História Mais que irmãos - One

  "Nós não tinhamos mais ninguém no mundo, só nós dois, e encontramos apoio um no outro"

Inglaterra, 1995

  - Thomas você viu a nossa mãe? - Kathy perguntou.

  - você quer dizer a sua mãe Kat. - ele disse a garota, já estava cansado de explicar que a mulher que o "criara" não era a sua mãe.

  - Tudo bem, tudo bem... E onde está o seu pai?

  Thomas deu de ombros, ele não fazia ideia onde estavam os dois, e não fazia questão de saber.

  - Eu não os vejo desde ontem de manhã, a Lili já está chorando de saudades. - ela continuou a falar.

  - não fique preocupada, você sabe que eles já fizeram isso antes, provavelmente estão chapados em algum canto da cidade.

  - Você tem razão, mas o que eu faço? Tem pouco dinheiro e quase nenhuma comida na geladeira! O que eu dou para a nossa irmã comer?

  Tom revirou os olhos e urrou.

  - Porra! Dá para você calar a boca? Descobre sozinha,  Eu tô uma dor de cabeça desgraçada e você ainda fica falando no meu ouvido.

   Katherine encolheu os ombros e seus olhos se encheram de lágrimas, estava acostumada com a montanha-russa que era o humor de Thomas, mas ele quase nunca gritava com ela daquela forma só quando estava de ressaca. "Eu não acredito que ele saiu e se embebedou com esse idiotas de novo" pensou.

  - você tá chapado é? - riu sem humor- você tá querendo ser que nem o seu pai? Se sim, parabéns por que está conseguindo.

  Tom balançou a cabeça e começou a rir debochado, Ela odiava quando ele fazia aquilo.

  - Droga! Pare com isso! Da para voltar a ser você mesmo? E não ficar agindo que nem um babaca? E ser o meu irmão mais velho?

  - Nós não somos irmão Katherine, sua mãe te teve com um qualquer e a minha morreu quando eu nasci. O que aconteceu foi que os nossos pais tiveram a infelicidade de conhecer um ao outro. E eu a você.

  Pronto, aquelas palavras foram suficientes para fazê-la se desfazer em lágrimas, foi um golpe duro que ela não esperava receber de uma pessoa que considerava como de sua família.

   Quando Thomas percebeu o que havia dito já era tarde demais, Katherine já fora embora chorando e o deixou sozinho arrependido de suas palavras.

[...]

   Uma quinzena depois e  nada de seus pais aparecerem, os irmãos já estavam estranhando. O máximo que o casal ficara fora sem notícia fora quatro dias, agora já se passaram quinze. Thomas e Katherine tiveram que pedir ajuda para a família que morava ao lado, por que os mesmos já não tinham mantimentos, eles conseguiram um pouco de comida.

  No fundo eles sabiam o que tinha acontecido, as roupas, sapatos e os demais pertences de seus pais haviam sumido, sabiam que provavelmente foram abandonados para a  própria sorte, mas se recusavam a aceltar isso, eram tão jovens como iriam sobreviver? Kathy tinha quatorze anos e Tom dezesseis e a irmã deles Lili apenas quatro.

  Em uma determinada noite Katherine estava chorando baixinho na cama de seu quarto em que dividia com Lili, Thomas escutou os ruidos quando foi à cozinha tomar um pouco de água. "Será que eu vou falar com ela?" perguntou para si mesmo. Depois da briga que ocorreu há duas semanas os dois só trocaram palavras necessárias, Kathy estava realmente magoada com o garoto e ele orgulhoso não sabia como se desculpar, sempre fora próximo de sua irmã postiça, eles cresceram juntos e sempre tiveram um ao outro como confidentes, porém, de uns tempos para cá as coisas pioraram muito com os seus pais que  se tornaram mais negligentes e violentos, mal cuidavam se si imagina dos próprios filhos. Isso fez com que Katherine se tornasse cada vez mais superprotetora e como uma mãe para Lili, e Thomas por outro lado, ficou revoltado e passou a sair e beber a noite com más companhias.

  O garoto decidiu ir até o quarto da irmã que ainda chorava encolhida em sua cama, ele andou calmamente pelo cômodo para não acordar Lili. Deitou-se ao seu lado na cama. Katherine moveu-se assustada.

  - O que você está fazendo aqui? - ela perguntou com a voz trêmula, os olhos vermelhos.

  - Vim ver cono você está - respondeu passando a mão pelos cabelos longos claros e ondulados dela.

  - Como se você se importasse - disse e se virou novamente para não olhar no rosto do rapaz.

  - É claro que eu me importo, eu sou seu irmão não sou? 

  - Naquele dia você deixou claro que não era.

  - Desculpa por aquilo, eu estava irritado e de ressaca, não vai mais acontecer. Eu não deveria ter descontado a minha frustação em você. - disse sincero.

  - Não deveria mesmo, me magoou.

  - Você não deveria se magoar por pouco - ele retrucou.

  - sinto muito que não sou forte como você - tirou as mãos do irmão de seu cabelo- então me deixe sozinha aqui com a minha fraqueza.

  - não seja dramática! - Thomas falou e pegou nas mãos dela.

  - dramática? Você acha que estou fazendo drama? Parece que você não entende a nossa situação, eles nos abandoram. O que vamos fazer? Lili não pode ficar sem os pais, nós não vamos conseguir cuidar dela sozinhos. 

  Ao falar isso Katherine voltou a chorar e desta vez mais forte, ela abraçou o irmão com força e encostou a cabeça em um de seus ombros. Eles ficaram assim por alguns minutos, a menina chorava e o menino fazia carinho em sua cabeça, sem falarem nada.

  - Nós vamos dar um jeito, sei que vamos. Nós não precisamos deles. - ele voltou a falar depois de um tempo.

  Kathy moveu a sua cabeça para ver o rosto de Tom, ele estava com um rosto amigável mas triste ao mesmo tempo.

  - Você promete? - ela perguntou.

  - Prometo - respondeu e deu um beijo em seus cabelos castanhos claros- agora eu acho melhor eu voltar para a cama.

   - Não vá embora, por favor, fique aqui. Eu não quero dormir sozinha.

  - eu não acho apropriado... - disse relutante.

  - Qual é o problema? Nós sempre fazíamos isso quando pequenos. Durma comigo, tem espaço suficiente na cama.

  Thomas pensou em negar mas ao olhar para os olhos tristes da sua irmã resolveu aceitar.

  - Tudo bem, eu durmo - falou e Kathy sorriu- mas não fique grudada em mim.

  - E qual será a graça disso? - perguntou mas não esperou por resposta. O abraçou pela cintura e colou a cabeça em seu peito, e Thomas a abraçou pelas costas.

  - o seu coração está batendo muito rápido- ela comentou algum tempo depois.

  - É, eu sei.

[...]

  Um barulho soou pelo quarto, Thomas e Katherine abraçados ainda dormindo foram acordados pelos passos fortes de Lilian.

- Eu tô com fome. - a menina disse acordando-os - mamãe e papai já chegaram?

  Kat e Tom se entreolharam, não sabiam como explicar para uma garotinha de quatro anos que os pais a abandonaram.

  - Lili, já disse que eles estão tirando umas férias, não se preocupe com eles. Eu vou arrumar alguma coisa para você comer - a irmã do meio disse à caçula que logo correu em direção a cozinha- é melhor eu ir até ela - dessa vez falou ao irmão postiço, qual os braços ainda rodeavam os seus ombros. Ele a encarou por um tempo e a soltou rapidamente sentindo-se um tanto estranho.

  - Você vai querer alguma coisa? - ela perguntou tentando acabar com o clima peculiar.

  Ele apenas assentiu e ela sorriu, levantou-se da cama e quando estava prestes a sair pela porta virou-se para falar com o rapaz.

  - Obrigada por ontem a noite, eu não conseguiria dormir se não fosse por você.

- Não tem problema -sorriu.