História Mais Um Dia - Então

Então, ele me beijou.

Seus lábios estavam macios e cálidos colados aos meus. Era apenas um selar, mas que me arrepiou o corpo inteiro.

Ah! Por que ele fazia isso comigo?

Ele era gay também? Ou estava apenas brincando de experimentar coisas novas?

Seus olhos estavam fechados, ainda respirava suavemente, mesmo com os lábios nos meus. Ele cheirava tão bem, meio flor, meio doce e eu sentia o calor vindo do seu corpo tão próximo do meu.

Não faça isso Jungkook. É difícil me controlar te amando tão intensamente, mesmo sabendo que não posso tocar em você de forma leviana. É muita coisa para colocar em risco. Muita coisa e muita gente que pode se machucar. Principalmente você.

Eu mantenho meus olhos abertos para guardar bem essa imagem e essa sensação e sinto aos poucos que ele vai se aproximando mais, colando seu corpo ao meu e colocando sua mão em minha nuca, acariciando levemente meu cabelo. Mais arrepios passam por mim enquanto sua outra mão me aperta na cintura.

Ele pressiona um pouco seus lábios, abrindo os olhos em seguida e se afastando.

“Hyung, você não está respirando” - e sorriu aquele sorriso desgraçado que mostrava os dentinhos de coelho. Nossas fãs têm toda a razão nessa comparação.

Tentei recobrar a consciência e falar algo coerente, eu precisava saber o que aconteceu naquele dia – naquele dia apocalíptico – como eu o venho chamando ultimamente.

“Jungkook, por que você estava daquele jeito, naquele.. aquele dia?” Minha voz saiu horrivelmente baixa e nada confiante. Eu não sou o hyung nesse negócio? Assuma as rédeas Min Yoongi.

“É que.. eu sei que não é muito bom fazer isso antes do show.. mas acabei vendo alguns vídeos.. sabe? E também, depois disso, Jimin hyung tem uma mão um pouco boba” - ele estava sem graça, era perceptível, principalmente nas bochechas levemente coradas.

Jimin tem esse jeito carinhoso com todos, mas com o maknae as coisas fogem de controle às vezes, chega a ser algo bruto até, um tipo de carinho desesperado. Prefiro não pensar sobre isso agora, até por que já virou algo extremamente normal para todos.

“Ah! Eu escrevi algumas letras, você poderia olhar pra mim, hyung?” - como ele consegue mudar de assunto tão rápido? Voltei à realidade e segurei os papeis que agora ele estendia pra mim. Ele sempre escrevia bem, suas letras eram coerentes e tocantes, com mais prática ele se tornará muito bom.

Pra ser sincero, eu sinto muita falta de quando tínhamos mais tempo e podíamos ficar um dia inteiro juntos compondo, nem que fossem alguns rabiscos bobos. Eram dias alegres e no fim, até que produtivos.

Dou uma olhada rápida nas páginas e suspiro. Eu sei que nossa conversa sobre o assunto acabou e confesso que estou bem mais aliviado. Ele voltaria a falar comigo normalmente, tenho certeza, mesmo não esclarecendo muita coisa. Não precisei me expor e nada ficou em risco. Provavelmente foi melhor assim.

“Hm, tudo bem, vou olhar isso aqui e depois eu devolvo. Você já comeu?”

E a vida seguiu como sempre foi. Vou continuar mimando meu pequeno Jungkook, sempre o observando de longe, enquanto ele brilha sob os holofotes.

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O suor escorre em seu rosto e corpo.

Ele não aguenta e arranca a camisa sem parar de dançar, apenas a jogando longe.

Dessa vez ele ensaia com Jimin e Hoseok enquanto eu tento fazer algo de produtivo por ali. Obviamente sem resultados. Eu sei que ando mais sensível esses dias justamente por não estar conseguindo me aliviar, se posso dizer assim. Toda vez que penso nisso eu lembro ‘daquele dia’ e me sinto culpado. Culpado em pensar nele dessa forma e em desejar que fizéssemos mais coisas como aquela. Minhas mãos não são mais tão eficazes, eu precisava dele.

Claro que lembrar do que fizemos enquanto o observo dançando, de novo, não é uma escolha muito boa. Mas é inevitável.

Hoseok mostra um novo passo de dança aos dois, nada que vamos usar em nossas coreografias, mas eles gostam de treinar essas coisas mais diferentes, por assim dizer. Era uma dança um tanto quanto provocativa, muitas reboladas e passadas de mão pelo corpo, aliadas as expressões de convite para o prazer que fariam qualquer um ir à loucura.

Não sei a quem eu temia mais. Se era à Hoseok, que enquanto os ensinava me olhava de forma significativa, me fazendo lembrar de que ele sabia exatamente o que, e sobre quem, eu estaria pensando. Ou se era do próprio Jungkook, que também me olhava enquanto dançava, sorrindo e mordendo o lábio inferior. Ou se era de mim mesmo, que não conseguia desviar os olhos, nem me preocupando mais em fingir que trabalhava, e não conseguia parar de pensar no convite que ele me fez no seu quarto dias atrás. Convite esse que eu ainda não respondi.

Isso era insuportável. Sinais de uma bela ereção já surgiam e eu precisava sair dali. Levantei apressado e sai pela porta sem nem olhar pra trás.

O que, claro, não adiantou muito, pois logo ouvi passos atrás de mim.

“Por favor, por favor, por favor, não seja ele!”

“Hyung!!” – Ai Meu Senhor, era ele.. Por que ele veio atrás? Por que só não me deixar em paz? Não é como se eu devesse algo para aquela criança mimada.

Aprecei os passos, não poderia deixar que ele me alcançasse, mas não pude ir muito longe.

“Hyung!!” – Chamou mais uma vez ao me puxar pelo ombro.

“Droga Jungkook! Me solta” – será que ele ouvia meu coração? Tenho certeza de estar tremendo, só espero não cair no chão como uma fruta podre. Minhas pernas não me obedecem mais, ele não me respeita mais, nada está no lugar ultimamente!

“O que aconteceu? Parecia que você ia desmaiar quando saiu correndo.” - ele me olhava desconfiado, mas sorria maroto. Esse garoto é minha perdição.

“Nada de mais Jungkook. Pode me soltar agora?” – eu tremia e sua mão no meu ombro não me deixava pensar.

Pela última vez tentei esconder o que eu sentia, tentando disfarçar o brilho nos meus olhos, tentando não pensar que ele era uma grande parte das inspirações de minhas letras, tentando não sentir seu cheiro tão perto de mim, tentando, inutilmente, não lembrar do toque dele naquele dia, não lembrar de todas as reações que ele me causava. Não poderia colocar em risco os anos que passei o protegendo e cuidando, sem que ninguém suspeitasse, sempre me mantendo distante quando precisava responder algo mais íntimo.

Não.

Ele não poderia descobrir assim, tão fácil, que eu faria qualquer coisa que essa criança quisesse. Que eu era louco por ele.

“Jungkook” – Sussurrei. Ele ainda me segurava e olhava. Baixei meus olhos e prestei atenção no cadarço desamarrado e pensando com alívio que eu não me esborrachei no chão enquanto corria. Precisava pensar em qualquer outra coisa pra não me entregar.

“Hyung, para! Não precisa ficar assim, todo esquisito e fugindo de mim só por ‘aquilo’!” – ele sorriu soprado e passou a mão no cabelo logo antes de me puxar pra um abraço bem desengonçado e ria no meu ouvido, me fazendo arrepiar. “Você está agindo estranho desde aquele dia. Já disse que não foi nada de mais. Eu só queria saber a resposta que você ainda não me deu, Hyung.” – Ele estava falando sobre aquilo e rindo dessa forma, tão relaxadamente? Essa criança.

Finalmente ele me soltou de vez, cortando o contato físico. É difícil me concentrar com ele me tocando. Com ele tão perto. Mas eu ainda não sabia o que responder. Será que eu poderia começar algo assim com o maknae? Uma relação apenas pra satisfazer o desejo? Isso seria ele me usando, à custa de meu sentimento? Ou eu o estaria usando, justamente pelo mesmo motivo? Era estranho cogitar algo assim enquanto estamos sozinhos no banheiro da empresa. Era mais estranho ainda vê-lo se aproximar de mim com aquela expressão matadora, aquela mesmo, da sobrancelha levemente levantada enquanto mordia o lábio inferior.