História Mais Um Dia - Provocações

Yoongi’s POV

“Hyung, a conversa ta ótima e a comida também, mas nós temos que conversar sobre algumas coisas específicas, não é mesmo?” - Logo após ter terminado de falar a frase ele teve que me ajudar, pois eu estava tossindo e me afogando, por que raios ele fazia essas coisas comigo?

“O que exatamente, Jungkook?” - Eu ainda tossia e ainda respirava com dificuldade, mas conseguia perceber que ele ficou muito mais sério do que antes, e eu até arriscaria dizer que envergonhado também. Essas coisas sempre são assustadoras.

“Sabe hyung, eu precisava esclarecer algumas coisas com você, mas tinha medo de como você reagiria, ainda tenho medo, no caso. Só que é uma coisa importante, até por que tem me deixado um pouco confuso e eu não gosto de estar confuso, quero poder continuar em paz com todos os hyung, com você também.” - Ele respira fundo algumas vezes e bebe um gole do chá que está bebendo, a coisa parece ser séria mesmo.

“Eu realmente gostei de beijar você hyung, e ‘aquele dia’, sabe? ‘Aquele dia’ foi diferente também e eu não quero que você pense que eu não tenho consciência, eu não quero que você pense mal de mim, ou que tenha nojo. E eu sei que não devo mais te beijar, por isso você pode ficar tranquilo, não vou fazer mais.” - Ele respira fundo novamente e eu tento controlar as batidas doloridas do meu coração. Eu não estava entendendo onde ele gostaria de chegar com aquela introdução toda, e também não conseguia ficar totalmente feliz com a parte de não ser mais beijado por ele.

Patético, eu sei.

“Hyung, eu sou gay. Eu já sei disso há bastante tempo e eu sempre tento esconder isso, eu sei que coisas assim jamais podem ser descobertas por nossas fãs ou a imprensa. E eu também não queria que você ficasse com nojo de mim, por que eu não quis me aproveitar de você, só foi acontecendo e foi legal, sabe? Justamente por ter que manter em segredo eu quase nunca tive nenhuma experiência nessas coisas e ...” - Ele parou para beber o chá de novo, ele estava realmente vermelho e eu não estava conseguindo lidar com todas essas informações. Jungkook era gay também? Como eu nunca percebi? Que experiências, ainda que poucas, ele andou tendo por aí? Alguém mais sabia? O que ele faria se eu dissesse que também sou? E sou chamado de volta do transe em que tinha entrado.

“Hyung, não me olha assim, você está me assustando.”

“Jungkook, você é gay?”

“Sim” - Ele abaixou a cabeça e ficou quieto, realmente desconfortável e sem graça. Meu coração batia tão alto nos meus ouvidos que eu não sabia como ele não estava ouvindo também. Eu só conseguia pensar que talvez eu tivesse uma chance, mas não era por aí que eu deveria ir. Eu precisava ajudá-lo, e por mais que eu tenha jurado jamais contar a nenhum dos membros que era gay, eu precisava fazê-lo, ele também precisava saber que eu não sentia nojo dele. Bem pelo contrário, aliás.

“Você está com nojo, não é? De ter me ajudado aquele dia.”

“Eu seria hipócrita se estivesse com nojo só por que você é homem também.” Ele levantou a cabeça olhando assustado. Ele estava entendendo o que eu estava dizendo. “Eu sou gay também Jungkook, e mesmo que não fosse eu não teria problemas com isso, você não pode ver como nojento algo que se trata da sexualidade dos outros e até mesmo da sua.”

“Hyung, você...” - Ele estava com os olhos arregalados e a boca aberta, eu deveria ter falado aos poucos?

“Sim Kookie, eu também sou gay, e não, não tenho nojo de você. Mas, mais alguém sabe sobre isso?”

“Jimin hyung sabe sobre mim, mas ele descobriu há muito tempo também, ele tenta me ajudar, conversa comigo quando eu estou pra baixo ou passo por algum problema, ele é um bom hyung, assim como você.”

Se Jimin sabia e ainda assim vivia se jogando pra cima de Jungkook ele talvez tivesse algum outro tipo de envolvimento com o mais novo. E aí seria o fim. Como eu competiria com Jimin a atenção de Jungkook?

“Hyung, você está pensando que eu me envolvi com Jimin hyung? Não pense isso, por favor! Jimin não é gay, ele só gosta muito de me provocar, mas é só pra me distrair quando as coisas não vão bem, nunca tive nada assim com ninguém na verdade.”

“Bem, eu acho que foram muitas revelações pra um dia só, talvez nós devêssemos voltar agora, dormir vai ser melhor.”

“Mas hyung, eu sei que vou parecer estranho, não me interprete errado por favor, mas é só que eu queria, sabe, continuar te beijando às vezes.”

“JUNGKOOK, você está maluco? As coisas não funcionam assim, garoto!” - Como eu vou aguentar meu Deus do céu? Saber que ele também é gay foi muito relevante, mas eu não posso me aproveitar da inocência e dos hormônios dele, também não posso explicar que eu gosto dele dessa forma, seria muita coisa pra um dia só, impossível.

“Eu não tenho ninguém agora, você tem alguém hyung?” - Acenei negativamente e ele continuou “Então, você também não tem ninguém, e não é como se nós pudéssemos sair por aí pra encontrar outras pessoas, e também, como eu disse, eu gostei de beijar você hyung, você não gostou de me beijar? Por que eu realmente gostaria de fazer isso mais vezes.” – Ele falava quase perdendo o fôlego de tão rápido.

O que eu poderia falar? Estava perdido, perdido nos olhos e nos argumentos dele, mas teria que me manter firme pela primeira vez. Tenho que parar com essa mania de fazer tudo o que ele quer sem nem pestanejar, eu sou muito fácil quando se trata de Jungkook e isso é um problema sério. É um problema por que ele se aproveita. E eu quero ser aproveitado, nesse caso específico, mesmo que não deva.

“É melhor não Jungkook, essas coisas podem sair do controle, pode ser que dê algum outro tipo de problema também, e eu não tenho confiança de começar algo desse tipo. E fim de papo garoto. Vamos voltar que já está bem tarde e mais frio ainda.”

***

Tudo era tão inacreditável, não fazia sentido algum que o Kookie também fosse gay, muito menos que tivesse gostado de me beijar. E muito menos que já tenha passado duas semanas desde que conversamos e tudo continuou exatamente como era antes.

Eu não deveria, mas queria muito poder tocar nele, poder cuidar dele. Mais do que já fazia, mais do que poderia de verdade, por que mesmo que eu aceitasse a proposta de beijar Jungkook de vez em quando, eu não poderia fazer mais do que isso, e não seria mais do que isso pra ele também.

Só que era injusta a forma como ele andava me provocando. Eu preciso dizer que ficou muito mais insuportável vê-lo nos ensaios? Agora não era apenas ele suado, dançando, ele ainda fazia questão de vir pro lado onde eu estava, fazia questão de repetir os movimentos depois de arrancar a metade das roupas e ainda me olhava de forma sugestiva até demais. Como era possível aguentar esse menino?

E no dormitório as coisas também ficaram piores. Eu não tinha um momento de sossego que o garoto fazia questão de sentar ao meu lado, colado em mim, mesmo que tivesse mais espaço. Ele ficava me cutucando, provocando, enquanto falava perto demais de meu pescoço, enquanto tocava desnecessariamente na minha perna e ia subindo a mão.

Esse garoto era terrível.

Eu já não sabia como reagir ou de que forma eu poderia continuar fugindo, era difícil demais.

Tão difícil que comecei a passar mais tempo trancado no meu estúdio, mais do que já fazia. Quase não aparecia mais em casa e só ia para os ensaios por que eram necessários para o trabalho. Tentei de todas as formas me isolar de todos e sair de perto dele, mas ele ainda assim insistia.

Eu já havia perdido a conta das horas que estava no meu estúdio, já não tinha mais inspiração ou vontade alguma de trabalhar nesse momento, e não queria de jeito nenhum ver Jungkook. Hoje eu não conseguiria dizer não. Era melhor que ele não aparecesse por aqui.

Que droga, eu o desejava demais!

Eu o amava e o queria por perto, de todas as formas. Eu queria que ele estivesse comigo, mas queria que ele retribuísse meus sentimentos. Ele parecia disposto a começar de verdade aquela história de beijos sem compromisso, mas o que eu faria com meu coração? Com meus sentimentos? O que eu faria com Jungkook?

Hoje não era um bom dia pra nada, nem saberia nomear a mistura de coisas que estava sentindo, eu precisava de Jungkook, mas não poderia tê-lo. Eu precisava tocá-lo, mas não poderia fazê-lo.

“Hyung...” - Abro meus olhos e solto a respiração que nem sabia que estava prendendo, me endireito na cadeira apenas pra ver o exato momento que ele entra e fecha a porta atrás de si. Por que você teve que vir hoje Kookie? Como vou dizer não pra você, justo hoje?

“O que você faz aqui Kookie? Já não disse pra não vir quando eu estivesse no estúdio?” - Foi quase inevitável bufar e desviar o olhar depois de passar meus olhos por ele. Eu realmente estava perdido dessa vez.

“Eu sei, mas faz tempo que você não sai, que você não come, e eu estava esperando lá fora, ta frio, sabia hyung?”- Como ele pode ficar tão fofo enquanto faz um bico gigante? Tudo o que me restou foi me levantar para logo em seguida me afundar no sofá colado à parede e fechar meus olhos. Não demorou nem um minuto para sentir o garoto sentando do meu lado o mais perto que conseguiu.

No exato segundo que ele deitou a cabeça no meu ombro e respirou perto do meu pescoço um arrepio percorreu meu corpo, do pé ao último fio de cabelo.

Ah! Dessa vez eu não ia conseguir.

“Jungkook, hoje não é um bom dia para provocações.”

“Hyung... Yoongi hyung, eu não quero provocar.” - Era difícil acreditar no que ele falava por que ele chegava mais perto ainda pra sussurrar no meu ouvido. E eu já não conseguia conter os suspiros que acabavam escapando ao sentir o ventinho que saía dos lábios dele e batiam no meu pescoço.

“Jungkook” - Era minha última tentativa de pará-lo. Ainda que fosse quase ínfima.

“Yoongi-ah” - E eu não consegui resistir. Era jogar muito sujo me chamando pelo meu nome, como se já fossemos namorados. Sussurrar meu nome dessa forma tão perto do meu ouvido era muito jogo sujo. E eu não me segurei mais.

Comecei fazendo exatamente aquilo que sempre quis fazer, acariciando seus cabelos de leve, afagando seus fios e assim descendo para seu rosto com o toque mais suave. Ele fechou os olhos enquanto sentia o carinho, e eu aproveitei para olhá-lo da forma mais apaixonada que eu conseguia. Era quase impossível controlar o que eu sentia quando ele estava assim, quietinho, sentindo meu carinho, respirando um pouco mais pesado do que o normal como se estivesse esperando algo, como se estivesse me esperando.

Deixei leves selares na ponta de seu nariz e fui descendo para o queixo, beijei sua pintinha fofa subindo para seus lábios enquanto ainda afagava seus cabelos perto da nuca. Como era doce senti-lo assim, como seu cheiro era inebriante, quase me fazia perder a razão.

Dessa vez ele não me deixou fazer tudo sozinho, agora ele acarinhava meus cabelos também e colava mais seus lábios aos meus, ele roubava meu fôlego e nem começamos um beijo de verdade.

Eu já me sentia tremendo e tudo piorou quando ele encostou de leve sua língua nos meus lábios, enquanto entreabríamos suavemente nossas bocas para que o encaixe fosse melhor.

O gosto de Jungkook chegou para mim, assim como seu cheiro ficou mais forte ainda pela maior proximidade. Era sublime a sensação de beijar Jungkook. Ele tinha os lábios mais macios que já provei, tinha o gosto mais marcante e viciante que já experimentei. Sua língua se movia delicada junto da minha enquanto íamos descobrindo um ao outro. Eu poderia explodir de felicidade, meu coração que antes já batia acelerado estava correndo uma maratona nesse dia.

Nos separamos antes de faltar o ar, deixando selares suaves e molhados nos lábios um do outro e eu pude ver que ele ainda estava de olhos fechados. Suas mãos não saíram dos meus ombros e as minhas ainda acariciavam seus cabelos.

“Não fuja mais de mim, hyung”- Ele falou, sua voz estava levemente rouca, me fazendo suspirar só em ouvi-lo.

“Eu não vou mais fugir Kookie. Mesmo que fosse melhor ficar longe, eu não vou mais fugir de você.” E não teria mais como mesmo. Eu não possuía forças para me manter longe dele, mesmo sabendo que isso, com certeza, não iria acabar bem.

Ele sorria da forma mais doce que eu já pude presenciar e meu coração bateu mais forte ainda, se é que isso era possível. Eu sorri de volta o retribuindo e nós nos beijamos novamente.

E não foi a última vez naquele dia.