História Mais Um Dia - Confusões

Yoongi’s POV

“Hyung”

“Que?”

“Você tá querendo matar esse pobre coitado? Namjoon-hyung não vai gostar se você arrancar a cabeça do Ryan, mesmo que aqui seja o maior estoque de todos que existem no mundo” – Taehyung era um bom garoto, mas às vezes ele me irritava, mas me irritava muito. Eu não estava fazendo nada com o bendito Ryan, só segurando pacientemente e carinhosamente enquanto ele me falava que Jungkook saiu com Yugyeom sem avisar onde foram e nem quando voltariam.

“Eu não vou matar o Ryan Taehyung, não se preocupe” – Bufei. Sabe, eu não vejo problema nenhum no Kookie sair com seus amigos, inclusive por ser com o Yugyeom que é um ótimo rapaz, pois eles no máximo vão virar a noite jogando vídeo game e comendo Ramyun. O grande problema é que Jungkook resolveu me ignorar, totalmente, sem precedentes, sem explicações, sem nada. Ele só parou de falar comigo, de me responder, de olhar pra mim, e toda vez que eu entrava em algum lugar que ele estivesse, ele saia imediatamente. E isso já vem acontecendo há três semanas.

“Taehyung, você sabe o porquê de Jungkook estar me ignorando? Eu fiz algo pra ele?” – Não tinha como continuar sem saber o que aconteceu, é estranho demais que numa semana estivéssemos lá, nos beijando e algumas outras coisas a mais, e na semana seguinte ele não suporta ficar no mesmo lugar que eu, e eu juro que não fiz nada.

“Você deveria perguntar a ele, hyung. Só ele pode dizer o motivo de se afastar, mas sabe, você deve tomar banho e comer normalmente, mesmo que ele não fale com você.” Ele franzia o nariz enquanto falava, eu apenas bufei novamente e saí do quarto deixando Ryan jogado na cama de Namjoon. Eu não parei de tomar banho só porque ele não fala mais comigo, talvez eu só tenha parado de tomar uns três banhos por dia pra garantir que estivesse cheiroso. No fim das contas eu só voltei para a quantidade normal.

Porém, o que não era normal, e estava me deixando louco, era justamente não conseguir conversar com ele. Estamos em época de comeback e tempo não é algo que temos. Eu precisei focar no trabalho essas semanas, por isso não fui incisivo em conversar com ele. Mas isso já vem se arrastando por tempo demais. Eu precisava tentar descobrir qualquer coisa, qualquer indício do que possa ter acontecido. Eu não me lembro de ter feito nada que pudesse despertar a ira ou desprezo dele em tão pouco tempo.

“Hoseok, você viu Jimin ou sabe quando o Jungkook volta?” – Ele era minha última esperança de encontrar respostas ou alguém que me ajudasse a entender o que aconteceu. Jin hyung saiu com Sandeul dessa vez, Namjoon continua no estúdio e eu não vi Jimin o dia inteiro.

“Jimin saiu pra desenhar hyung, não sei quando volta e não sei nada do Kookie também. Você tá bem hyung? Parece pálido.” – Não, eu não estava bem, estava agoniado, angustiado, ansioso e trocentas coisas a mais que eu não saberia nomear. Não era Jungkook que gostava das coisas resolvidas rapidamente e as claras? Onde estava essa criança quando precisava ser direto e objetivo?

“Tô ótimo, obrigado.” – Voltei pro meu quarto vazio e a única coisa que pude fazer era bufar, resmungar e respirar fundo pesadamente.

***

“Hyung, hyung, acorda. Aish, você que estava me procurando e eu que tenho que vir atrás de você, acorda logo” – Não, não era a doce e melodiosa voz de Jungkook, era só o Jimin querendo saber o que eu queria com ele. Mas nesse momento, em que eu tinha pegado no sono e dormia sem lembrar as coisas que me deixavam preocupado, eu não queria falar com ele. Não queria falar com ninguém na verdade.

“Sai daqui Jimin, me deixa dormir.”

“Mas foi você que perguntou de mim, hyung” – Tudo bem, talvez seja importante perguntar pra ele sobre Jungkook, eles vivem grudados um no outro, Jimin, no mínimo, deve saber o que está acontecendo. Ele tinha que saber.

“Tá, é, eu procurei” – sentei-me na cama para encarar os olhos profundos que enxergavam mais do que deveriam, Jimin sempre sabia o segredo de todos nós, mesmo que ninguém contasse. Deve ser algum poder herdado, ou sei lá. Era sempre estranho como ele sabia direitinho quando um de nós não estava bem, ou quando estava tentando guardar algo para não preocupar os outros membros. “Eu preciso que você me explique o motivo, a razão, o que eu fiz, que Jungkook não olha mais na minha cara.”

“hmm, hyung, você deveria falar diretamente com ele sobre isso.”

“MAS EU TENTEI. Tentei várias vezes nessas semanas, e ele fugiu correndo todas elas, tentei falar com ele por mensagem e ele não respondeu, tentei pessoalmente e ele correu também, tentei perguntar pra todos os membros se tinham percebido algo que eu fiz e não me dei conta. AAAAAAAA” – Tudo bem, acho que eu exagerei um pouco na indignação, mas tentar falar com ele não estava adiantando! E eu nem sabia o que tinha acontecido de verdade.

“Você não precisa descontar em mim, se quer saber. Mas o que eu posso dizer é que por mais que Jungkook seja decidido, direto e até simples de se resolver, ele ainda é bem imaturo pra algumas coisas hyung. Ele pode ser mais teimoso do que qualquer mula empacada, e quando ele fica assim, empacado, leva um tempo até ele processar tudo.” – Ok, Jungkook estava empacado. Isso eu consegui entender, mas empacado com o que meu Deus do céu?

“E você sabe com o que ele anda empacado, Jimin?”

“Quando ele desempacar, muito provavelmente, ele vai procurar você. E, assim, vocês até podem achar que ninguém percebe quando vocês somem e tal, mas todo mundo já se ligou no que tá rolando, hyung. Seria legal vocês esclarecerem as coisas com todo mundo, sabe.” – Esclarecer? As coisas? Com todo mundo? Seria ótimo se Jimin não jogasse as coisas na cara das pessoas e depois saísse como se não tivesse dito nada. Ele me deixou aqui sozinho pensando que todos eles sabem o que eu e Jungkook fazemos, mas na verdade, nós nem fazemos mais nada porque tá tudo uma bagunça e eu não sei mais nem quem eu sou.

Eu sabia que ia dar merda quando ele insistiu em termos algo chamado ‘isso’. Nada muito bom pode vir de coisas assim, mas o pior é que tudo anda assim, bagunçado e incômodo, por causa dos meus sentimentos. Se eles não existissem nós poderíamos continuar tranquilamente fazendo o que estávamos fazendo sem ninguém sair mal, sem ninguém se sentir culpado, sem problema algum, mas acontece que esses sentimentos existem há tempo demais dentro de mim. E no fim eu não consegui dizer não para aquela criança arteira.

Jungkook’s POV

“Jeon Jungkook!” – Epa. O que eu fiz agora? Eu não me esqueci de trazer o fone que eu peguei emprestado, ele tava funcionando quando eu devolvi pro Jimin também. Se bem que não precisa de nada muito sério para Park Jimin vir gritar comigo, na verdade nunca é sério.

“O que eu fiz dessa vez hyung?”

“Quando você vai resolver essa coisa estranha que você e Yoongi hyung estão fazendo? Eu aceito, não muito bem, mas aceito, o fato de você ainda não ter me contado em detalhes o que tá rolando, mas eu não vou aceitar você aí todo esquisitão e fazendo com que o hyung grite comigo. Aí já é demais. Anda, desembucha e desempaca Jungkook.”

TELA AZUL. TELA AZUL. TELA AZUL. TELA AZUL. TELA AZUL.

O que eu faço agora? Eu tô completamente ferrado!

“Que-e coisa com Yoongi hyung?”

“Não gagueja e conta logo os detalhes, porque todo mundo já percebeu.”

Talvez fosse melhor eu contar de vez pra ele. Talvez assim ele pudesse me ajudar, antes que eu fizesse alguma besteira. Porque, sério, muito sério, eu tô bem ferrado!

“Hyung, eu preciso de ajuda. Eu não sei o que tá acontecendo comigo. E eu não sei mais o que eu quero. Eu não sei mais o que fazer. Eu... tô perdido” – Escorreguei pela parede do meu quarto, onde eu estava apoiado, e sentei no chão, em cima de algo desconfortável (então foi nesse canto que eu joguei meu sapato preto), e fiz a cara de maior desespero que pude, Jimin precisa me ajudar e precisa entender essa bagunça aqui, eu tô bem ferrado, isso sim.

“Jungkook, não é bonito isso que você tá fazendo de ignorar o Yoongi. Por que você tá fugindo dele? Ele te falou alguma coisa? Ultrapassou algum sinal que não deveria ter passado?”

Eu ainda não acredito que tô falando com mais alguém, além da voz na minha cabeça, sobre esse assunto. Acontece que é muito vergonhoso falar dessas coisas, mesmo que seja o Jimin e eu confie nele ao ponto dele ser o primeiro que eu consegui contar do que eu realmente gosto. Mas ainda assim, não tem como explicar o que tá acontecendo.

“Jimin hyung, acho que eu tô ficando louco!” – sussurrei e escondi minha cara arregalada de espanto pelo insight. Eu realmente devo estar ficando louco. Por que essas coisas não podem ser normais. Não pode ser possível ou saudável.

“Você tá exagerando Kookie, e essa função no grupo ainda é minha. Levanta daí e vai falar com ele. Ele deve estar no quarto ainda, e deve estar sozinho, Jin hyung não volta tão cedo, você sabe.”

Não, eu não sabia. Eu não sei, eu não quero saber. Eu só não quero ficar louco. Sabe, é estranho essas coisas ficarem acontecendo, não parece coisa de pessoas civilizadas, sãs e saudáveis. Não parece ser coisa que se pode fazer.

Faz tanto tempo que eu não consigo fazer nada. Tanto tempo que eu não entro nas redes sociais pra falar com as ARMYs. Eu não consigo nem tirar uma foto decente pra postar no Twitter. Eu tô ouvindo vários tipos de música, mas parece que nenhum é o certo pro momento. Eu não tô nem conseguindo rabiscar uma folha de rascunho pra alguma música. Eu não desenho tem mais de um mês. Eu nunca fiquei uma semana sem desenhar. E eu encaro a folha de papel em branco, mas não é como se não viesse nada na minha mente pra desenhar, o problema é que só vem uma coisa, uma mesma coisa, sempre a mesma. E por isso eu parei, por que eu só posso estar enlouquecendo.

Yugyeom disse que nunca passou por isso. Jimin nunca falou sobre se sentir assim. Quando eu leio sobre, ou assisto algo assim, faz parecer que não tem nada a ver uma coisa com a outra. E eu continuo sem saber se eu tô bem, se é normal ou se eu tô realmente louco.

Eu sempre fui uma pessoa de boa, um pouco avoado, mas eu não me esquecia de coisas importantes. E isso tem sido frequente. Por isso eu fiquei apavorado.

Só agora me dei conta de que estou sozinho de novo no meu quarto. Aparentemente Jimin saiu logo depois que eu entrei em parafuso e não falei mais nada com nada.

Acontece que eu quero resolver isso tudo, mas eu não faço ideia de como resolver. Eu quero voltar a ficar bem com o hyung, até pela convivência do grupo, mas eu não sei mais como isso pode acontecer. E se eu estragar tudo isso que construímos juntos como irmãos dentro do grupo, eu não vou me perdoar. Eu não sei o que fazer. E eu não quero mais continuar chorando como uma criança em desespero perdida no supermercado. Por que é bem assim que eu tô me sentindo. Perdido num corredor frio do supermercado, com 5 anos de idade e sem minha mãe.

É angustiante essa coisa de se sentir sufocado. Eu não sirvo pra viver assim. Eu não consigo nem correr direito. Até nos ensaios das coreografias novas eu tô tendo problemas. E EU NÃO POSSO TER PROBLEMAS COM ISSO.

Na verdade eu não sou excelente em tudo que eu faço. Eu tenho sorte muitas vezes, outras eu treino até conseguir fazer de olhos fechados, mas se eu continuar assim, eu não vou mais conseguir fazer nada. Nada de nada. E eu só estou na casa dos 20. Se eu enlouquecer agora o que eu vou fazer o resto da minha vida?

Ok. OK. Se acalma Jungkook. Respira. Você não tá louco. Isso vai passar.

Sabe quando eu pirei? Eu vou contar.

Eu sempre soube que mesmo não tento muita experiência com contato físico eu gostava muito do negócio. MESMO. Muito mesmo. Até aí tudo bem. Só que eu nunca soube como é um relacionamento com alguém. Nunca namorei, nem tive algo mais sério, que exigisse de mim. Eu até cheguei a pensar que eu não gostaria de ninguém romanticamente falando, e eu ainda acho que isso pode ser assim mesmo. Que talvez eu não sirva pra isso.

Só que eu não tô sabendo lidar com as coisas que tem na minha cabeça, com as coisas que eu venho pensando, que me fazem sentir estranho e confuso. É tão estranho quando eu fico pensando sobre a cor do rosto de alguém quando essa pessoa está goz....

“Jungkook! Você não lavou a roupa nos últimos dias! VOCÊ NUNCA DEIXA DE LAVAR A ROUPA. Não tem uma cueca pra eu vestir nessa casa!”

Epa.