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História Make You Proud - I Miss You So Bad


Escrita por: LannaBrooks

Notas do Autor


Galere eu perguntei no Facebook se preferiam o capitulo inteiro ou dividido e a maioria pediu que fosse dividido em duas partes, postei logo essa parte e logo vem a outra. Lembrem-se que essa é só uma parte, é então não tem uma grande gancho pro próximo, beijinhos.

Capítulo 13 - I Miss You So Bad


Fanfic / Fanfiction Make You Proud - I Miss You So Bad

I MISS YOU SO BAD

OUTUBRO

Koo Junhoe

Já fazia cerca de um mês desde que vi Haeun pela última (pessoalmente, pelo menos), o treinamento na YG era insano e eu estava dando tudo de mim, mais do que nunca eu tinha certeza que aquele era meu destino e que meu propósito era encantar as pessoas com a minha voz. Estava completamente focado nisso, eu queria fazer bem e realizar meus sonhos. Hanbin, que sempre fora um líder exigente, estava nos enlouquecendo e eu não tinha certeza se a YG que tinha uma política tirana ou se era ele quem a tinha.

Desde que entramos na empresa o líder parecia ter baixado o capeta e estava ainda mais perfeccionista e nos repreendia com mais frequência que o habitual, ou seja, meu tempo pra romance era quase nulo e meu relacionamento cheio de skinship agora se resumia a mensagens no KakaoTalk e ligações de duração limitada no fim do dia. Antes regularmente nos víamos por FaceTime, mas depois de um tempo Haeun não quis mais esse tipo de chamada e passamos as ligações convencionais.

Algo me incomodava, porque eu sentia que ela estava um pouco distante ou que não me contava tudo o que estava acontecendo e não era o único, Yejin, Luna, Bobby e o próprio Hanbin tinham a mesma impressão. Mais de uma vez a questionei sobre isso e depois de se esquivar do assunto a noona apenas disse que tinha ido mal nas últimas audições que fez e que estava triste e cansada por isso.

– Hanbin hyung. – Chamei assim que ele fez menção de sair da sala de prática.

– Sim?

– Eu queria ver a Haeun hoje, será que tem problema? – Devolvi com outra pergunta. B.I deu um sorriso de lado que logo tratou de esconder.

– A partir das 16hs30min começa nosso dia de folga, cabeçudo, você pode fazer o que quiser. – Respondeu, nós tínhamos ido bem na avaliação mensal, o que resultou em um Hanbin bem-humorado. Assenti rapidamente me pondo de pé

– Hyung? Vocês tem se visto?

– Haeun e eu? Não, na verdade. Desde que nos mudamos, aliás, que ela se mudou, ficou complicado nos vermos. Quando ela morava na casa do appa era mais fácil encontrar com ela quando os visitava, mas sabe como é o clima com minha mãe de volta. Enfim, planejava vê-la hoje, mas vou deixar pra outro dia. Acho que minha irmã deve sentir mais saudade sua do que minha. – Explicou despreocupadamente.

– Não é bem assim, hyung. – Respondi sem conseguir conter o sorriso de satisfação. – Em todo caso vou dizer que você sente falta dela.

– Como quiser, também diga que ela tem que se alimentar direito. – Ele deu de ombros pegando o celular. – Sendo assim, vou marcar outro compromisso. – Completou mais pra si do que pra mim enquanto sorria travesso. Arqueei a sobrancelha e quando Hanbin saiu da sala cutuquei Bobby hyung.

– O Hanbin hyung está namorando de novo, não está?

Jiwon riu guturalmente. Os outros nos observaram com curiosidade.

– Não colocaria dessa forma, mas é como se fosse. – O mais velho respondeu com ar de mistério. Jinhwan revirou os olhos, não parecia muito surpreso, então provavelmente devia saber de algo que só o resto de nós não estava a par. Triple Kim e seus segredinhos.

– Conta isso direito, hyung. Quem é a pobre alma que aguenta o Hanbin hyung ligado no 220? Pensei que tinha terminado com a Lalisa.

– Não direi nadinha. Vou deixar vocês se surpreenderem. – Riu maldoso voltando a escrever suas letras pra uma música que Hanbin queria produzir.

Era óbvio que dali não ia sair mais nenhuma informação, bufei contrariado e levantei pra ligar pra Haeun. Tive que ligar cerca de três vezes até que ela me atendesse, o que me deixou impaciente.

– Junhoe? – Sua voz saiu mais aguda que normal, parecia mais uma súplica abafada do que uma saudação. Franzi o cenho.

– Aconteceu alguma coisa, aegiyah? – Devolvi com uma pergunta tentando parecer mais relaxado do que eu estava. Haeun pigarreou e tossiu um pouco.

– Por favor, vem me ver. – Respondeu e seu tom de voz urgente me deixou ainda mais alarmado.

– Noona, o que houve? Ta tudo bem?

– Está... Não pira, okay? Eu só peguei um resfriado. Quero mimo. – Completou adivinhando meu estado de espírito.

XXX

Desde que o pai oficialmente reatara com a ex-mulher, Haeun tinha se mudado para uma quitinete perto da escola, apesar de todos aparentemente terem superado os acontecimentos do passado e a própria mãe de Hanbin ter se desculpado e tudo mais, minha noona alegou que precisava se concentrar nos treinos e morar perto da escola a ajudaria, mas eu sabia que era um pretexto e na verdade ela queria evitar qualquer clima ruim em casa. Eu entendi os motivos dela, principalmente porque desde o fim das férias até o início das aulas, quando ainda nos víamos regularmente, Haeun e eu líamos o diário da mãe dela juntos e conversávamos sobre isso, sobre nossas infâncias e isso nos aproximou ainda mais.

– Até amanhã. – Anunciei quanto terminei minha rotina de passos pra nova música exatamente as 16hs30min, eu não queria perder um minuto da minha folga com Haeun, assim eu deixaria pra tomar banho no ape dela.

– Nunca tinha visto tantos dentes na boca de Junhoe. – Jinhwan me zoou deitado nas pernas de Bobby.

– Só porque vai dormir na namoradinha, diga a Haeun que estou ofendido que você não liga pra minha companhia ou a da Yejin. – Foi a vez de Jiwon hyung tirar com minha cara, Yoyo também riu, mas nada comentou. Vi que sentado ao lado da porta Kim Donghyuk fechou a cara em desconforto.

– Vou transmitir sua mensagem para minha namorada, mas não que ela vá se importar com isso. – Respondi frisando sutilmente a condição de relacionamento em que eu me encontrava com Haeun, tentei não sorri em direção ao Donghyuk, pois eu sabia que Jinhwan me repreenderia.

Parte de mim odiava esse clima mal resolvido, odiava sobrecarregar os hyungs com preocupações sobre possíveis brigas entre nós e também, eu sentia falta da minha antiga amizade com Donghyuk, nós éramos os maknaes, tínhamos várias coisas em comum, mas eu não sabia dizer o que ele queria, depois das férias ele parou de falar comigo, passamos a fingir que não existíamos um para o outro, não queria dar o braço a torcer, apesar de saber que eu não era nenhum santo, Donghyuk era quem tinha errado contínuas vezes, com Haeun, com Hanbin, comigo...

Em seguida saí da sala de prática já montando mentalmente o que faria. Primeiro um banho. Urgente. Talvez convidasse a noona pra me acompanhar, depois relaxar e comermos juntos assistindo a algum bom filme da nossa coleção.

– YA, Junhoe. – Donghyuk chamou quando eu já estava próximo ao elevador bufei virando em sua direção.

– Por que não voltamos ao estágio em que você não fala comigo e eu finjo que você não existe? Eu prefiro assim. – Rebati na defensiva, era automático.

– Eu... Junhoe, eu estou cansado, okay? – Ele suspirou encostando as costas na parede. – Sinto muito que estejamos assim agora, admito, em parte, que tenho culpa por tudo o que aconteceu, também não vou fingir que não gosto da Haeun, porque eu gosto. – Cerrei os punhos trincando a mandíbula no processo. – Mas eu entendo que meu timing está errado, minha oportunidade já passou e eu a perdi como um idiota. Agora só quero que ela seja feliz e eu sei que você a faz, melhor do que eu faria. Você venceu.

– Não tem essa de ganhar ou perder, isso não é um jogo ou uma competição. A noona não é um troféu. Ela é uma pessoa com sentimentos. – Rebati e eu tinha certeza que se ela me visse naquele momento se orgulharia de mim.

– Eu sei, June, o que eu quero dizer é que eu não serei um problemas pra vocês, okay? Eu prometi a mim mesmo que eu ia mudar minha atitude e me tornar um homem melhor para que um dia, eu seja merecedor de uma garota legal e um relacionamento tão bom quanto o seu ou o dos hyungs. Eu juro pelo meu pai, eu só quero voltar a ser amigos de vocês, acabar de vez com essa situação desconfortável pra todo mundo e que se eu me aproximar da Haeun é por amizade, porque quero bem a ela, mas eu nunca mais me meterei no namoro de vocês.

– Bom, você não está fazendo mais do que sua obrigação. Eu quero que você entenda que não vai ser tão fácil assim consertar tudo, você me conhece o suficiente pra saber que por um bom tempo eu vou estar em alerta, mas eu não quero brigar mais, nem nada dessa merda que mantém todo mundo estressado, não é bom pro nosso trabalho de equipe, então, vamos continuar profissionalmente até que tudo esteja acertado genuinamente. Sobre se aproximar ou não da noona, apesar de querer me meter, isso não é comigo, ela é quem tem que decidir se quer ou não sua amizade.

– Você realmente cresceu. – Dong murmurou dando um tapinha amigável em meu braço. – Fico feliz por isso.

– Só não me decepciona, okay? Vamos fazer o certo pelos hyungs. – Suspirei seguindo meu caminho. O Kim mais uma vez garantiu veemente que sua intenção principal era essa, mas não me dei o trabalho de responder, tudo o que minha mente queria focar eram que em uma hora eu estaria junto da minha namorada.

 

Eu estava tão ansioso ao chegar no prédio em que Haeun morava que quase não tive paciência de esperar o elevador, infelizmente o cansaço não me deixaria subir os cinco lances de escada. Parei em frente a sua porta, eu estava um trapo, cabelo desgrenhado, suado e ofegante, mas, sinceramente, eu não ligava pra minha aparência naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era que finalmente, depois de um mês, eu ia ver Haeun, sentir a textura de sua pele e o cheiro familiar e reconfortante que emana de seus cabelos, eu iria dormir abraçando a ela depois de conversar por horas a fio sobre um futuro juntos.

– Aegiyah, sou eu. – Avisei afoito batendo na porta. Logo ouvi o solavanco na porta e o estalo ansioso das trancas sendo destravadas com pressa. A porta se abriu em um rompante e por um minuto inteiro apenas nos encaramos, estancados enquanto o ar nos faltava. Fora um mês ou um ano? Parecera uma vida inteira. Haeun sorriu, parecia aliviada e eu podia prever o que viria a seguir. – Estou suado. Estou suado. Estou suado. – Alertei rapidamente, mas fui devidamente ignorado. Ela correu pulando em mim, agarrando meu pescoço e abraçando meu tronco com as pernas. Dei um passo pra trás com o impacto, mas logo estava apertando seu corpo contra o meu, rindo indiscriminadamente.

– Não importa, seu idiota. – Rebateu prontamente enquanto espremia ainda os braços contra minha nuca. – Eu senti tanto a sua falta. – Confidenciou escondendo o rosto contra meu pescoço.

– Eu também. – Murmurei de volta acariciando suas costas. Ficamos daquela forma por um tempo imensurável, até que o senso comum nos atingiu e percebemos que devíamos entrar e matar a saudade privadamente.

Caminhei com ela em colo para dentro do apartamento, ele era maior do que os que tínhamos visitado anteriormente, já que o abeoji quem tinha escolhido e estava pagando, algo sobre deixar Haeun o mais confortável possível, ainda sim não era grande coisa, uma sala-cozinha, um banheiro e um quarto com uma varanda pequena que era utilizada para secar roupa. Empurrei a porta com o pé a fim de fechá-la e sentei Haeun no balcão de mármore que separava a saleta da pequena cozinha. Peguei seu rosto entre as mãos e a olhei longamente antes de beijá-la. Sua boca era macia e doce, mais do que eu conseguia lembrar, seu cabelo estava úmido e desgrenhado e eu fiz questão de despenteá-la ainda mais enquanto meus lábios desciam por seu pescoço, Haeun arfou puxando meus cabelos e pressionando o quadril no meu.

– Toma banho comigo, Haeun. – Pedi mordendo seu queixo devagar. Ela estava de olhos fechados, inebriada demais pra formar uma frase coerente. – Você e eu na banheira, o que acha? – Reforcei com a voz aveludada, descendo minhas mãos por seu corpo, apertando a extensão com ânsia. Haeun arfou novamente, abrindo os olhos abruptamente, mas daquela vez o som me pareceu mais de dor do que de prazer.

– Eu acabei de tomar banho, vou numa próxima. – Respondeu completamente desconcertada, afrouxando o abraço de suas pernas. – Inclusive, você está precisando. Eu te amo, mas prefiro sua versão que cheira a colônia e creme pós-barba. – Brincou, porém eu tinha a impressão que ela estava tentando matar de vez o assunto enquanto sutilmente suas mãos me empurravam pra longe de seu corpo.

– Eu te machuquei? – Perguntei diretamente ainda confuso e desconfiado, em momento algum me pareceu está sendo mais enérgico que o normal. Ela riu meneando a cabeça.

– Com isso? Pelo menos você não está usando um chicote dessa vez. – Respondeu em tom de falsa acusação.

– YA! Você quem pediu, essa garota. – Me defendi sentindo meu rosto queimar de constrangimento.

– Vai logo, Junbabe, eu não vou com você porque já estou resfriada, ficar de molho na banheira por horas vai só piorar minha condição frágil. – Explicou fazendo um draminha no final. Assenti beijando o biquinho que se formou em seus lábios. – Vou pegar sua toalha.

– Não prefere que eu desfile pelado pela sala?

– Omo! Você quer comer a sobremesa antes do jantar?

– Eu quero comer essa sobremesa em cada refeição.

– Que pervertido! – Disse fingindo-se de vítima enquanto abraçava o próprio corpo.

– Não fui eu que implorei pra tentar BDSM. Quem é a pervertida? – Acusei em um sussurro provocador. Haeun estremeceu, provavelmente relembrando a ocasião que rendera uma das melhores transas das nossas vidas, aproveitei a guarda para roubar um beijo dela, antes de rumar para o banheiro. – Mas o quê? Que zona... – Sussurrei surpreso. Parecia que tinha passado um furacão no local, havia frascos de remédio e produtos de beleza espalhados pelo chão, parecia que todo o conteúdo do armário tinha sido derrubado e eu ainda reconheci uma das minhas camisas na borda da banheira cheia demais.

– Aish! – Ouvi a voz de Haeun logo atrás de mim, virei em sua direção e o espanto ainda tingia seu rosto com um outro sentimento obscuro que não fui capaz de identificar. – Droga, eu esqueci completamente sobre isso. – Murmurou amarga passando rapidamente por mim, me empurrando no processo.

– Esqueceu o que? Que um furacão passou por aqui? – Brinquei sentindo uma tensão estranha se instalar.

– Desculpe por isso, eu... – Começou juntando como podia a bagunça do chão e jogando na pia. – Eu encontrei uma barata aqui hoje e entrei em pânico, acabei bagunçando tudo tentando matá-la, depois fiquei tão ansiosa em ti ver que esqueci de limpar.

– Conseguiu matar? Não vou entrar aí sem garantias, é minha reputação que está em jogo se eu começar a gritar e correr como uma garotinha de 7 anos. – Perguntei com cautela olhando meticulosamente para dentro. Haeun riu terminando de melhorar o ambiente.

– Sim, eu consegui. Não precisa se preocupar, bebêzão. – Garantiu ferreamente com um sorriso torto. – O banheiro é todo seu, vou deixar uma muda de roupa e a toalha na porta, não demore demais. – Disse por fim beijando meu ombro, o único local que ela alcançava sem ter que se esticar.

Entrei ainda com cuidado enquanto a porta se fechava atrás de mim, a água na banheira era caudalosa e esbranquiçada, cheirava a macadâmia, então presumi que tinha sido utilizada anteriormente por Haeun. Abri a tapa do ralo e enquanto a banheira esvaziava, resolvi terminar de arrumar a bagunça, colocar tudo de volta ao armário. Em sua maioria eram maquiagens, analgésicos e pomadas pra dor, suspirei com pena dela, a noona estava tendo um tempo difícil, os treinos a estavam matando e ela se cobrava ao máximo e mesmo assim não reclamava nunca, pra nenhum de nós. Quando terminei percebi que a água ainda não tinha descido por completo.

– YA! Você sempre enche demais, inimiga do meio ambiente! – Reclamei me ajoelhando em frente a peça de louça e mexendo na água na esperança que ela descesse mais rápido.

– Desculpa, lembrarei da crise hídrica na próxima vez. – Gritou de volta, apenas bufei em resposta continuando com meu plano. No meio do processo minha mão bateu em algo e eu gritei achando que fosse outra barata ou qualquer ser vivo nojento e assustador, mas assim que calei a boca minha mente deduziu que era grande e sólido demais pra ser um inseto ou coisa parecida. – June? Tudo bem? – Haeun chamou com a voz preocupada e eu senti meu rosto queimar de constrangimento. Merda! gritei mentalmente irritado agarrando o objeto culpado pelo meu desconforto. Outro frasco de remédio. Pelo menos presumi que fosse, diferente dos outros esse estava aberto e vazio, tinha o rótulo em outra língua, presumi que fosse italiano. A única coisa que pude reconhecer era o nome romanizado de Haeun no rótulo. Aquilo me deixou com um sensação estranha e eu pude sentir o arrepio gélido me descer a espinha. – Koo Junhoe? – Insistiu novamente, sua voz estava próxima a porta e por algum motivo irracional eu não queria que ela soubesse que eu tinha visto isso, não era nada demais, no entanto na minha cabeça parecia errado.

– Está tudo bem, Haeun noona. – Respondi depressa mordendo o lábio, por que diabos eu estava agindo assim?

– Você se assustou sozinho não é mesmo? – Ela gargalhou guturalmente. – Suas roupas já estão aqui fora, por favor, não grite e corra como uma garotinha de 7 anos. – Zombou mais uma vez e eu respirei fundo, analisei o frasco vazio mais uma vez antes de jogá-lo no lixeiro. Eu me sentia um outsider¹ sentado no chão, vendo o resto da água escorrer vagarosamente, aos poucos revelando uma quantidade significativa de comprimidos meio-dissolvidos no fundo. Resfoleguei tentando afastar a constatação de que meu receio residia no medo de descobrir a verdade. A ignorância é uma bênção. Desisti da ideia de esperar a banheira encher (ou de relaxar) e apenas utilizei o chuveiro.

Quando sai Haeun estava na cozinha, cortando legumes e remexendo panelas. Forcei meu sorriso mais convincente, não sei se ela acreditou ou apenas fingiu que sim, depois caminhei até ela, abraçando-a com força, beijando seus cabelos enquanto balançava seu corpo, como quem embala uma criança. Quanto mais eu pensava, mais minha mente tendia para respostas drásticas e aterrorizantes, meu cérebro simplesmente não podia considerá-las, eu não queria, porque isso parecia assustador demais. Então eu apenas a abracei como se minha vida estivesse na linha.

– Achei que estivesse com fome, você veio direto do treino, não é? – Murmurou com a voz abafada por culpa do rosto pressionado contra meu peito. – Junhoe?

– Eu amo você. – Foi tudo o que consegui dizer e nunca disse algo tão verdadeiro na minha vida. – Eu não sabia que um dia seria capaz de me sentir assim, mas... Eu... Realmente, genuinamente, amo você.

– Junhoe... Isso foi... Repentino. – Haeun riu um pouco nervosa. – June, você foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido e eu também te amo. – Disse por fim desgrudando um pouco de mim.

– Por que você não senta e descansa um pouco e eu faço o jantar? – Sugeri soltando-a.

– Porque você só sabe fazer ramen e misto quente e eu estou gorda demais pra comer isso. – Zombou rindo. – Junbabe, você está cansado, duvido que Hanbin deixe vocês dormirem, comerem ou relaxarem direito, meu irmão é exigente e perfeccionista, eu sou a unica desocupada aqui. Durma um pouco enquanto faço isso.

Meneei a cabeça em negativa.

– Eu não vim aqui pra dormir, vamos fazer juntos. – Rebati, eu não queria perdê-la de vista, eu já tinha feito isso por um mês inteiro. Ela sorriu e concordou com um aceno de cabeça, logo me pedindo pra cortar a carne, que ela tinha comprado especialmente pra comer comigo, enquanto ela terminava os legumes e eu ri, porque algo na nossa dinâmica parecia tão rotineiro, quase como se fôssemos casados.

XXX

 – Qual filme? – Perguntei olhando-a se acomodar no sofá.

– Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças! – Exclamou animadamente levantando os braços como uma criança fofa.

– Aegiyah, eu amo esse filme, mas a gente já viu três vezes. – Suspirei.

– Sem graça. – Ela respondeu me mostrando a língua. – Vem, vamos olhar o catálogo da Netflix. – Fiz o que ela pediu, abraçando-a por trás no processo.

– Hummm, Jinhwan citou que viu um romance muito bonitinho com Luna e depois Yejin também falou sobre esse mesmo filme, chama O Seu Jeito de Andar, se não me engano, a gente pode tentar. – Sugeri beijando a curvatura de seu pescoço. Haeun assentiu e eu tratei de procurar a película.

O enredo era realmente muito fofo, pueril, era tão leve e delicado, ideal para um momento como esse, para ver com quem se gosta ou ainda para aqueles que são românticos irremediáveis. Foi confortável e relaxante assisti-lo, depois de tudo, era exatamente o que precisávamos, uma história leve com final feliz.

– Estou apaixonada. – Haeun fungou emocionada. – Por que esse filme é tão... – Se interrompeu dando um suspiro sonhador, ri de sua ação apertando ainda mais seu corpo contra o meu. – Esses romances de filme são demais, não seria legal ter um assim?

– Você acabou de me ofender profundamente, está desprezando nosso relacionamento, Kim Haeun-ssi? – Rebati em tom divertido, mesmo que no fundo tivesse me sentido incomodado.

– Claro que não, Koo Junhoe-ssi, você me entendeu. Até porque você é o melhor namorado de todos. – Garantiu me beijando repetidamente.

– Não acha que nossa breve história não daria um filme?

– Não, um filme não. Uma fanfiction talvez. – Ela riu travessa. – Com certeza uma fanfic. Quando você debutar e for famoso irei escrever uma fanfic sobre nós contando tudo o que houve.

– O que eu vou fazer com você?

– Me amar incondicionalmente, eu espero. – Apenas ri antes de beijá-la. – Não, como Amy e Nick Dune², só pra constar. – Continuou.

– Pelo meu bem, eu espero que não mesmo. Que tal algo como O Lado Bom da Vida?

– Completamente aceitável.

 – Agora sim parecemos casal de filme. – Brinquei e ela riu passando os braços por meu pescoço.

– Eu te amo demais, sabia?

– Hmmm... Sim, eu sabia.

– Que convencido! – Exclamou com um sorriso travesso. 

– É mesmo? – Rebati  baixinho, com a voz impregnada de malícia.

 Puxei-a para meu colo, capturando seus lábios com avidez, minhas mãos apertavam sua bunda enquanto as dela estavam agarradas aos cabelos da minha nuca. Rapidamente tratei de enlaçar seu cabelo e lamber seu pescoço enquanto recuperava o ar. Tirei sua blusa sem cerimônias, beijando e mordiscando o colo no processo. Voltei a acariciar a extensão de seu corpo, apertando e beliscando a tez macia enquanto minha boca tratava de dar atenção aos seios desnudos. Haeun arfou e estremeceu em desconforto e daquela vez eu pude descobrir o porquê.

Mesmo com a luz baixa advinda da TV ligada, era possível ver a mancha escura que tingia a pele leitosa de sua cintura, acariciei o local com suavidade, tentando imaginar como o machucado tinha chegado ali. Haeun sempre fora um pouco estabanada, mas ela raramente se feria gravemente. A garota puxou meu rosto abruptamente, me beijando com voracidade, provavelmente querendo me distrair de qualquer questionamento que eu teria.

– Noona. – Chamei-a em tom de advertência.

– Eu apenas me machuquei no handebol, Junbabe. – Prontamente respondeu mordiscando minha orelha e escorregando a mão para dentro do meu short de moletom, me fazendo perder minha linha de raciocínio. Voltou a me beijar com selvageria, arrancando minha camisa com pressa. Em condições normais de temperatura e pressão, eu estaria adorando aquele empenho todo, mas era óbvio que algo estava errado. Reunindo toda a minha força de vontade me separei de seu aperto caloroso.

– Haeun. – Chamei pouco depois, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. – Você pode achar que eu não te conheço tão bem assim, mas eu conheço. – Completei tirando-a de cima de mim, entrelaçando nossas mãos no processo.

– Desculpe, Junhoe. – Sussurou mordendo o próprio lábio. – Eu só... Nós estamos separados por tanto tempo, eu não queria te chatear e essas coisas.

– Não tem que se desculpar, noona, você não precisa fazer nada que não queira só pra me agradar, okay? – Falei calmamente acariciando seu cabelo como se eu estivesse falando com uma criança. Ela tinha uma expressão constrangida. – Eu nunca me chatearia por isso, aegiyah.

– Eu sei, você é o boyfriend material que eu pedi a Deus. – Haeun suspirou colando a testa na minha. – Não é que eu não queira fazer, eu apenas... Eu não estou no clima, entende?

Assenti aninhando-a em meu colo.

– Vamos apenas jogar conversa fora, uma das coisas que mais sinto falta é te ouvir falando como uma matraca.

– Eu não vou te bater, porque eu também estava com saudade das suas piadas sem graça e dessa sua cara de pau enquanto diz essas coisas.

– Como está no colégio? – Perguntei sobre a primeira coisa que veio em minha cabeça.

– Um inferno. – Respondeu com uma convicção que me assustou. – Vocês todos resolveram me abandonar de uma vez, a Yejin mal chegou e já entrou na JYP, poxa, ela não ficou nem duas semanas comigo. Estou completamente abandonada naquele lugar do capeta.

– Quando eu saí não era assim tão ruim. – Brinquei.

– Eram outros tempos.

– É isso que tem te incomodado ultimamente?

– Eu não quero falar sobre isso, JunJun. – Ela rapidamente me cortou mais séria do que eu achei que a situação exigia.

– Por que não? Não confia mais em mim? Cadê aquele lance de “antes de sermos namorados, somos melhores amigos”?

– Não é isso, eu só não quero perder tempo falando de coisas inutilmente chatas com você, quando a gente poderia está se divertindo, só isso. Juro que quando eu passar em uma audição as coisas vão melhorar.

– Promete? – Perguntei erguendo meu mindinho.

– Prometo! – Exclamou sorrindo enlaçando nossos dedos em uma jura infantil. – Agora imita o Hanbin brigando com vocês. – Ela riu e logo eu atendi seu pedido.

XXX

Kim Haeun

– Unnie, pensa rápido! – Minsuh gritou maldosa e um segundo depois o refeitório explodiu em risadas enquanto a sopa quente encharcava minhas roupas e aos poucos fazia minha pele arder. – Oh! Que pena, quem sabe da próxima vez? – Apertei meus punhos com força, as lágrimas queriam teimar em sair, mas não deixaria. Eu estava cansada de só chorar. Fitei Chanwoo várias mesas distantes, mas ele desviou o olhar, parecia culpado. FINALMENTE parecia culpado. No início ele sempre me encarava de volta com uma expressão presunçosa e eu sentia meu coração quebrar um pouquinho mais, eu sempre estive do lado dele, mesmo que eu não fosse a melhor amiga do mundo e o tivesse negligenciado, mesmo assim eu nunca faria isso com ele. Chanwoo não só me traiu indo pro lado da Minsuh como constantemente se divertia com todo o bullying e maus tratos que ela ou sua pequena ganguezinha faziam comigo.

Eu estava no meu limite, o líquido quente queimando meu peito e barriga me alertavam disso, eu chegara a um estagio em que nenhuma dor física surtia mais efeito, eu tinha ciclos de raiva e desespero, algo em mim tinha quebrado de novo. Quando meu pai me banira para o colégio interno eu experimentara uma sensação parecida. Confesso que mais de uma vez pensei em recorrer a meios extremos, há alguns dias eu chegara próximo demais do suicídio, felizmente eu tenho o melhor anjo da guarda de todos, mesmo que ele não saiba disso. Eu estava pronta pra tomar todo um frasco de calmantes e escorrer inerte para dentro de uma banheira cheia até a borda, mas meu telefone não parava de chamar. Junhoe não parava de chamar. E quando pensei em como eu estava fazendo com ele o mesmo que minha mãe fez comigo, eu não consegui. Não podia deixar Junhoe, ou Hanbin, ou meus amigos.

Mas estava tão difícil ver a luz no fim do túnel, a duras penas eu descobri que Minsuh era intocável e acima de qualquer punição porque o pai era um senador que dava doações exorbitantes a escola, os alunos tinham medo dela e eu tinha certeza que dezenas deles se divertiam com meu sofrimento, não porque me odiassem, mas porque as pessoas são naturalmente seres obscuros. Não é a toa que tortura e decapitações eram um espetáculo em praça pública na Idade Média. Por outro lado, eu não podia conversar com nenhum dos meus amigos, nem mesmo com June. Principalmente com June. Todos mal tinham começado suas vidas como trainees, eu não podia sobrecarregá-los com toda essa confusão, eu não tinha esse direito. Eles estavam indo tão bem, eu sempre podia ouvir a felicidade em suas vozes quando os telefonava, o brilho em seus olhos quando os via. Como poderia acabar com a tranquilidade deles tão levianamente? Eu podia dar conta disso. Ou era isso que eu queria crer.

– Meu Deus, Kimmy, olha só pra você. Vem comigo. – Younghyun surgiu de algum lugar chamando minha atenção, eu nem tinha percebido que estava a tempo demais devaneando. – Eu tenho um uniforme a mais no meu armário que você pode usar, o que você estava pensando? Você pode ter uma queimadura séria. – Completou me guiando para fora do lugar.

– Obrigada. – Sussurrei ainda distante. Brian era a única pessoa que estava lá por mim durante todo esse tempo, ele tentava me ajudar como podia e eu estava genuinamente grata.

– Por isso eu falei que você tem que sair da escola o mais rápido que puder. A tendência é a Minsuh ficar cada vez mais violenta. – Alertou mais uma vez. – Minha oferta ainda está de pé, mas não sei até quando posso manter a porta aberta, Kimmy.

– Não tem como ser pior do que já está, Brian. Só se ela resolver me matar, porque não existe qualquer violência ou humilhação que Kang Minsuh não tenha feito comigo. – Respondi apática. Todos os dias alguma coisa acontecia, no começo eram coisas bobas: esconder minhas coisas, inventar rumores, jogar balões de água ou farinha em mim, depois vieram as tigelas de sopa quente, as surras, ela até já cortara todas as minhas roupas enquanto eu estava no vestiário depois da educação física e eu só não voltara de toalha pra casa porque Younghyun me conseguira um vestido com a professora de teatro.

– E o que vai dizer pro seu namorado quando arranjar um machucado que não pode esconder? Que estava no handebol? – Ele tinha tocado no meu ponto fraco e eu arfei sentindo que ia chorar, como eu odiava mentir pro June, mas era pelo bem maior. – Aceite. Depois você muda de agência, você vai poder ver a Yejin regularmente, quem sabe até treinar com ela, mas, por favor, para de fazer isso consigo mesma, você está se destruindo aos poucos.

– Okay. – Respondi em um sussurro crispando os lábios. Eu tinha prometido a Junhoe, mas eu não ia conseguir cumprir minha palavra. Young K estacou surpreso, acho que até ele duvidava que um dia eu desistiria e aceitaria a oferta dele. – Tudo bem, pode arranjar a audição privada.

Peguei a camisa do uniforme e fui ao vestiário me trocar, eu fiquei ridícula já que o tamanho de Young K é 2x o meu, eu tinha que comprar um uniforme a mais para mim e trazê-lo, aquela era minha realidade, só restava aceitar. Coloquei meu casaco por cima, para tentar melhorar a minha aparência e sai.

– Kim Haeun-ah. – Um garoto me chamou com a voz aveludada enquanto caminhava a passos largos em minha direção. – Eu realmente estive procurando por você. – Eu pude ver os balões em suas mãos então caminhei na direção oposta a ele o mais rápido que consegui. – Minseok!

Olhei para os lados tentando identificar o tal Minseok, mas com o corredor lotado foi impossível e eu só descobri tarde demais quando o garoto já me segurava pelos ombros. Reconheci ele de uma das turmas do Chanwoo, devia ter apenas cerca de 16 anos.

– Peguei, Taehyun. Para onde ia tão rápido, noona?

– Tenha dó, qual é o problema de vocês? – Quase gritei possessa quando o outro moleque explodiu os balões com água e corante sobre minha cabeça. Limpei meu rosto com as duas mãos enquanto as risadas eram altas a minha volta. – Já chega! Vocês não cansam de ser hipócritas? O que eu fiz de tão mal? Vocês nem sabem, apenas ficam me punindo por algo que nem entendem, porque são uns hipócritas covardes.

– Acho que ninguém te contou quando entrou aqui, mas esse é o tratamento que vadias recebem. – Minseok avisou apertando ainda mais meus ombros.

– Vadias como você, noona. – Taehyun completou. Trinquei os dentes furiosa. Dei uma cotovelada em Minseok com a maior força que consegui, para que ele me soltasse e avancei em Taehyun socando-o como pude.

A confusão estava formada e os outros alunos entraram em estado de delírio, gritando e torcendo como se aquilo fosse uma tourada. O garoto não revidou, para minha sorte, ele apenas se defendeu tentando me tirar de cima dele. Logo Minseok me suspendeu pela cintura me tirando de perto de Taehyun.

– O que significa isso? – Sunyung, a representante da diretoria, indagou de braços cruzados e cara de poucos amigos.

– A Haeun noonim enlouqueceu. – Taehyun respondeu apontando pra mim.

– Ah, claro! Até porque eu derrubei água colorida em mim mesma né pirralho filho da puta?

– Kim Haeun, olha a língua. – A mulher repreendeu. – Se troquem e vão para as aulas.

– Só isso? Sunyung unnie! Não pode deixar por isso mesmo. – Reclamei contrariada, aquilo eu não podia permitir, eles não eram a Minsuh, ela não tinha desculpas para não puni-los, então eu merecia justiça daquela vez.

– Você tem como provar o que está dizendo? – Ela perguntou séria e os garotos estremeceram ao meu lado.

– Pergunte a qualquer um aqui, melhor ainda, olhe em seus celulares, sempre tiram fotos de tudo. – Ela se virou em direção aos outros alunos, todos estavam quietos em um silêncio mortal e eu quis chorar, ninguém ia dizer nada? Até que uma única garota assentiu e mostrou o celular para a representante,

– Taehyun e Minseok, quero os dois na detenção depois da aula pelo resto da semana e da próxima vez, ficarão de suspensão. – Suspirou cansada. – Está feliz agora, Haeun? Vá se trocar.

– Eu não tenho mais uniforme, esse era meu último. Apenas me deixe ir pra casa. – Quase implorei.

– Não acha que sempre está pedindo demais? – Ela contrapôs com um resquício de ironia na voz, digamos que com toda essa confusão, eu não era a aluna favorita da representante.

– Eu só peço por justiça, isso não é o mínimo? – Rebati cruzando os braços.

– Pegue um uniforme emprestado e vá pra aula. – Mandou contrariada.

– Não, eu vou pra casa.

– O que você disse, Kim Haeun? – Falou irritada. – Está desafiando minha autoridade?

– Eu vou pra casa por bem, ou eu ligo para o meu pai me buscar e eu acho que vai ser muito divertido quando você tiver que explicar tudo isso pra ele. – Respondi sem dar o braço a torcer, eu sabia que aquele era o ponto fraco da administração e eu ia usá-lo ao meu favor.

– Muito bem, pode ir, aproveite e fique por lá nos próximos três dias, você está suspensa. – Sentenciou caminhando para longe da multidão.

Respirei fundo, eu deveria ficar com raiva disso, ela estava me punindo por algo que eu tinha direito, mas a verdade é que eu estava aliviada, eu poderia ficar escondida em meu casulo, longe de tudo o que estava acontecendo, sem pratos quentes, balões de água ou farinha, sem xingamentos e rumores, sem empurrões, tapas, socos ou puxões de cabelo. Seria apenas eu e meu edredom no escuro do meu apartamento.

XXX

Demorou alguns dias até que alguém da JYP me chamasse, mas parecia uma eternidade. Eu estava enlouquecendo e meu namoro estava na linha direta por culpa disso. Eu sempre estava no limite e acabava optando por manter June afastado, pelo menos até que tudo se resolvesse, e isso fazia com que eu me sentisse uma das piores pessoas do mundo. Porém finalmente eu estava confiante que as coisas seriam melhores graças ao Young, pensaria em algo pra retribuí-lo depois. Fechei meu armário e respirei fundo. Vamos lá, Kim Haeun, faça bem! Mandei mentalmente.

– Ha-Haeun...? – Ouvi o sussurro baixo vindo do armário de vassouras a alguns passos de distância. Caminhei hesitante até lá, alguma parte de mim tinha medo de que aquilo fosse alguma armação da Minsuh. – Rápido. – Disse me puxando pra dentro e trancando a porta. Fechei os olhos apavorada. – Noona, sou eu...

– Jung Chan Woo? – Eu quase gritei fitando-o com um misto de confusão e raiva.

– Shhhhh... Fala baixo. – Pediu nervosamente olhando em direção a saída.

– Por que eu deveria? – Repliquei irritada, mesmo que agora meu tom tivesse mais baixo. Cruzei os braços e esperei o mais novo falar alguma coisa.

– Bem... A Minsuh...

– Sua nova melhor amiga não aprova você e eu conversando, já entendi. Sinceramente não importa, eu não quero mais que você se aproxime de mim, de qualquer forma. – O interrompi completamente sentida. Era óbvio que seu desespero por discrição era para não chatear Minsuh. – Fala logo o que você quer ou isso é mais algum plano psicopata da sua nova patroa?

– Não é bem assim... Haeun, eu... Eu juro que eu sinto muito.

– Você sente muito? Você? Não é o que me parece quando te vejo se divertindo há semanas com tudo isso que tem acontecido. – Cuspi as palavras raivosamente enquanto ele me olhava calado. – Aliás, eu tenho certeza que essa merda toda começou por sua culpa, ou estou errada? Só você sabia metade das coisas que Minsuh sabe agora. Vai negar isso também, Jung?

– Eu estou muito, muito arrependido, eu juro, noona. Você tem que se colocar no meu lugar, eu estava chateado e traído, eu era apaixonado pelo hyungnim há anos, eu não... Algo em mim só queria se vingar e sim eu me diverti no começo, mas eu nunca pensei que as coisas chegariam nesse ponto.

– Você quer que eu me coloque no seu lugar? Eu me coloquei! Todos os dias depois de descobrir sobre isso, eu me senti tão mal que pensei em terminar com o Junhoe. Você tem ideia do que é isso, Chanwoo? Por você, por me sentir mal por te fazer sofrer, eu pensei em deixar o amor da minha vida, mesmo que isso não fosse levar nenhum de nós a lugar nenhum. Então não venha me pedir pra minimizar sua parcela de culpa.

 – Não estou tentando, eu mal consigo dormir de remorso, me perdoe, por tudo isso, por não ter te procurado antes e agido mal, eu te garanto que o karma tratou de me ferrar de uma forma tão trágica quanto um romance shakspeariano. A questão é que há muito tempo eu me arrependi, mas eu estava tão envergonhado pelo que fiz... Eu mal podia olhar em seus olhos de novo... – Ele se interrompeu olhando para os próprios pés e eu podia sentir a verdade que seu tom de voz exalava. – Só que eu não posso mais ficar a margem, te ver confiando no Younghyun como uma boba, isso tem que parar, ele é...

– Primo da Minsuh. Eu sei. – Cortei na defensiva, antes que ele continuasse. – É esse seu plano? Me afastar da única pessoa que ainda está fazendo alguma coisa por mim? Você se diz tão arrependido, Chanwoo, mas o que você tem feito para me ajudar?

– Estou fazendo o que ninguém mais poderia: Reunindo provas. A Minsuh confia em mim, eu tenho acesso a tudo e em breve eu terei um dossiê capaz de fazê-la ser punida. De punir a todos.

– Você o quê?

– Minsuh e os amigos fazem dezena de coisas ilegais e o pai corrupto os encobre, quando eu liberar tudo ao meu contato na impressa vai acabar com qualquer imagem que ela tenha e até respingará no Senador Kang, mas você precisa confiar em mim, não baixe a guarda para o Young K ele quer te separar do Junhoe hyung.

– Não me peça para confiar em você sem garantias, Chanwoo.

– Então, não confie, apenas me deixe agir.

Suspirei derrotada, passando as mãos em meu próprio cabelo.

– Eu não sou tão idiota, não vou deixar ninguém ficar entre mim e June, Younghyun está me ajudando com uma audição privada, não posso mais ficar no mesmo lugar que a Minsuh, quando eu sair do colégio as coisas melhorarão.

– Nisso eu tenho que concordar. Eu ouvi que a YGK+ vai abrir seleção em breve, pode pedir para algum dos garotos se informarem para você.

– Modelo?

– Cantora, modelo, atriz, qualquer coisa, apenas saia daqui. Ouvi alguém no set falar que a SM também vai abrir audições, principalmente para artes cênicas. Vou descobrir as datas, faça o teste. – Disse rumando para a porta.

– Jung Chanwoo...

– Sim?

– Você vai se arrepender por The Heirs. – Provoquei e ele deu uma risada breve.

– Acredite, eu já estou arrependido.

XXX

Koo Junhoe

– Me explica de novo o que estamos fazendo porque eu não entendi. – Jiwon hyung suspirou com o cenho franzido.

– Nós vamos descobrir o que a Haeun tem feito com o Kang Younghyun. – Chiei caminhando a passos duros pelo hall do shopping.

– Você mentiu pra Yejin sobre onde estaríamos e ainda me enrolou? – Bobby reclamou sempre exagerado demais. – Junhoe! Não acredito que estamos fazendo isso mesmo.

– Yejin e Haeun são amigas, não da pra arriscar. – Respondi sem vontade. – E hyung, nós somos da mesma família, você tem que me ajudar.

– Então, na sua cabeça a Yejin, sua irmã mais velha, ficaria do lado da Haeun e a encobertaria caso ela estivesse pulando a cerca com aquele engomadinho do Young K?  – Quando ele pontuava daquela forma parecia loucura e eu me senti um pouco constrangido. – A Jin-ah era a primeira a dar na cara da Haeun se ela estivesse te traindo.

– Cala a boca, hyung. – Bufei e Jiwon explodiu em gargalhadas.

– Você não pensou nisso, né?

– A Seoyeon me manda milhares de mensagens falando que não aguenta mais ver eu ser enrolado pela Haeun, que ela está com Younghyun o tempo inteiro e que eles sequer escondem que estão saindo, aproveitando que eu não tenho mais rede sociais ou tempo para ficar na internet, depois me manda uma foto dos dois juntos e claramente se divertindo. Você acha mesmo que eu estou raciocinando agora, Jiwon hyung? – Desabafei magoado. Sinceramente, eu não sabia o que pensar sobre tudo, mas eu sabia como aquilo me fizera me sentir mal.

– Junhoe, espera. – Pediu me segurando pelo braço antes de chegarmos a praça de alimentação que eu pude reconhecer na foto, era no térreo de um shopping perto do prédio da JYP e a um quarteirão do meu condomínio.

– O que hyung? – Respondi na defensiva.

– Como você sabe que eles estão aqui?

– A Seoyeon...

– Ela magicamente sabe onde encontrá-los? – Ele me cortou repentinamente sério demais.

– Não exatamente, o sem sal do Kang mandou essa foto pra ela há alguns minutos. – Entreguei-lhe meu celular já com a foto dos dois na Starbucks aberta. Bobby ainda aproveitou pra conferir nossa conversa. – Vamos acabar logo com isso antes que eles vão embora.

– Sério, espera, quer dizer que a Seoyeon, sua ex-peguete, vem com essa história absurda e convenientemente o Younghyun, que é ex-peguete da Haeun, manda fotos pra ela falando o que fez ou deixou de fazer com sua namorada hoje? June, eu sei que ciúme mexe com a cabeça da gente, mas você não acha isso no mínimo suspeito?

– Eu sei, eu sei, mas como você se sentiria no meu lugar? A Haeun está estranha a semanas, me exclui da vida dela, procura desculpas pra não nos encontrarmos e ainda esconde que está assim tão próxima do Young K, que é basicamente o cara que eu mais tenho ciúme desde que ela parou de falar com o Donghyuk. Eu não sei o que pensar sobre isso. Ela não devia me contar essas coisas?

– Vocês estão começando agora, então vou falar isso e espero que não me interprete mal: Não espere que alguém cumpra promessas que nunca fez. Sempre dialogue com a mente aberta e sem pressionar. Respeite o espaço e a individualidade de quem você ama. Não adianta você guardar o que sente sobre o seu relacionamento para si mesmo, ou falar só para o Jinhwan, pro Yoyo ou pra mim, se você não fala para a Haeun, que é a real interessada e a pessoa que pode resolver e suprir suas preocupações.

– Apenas me deixe fazer isso.

– Eu não mando nas suas ações, June, só não quero que faça nada idiota ou precipitado.

Voltei a caminhar, sem respondê-lo, Bobby não argumentou mais e me seguiu em silêncio. A praça de alimentação estava praticamente vazia, não foi difícil de encontrá-los, os dois caminhavam em direção a uma das saídas que dava para o estacionamento do térreo. Apertei o passo para alcançá-los e Jiwon apenas suspirou fazendo o mesmo.

– Hey, Kim Haeun! – Exclamei afoito antes que os perdesse de vista entre os carros.

– Junhoe? – Ela quase gritou surpresa e assustada. – O que você... Faz aqui?

– Eu poderia fazer a mesma pergunta pra você, mas a Seoyeon já foi bastante explicativa. – Devolvi olhando diretamente para Younghyun.

– A Seoyeon? O quê?

– Junhoe, acho que vocês deviam conversar em particular. – Bobby interveio.

– Não, eu quero olhar diretamente para os dois enquanto coloco tudo a limpo.

– Nosso tempo está bem apertado, porque não vai direto ao ponto. – Young K alertou olhando para Haeun.

– “Nosso tempo”... – Repeti contrariado.

– Meu Deus, que pirralho chato.

– Brian! – A noona repreendeu. – June, o que aconteceu?

– Eu vou perguntar isso diretamente: Vocês dois estão juntos?

– Que história é essa? – A noona arfou parecendo confusa e Brian desatou a rir alto demais e eu quase não conseguia controlar a vontade de socar as fuças dele. – Koo Junhoe, de onde isso saiu?

– Provavelmente, saiu da boca do Kang. – Jiwon respondeu.

– Como assim minha? – Young K ainda teve a cara de pau de perguntar e eu cuspi toda a história na cara dele, tudo o que Seoyeon tinha me contado.

– June, eu não acredito que está acreditando numa baixaria dessas. – Haeun murmurou e algo em seu tom de voz diz que ela estava magoada e aquilo fez com que meu coração falhasse uma batida. – Quando eu menti pra você sobre o que sinto por ti, para que pudesse desconfiar desse jeito de mim? – Continuou em mesmo tom, me puxando para longe de Jiwon e Younghyun.

– Eu não sei, Haeun. Eu não sei! Talvez tenha começado agora, até você tem que admitir que está estranha, que me esconde as coisas, desconversa e me evita. Eu me sinto menos que lixo, me sinto completamente excluído da sua vida, sabe quando eu me senti assim?

– Koo Junhoe, se você me comparar com a Clara Lee eu juro que te deixo falando sozinho agora mesmo.

– Então me olhe nos olhos e me diga, sinceramente, o que está fazendo com Kang Younghyun.

– Eu... Eu tenho uma audição privada pra JYP hoje, Young me arranjou uma.

– Haeun, você me prometeu...

– Eu sei o que eu te prometi, tudo menos JYP, eu sei. Mas June... – Ela se interrompeu respirando fundo. – É temporário, nem sei se vou passar. Eu juro, que posso te explicar tudo em breve. Eu amo você e isso não mudou.

– Kimmy, temos que ir ou não chegaremos a tempo.

– Ela não vai com você, estamos no meio de algo aqui. – Vociferei.

– Você nem faz ideia do que está acontecendo. – O Kang riu sem humor.

– E o que é?

– Junhoe, eu tenho que ir, me desculpe, okay? – Ela respondeu pousando as mãos em meu rosto. – Eu sinto muito mesmo, mas hoje a noite eu vou te contar tudo, eu prometo.

– Promete como prometeu não ir pra mesma empresa que o Young K? Muito bem, vamos parar por aqui, vá para o seu teste e resolva sua vida e depois conversamos porque tudo o que eu quero é que você seja sincera comigo, como eu sou com você. – Rebati rumando de volta para o shopping. Ela fez menção de me seguir, mas Bobby a impediu, agradeci internamente por isso, eu estava de cabeça quente e provavelmente acabaríamos nos magoando em outra discussão sem sentido. Desejava ter escutado Jiwon hyung desde o início.

– Já chega, é esse garoto birrento que você ama mesmo? Sinceramente. – Young K bufou para Haeun antes de caminhar até mim me forçando a parar. – Olha aqui, Junhoe, eu não te devo explicações, mas vamos deixar tudo em pratos limpos porque a Kimmy não merece esse tipo de questionamento idiota da sua parte. Primeiro e mais importante: Confiar na Seoyeon? Sério mesmo? Eu não falo com ela há semanas, minha última mensagem pra ela foi desmarcando uma monitoria de canto. – Disse me mostrando o chat da conversa dos dois no LINE. – Feliz? Segundo, a tal foto está na minha timeline do LINE e, por favor, leia a legenda. – Continuou mostrando a publicação que dizia “Sentimento de hoje: levando minha irmãzinha para um grande teste. Fighting, Haeun!”. – E por último, atualmente eu tenho uma namorada e estamos muito bem, obrigado. Então, seja lá o que você esteja pensando, é uma ideia distorcida da realidade. Se não confia em mim, pelo menos confie no discernimento da garota que gosta. – Completou deixando um silêncio constrangido entre nós.

Depois caminhou até Haeun, carregando-a pelo estacionamento, ela ainda virou o rosto em minha direção, como um pedido silencioso de desculpas. Talvez eu devesse me desculpar também, mas não consegui.

– O que diabos acabou de acontecer? – Sussurrei pra mim mesmo, me sentindo mais perdido que antes.

– Seja o que for, vai descobrir hoje a noite. Vamos, eu compro uns sojus e deixo você beber quando chegarmos em casa. – Bobby hyung respondeu condescendente dando um tapinha em meu ombro. Assenti o seguindo, tentando processar tudo e organizar meus sentimentos.


Notas Finais


¹Outsider é no sentido de forasteiro, que ele está sendo deixado de fora.
²Amy & Dick Dune são um casal problemático do livro "Garota Exemplar" e também do filme de mesmo nome, nele Amy Dune some no 5º aniversário de casamento e o marido, Nick, se torna suspeito de assassiná-la.


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