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História Make it Rain - People Ain't No Good


Escrita por: LilyCosci e CorregioKL

Notas do Autor


Música do capítulo: People Ain't No Good - Nick Cave & The Bad Seeds

Capítulo 15 - People Ain't No Good


Acordei pela manhã com uma movimentação pelo quarto, ainda era bem cedo, o sol mal estava nascendo no horizonte pelo que pude ver pelas frestas da janela. Deitei de barriga pra cima, esfregando os olhos e me deparando com Kankuro já de pé. Ele não pareceu notar que me acordou e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Virei para o lado da parede e fechei os olhos de novo, tencionando dormir pelo menos mais algumas horas.

Quando acordei novamente, foi com Kankuro voltando para o quarto. Ele finalmente percebeu que me acordou e perguntou:

-Ninguém acorda cedo nessa casa?

-Não. –resmunguei mal-humorado.

Kankuro revirou os olhos.

-De você eu já esperava. –começou se sentando no futton –Mas Temari se tornou uma preguiçosa.

-Ela tem uma criança pequena. –defendi Temari sem nem perceber, um tanto irritado de ter sido impedido de continuar dormindo. –Deixa-a dormir enquanto Sora também deixa.

Ele bufou, mas se calou. Esperei por alguns minutos para ver se ele tinha mais alguma coisa inútil pra dizer e, como não, fechei os olhos novamente. Mas dessa vez nem cheguei a dormir e Kankuro me fez abrir os olhos de novo, abrindo a porta do quarto para sair. Bufei irritado, percebendo que não adiantaria insistir e levantei. Ao sair do quarto, me deparei com o céu nublado, o que terminou de acabar com meu humor. Demorei mais do que o habitual no banheiro e sentei na varanda, olhando pra aquele conjunto de nuvens grudadas e tapavam totalmente a visão do céu acima delas. Acendi um cigarro e assim que dei a primeira tragada, Manami saiu de seu quarto.

-Oh, bom dia Shikamaru-san! –ela disse.

-Bom dia. –respondi.

-Acordou cedo. –comentou passando por mim.

-Kankuro achou que devíamos todos levantar com o sol. –resmunguei de volta e ela riu, indo para a cozinha.

Quase uma hora depois, estávamos todos sentados a mesa do café. Sora se recusava a ficar no caldeirão e também não estava com vontade de ficar no chão. Temari se virava como podia para comer com uma mão só e a bebê tentando pegar tudo que ela levava a boca, enquanto Kaukuro tentava chamar a atenção da pequena para si. Mordi o lábio contendo a vontade de rir com a cena, Sora o olhou tão séria que parecia gente grande, as sobrancelhas arqueadas, muito parecida com a expressão de desprezo que Temari fazia quando algo a desagradava. Temari, diferente de mim, não escondeu a risada e o escarnio para com o irmão.

-Você fala mal de mim pelas minhas costas para ela, diga a verdade! –Kankuro dramatizou.

-Não preciso, você se envergonha sozinho. –Temari respondeu.

Eu e Manami não conseguimos evitar a risada com isso. Kankuro olhou feio para nós, mas continuou tentando com Sora. Em dado momento, os irmãos conversavam como se o resto do mundo não existisse, trocando farpas e camaradagem. Eu sabia que eles eram muito próximos desde sempre, tendo sido o único apoio um do outro em uma infância conturbada, e Temari era apegada ao irmão como ele era com ela. Me peguei pensando em como ela deveria sentir a falta dele morando longe e como essas visitas deviam ser preciosas para ela, ainda mais que ela não podia se deslocar para vê-lo, tanto por sua posição, como por ter uma criança pequena e pela situação em Suna.

Um toque de celular fez todos se calarem de repente e Kankuro demorou um momento para notar que era o seu próprio, soando de seu bolso. Ele pegou e olhou para o visor e depois para Sora.

-É o tio Gaara. –ele explicou para ela –Ele deve ter visto a sua foto que mandei pra ele ontem. –Sora virou-se para Temari, o ignorando totalmente, pedindo o pedaço de comida que ela levava a boca. Kankuro disfarçou o constrangimento e atendeu o aparelho –Bom dia, Gaara, você viu...

A fala de Kankuro se cortou, provavelmente interrompido pelo irmão do outro lado da linha. Seguiram-se um ou dois minutos onde Kankuro só escutava e emitia sinais que estava ouvindo, sua expressão se tornava séria e preocupada. Temari franziu o cenho e todos nós sentimos a tensão se formar no ambiente.

-Certo. –Kankuro disse por fim –Chego o mais rápido possível. –finalizou, ouviu mais alguma coisa e desligou o celular. Seu olhar se dirigiu a nós, como se só agora lembrasse que estávamos aqui, e de repente seu semblante se fechou, como quem precisa dar uma notícia ruim.

Senti-me arrepiar com esse olhar. A situação de Suna estava melhor, mas podia ter piorado de repente. Gaara estar ligando pessoalmente era um bom sinal, indicava que ele estava seguro e provavelmente ainda no poder, não estava fugindo nem nada parecido. Mas podia significar que a situação era séria.

-O que houve? –Temari foi a primeira a perguntar, trocando o peso de Sora de braço.

Kankuro olhou-a demoradamente, escolhendo as palavras. A tensão no ambiente se intensificou e Temari estava a ponto de repetir a pergunta quando Kankuro finalmente abriu a boca e começou a falar:

-Hideki estava indo para Suna com uma comitiva para decidir algumas questões com Gaara. –ele começou e Temari assumiu aquelas características em sua expressão que sempre vinham quando seu marido era mencionado e com aos quais eu não conseguia me acostumar –A comitiva foi atacada por ninjas rebeldes no deserto.

Meus olhos se arregalaram e olhei de Kankuro para Temari.  Esperei alguma reação de por parte dela, ficando tenso. Não sabia o que esperar, se ela expressaria pânico, ou alivio. Mas a reação dela logo veio e me deixou um tanto mais confuso: Seu rosto empalideceu e ela continuou olhando o irmão, como quem apenas espera que ele continue. Mas ele não continuou e por um momento eu pensei que era aquilo: Temari tinha se tonado viúva.

-Hideki-sama está vivo? –foi Manami que cortou o silencio profundo e perguntou.

O olhar de Kankuro se dirigiu para ela rapidamente e de volta para Temari.

-Gaara disse que não tem certeza. –ele respondeu –Mandou eu partir imediatamente e tentar interceptar a caravana com os sobreviventes pelo caminho, uma equipe já saiu de Suna para encontra-los.

Novamente, Kankuro pareceu esperar uma reação da irmã, assim como eu. Temari o encarou mais um segundo antes de assentir com a cabeça.

-Vá. –ela disse –Ligue assim que tiver notícias.

Kankuro confirmou e levantou-se, saindo em direção ao quarto. Em minutos, ele estava de volta e se despedindo rapidamente de todos nós.

-Shikamaru, por favor, avise o Kakashi-san. –ele pediu e eu concordei.

Manami o levou até a porta. Quando voltei meus olhos para a ponta da mesa que Temari estava com Sora, ela estava vazia. Me senti quase tonto, tudo acontecendo rápido demais. Eu não sabia bem como reagir a situação, mas por instinto me levantei e fui atrás de Temari. Sai na varanda, sem saber como me sentir. O maior motivo de eu não ter Temari em meus braços simplesmente poderia não existir mais. Uma sensação de jubilo se instalou em meu ser, seguida por uma angustia arrebatadora.

Temari estava já chegando na porta de seu quarto, Sora alheia a situação fazendo graça para a mãe que pareceu de repente despertar e pareceu perceber que ela estava ali. Temari segurou firmemente a criança em seu colo, sua expressão indecifrável, seus olhos expressavam sentimentos que eu não conhecia, eu não conseguia lê-la naquele momento e isso fez meu peito se apertar mais. Ela ainda estava pálida, seu semblante abatido. Ela tinha ficado abalada com a notícia.

As palavras de dias atrás ecoavam e minha mente. Eu me sentia sujo desejando o pior para o Towa. Ele era marido de Temari, pai da Sora. Eles eram uma família. Tudo o que eu era se sentia culpado naquele momento. A única variável que não se encaixava naquela equação era eu. Toda aquela situação, toda aquela obrigação de ser o guarda-costas de Temari me fizeram perder o foco da verdade absoluta que fazia parte da minha vida naquele momento. Eu era o passado de Temari, não seu presente, nem seu futuro.

Temari finalmente alcançou a porta e a abriu. Nossos olhos se cruzaram antes da porta fechar, mas ela pareceu não notar. Pensei em ir até lá, Manami passou por mim andando rápido e alcançou a porta do quarto de Temari antes que eu pudesse terminar minha linha de pensamento. Abriu a porta, entrando sem bater, o que não era seu hábito, mas imagino que dadas as circunstancias, ela nem mesmo estava pensando muito.

Eu acordei do estupor que minha mente estava com a porta fechando atrás das costas de Manami. Olhei para os lados, tentando pensar racionalmente. Temari estava sendo amparada por Manami e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito disso, ainda que a angustia em meu peito persistisse. Lembrei do pedido de Kankuro antes de partir como um estalo. Eu precisava avisar Kakashi dos acontecimentos. Passei a mão nos bolsos, constatando que meu celular estava no quarto.

Fui para meus aposentos, senti os músculos do meus pescoço tensos, eu estava nervoso e meu corpo estava reclamando. Não dei importância pra isso. Alcancei o celular, puis para discar o número do Hokage e me joguei na cama antes do terceiro toque. Kakashi atendeu quando já estava quase caindo na caixa postal e eu passei as informações sobre o ocorrido de forma sucinta, até porque eu próprio não tinha muita informação. Ele mandou que eu ligasse assim que tivesse mais notícias e desligou.

Eu queria dormi. Sim, eu sei, eu estava em missão, eu tinha que estar alerta, ainda mais com o que havia acontecido, mas minha mente trabalhava em conjunto com meus sentimentos naquele momento. Cobri meus olhos com um dos braços. A algum tempo que eu não me permitia dormir tanto quanto eu estava dormindo ultimamente. Meus pontos de fuga eram o trabalho, a bebida e o cigarro, e tendo dois deles sido retirados de mim dessa forma, me faziam querer me refugiar nos meus sonhos. Se dona Yoshino estivesse ali ela me faria levantar, furiosa, dizendo que eu estava dormindo demais, como ela fazia nos dias de folga em que minha mente não pregasse peças e me fizesse acordar cedo sem precisar. Minha mãe achava que eu tinha que manter a mente ocupada, e ela tinha razão.

Ali eu me sentia constantemente deslocado, sozinho, ansioso por viver uma vida que já não me pertencia. Aquela situação toda com Temari na varanda havia apenas complicado mais as coisas e havia me feito ouvir de Temari coisas que eu não estava preparado. Pensar demais era um dos meus defeitos – ou qualidades, eu nunca tinha realmente chego a uma conclusão sobre isso –mas as piores idiotices eu sempre fazia quando seguia meus instintos, dava vazão ao meu lado humano. Se eu tivesse parado para pensar em vez de seguir meu desejo, se eu tivesse me refreado, eu não teria transado com Temari daquela forma, eu não teria complicado tanto as coisas. E mesmo se eu tivesse cedido, se eu tivesse pensado só um pouco, não teria sido daquela forma, de pé, na varanda. O semblante assustado de Temari durante tudo aquilo que acontecia apenas vinha a minha mente cada vez mais, me fazendo me sentir bárbaro. Com todas as desconfianças que eu tinha, com todas as meias conclusões que eu tinha chego, ter feito aquilo com ela só me fazia sentir pior, mesmo que as palavras dela, as ações dela depois de tudo, tivessem me magoado profundamente.

Em algum momento das minhas reflexões eu dormi. Acordei com Manami batendo em minha porta e me chamando par jantar. Eu levantei um pouco anestesiado ainda e sai do quarto para a sala. Manami servia o jantar, Temari estava dando comida para Sora, o semblante inexpressivo. Sente-me e logo depois Manami sentou-se e nos servimos. Temari mais remexeu na comida do que comeu, Manami a olhava preocupada mais não disse nada. Eu pensei em várias coisas que eu podia falar, mas me mantive quieto. Assim que Sora terminou de comer, ela pediu licença e se retirou com a bebê. Troquei um olhar com Manami, senti a preocupação inundando meu peito e pensei em ir atrás dela, mas não agi. Eu já não estava com vontade de comer e aquilo fechou um nó em minha garganta. Deixei o prato quase intacto e Manami resmungou pesarosa:

-Vocês vão acabar doentes se não comerem direito.

Não discuti com a ama. Ela ficou sozinha a mesa e eu voltei para o meu quarto.

OoOoOoOoOoOo

Os dias que se seguiram foram tensos e desconfortáveis. Temari falava pouco, comia pouco e saia pouco do quarto. Meu peito se apertava em preocupação, mas eu ainda estava magoado. Também me excluía, recluso em meu quarto, e a casa se tornou absolutamente silenciosa. Até Sora parecia entender que algo ia errado e não fazia muito barulho. Eu parei de evitar as refeições, usando como desculpa para ver Temari sem parecer que eu realmente estava fazendo, preocupado e agoniado, tentando tirar alguma informação de suas expressões, esperando, como ela, notícias. Nós não conversávamos e Manami evitava falar muito.

Na manhã do quarto dia depois que Kankuro foi embora, levantei um pouco mais cedo, me sentindo muito inquieto. Quando cheguei na cozinha, Manami terminava de preparar o café.

-Ah, Shikamaru-san! –ela exclamou com um sorrisinho quando me viu entrando –Ia te chamar agora.

Temari entrou no cômodo logo em seguida, sem Sora. Manami lançou lhe um olhar questionador.

-Ela custou a dormir. –Temari respondeu, a voz sonolenta, olheiras embaixo de seus olhos que não eram provenientes de apenas uma noite mal dormida –Caiu no sono era madrugada já, deixei ela dormindo.

Manami assentiu e todos sentamos a mesa para tomar café. Novamente, o silencio e a tensão presente, Temari remexia a comida quase sem comer. De repente, o barulho de um toque de celular preencheu o ambiente e Temari teve um sobressalto. Houve uma troca de olhares entre nós três, um tanto involuntária, e Temari puxou o celular do bolso.

-É de Suna. –ela murmurou, olhando o visor. –Da licença.

Ela levantou e foi para a sala atender o telefone. Encarei meu prato mais poucos segundos antes de chegar à conclusão que eu não sentia fome, era inútil continuar ali. Repeti o pedido de Temari e levantei, Manami fez uma careta ao olhar para os pratos meu e de Temari praticamente intactos sobre a mesa. Decidi tomar um banho para despertar de vez e analisar os papéis que Kankuro tinha trazido.

Tentei não pensar na ligação que Temari estava atendendo na sala enquanto passava em meu quarto para pegar minha toalha e uma muda de roupa. Ignorei o máximo que pude a voz dela falando ao telefone e me enfiei rapidamente embaixo d’agua tão logo tirei a roupa e meus pensamentos rolaram soltos. Aquela ligação provavelmente era para dar notícias sobre o ataque e, nela, Temari seria informada se seu marido estava bem ou não. Meu estomago se agitou com as possibilidades que minha mente criava, senti nojo de mim mesmo mais de uma vez enquanto me ensaboava com certa raiva. Acabei tomando um banho mais longo do que eu pretendia, simplesmente não querendo encontrar a realidade que existia por detrás da porta. 

Sai do banheiro e não encontrei ninguém no caminho até o meu quarto. Ao mesmo tempo que uma curiosidade mórbida me corroía, eu estava com medo de saber a resposta para a pergunta que atormentava os habitantes daquela casa a quatro dias. Abri a porta do meu quarto, compenetrado em meus pensamentos e estaquei no lugar antes mesmo de dar o primeiro passo para dentro: O quarto não estava vazio como era de se esperar. Temari estava sentada de frente para a mesa de shogi, de frente também para a porta. Segurava uma das peças entre os dedos, girando ela, o olhar compenetrado em sua ação, a franja o cobrindo parcialmente. Pela sua linguagem corporal, percebi que ela notou minha entrada no quarto, mas ela não se mexeu.

-Temari. –eu chamei confuso, meu cérebro ficou um caos, ela não me olhou –Temari... O que você...?

Ela enfim levantou os olhos e seu olhar interrompeu minha fala. Seus lindos olhos verdes me fitaram com uma intensidade devastadora. Haviam tantas emoções desenhadas em sua íris que eu não soube nomear todas, mas meu coração apertou e disparou e eu senti vontade de chorar novamente. Chorar por mim, por ela, por nós, por tudo. Avancei um passo em sua direção e depois outro, nossos olhos ainda um no outro, trocamos sentimentos ali que jamais seriam ditos em voz alta. Eu me sentei do outro lado do tabuleiro, seus olhos ainda sem deixar os meus. Quando finalmente baixei o olhar para o tabuleiro, percebi que ela segurava o cavalo em suas mãos.

Não falei nada e fiz um primeiro movimento. Ela depositou o cavalo em seu devido lugar e seguiu, sem dizer absolutamente nada. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas algo me dizia que eu não demoraria a descobrir. Fiz uma nova jogada e esperei ela fazer a dela, sem pressa. Eu esperaria o quanto precisasse até ela estar pronta para falar. 


Notas Finais


KL: E aqui estamos nós com um capitulo tenso e cheio de culpa por parte do Shika. E claro, o mistério. Será que Hideki está vivo? O que será que vai ser do nosso casal se ele tiver morrido? Tema vai "aceitar" o Shika de volta? :O
Não esqueçam de comentar,o feedback de vcs é muito importante pra gente!

Lily: Então gente, esse é um capítulo interessante pra mim. Shika está lidando com seus sentimentos e sensações, ele está se sentindo dividido, e errado. Eu gosto de lidar com as emoções dele, eu gosto de imaginar e sentir com ele toda essa situação. Espero que gostem beijos.


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