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História Make it Rain - Make it Rain - Parte I


Escrita por: LilyCosci e CorregioKL

Notas do Autor


Música do capítulo: Make it Rain - Ed Sheeran

Capítulo 16 - Make it Rain - Parte I


As jogadas continuaram em silencio. Eu não levantei os olhos do tabuleiro em nenhum momento e pelo que pude perceber ela também não. Por algum motivo, o silencio me fez bem em vez de me deixar agoniado por uma resposta, quase como se ela não importasse mais. Não me aprofundei nos pensamentos sobre isso, aproveitando a situação e me concentrando no jogo. Jogada após jogada, Temari e eu fomos desenvolvendo uma estratégia simples e não muito pensada. Quando, depois de alguns minutos eu dei o xeque-mate, ela tirou as mãos do tabuleiro e encolheu para seu colo, deixando claro que não queria outra partida.

Nesse momento, levei meus olhos para ela. Temari continuava encarando o tabuleiro, sem me olhar. Suspirei, pensando no que fazer, no que dizer, mas sem saber qual era a situação para agir de alguma forma. Pensei e repensei no que podia ser dito, mas antes que eu chegasse em uma conclusão, ela começou em voz baixa:

-Era Hideki no telefone... –ela deu uma pequena pausa e apertou os dedos de uma mão com a outra –Tirando um braço quebrado e duas costelas trincadas, ele está bem.

Senti momentaneamente alivio, a culpa por eu desejar a sua morte se esvaindo de mim. Logo em seguida, meu coração se apertou e eu tive que me segurar para não contorcer minha expressão em uma careta. Ele estava vivo. Hideki estava vivo, não totalmente bem, ele havia se ferido, mas estava lá, como uma muralha. Olhei para Temari, tentando ficar inexpressivo, me perguntando o que ela queria ali, o que queria trazendo essa notícia para mim ela mesma.  Mas ela não me olhava. Seu olhar estava perdido, encarando o tabuleiro sem realmente vê-lo. Ela havia me procurado, mas mesmo assim o que ela pensava era uma incógnita. Não parecia feliz com a notícia, muito menos aliviada. Seu semblante vazio, perdida, parecia evitar sentir qualquer coisa, assim como evitava demonstrar qualquer coisa.

Suspirei audivelmente. Arrumei meu lado do tabuleiro rapidamente e fiz um movimento.

- Sua vez. – falei pela primeira vez desde que ela entrara no quarto, a voz calma.

Seja lá o que ela sentia, fosse tristeza ou preocupação, e eu não sabia, ou não queria admitir nem pra mim mesmo, ela parecia precisar de um momento de compreensão. Temari parecia ter vindo a mim pedir apoio, pedir para ajudá-la esquecer um pouco de tudo aquilo. Ela parecia sozinha e estava ali para não estar mais. E eu, mesmo dentro de meus sentimentos feridos, jamais conseguiria deixar de estender a mão para ela.

Seus olhos focaram novamente e ela me encarou parecendo não ter entendido, mas sua expressão clareou e ela arrumou rapidamente seu lado, fazendo um movimento. Sua expressão se suavizou, mas ela não sorriu e seus olhos não deixaram de parecer opacos. Jogamos mais uma partida, eu ganhei mais uma vez, ela não estava concentrada de forma alguma. Quando ela começou a arrumar novamente as peças, eu pigarrei.

-Sora não acordou ainda? –perguntei, pondo minhas peças no lugar. Talvez falar da filha a animasse de alguma forma.

-Eu... –ela suspirou –Não sei. Pedi pra Manami ficar com ela, caso ela não chamasse por mim quando acordasse.

-Entendi. –respondi.

Ela realmente queria esvaziar a cabeça, cheguei à conclusão. Ela voltou a suspirar depois de algumas jogadas, mudando a posição das pernas pra ficar mais confortável.

-Assim que acordei... –ela falou após mover sua torre –Vi uma mensagem de Tenten no meu celular. Ela chegou hoje da missão.

-Oh! –exclamei, interessado que ela quisesse manter algum assunto –Vai voltar a treinar com ela, então?

-Não. –ela respondeu com uma careta –Ela disse que vai sair novamente em dois dias e pediu desculpas.

Levantei as duas sobrancelhas.

-Isso é ruim. –respondi.

-É sim. –ela concordou –Sinto falta. Estava a tanto tempo sem me exercitar, fazer meu chackra trabalhar comigo e para mim. Agora que tinha me habituado novamente...

Ela encerrou a fala, observando o tabuleiro, parecendo perceber que eu a estava encurralando.

-Bem... –suspirei –Sou um ninja também... Sabe?

-E o que tem? –ela respondeu, sem tirar os olhos do tabuleiro.

-Posso treinar com você. –terminei o raciocínio.

Ela levantou o olhar, me encarando surpresa. Ela havia sido grossa comigo, falado coisas desnecessária. Provavelmente tinha pensado que eu nem mesmo aceitaria a companhia dela para jogar shogi, e eu aceitei. E ainda mais agora, estava oferecendo continuar a ajuda-la, distrai-la, fortalece-la. Acho que isso a deixou em dúvida de várias formas e eu me mantive calado enquanto ela pensava. Em minha mente, eu me chamava de idiota por dar a ela tudo de mim o tempo todo. Mas não havia o que fazer. Eu a amava, ela podia levar tudo de mim.

-Certo... –ela se decidiu por fim –Começamos a tarde, então.

Eu assenti e fiz minha jogada. Temari baixou os olhos para o tabuleiro e bufou, vendo que estava a ponto de levar um xeque-mate novamente. Eu me permiti um pequeno sorriso com isso e ela revirou os olhos ao olhar para mim.

OoOoOoOoOoOoOo

Já fazia uma semana desde que eu e Temari havíamos estabelecido uma rotina de treinos durante a tarde. Ela estava bem melhor do que quando tinha voltado a treinar com Tenten, seu preparo físico e seu controle de chackra mesmo não sendo ainda como eram antes, tinha evoluído bastante com os treinos da mestra das armas. Porém, eu já havia visto aquela situação antes: Nós estávamos nos aproximando, de novo, e, de novo, a imagem que o marido ela representava para mim como um empecilho, se tornava efêmera e distante. Mais fácil do que da primeira vez, cada vez mais as conversas, durante e após o treino, se estabeleciam com normalidade. Sem falar das longas horas jogando shogi e brincando com Sora, que parecia contente de voltar ao meu quarto e ter as peças de shogi para tentar pegar. Manami gostava de nossa aproximação também, podia ver isso em seus sorrisos fáceis quando nos via junto.

Já eram quatro da tarde e eu e Temari fazíamos um treino de taijutsu. Qualquer ninja experiente que nos visse deduziria sem dificuldades que esse não era o nosso forte, o que exigia uma atenção maior da nossa parte, mas não deixando de ser importante para o exercício do corpo e dos reflexos. Sora tinha dormido a cerca de meia hora atrás e Manami a levado para dentro. Eu e Temari trocávamos uma serie de chutes, defesas, socos, rasteira. Temari estava com o cabelo preso em dois rabos, a parte da franja se prendia na testa devido ao suor, o corpo vestido em uma yukata roxa e eu praguejei internamente quando ela quase me atingiu por minha distração em admira-la, achando-a tão linda. Eu avancei e ela se defendeu, voltando a me atacar. Me perdi novamente em sua imagem enquanto defendia e só percebi como estava longe quando o peito do pé de Temari acertou em cheio minha bochecha esquerda, me empurrando para trás.  Por sorte estávamos apenas treinando, o que fez com que o chute não fosse forte o suficiente para me machucar de verdade, mas não impediu de doer. Exclamei, levando a mão para a área atingida e Temari se aproximou, um pouco ofegante por conta do exercício.

-Pelos céus, Shikamaru! –sua voz soou indignada e preocupada. –Como você leva um chute desse? Ta tudo bem?

-Sim, está. –respondi e levantei a cabeça, que estava abaixada por conta da pancada, o suficiente para olha-la.

Seu olhar continuou preocupado, o cenho franzido.

-Deixe-me vez. –ela mandou, estendendo a mão para tirar as minhas.

-Não precisa. –respondi me afastando um pouco.

-Não seja idiota, venha cá! –ela disse como uma mãe dando uma branco no filho e eu cedi, suspirando pesadamente e tirando a mão de cima da onde ela atingiu.

Ela segurou meu queixo e virou meu rosto de lado, seu toque delicado, de quem sabe cuidar de machucados. Ela era mãe, afinal. Observei-a pelo canto do olho, os olhos verdes analisavam minha bochecha com interesse, o rosto corado por conta do exercício, os lábios avermelhados, o cabelo loiro desalinhado. Meus olhos admiraram cada detalhe dela.

- Ai! – Reclamei quando ela tocou com a ponta dos dedos o local que latejava.

Ela soltou uma risada leve

-Mas continua um bebê chorão mesmo! –ela exclamou e meu estomago revirou com o antigo apelido –Está inchando, mas não machucou muito. Mesmo assim, melhor colocar gelo.

Mas eu já não escutava o que ela tinha a dizer. Tudo que ela dissera depois do apelido, pra mim, foi apenas o movimento dos seus lábios. Aqueles lábios que eu tinha vontade de beijar de novo, que fazia já duas semanas que eu não provava. E sim, eu estava contando os dias desde a fatídica transa na varanda. Meu coração disparou de repente quando seus olhos encontraram os meus e ela os arregalou de leve quando viu a intensidade do meu olhar.

-Shikamaru... –ela começou.

-O que? –perguntei, tornando o espaço entre nós menor ainda.

Ela não respondeu, sustentou meu olhar, o rosto avermelhado deixava-a tão encantadora. Me lembrava de quando ela era tão tímida que de fato minha aproximação a acanhava. Toque sua bochecha vermelha, ela fechou os olhos, abriu os lábios pra dizer algo, acariciei de leve o local onde estava minha mão, ela fechou os lábios sem dizer nada, não abriu os olhos e eu entendi aquilo como um convite ao que eu queria fazer.

Eu a beijei.

Com calma, com doçura, com ternura. A mão que não estava em sua bochecha foi para sua cintura e eu a trouxe pra mim, sentindo o corpo tão quente junto ao meu. Seus braços laçaram meu pescoço e ela correspondeu, os lábios se entre abrindo para receber minha língua. Beijei-a com a serenidade que devia ter a beijado duas semanas atrás na varanda, com o carinho que eu queria mostrar. Não o desejo que queimava, não a paixão devastadora. Mas todo o amor que eu sentia por ela e eu tinha trancado tão porcamente em meu peito, deixei trasbordar, fiz ela sentir sem precisar dizer.  Terminamos o beijo tão devagar quanto o seu início, num leve encostar de lábios. Abri os olhos, mas não a olhei. Trouxe-a mais pra mim, para meus braços, a abracei e ela se encolheu entre eles, afundando o rosto no meu ombro e nós ficamos um instante abraçados, corações acelerados um contra o outro, parecendo jovens apaixonados.

E não era o que nós éramos?

Ela levantou o rosto, escorregando as mãos pelos meus ombros em um leve carinho e tentou se afastar. Eu fechei os braços ao seu redor, dizendo sem palavras que não queria que ela saísse dali, ela suspirou. Encontrei seus olhos de novo e ela me olhava com ternura. Ela tocou meu rosto, seus olhos ficaram tristes. Encostei minha testa na dela, implorei em um olhar.

-Shika... –  ela olhou para meus lábios, mas não permitiu que eu me aproximasse, suas mãos foram para os meus braços os segurando. Ela fechou os olhos. -Não... Não tem uma forma disso acabar bem. Nós só vamos nos machucar... Mais.

-Temari... –eu tentei, mas ela se afastou e me mandou seu olhar resoluto, firme de repente, aquele que ela sempre assumia quando estava decidida.

-Shikamaru... –ela voltou ao meu nome, mas o disse de forma calma –Essa situação é impossível.

Eu podia ver o pesar por detrás da decisão. Eu encarei o rosto bonito, sabendo que ela tinha razão. Meu coração doendo, o gosto dela ainda na minha boca, o meu corpo sentindo falta do calor dela.

-Nós...

-Vem colocar gelo nesse rosto. –ela desviou o assunto, virando de costas para mim e andando para dentro da casa antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa

Encarei suas costas por um momento antes de segui-la. Eu não sabia mais o que fazer, me sentia cada momento mais impotente. Ela tinha cedido novamente a mim, querido meu beijo, tinha dito entre linhas que queria a mim. Temari não queria se machucar e me machucar mais e eu, meu cérebro, a parte pensante do Shikamaru, entendia isso. Meu coração, diferentemente, queria ela independente das consequências.

Manami estava na cozinha e olhou assustada para nós por um momento antes de rir

-Céus, Temari-sama! –ela exclamou –O que o Shikamaru-san fez pra você bater nele desse jeito?

Temari deu uma risada sem graça e Manami se virou para a geladeira para pegar o gelo para mim. Temari avisou que iria olhar Sora e saiu rapidamente da cozinha, me deixando sozinha com a ama, que me entregou as pedrinhas de gelo envoltas em um pano de prato limpo.

-Seu celular estava tocando na mesa da sala. –ela disse quando me viu posicionar o pano no local machucado.

-Obrigada por avisar. –agradeci e segui para a sala, para pegar o aparelho.

No visor mostravam duas chamadas perdidas. Abri as chamadas e descobrir serem de minha mãe. Nós nos falávamos pelo menos uma vez por semana, ela as vezes trazia alguma coisa pra mim de casa, então não era algo anormal que ela estivesse me ligando. Sentei no sofá, achando melhor retornar a ligação de uma vez e ver se ela precisava de algo.

-Pronto. –a voz de dona Yoshino soou do outro lado da linha.

-Oi, mãe. –respondi.

-Ah, Shikamaru! –ela exclamou –Por que não atendeu quando liguei?

-Estava treinando com a Temari. –respondi com um suspiro cansado.

-Entendi. –ela afirmou e emendou: -Amanhã as duas horas você precisa estar no salão de reuniões do clã. Já avisei o Hokage-sama, ele vai mandar alguém para te cobrir.

Franzi o cenho. Reuniões do clã Nara eram algo que eu estava acostumado desde que meu pai achou que eu tinha idade para acompanha-lo, como líder do clã, quando eu tinha uns onze anos. Desde que ele havia morrido, eu não havia assumido seu lugar ainda, por motivos internos, mas eu sabia que essa data se aproximava. Suspirei audivelmente, minha mente trabalhando de forma rápida e chegando a conclusões sobre o motivo dessa reunião repentina.

-Pode me adiantar o assunto? –perguntei, mesmo já tendo alguma ideia.

-É sobre a liderança do clã, Shikamaru. –ela respondeu  -O que mais te tiraria de uma missão?

-Certo, estarei lá. –respondi querendo encerrar o assunto de uma vez.

Minha mãe desligou e eu suspirei de novo, sentindo a cabeça começar a doer.

OoOoOoOoOoOoOo

Acordei tarde, tendo dormido mal pelos pensamentos que faziam minha cabeça ficar mais e mais cheia. Acabei acordando mais tarde que o costume e perdendo o café. Quando cheguei a sala, Temari brincava com Sora em seu tapete.

-Bom dia. –eu disse e ela levantou os olhos pra mim, meu estomago deu uma cambalhota.

-Bom dia. –ela respondeu um pouco incerta e observou: -Seu rosto desinchou, que bom.

-Sim... –respondi, passando a mão na bochecha que ela tinha acertado no dia anterior.

Nós não tínhamos nos falado pelo resto do dia e aquele era o primeiro momento onde nos encarávamos depois daquilo. Eu queria dizer a ela algumas coisas ainda, eu queria contra argumentar. Por outro lado, eu estava esgotado. Na minha cabeça, aceitar que ela estava certa e que devíamos manter nossa relação como estava era melhor.

-Vamos treinar hoje? –ela perguntou de repente, me tirando de meus pensamentos.

Olhei-a me fitando entre a esperança e o receio. Eu esperei que ela fosse tentar se afastar de mim depois de ontem, que aquele tratamento seco voltasse e que voltássemos à estaca zero. Mas, ao que parece, ela estava levando a coisa de sermos amigos mais a sério agora do que em qualquer momento desse mês que já havia se passado desde que ela chegara. Suspirei, lembrando da ligação da minha mãe.

-Não vai dar. –respondi –Tenho uma reunião no meu clã hoje. Fui avisado ontem à tarde. Kakashi vai mandar alguém pra me cobrir hoje, mas como falei com minha mãe, e não com ele, não sei quem.

Temari franziu o cenho.

-Você já assumiu a liderança? –ela perguntou interessada.

-Ainda não. –respondi –Mas aparentemente a reunião é sobre isso.

-Entendi...-ela suspirou. –Tomara que tudo dê certo por lá.

-Obrigada. –respondi

Sora chamou sua atenção um instante depois de meu agradecimento e ela voltou a olhar para a filha. Sentei-me no sofá, meio sem ter o que fazer. Na verdade, eu até tinha, visto que eu nem havia tocado nos documentos que Kankuro trouxera em sua visita. Eu não me esqueci deles, mas depois que Kankuro foi embora, a casa foi tomada por uma expectativa intensa atrás de notícia de Towa, se aquele merda estava ou não vivo. Eu sei, eu não devia chama-lo de merda, ele era o marido de Temari, eu era a variável sobrando ali, mas eu simplesmente não conseguia não sentir raiva dele. Eu nunca teria uma simpatia por ele. Eu poderia estar casado com Temari naquele momento se não fosse por ele, não excluindo nossa própria culpa nessa história, minha e dela. Mas com toda essa situação, eu simplesmente não conseguia me concentrar em nada.

E bem... Na última semana eu voltei toda a minha atenção àquela que era praticamente minha dona. A verdade era que eu podia notar como ela precisava de atenção, de se distrair e estar acompanhada de alguém que a fizesse se sentir ela mesma e como ela se sentia assim comigo e como isso fazia bem a ela e eu de forma simples deixei o resto de lado e me dediquei a ela. Eu não conseguia deixar ela de lado, eu simplesmente não me importava em deixar outras coisas de lado por Temari. Mesmo nosso relacionamento não passando do que era agora. Fazer bem a Temari me fazia bem.  Eu era uma pessoa racional, mas quando se tratava de Temari, ela tomava conta de mim, minha mente se apagava. Ela havia sido racional após aquele beijo, ela havia pensando em tudo que esse envolvimento causaria, e eu? Eu queria apenas ela, eu não queria pensar em nada

Fiquei observando as duas loiras brincando por um tempo até que Sora pareceu notar minha presença e levantou, caminhando até mim e batendo as duas mãozinhas no meu joelho. Fiz algumas caretas pra pequena que tentava imitar, enquanto Temari observava do tapete no chão, rindo de nós dois. Esses momentos me faziam bem e mal ao mesmo tempo, mas eu não gostava de me aprofundar nos pensamentos sobre eles.

Manami nos chamou quando o almoço estava pronto e Temari pegou a filha no colo, indo para a cozinha com ela, e eu a segui.

Um tempo depois de termos almoçado, Manami avisou que havia alguém na porta. Eu fui recepcionar o que era provavelmente o ninja que cobriria minha saída e qual não foi minha surpresa ao encontrar Hinata. Ela entrou e Temari e ela se mostraram animadas quando se viram, as duas não se encontravam desde um pouco antes de Temari se casar. Deixei as duas conversando e avisei Manami que eu não sabia que hora eu chegaria, mas que Hinata estaria ali se precisassem de alguma coisa.

O salão de reuniões do clã Nara era próximo ao começo do bairro que pertencia ao clã e isso significava que não era muito longe da casa onde eu estava. Apesar da manhã tranquila, minhas preocupações voltaram junto com a minha aproximação do local. Quando cheguei por fim, minha cabeça já fervia. Entrei na sala onde aconteciam as reuniões e todos os anciões do clã já estavam sentados em seus devidos lugares. O lugar principal da mesa, antes ocupado pelo meu pai, permanecia vazio, como passou a estar desde a quarta guerra ninja, assim como o lugar onde eu costumava sentar durante as reuniões. Minha mãe estava sentada a esquerda, sinalizando ser a esposa do líder, mesmo que ele já fosse falecido. Cumprimentei a todos e sente-me no meu lugar e, como faltava apenas eu, a reunião deu início. O mais velho dos anciões começou a falar sobre minha futura liderança dentro do clã e como isso já era aguardado e estava perto de acontecer. Um por um, os anciões se pronunciaram até que revelaram o verdadeiro motivo de me convocarem até ali. Meu cenho se franzia mais a cada fala e eu ficava cada vez mais incrédulo, minha cabeça voltou a doer. Eu absorvi o que era dito, sentindo-me levemente enjoado. A reunião se deu fim junto com o meu humor e sem que eu tenha pronunciado uma única palavra. Cadeiras se arrastavam enquanto eu ainda fitava o nada.

-Shikamaru? –minha mãe chamou depois de quase todos já terem deixado a sala e eu não ter ao menos me mexido.

Olhei para ela.

-Você concorda com isso? –perguntei, franzindo o cenho.

Ela suspirou.

-Vamos tomar um chá em casa. –desviou o assunto, já dando as costas para mim –Kakashi-sama deu até o fim da tarde para você voltar para seu posto, temos algumas horas.

Demorei ainda um momento para levantar e ir atrás dela, mas fui por fim. Andei um pouco atrás dela, em silencio, até chegarmos em casa. Desde que aquela missão começara eu não punha os pés dentro de casa e me senti acolhido pelo ambiente familiar quando tirei as sandálias ninjas e adentrei o recinto. Minha mãe preparou o chá ainda em silencio, enquanto eu esperava pensativo na sala. Ela sentou à minha frente depois de colocar a bandeja na mesa de centro e nos serviu. Encarei a xicara por um momento e bufei um tanto irritado.

-Você concorda ou não? –perguntei novamente, levantando os olhos pra ela.

Minha mãe suspirou de novo e levou a xicara aos lábios, sorvendo um pouco do liquido, e repousou-a novamente no pires.

-Em qualquer outra situação, é algo que eu jamais concordaria. –ela começou a responder, enfim olhando pra mim –Mas, dado tudo o que está acontecendo com você e como sua cabeça parece perdida... Sim, eu concordo.

-Não está acontecendo nada. –eu me defendi ainda irritado –Minha cabeça não está perdida.

-Não tem ninguém nessa sala para você tentar esconder, Shikamaru. –ela continuou franzindo o cenho. –Nós dois sabemos o que vem acontecendo nos últimos tempos. –ela deu uma pausa –Pense bem filho... Olhe... Eu conheci a moça. –eu grunhi frustrado, não acreditando que ela tinha feito aquilo, ela ignorou e continuou: -Ela é uma mulher nova e gentil, não é uma kunoichi e não é a criatura mais inteligente que você vai encontrar por ai, mas também não é aquela mocinhas burrinhas e inocentes. Ela vai ser uma boa esposa e mãe, Shikamaru. Do que mais você precisa?

-De gostar dela? –ele perguntou com ironia –De conhece-la? De querer me casar?

-Não é uma imposição, você sabe. –minha mãe continuou –Você pode escolher pelo sim ou pelo não. Mas o clã está preocupado, Shikamaru. Ino e Chouji se casarão no mais tardar no fim do ano que vem e, além de você assumir a liderança do clã Nara, há a questão da parceria entre os clãs.

-Um casamento arranjado não é o que eu quero pra mim. –respondi, mesmo sabendo que, apesar de minha mãe se preocupar com meu bem estar e felicidade, ela não estava errada em pensar no clã também.

-E continua essa vida de bebedeira, noitada, cigarro e mulher que você está levando é? –ela questionou severamente. –Tenho esperança que Hazumi possa colocar algum juízo na sua cabeça, que a responsabilidade de uma família faça isso com você, já que todo o resto não tem feito.

-Eu não falto com minhas responsabilidades. –rebati –Um casamento dessa forma não vai me fazer mudar ou me fazer feliz.

-Você é quem sabe. –minha mãe determinou, seu olhar duro sobre mim. –De qualquer forma você tem um prazo. Espero que você tome uma decisão sensata depois de pensar sobre tudo isso.

-Vou tomar. –respondi secamente e me levante, sentindo raiva.

Minha mãe e eu trocamos um olhar. Olha-la de cima dessa forma nunca foi algo que eu gostasse e, quando seu semblante se entristeceu e seus ombros caíram eu me senti ainda pior.

-Se seu pai estivesse aqui, você não estaria nessa situação. –ela murmurou, creio que mais pra ela do que pra mim.

Aquilo me feriu mais ainda e eu virei as costas e sai. Eu sabia que ela choraria agora. Ela choraria a sua dor e a minha. Eu sentia toda aquela dor se misturar com a raiva e a raiva se inflar mais e mais. Eu sabia que não estava sendo justo com a minha mãe, ela só queria meu bem e o bem do clã e também se culpava por não conseguir me tirar do buraco onde eu havia me colocado. Mas a raiva queimava devastadoramente dentro de mim, como fogo: Raiva dela, do clã, de Suna, de Towa, de Temari. De mim. Andei pelas ruas de Konoha em direção a casa onde eu estava morando, perturbado, agoniado.

Ao passar pelo mercado, entrei sem pensar muito e fui direto para a sessão de alcoólicos. Eu precisava afogar aquela sensação maldita de impotência perante o pedido do clã e todo o resto. Sai do mercado com a garrafa na sacola e rumei o resto do caminho até a casa. Um casamento arranjado. Uma mulher que eu tinha visto, apensas visto, nunca nem mesmo trocado alguma palavra ou sido devidamente apresentado, uma única vez.

Minha mãe achava que era o melhor. O clã, visto que eu nunca namorei publicamente ou mesmo mostrei interesse por alguma mulher, achava o melhor. Meus amigos estavam casando e eu já tinha imaginado que em algum momento isso ia ser cobrado de mim, mas não imaginava que dessa forma. Praticamente uma ordem disfarçada de sugestão. Negar era dizer que eu não pensava o que era melhor pro clã, ao menos que eu tivesse uma outra pretendente a noiva.


Notas Finais


KL: Olá pessoas! E nós estamos aqui novamente com mais um capitulo tenso. Hideki está vivo, como muitas de vocês acreditaram, mas Shikamaru e Temari se aproximaram. Temari está mostrando-se cada vez mais receptiva ao Shika e de repente temos esse momento onde ela diz não querer nem se machucar mais nem que ele se machuque. Ainda temos esse pedido do clã e a do de Yoshino que fez meu coraçãzinho se apertar. Como será que vão ficar as coisas agora?
Capitulo esse que leva o nome da musica que também é o nome da fics. Nós tinhamos muitos planos para esse capitulo, por isso precisamos dividir ele em duas partes. Espero que tenham gostado desse primeiro momento e sofrido com a gente, porque esse capitulo foi pensado desde o começo da fics pra ser como está sendo e ele é um capitulo muito especial.

Lily: Eu amei esse capítulo, eu sou suspeita pra falar. Esse foi um capítulo muito aguardado, só pelo nome já dá pra saber o porque. Nós tivemos que dividir em duas partes por estar muito grande. Eu espero de coração que gostem.
Beijoos


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