogitação; mentir não era do feitio de Seokjin, que considerava o ato como um motivo de vergonha e desonra, a menos que estivesse tentando fugir de alguma reunião de família, afinal, ele deveria proteger o bem maior: sua sanidade.

Mesmo que, naquela situação, ele também acreditasse que deveria preservar seu bem-estar, sabia que era uma decisão mais sensata ser tão sincero quanto possível com seu companheiro de apartamento, pelo bem da boa convivência entre eles.

“Seokjin?”, Yoongi repetiu, daquela vez parado na entrada da cozinha. Ele deveria ter andado até lá enquanto Seokjin ponderava sobre suas opções, sem ter dado uma resposta na primeira vez em que seu nome foi chamado pelo outro.

“Yoongi”, falou o nome alheio como uma tentativa de fingir naturalidade, como se ele não tivesse transformado a cozinha do apartamento em uma oficina de gastronomia quando ele sabia que só iria levantar as suspeitas do outro sobre os problemas de sua vida. Todavia, o nome tinha um gosto agridoce, como as perguntas não feitas que o envenenavam.

“O que aconteceu dessa vez?”, o mais novo perguntou com um olhar desconfiado. Seokjin suspeitava que ele estava com uma sobrancelha arqueada por trás dos fios da franja escura. Então ele deixou seu olhar vagar por todas as superfícies disponíveis por ali, que não estavam exatamente disponíveis graças à quantidade de cupcakes, bolos e brownies que as mãos mágicas do mais velho haviam produzido. “Todas essas coisas- eu- woah, como você conseguiu ingredientes pra fazer tanto dessa vez?”

Seokjin achou irônico que, de todas as coisas que Yoongi poderia perguntar, ele havia se fixado justamente nos ingredientes, e tentou soltar uma risada sarcástica que soou mais como se ele estivesse constipado, acompanhada de um revirar de olhos.

“Acho que eu exagerei um pouco”, deu de ombros, percebendo o quão cansado ele estava pela dificuldade que havia sentido ao executar o ato. Seus músculos doíam, especialmente nos ombros e nas pernas, e tudo o que ele queria era poder sentar ou deitar em vez de ter que encarar Yoongi naquele estado, explicar que eles precisavam conversar e então deixar que seu coração pudesse falar mais alto.

“Um pouco?!”, Yoongi perguntou com uma boa dose de incredulidade temperando sua voz daquela vez. “Um pouco?!”, repetiu algumas oitavas mais alto, desafinando. “Se isso é só um pouco para você, então acho que você está na carreira errada”.

“Eu estou cansado”, Seokjin anunciou em resposta, pretendendo deixar aquela conversa para outra hora.

“Imagino…”, soltou com um suspiro. “Mas eu realmente acho que a gente devia conversar”.

Seokjin engoliu em seco, sentindo o suor frio começando a brotar em sua pele. Tinha certeza de que o sangue havia fugido de seu rosto de uma vez. Quando imaginara a ideia de conversar com Yoongi, não tinha considerado que teria que ouvir aquelas palavras saindo dos lábios finos do outro como uma sentença por algum crime que ele sequer sabia que havia cometido.

“Claro”, concordou ao notar que não havia outra alternativa. “Eu preciso só… dormir por algumas horas. Talvez alguns dias, céus”, murmurou retirando os óculos e passando a mão no rosto, percebendo que em algum momento ele havia se sujado com massa para bolo sem se dar conta.

Incapaz de reagir de uma forma socialmente adequada, Seokjin se viu abandonando a cozinha no estado em que ela estava.  Andou até o quarto que costumava chamar de seu, pensando no quanto talvez fosse hora de alugar um apartamento para morar sozinho, depois de todos aqueles meses em que dividira aquele com Yoongi.

Mas deixaria para se preocupar com aqueles assuntos quando a hora certa chegasse e quando ele estivesse descansado o suficiente para lidar com eles.

 

 

 

No domingo pela manhã, a cozinha estava impecável. Como se Seokjin não a tivesse transformado em um cenário digno de um filme no dia anterior – se ele tivesse que escolher, no entanto, seria um filme de comédia romântica, mas sabia que o mais provável seria um drama ou uma tragédia sobre um professor universitário gay que não conseguia encontrar um pouco de afeto em sua vida.

Yoongi estava sentado no chão da sala, com o notebook sobre as pernas e uma caneca de café ao seu lado para acompanhá-lo naquela manhã enquanto ele trabalhava em qualquer coisa que não era do interesse de Seokjin.

“Bom dia”, ele o cumprimentou secamente quando notou que Seokjin havia finalmente saído do quarto, surgindo no meio da sala. Ele parecia estar com a guarda alta, quase como se não soubesse o que esperar, incapaz de prever os próximos movimentos do companheiro de apartamento.

“Bom dia”, respondeu soando o mais gentil possível. A mente de Seokjin, embora preenchida pela culpa por ter deixado a sujeira do dia anterior para Yoongi, estava tranquila. Depois de uma boa noite de sono por ter apagado tão logo pousara a cabeça sobre o travesseiro, ele havia conseguido chegar a conclusões importantes e mal podia esperar para poder anunciá-las para o mais novo. Tão logo ele se servisse de uma caneca de café também, é claro, a qual o outro havia tido o cuidado de preparar, como uma das muitas tradições que foram estabelecidas pelos dias em que conviveram juntos.

Uma pena que aquilo teria que acabar em breve.

“Você dormiu bem?”, ouviu Yoongi perguntar às suas costas enquanto se dirigia a cozinha pelo café, notando que ele colocara todos os seus doces em caixas transparentes fabricadas especialmente para serem utilizadas por confeitarias.

“Eu… É, eu dormi”, Seokjin respondeu apesar de ter sido pego de surpresa não apenas pelas caixas, mas também pela pergunta.

Yoongi fez apenas um som de concordância, satisfeito com a resposta que recebera, e não voltara a se pronunciar até que Seokjin estivesse de posse de uma caneca de café fumegante.

“Suponho que você não queira falar sobre o que aconteceu ontem, não é?”, o mais novo perguntou, com o rosto voltado para a tela do notebook enquanto falava.

Seokjin tentava lutar contra o sono que ainda pesava um pouco em seus olhos, mas, ao ouvir a pergunta, o sono deixou de ser uma preocupação e um suspiro escapou de seus lábios. Bebeu um gole de café com calma antes de abrir a boca para responder ao questionamento com a voz mais natural que conseguiu reproduzir.

“Não, mas quero falar sobre outras coisas com você”, anunciou chamando a atenção de Yoongi de imediato.

“E o que seria?”, questionou com cautela.

“Eu decidi me mudar”. Tão logo as palavras deixaram sua boca, Seokjin sentiu como se estivesse se libertando – a perspectiva soava maravilhosa, como sair da casa de seus pais pela segunda vez. Exceto que ele não se lembrava de sentir seu estômago embrulhando quando anunciara para os pais que iria sair de casa, tampouco sentira como se estivesse prestes a deixar para trás algo que ele queria muito, como desistir de um sonho que ele sabia que poderia alcançar se continuasse tentando, mas sem forças para efetivamente lutar por ele.

“Espera, o quê-?”. Yoongi sequer conseguiu concluir sua pergunta, engasgando com as palavras antes que elas pudessem chegar a seu destinatário com seu sentido completo. Era compreensível, em parte. Seokjin sabia que parecia ser uma decisão repentina e ainda assim- “Por que isso tão de repente?”

“Mesmo sendo repentina, acho que será o melhor para nós dois”, ponderou, bebendo outro gole de sua caneca. “Assim você não tem que lidar mais com a cozinha cheia de doces”.

“Por quê? Você está planejando continuar enlouquecendo e cozinhando como se sua vida dependesse disso?” Àquilo Seokjin não sabia como reagir. Não apenas pelas palavras ácidas, mas também pelo tom irritado com que Yoongi falava, como se ele se importasse com a decisão que havia sido tomada, o suficiente para afetar seu humor e suas maneiras, que até então haviam sido nada mais que normais – um pouco cautelosas, verdade, mas dentro do aceitável.

“Você não está sendo razoável, Min Yoongi”, franziu o cenho. Sua voz ainda mantinha o mesmo tom contido, mas ele sabia que havia deixado transparecer através de sua pronuncia o suficiente para que o outro notasse que ele não iria tolerar aquele comportamento por mais tempo. A mudança na expressão de Yoongi foi instantânea: seus olhos ficaram desfocados por alguns segundos, enquanto as linhas de expressão suavizavam. Depois ele mudou para algo entre arrependido e envergonhado – ou talvez fosse os dois.

“Desculpe”, pediu, olhando para o chão. “É que eu tinha outra coisa em mente, mas se é o que você decidiu então tudo bem”, passou a mão sobre os cabelos e olhou para a parede do outro lado da sala, evitando o olhar de Seokjin a todo custo. “Está tudo bem”, ele repetiu, como se estivesse tentando convencer a si e a uma plateia de espectadores crédulos.

“Eu sei que deve ser difícil para você ter que lidar com coisas como as da noite passada, pense nisso como uma forma de se livrar de alguns problemas com apenas uma jogada”.

Ao ouvi-lo, Yoongi riu. Se Seokjin não tivesse convivido com o outro por quase dois anos, ele teria ficado com medo. Ainda assim, mesmo conhecendo o mais novo a ponto de saber que não havia perigo algum, não deixava de surpreendê-lo.

“Difícil?”, ele perguntou quando conseguiu controlar a risada e a respiração. “Difícil é ver você dormindo no sofá e fingir que não me afeta em nada”.

“O quê-?”, então era a vez de Seokjin engasgar com as próprias indagações. Havia ouvido corretamente? Do que Yoongi estava falando?

“Difícil é lutar contra a vontade de perguntar o que deu errado na outra noite, porque de repente estava tudo bem, mas depois tudo ficou… estranho”, e ele fez uma careta, como se tivesse lembrado alguma coisa desagradável. “Com relação a ontem, a parte mais difícil é ficar preocupado sem saber o que aconteceu, mas você disse que não quer falar sobre, então não é como se eu pudesse fazer alguma coisa, não é mesmo?”

“Por que seria difícil pra você me ver dormindo no sofá?”

Yoongi olhou para ele com uma expressão engraçada no rosto, que ele não tinha condições de tentar definir quando ainda tentava decifrar o que estava por trás daquelas confissões todas feitas pelo mais novo.

“Porque, Kim Seokjin… Eu preferia que você estivesse dormindo na minha cama”.

“Oh”, foi tudo o que o mais velho conseguiu dizer como resposta. Nem tudo fazia sentido ainda, mas Seokjin queria acreditar que havia conseguido captar a mensagem em seu sentido original, de modo que ele estava tentando decidir o que deveria fazer com as novas informações. Yoongi, no entanto, o encarava como se estivesse nervoso, esperando por algo além de uma reação tão vaga, tão sem significado. “Não sou só eu?”, escapou de seus lábios antes que ele pudesse impedir.

Assim o tempo pareceu congelar enquanto o mais velho abria os olhos em espanto, Yoongi abria a boca devido à surpresa, e uma troca de olhares foi tudo de que precisaram para abandonarem os objetos que tinham consigo – caneca e notebook - encontrando-se no meio da sala. Uma das mãos do mais novo logo estava na nuca de Seokjin, que se deixou conduzir até que os lábios de ambos se encontrassem, desesperados. O gosto de café, forte nos dois, temperava o beijo, que era como um sopro de ar fresco nos pulmões do mais velho. As lentes de seus óculos iam acabar terrivelmente sujas depois disso, mas ele não conseguia se importar.

“Nós devíamos ter feito isso antes”, sussurrou contra a boca de Yoongi, ainda de olhos fechados, quando eles se separaram.

“Eu pensei que você não estava interessado em continuar fazendo esse tipo de coisa”, o outro rebateu, provocando um franzir de cenho por parte de Seokjin.

“Mas eu pensei que você não estava tão interessado quanto fez parecer naquela noite”.

Yoongi se afastou ainda mais, observando os olhos do mais velho com cuidado, tentando ler as emoções que passavam por ali. Era possível ver os olhos dele se mexendo em movimentos curtos e rápidos, de um lado para o outro, como se se focasse ora no olho esquerdo, ora no direito, e tudo o que Seokjin queria era que aquilo parecesse certo.

“Nós somos idiotas”, ele concluiu afinal, com um inconfundível curvar de lábios para cima, embora discreto. “Nós somos idiotas, e eu não vou discutir sobre isso, não agora, pelo menos”, decretou.

“Mas, Yoongi-”

“Não”, interrompeu-o com um tom de aviso, puxando-o novamente para perto, silenciando qualquer afirmação que Seokjin ainda pudesse fazer com outro beijo, mais lento daquela vez, levando o tempo que julgou necessário para compensar pelo tempo perdido, arrancando suspiros e gemidos do mais velho, provocando sensações que eles estavam mais que contentes em poder experimentar novamente.

 

 

 

Não houve uma quarta vez. Não que Seokjin realmente tivesse alcançado o final feliz para sempre dos contos de fadas, mas porque talvez tenha aprendido uma coisa ou duas com seu relacionamento com Yoongi. Então, em vez de gastar todos os ingredientes que ele havia estocado na cozinha, ele procurou pelo mais novo, e os dois puderam se sentar no chão da sala, assistindo a um filme recheado de tiros e explosões até que a lembrança do que o havia irritado tanto parecesse distante e insignificante, como um dos carros que se perdera em uma das detonações.

Consequentemente não houve uma quinta vez, quando Yoongi, notando a forma como ele apertava as mãos em punho nervosamente, andando de um lado para o outro da sala depois de ter chegado em casa do trabalho, tocou seu ombro delicadamente, convenceu-o a se sentar com um tom de voz gentil, e eles puderam conversar enquanto o mais novo massageava-lhe os pés – um ato que fez o coração de Seokjin derreter em seu peito, incapaz de conter tanto afeto, e foi o culpado pelo jantar caprichado que ele preparara para agradecer.

E para que eles tivessem (mais) um encontro, como qualquer casal normal.

Também não houve uma sexta vez. Yoongi o beijou até que ele estivesse sem ar, até que não houvesse nada mais em sua mente que o nome do outro e palavrões que ele sequer se importava em pronunciar, não quando o mais novo estava fazendo aquela coisa maravilhosa que ele sabia fazer com a boca, que deixava Seokjin prestes a implorar por mais, mesmo que tivesse consciência de que tudo em seu corpo gritava para que eles avançassem um pouco mais – um tanto mais.

Não que eles não tivessem feito nada que fosse considerado menos que inocente durante o tempo que se passou desde a pequena complicação que eles tiveram no começo. Mas é verdade que eles estavam seguindo devagar com aquilo, redescobrindo um ao outro, modificando a imagem que possuíam de companheiros de apartamento para algo diferente, estabelecendo limites para o que sentiam, nomeando e organizando, adquirindo certezas.

"Você ainda me quer dormindo na sua cama?", perguntou quando sua boca se viu livre da atenção de Yoongi, que passou a se dedicar ao seu pescoço, deixando ali uma indiscreta marca que talvez precisasse ser coberta com uma blusa de gola alta no dia seguinte. Não usava os óculos que eram mais como uma parte de si que um simples acessório, mas não era como se ele realmente precisasse dele no momento.

Ao ouvi-lo, no entanto, ficou imóvel. O apartamento só não ficara silencioso de verdade, porque a respiração de Seokjin era audível, cheia de expectativa e insegurança, enquanto o mais novo prendia a respiração, pensando. Era uma posição um tanto quanto estranha para eles pensarem: Seokjin deitado sobre o sofá, sua cabeça descansando sobre um dos braços, com Yoongi de quatro sobre ele, joelhos e mãos apoiados no sofá através dos espaços que o corpo do mais velho permitia.

Então ele levantou o rosto, encarando o mais velho só para garantir que não ouvira errado, e sorriu.

"Pensei que você ainda iria querer esperar mais um pouco", falou, mas Seokjin sabia – por aquele curvar de lábios de que ele nunca iria se cansar de observar – que Yoongi estava apenas provocando, porque ele também havia notado o quanto o mais velho não parecia realmente disposto a esperar.

No fim das contas, a marca no pescoço não fora a única deixada na pele do mais velho, e o curvar de lábios do mais novo não seria a única coisa da qual Seokjin não cansaria de observar.

O silêncio deixado pelos gemidos era bem mais confortável, especialmente quando Seokjin sentia seu corpo sendo irrigado com endorfinas, que nem mesmo seus doces seriam capazes de provocar em si. Não faltava nada para que se sentisse satisfeito. Para Yoongi, no entanto, nem tudo estava bem, a julgar pelo olhar de preocupação em seu rosto quando ele se levantou para descartar o preservativo usado, voltando com lenços para limpar a sujeira que eles haviam feito.

"Algum problema?", perguntou quando eles, limpos, estavam deitados lado a lado, de repente sentindo vontade de esconder seu corpo debaixo dos lençóis, mesmo que a luz estivesse apagada e pouco fosse visível na penumbra do quarto.

Yoongi notou seu desconforto e se virou para abraça-lo. "Eu não acho que você seja realmente louco", ele disse depois de algum tempo na nova posição, para alívio do mais velho.

Não que ainda se sentisse ofendido pelo que ouvira em um momento de estresse por parte do outro, mas por notar que eles estavam bem. Com algumas pendências a serem resolvidas, mas bem – especialmente se eles estavam dispostos a conversar sobre, deixando qualquer mal-entendido para trás.

“Eu sei”, Seokjin murmurou, aproximando sua boca da têmpora do mais novo, deixando os lábios ali mais tempo que o necessário. Sentiu o aperto de Yoongi se intensificando em sua cintura e sorriu. “Agora eu tenho uma cama em que eu preciso dormir, boa noite”, retrucou, tentando afastar as preocupações do outro com jovialidade, ainda que viesse de um senso de humor tão ruim quanto o seu.

“Se eu soubesse que ia ser assim, nunca teria dito nada”, Yoongi protestou, mas Seokjin sabia a verdade tão bem àquela altura – como ele poderia não saber, se o outro fazia questão de deixa-la transparecer em cada pequeno ato que fazia por ele?

“Mentiroso!”, rebateu em um murmúrio, sem receber resposta.

 

 

 

Sétima, oitava, nona e décima vez foram apenas hipóteses que nunca tiveram nenhuma chance – não apenas graças a Yoongi, porque Seokjin conseguira aprender uma coisa ou duas com o tempo, mas mais por ele, mesmo assim.


Notas Finais


Eu gosto horrores dessa fanfic e espero sinceramente que vocês tenham sentido o amor também ~ ~~ /q

Muito obrigada por ler!! ♡♡♡♡♡


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