História Mais que um Mero Poema - Muitos Choram

O dia estava nublado com algumas nuvens negras, fazia um frio típico daquela época do ano, era Julho, época de férias escolares, época de descanso, de lazer, de esfriar a cabeça, mas não para Giovana. Lá estava ela novamente às 6 da manhã olhando para o teto, não havia dormido a noite inteira, os olhos esbugalhados e vermelhos de tanto chorar, já não aguentava mais aquela situação que vinha se perpetuando à meses.

Dois meses na verdade, desde que seu pai morrera em um trágico acidente de carro, sua relação com a mãe não era das melhores, então ela via no pai todo o seu referencial e naquele momento ela se sentia abandonada, abandonada por alguém que a entendia, que a defendia.

Um forte vento batia em sua janela, sinal de que muito em breve viria uma chuva. "Ótimo" pensou ela "Mais um tipico dia depressivo". Buscou forças em seu interior como se buscasse asas para voar e se levantou da cama, foi até o espelho, deu uma rápida esfregada no olho para tentar disfarçar que havia chorado e saiu do quarto.

Ao passar pela sala se deparou com uma cena que havia se tornado comum nesses dois meses, sua mãe jogada no sofá, com garrafas de bebidas vazias e jogadas por todo o chão, sua mãe já havia dito várias e várias vezes:

— É só uma fase. Logo eu paro. Só preciso me recuperar.

Mas a resposta de Giovana era sempre a mesma:

— Você está mentindo, isso são só palavras, promessas, dissimuladas e sem noção.

E naquele momento parecia que era isso mesmo, mas de qualquer maneira ela ainda foi até o quarto de sua mãe, pegou uma coberta e a cobriu, logo em seguida, recolheu todas as garrafas de bebida e levou até o lixo, logo em seguida retornou até a sala e sentou-se em um dos sofás que ficava exatamente de frente para onde sua mãe estava estirada e ficou pensando:

"A vida até um tempo atrás era tão linda, mas de repente ela passou como um rio e tudo virou uma bagunça, minha mãe nunca foi um exemplo de mãe, mas pelo menos ela nunca havia chegado a esse estado... Sabe, acho que não faz mais sentido eu continuar tentando lidar com isso... Já fazem dois meses e nada mudou... Vou dar um fim a isso... Ninguém se importa mesmo"

Foi então até um velho armazém que tinha em sua casa, onde seu pai guardava suas bugigangas e começou a procurar por uma corda, depois de muito revirar, conseguiu achar uma, um pouco velha, mas ela deu uma puxada na mesma e viu que era firme. "Vai servir" pensou, se dirigiu a cozinha, onde pegou um banquinho, passou novamente pela sala onde parou e deu um beijo na testa se sua mãe dizendo bem baixinho:

— Eu te amo mãe. Só queria que você sentisse o mesmo. — Nesse momento sua mãe só deu uma resmungada, provavelmente estava sonhando com alguma coisa e se virou de costas no sofá. — Adeus — completou Giovana.

Então se dirigiu até o seu quarto onde preparou o nó e com a ajuda do banquinho a amarrou no teto, foi então até sua escrivaninha, onde começou a procurar por uma folha de caderno, para escrever o clássico "bilhete suicida", começou a procurar desesperadamente e foi como se todas as folhas tivessem sumido, começou a revirar as gavetas e no meio de uma dessas gavetas de repente caiu um pequeno panfleto, panfleto esse que chamou a atenção de Giovana, ela então parou a sua busca incessante pela folha e pegou-o, era um panfleto daqueles de evangelismo, que recebemos em ônibus, andando pela rua e que muitas vezes não damos bola e nele estava escrito:

JOÃO 16:33

Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

Giovana então desabou a chorar, pois começou a se lembrar das conversas que ela tinha com o pai várias e várias vezes, sobre Deus, onde o seu pai muitas vezes dizia:

— Filha, o mundo não é um lugar lindo, o mundo muitas vezes nos colocará para baixo, mas depende de nós, se aceitaremos ficar no chão para sempre, ou se ergueremos a nossa cabeça e perseveraremos, a bíblia diz que até mesmo Jesus passou por seu momento de dor, de tristeza, mas ele não desistiu de nos salvar, lembre-se sempre: Hoje muitos choram, mas não desistem, hoje muitos choram, sorrindo.

Ela então começou a rir estridentemente e a chorar ao mesmo tempo, era uma mistura louca de sentimentos que ela conseguia explicar, a única coisa que ela podia dizer era:

— Obrigado Deus por me lembrar do Senhor, por me lembrar que nos momentos mais difíceis nos resta apenas confiar em Ti.

De repente Giovana vira para trás e vê sua mãe aparecendo correndo e dizendo assustada:

— O que está acontecendo aqui?

Ela então corre e abraça a sua mãe com tudo e começa a chorar e a dizer:

— Me perdoa mãe... Me perdoa...

As duas então ficaram ali abraçadas um bom tempo, como se não houvesse tempo, aquele parecia ser um novo início para as duas...

SALMOS 30:5 Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.