História Make Me Love You - Verso quatro - Eu não pude segurá-la, apenas hesitei...

A casa onde aconteceria a festa não era tão longe de onde eu morava, embora, enquanto caminhava com Min Yoongi em um silêncio desconfortável, parecesse do outro lado do mundo.

Nós não tínhamos assuntos em comum, então ninguém começou uma conversa ou, pelo menos, fez algum esforço por uma. Ele andava com as mãos no bolso do moletom pesado, enquanto escutava suas músicas com apenas um dos lados do fone de ouvido na orelha – quase sendo gentil por não ignorar totalmente minha presença. Eu, por outro lado, tentava não olhar em sua direção na maior parte do tempo, pensando em coisas aleatórias para me distrair - que iam desde o que seria o almoço na faculdade no outro dia até se o senhor Choi estaria fazendo com o meu roteiro.

Quando dobramos na última esquina até a casa, me perguntei se Yoongi não havia errado o caminho. Tudo estava deserto e silencioso demais - nada parecido com os filmes adolescentes clássicos em que me baseava. Quase como se lesse meus pensamentos, ele apontou para o final da rua e explicou:

— A festa vai acontecer na última casa. O terreno é grande e a casa fica bem nos fundos, então realmente não precisamos nos preocupar com os vizinhos chamando a polícia.

— Não estou preocupado com isso - ajeitei minha camisa, meio incerto. Eu só queria parecer um pouco mais relaxo e experiente do que verdadeiramente estava e era, mas minhas palavras não foram convincentes. O primeiro erro de um ator: não ter o corpo e a fala trabalhando juntos.

— Deveria... Já pensou sua mãe descobre que você andou indo em festas invés de estudar a História das Artes Cênicas Musicais? — ele recomeçou a andar, dividindo-se entre guardar os fones e rir da minha cara apavorada.

— Isso não foi engraçado.

— Para mim, foi.

— É porque você deve ter um péssimo senso de humor.

Passei tentando parecer confiante e continuei caminhando em sua frente até finalmente chegarmos a tal festa. Ou quase.

Realmente Yoongi não havia mentido. O terreno era enorme e a casa ficava tão afastada que, mesmo estando na calçada em frente a ela, tudo o que conseguia ver eram algumas silhuetas dançando no gramado e luzes piscando, mas nada de barulho.

O acesso a festa parecia lamacento - tendendo a piorar a cada minuto, uma vez que ainda garoava - e tudo o que tínhamos para nos salvar era um caminho estreito de pedras bem polidas. Era até bonito, para falar a verdade. As pedras tinham formatos retangulares e eram de um marrom quase fosco; entre uma e outra havia tufos de grama bem cuidada. Além disso, uma flor solitária nascia entre as pedras também. Era amarela e quase invisível a noite e... Yoongi pisou em cima dela antes de eu acabar minha avaliação, deixando no lugar um emaranhado de amarelo e preto.

Argh.

Quando finalmente percebeu que eu ainda não o seguia, olhou para trás parecendo confuso.

— Você vai ficar ai encarando o chão a festa inteira?

Mordi os lábios, pouco amistoso. E sem dizer absolutamente nada, sorri sem humor em sua direção, o acompanhando até a entrada.

Mal havíamos passado pela batente quando Jimin pulou sobre Yoongi, quase o derrubando. Os dois gargalharam como se aquilo fosse uma piada interna e começaram a conversar sobre coisas que eu realmente não conseguia entender. Me senti quase um intruso na conversa. Preferi os deixar, mesmo que entrar em um lugar, com um monte de desconhecidos dançando e bebendo, solitário, não fosse a melhor escolha da noite.

Mas, por sorte, ainda tinha opções.

Eu poderia encontrar Jeongguk, se ele já estivesse ali - poderíamos conversar um pouco e falar sobre coisas sem sentido, como sempre. E se não funcionasse, Namjoon e Hoseok não pareciam companhias ruins, pelo contrário.

Meu celular vibrou com uma mensagem. Seokjin.

De: Jin-ombros-largos

22:58

‘’Você já está bêbado?’'

De: TaeTae

22:59

‘’Eu não bebo álcool, Seokjin, você sabe’’

De: Jin-ombros-largos

23:01

‘’Hm, então você vai sofrer. Eles vão querer te empurrar tudo o que é bebida quando souberem que você não bebe. Pelo menos, comigo foi assim’’

De: TaeTae

23:02

‘’Teve um momento da sua vida que você não bebeu como se não houvesse amanhã? Estou impressionado’’

De: Jin-ombros-largos

23:03

‘’Foram eles que me corromperam e me jogaram nessa vida... CUIDADO, TAEHYUNG, SE MANTENHA PURO E LIMPO’’

De: TaeTae

23:03

‘’Vá se ferrar, Seokjin’’

De: Jin-ombros-largos

23:04

‘’Minha avó está me perguntando quando vou trazer minha namorada para ela conhecer mesmo eu repetindo mil vezes que sou gay. Além do mais, tenho que organizar os papéis para a lista de atores até amanhã. Acredite, Tae, já estou bem ferrado. Mas aproveite a festa’’

23:05

‘’Qualquer coisa, você sabe para quem tem que ligar’’

23:05

‘’192’’

Gargalhei alto, recebendo alguns olhares de estranhos.

Seokjin era um bom amigo, no geral. Ás vezes muito dramático e ás vezes meio criança, mas era alguém realmente leal e divertido. Nós conhecemos logo no primeiro período de teatro – eu saindo do ensino médio e ele de uma faculdade de direito não desejada, ambos realmente apaixonados pela atuação. Sempre foi muito honesto e aberto comigo também, mesmo que não fosse algo exatamente recíproco – mais ou menos como Seokjin sendo sincero sobre tudo e eu escondendo a minha sexualidade com medo de ele começar a suspeitar sobre a minha paixão platônica pelo meu melhor amigo, apenas observando melhor minhas atitudes.

Uma garota esbarrou em mim enquanto caminhava com três cervejas na mão – na verdade, no momento, duas e meia considerando que metade do conteúdo de uma delas caiu na minha blusa do Senhor dos Anéis, bem na cara do Frodo; por sorte Sam e Gandalf se mantiveram a salvo. A garota, um pouco mais baixa e com os cabelos castanhos espalhados por toda a cara, olhou para a mancha e começou a rir como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Por fim, ela virou para onde parecia a saída até a piscina, cambaleando invés de andar.

Olhando para o estado dela, não consegui ficar com raiva. Parecia perigosamente bêbada. Mesmo assim, minha camisa ainda estava manchada. Olhei em volta procurando por qualquer coisa que pudesse ajudar até finalmente encontrar a porta para a cozinha. Caminhei até lá, passando devagar pelos universitários com rostos levemente conhecidos da faculdade que não pareciam se importar nem com a minha presença e nem com as luzes coloridas refletidas em seus rostos.

A cozinha também estava cheia de pessoas.

Algumas se beijam, outras comiam, outras ainda apenas conversavam, mas todas bebiam. O barulho.  Me aproximei da pia sem muita dificuldade, passando a mão molhada na camisa para ver se, pelo menos, o cheiro horrível de cerveja desaparecia.

— O que está fazendo, Taehyung? — Hoseok perguntou, colocando sua cabeça perto da minha sem cerimônia. Quase caí para trás — Oh, desculpe.

— Derramaram um pouco de cerveja em mim e estou tentando melhorar isso - apontei para a mancha quase como se ela não fosse do tamanho da minha cabeça.

— Isso não vai sair assim, de jeito nenhum, acredite — ele levantou a sua bebida como um cumprimento — A propósito, camisa legal.

— Obrigado.

— E cadê sua bebida? Ainda não começou a beber? Quer que eu pegue o quê?

— Um refrigerante.

Ele olhou com as sobrancelhas cerradas.

— Um refrigerante?

— Uva.

Pareceu achar estranho, mas, por fim, não ligou e foi até a geladeira.

— Sem uva — disse, enquanto olhava dentro — Mas tem coca.

— Pode ser.

Hoseok pegou uma latinha e jogou para mim, mas sua mira estava realmente ruim, porque a bebida passou longe e acertou o balcão, me fazendo gargalhar.

— Um pequeno erro de cálculo, não é? — ele riu também, assim que recolhi a bebida do chão — Espero que não exploda na sua cara. Eu iria odiar ter que rir de você, mas riria mesmo assim.

Acenei concordando com Hoseok enquanto ele caminhava para fora, na direção da piscina, apenas parando para me chamar. Assim que passei perto de uma mesa vazia, deixei minha latinha ali por precaução. Não sabia exatamente para onde estava indo, mas isso não me preocupava em todo. Enquanto caminhava, me peguei olhando para a multidão procurando por um rosto bastante conhecido entre aqueles.

-— Jeongguk? — Hoseok sussurrou, seguindo meu olhar.

— Oi?

— Está procurando o Jeongguk?

— Estou, mas acho que ele ainda não chegou.

— Ele já chegou sim, acabei de ver ele em algum lugar que realmente não lembro, mas ele está por aqui em algum canto, certeza.

— Ah sim.

— Não se preocupe, a festa não é grande. Vocês vão se esbarrar qualquer hora. Por agora, vamos para a piscina.

Ele acelerou o passo até finalmente chegar ao seu destino, sendo acompanhado de perto por mim. Havia mais pessoas naquela área, mas o lugar era grande o suficiente para não parecer tão cheio quanto dentro da casa. Ao redor da piscina, as pessoas dançavam uma música estranha que eu não fazia ideia de onde vinha e se jogam, de vez em quando, na água fria. Ao meu lado, Hoseok estava bastante ocupado sendo uma pessoa carismática e popular; por onde passava cumprimentava todos e conversava rapidamente.

Eu, por outro lado, estava limitado aos sorrisos educados.

— Meu Deus — resmungou, quando não havia mais tanta gente a sua volta — Não sei quem são metade dessas pessoas. De onde surgiu tantos seres humanos que sabem meu nome, afinal?

Gargalhei mais uma vez, realmente certo de que gostava mais de Hoseok agora. Em um primeiro momento, ele pareceu confuso com as minhas risadas, mas me acompanhou depois de um tempo.

Rimos até chegarmos a uma mesa afastada, onde Namjoon, Jimin e Yoongi estavam sentados.

— Olha, gente — Hoseok chamou, assim que os alcançou — O Taehyung realmente veio.

— Nós sabemos, Hobi — Jimin disse, simpático, como se ele estivesse explicando o óbvio para uma criança — Nós já o vimos antes.

— Oh, sim.

Me sentei perto de Namjoon, que balançava a cabeça no ritmo da música; enquanto Hoseok sentou perto de Yoongi, que parecia uma estátua piscando. A música estava bem alta e era difícil manter uma conversa, então ninguém realmente falou por vários minutos - o que, estranhamente, não foi desconfortável ou ruim. Apenas ficamos olhando a festa acontecer, como se nem participássemos dela.

— Cansei! — Jimin gritou, de repente, ganhando alguma atenção — Eu preciso dançar agora mesmo!

— Você tem razão! — Hoseok bateu palma, animado — Vamos dançar!

— Eu gosto dessa música — Namjoon cantarolou a melodia, excitado — Estou dentro.

— E você, Taehyung? — Hoseok perguntou, já ao meu lado — Vem dançar com a gente?

— Não, obrigado — neguei com a cabeça veementemente  — Não sei dançar e nem quero.

— Tudo bem... — ele riu — E você Yoongi?

— Nem pensar — o Min respondeu mais rápido do que consegui contar os segundos — Vão vocês e dancem por mim.

— Ah, Yoon, vamos lá — Jimin empurrou seu ombro, manhoso — Essa música é legal, eu posso ensinar você.

— Nem com você me ensinando, Jiminie.

Os três não insistiram mais - aparecendo entender a derrota sem grandes problemas - e saíram da mesa, balançando os corpos antes mesmo de chegarem a pista de dança que ficava a poucos metros dali. Quando lá, se misturaram entre tantos outros que os perdi de vista.

Já ao meu lado, Yoongi mantinha-se neutro, mordendo os lábios uma vez ou outra.

Era engraçado ver como Min Yoongi mudava sua expressão séria e indiferente quando Jimin falava com ele. Era quase... Fofo. Ele até sorria docemente, parecendo sempre gentil.

— Por que você está soltando risadinhas para o nada, Taehyung? — ele perguntou, de repente, enquanto me encarava — Isso é bizarro.

— Ah — endireitei minha postura como se o problema fosse esse — Não é nada. Estava pensando em umas coisas aleatórias.

 Ele deu de ombros sem realmente se importar e começou a olhar algumas coisas em seu celular. Eu, por outro, cansado de o avaliar, continuei atrás de Jeongguk – não porque era obcecado por ele, mas porque era estranho ainda não tê-lo visto... Ou será que era mesmo obcecado?

— Que horas você vai voltar para sua casa? — Yoongi começou a falar do nada, ainda olhando para o celular.

— Não sei realmente — respondi — Preciso achar o Jeongguk e perguntar.

— Ele vai te levar em casa?

— Não, eu vou dormir na casa dele... Sempre faço isso quando vou estudar lá  — ri sem graça — E, para a minha mãe, é isso que estamos fazendo agora.

— E a mãe do Jeongguk sabe sobre a festa?

— Provavelmente, sim. Ela é bem mais liberal sobre isso que a minha mãe, então tenho certeza que ele não escondeu dela que vinha para cá.

— Ah sim.

A conversa morreu ali e, depois de algum tempo, começou a ficar desconfortável sentar em uma mesa com uma pessoa que nem olhava para você. Na verdade, eu parecia deslocado, quase indesejado.

— Bem, vou procurar o Jeongguk — avisei mesmo tendo certeza que não era necessário — Até.

— Ok, até.

Caminhei pela multidão, sem nem mesmo olhar para trás.