Um mês depois, as férias de verão finalmente chegaram. E com ela, a volta de minha melhor amiga, minha irmã, Zelena.
Estava deitada na cama, lendo " Sonho de uma noite de verão ". Já estava rumando para o terceiro ato, quando a batida de minha mãe na porta me chama a atenção.
- Estou indo buscar sua Irmã, você quer ir comigo? - Cora disse encostada na porta. Pulei da cama rapidamente.
- É claro! - Respondi animada. Minha mãe riu.
Alguns minutos depois, já estávamos no aeroporto. Ansiedade exaltava pela saudade que eu sentia de minha irmã. Logo já avistava seus longos cabelos ruivos, balançando de um lado para o outro, enquanto corria em nossa direção. Ela me abraçou, antes mesmo de abraçar nossa mãe. Que revirou os olhos com isso. E fingiu indignação. Então eu e Zelena, trocamos olhares, e imediatamente pulamos em direção de Cora, abraçando-a fortemente. O que a fez gargalhar.
- o que acham de jantarmos fora hoje?
- Acho ótimo! - Zelena disse. - Mas antes, eu necessito de uma banho bem demorado, uma roupa mais confortável, e uma hora de soneca. - Minha mãe e eu rimos de seu comentário. Logo depois fomos para casa.
As horas passaram rápido, e já estávamos a caminho do restaurante. Zelena e eu mal conversamos, visto que ela estava realmente exausta.
Fomos para um lugar com comida italiana - a maravilhosa comida italiana - com suas deliciosas massas. Nos divertimos muito naquela noite. Como há tempos, não o fazíamos.
O que me fez pensar, quando tudo começou a mudar? Quando as três mosqueteiras, começaram a se separar? Quando a rainha, virou uma bruxa?
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O barulho da porta se abrindo me fez despertar. Zelena entrou silenciosamente em meu quarto. Quando me viu acordada, ela sorriu. Me sentei na cama, e rapidamente fui surpreendida por um abraço.
- Oi bela adormecida. - disse a ruiva acariciando meu rosto. - Você me deixou tão preocupada. Eu tive tanto medo.
- Eu estou bem. - Zelena então começou a abrir meus olhos com os dedos, afastar meu cabelo do rosto, verificar meus braços, para ter certeza que eu estava mesmo bem. Ri com o ato.
- Você parece minha mãe.
- Eu sou melhor que ela. - rimos as duas com seu comentário.
- Eu estava recordando, de quando éramos adolescentes, lembra? Quando você voltou do intercâmbio? E nós saímos para jantar, naquele restaurante italiano?
- Que tinha aquela lasanha maravilhosa?
- Sim. Lembra como nos divertimos naquela noite? Mamãe era tão diferente. O que aconteceu, para que ela mudasse tanto. - Minha Irma ficou em silêncio. E tive a certeza que compartilhávamos do mesmo pensamento.
- Ela sempre foi rigorosa, isso não podemos negar.
- Jeito dona Cora de ser.
- Mas ela era sim diferente, era mais... humana.
- Ela mudou depois daquela noite, não foi?
- Rê... não faz isso com você.
- Mas é verdade Zel, você sabe que é. Eu destrui muitas vidas naquela noite.
- Não foi culpa sua. Não foi culpa de ninguém. - novamente o silêncio. - Vamos mudar de assunto. E o seu livro?
- Adivinhe?
- Ela não fez isso!
- Sem segunda chances.
- Eu vou conversar com ela.
- Não. Não precisa.
- Você vai procurar outra editora? - Suspirei.
- Eu acho que o livro não ficou tão bom.
- Você dedicou sua vida por ele. Como não ficou bom?
- Eu acho que falta alguma coisa. - Zelena franziu o cenho.
- Paixão, talvez? - Disse ela, seguindo de uma risada forçada.
- Não gosto de romances clichês.
- Irônico. Pois sua vida está bem clichê. Ou você acha que eu não vi quem é o seu doutor? - baixei a cabeça e suspirei fundo. Minha irmã tinha esse poder, de saber tudo que está passando em minha cabeça, e pior, me fazer compartilhar com ela. - é ele não é?
- Sim.
- E vocês conversaram?
- Sim. Um pouco.
- Você não conversou com ele, né?
- Conversei, Zelena. - Ela arqueou uma de suas sobrancelhas ruivas. - Só não conversei o que devia ser conversado.
- Porque?
- Medo, talvez. De me machucar de novo.
- Você não acha que ele merece essa conversa?
- Sim. Mas não agora. Com tudo isso acontecendo. Eu não tenho cabeça, para mais confusões na minha vida.
- Como você está?
- Você já fez essa pergunta.
- Eu sei. Mas eu quero que você seja honesta com a resposta dessa vez.
- Eu não sei. Eu estou... confusa sobre o Robin. Triste por conta do livro. E com medo pelo Daniel.
- É... como ele está? Ele está em coma, certo?
- Sim. Ele não está nada bem. Os médicos falaram que ele não está reagindo muito bem aos medicamentos. Não sabem informar quando ele vai acordar. Ou se... ele vai acordar. - disse a última frase tão baixo quanto o vento.
- Vai ficar tudo bem, Sis. Tenha um pouco de esperança.
- É difícil ter esperança, quando tudo parece desmoronar de uma só vez. O destino é cruel.
- O destino só é cruel, com quem é cruel com ele, Rê. Por que você não conversa com o Robin?
- Nós já pulamos essa parte, lembra?
- Não sobre o passado. Converse com ele sobre agora. Eu lembro que apesar de tudo, vocês sempre foram grandes amigos. Ele por vezes te entendia melhor que eu. Acho que você deveria tentar.
- Eu não sei se eu consigo.
- Ele ainda mexe com você!
- Não. - respondi mais rápido do que desejava.
- Isso não foi uma pergunta.
- Eu não sei exatamente o que ele me faz sentir. Já se passaram dez anos, não somos mais as mesmas pessoas.
- Exatamente. Não são! Estão mais maduros, mais fortes.. talvez o destino não tenha sido cruel, e sim esperto. Por dar esse tempo a vocês.
- Depois eu é que sou a escritora romântica. - Falei irônica.
- Eu não pensei em romance, eu pensei em amizade. Você pensou em romance. - Zelena riu. E eu revirei os olhos.
- Eu odeio você!
- Você me ama. - Ela afirmou convencida.
- É... eu amo. - Sorri.
- E vai conversar com ele. - Ela disse convicta.
- Só se você me trouxer um café.
- Você pode tomar café?
- Eu preciso tomar café. - Minha Irmã gargalhou e se levantou da cama.
- Tudo bem, teimosa, eu busco.
E lá se foi minha irmã. Me deixando pensativa. Exatamente como a quinze anos atrás...
--------------"
Em passos lentos, me aproximei do quarto de Zelena. A porta estava entreaberta. Consegui passar por aquele espaço, e logo já estava sobre os pés de sua cama.
- Está acordada? - perguntei em um sussurro.
- Uhum - ela respondeu sonolenta. Então sentou-se na cama, e levantou a coberta, para que eu pudesse me deitar com ela. Ficamos de frente uma para outra. E ela segurou minha mão, que estava a centímetros do meu rosto. E com aquele olhar acolhedor, que somente minha irmã tinha. Ela perguntou.
- Você está bem?
- Sim. Eu senti sua falta.
- Também senti, maninha.
- Como é Paris?
- É maravilhosa. Assim como as pessoas de lá. É o lugar para onde você deve ir, no seu intercâmbio.
- A... quanto a isso, eu não sei se eu quero fazer intercâmbio. - Zelena senta na cama rapidamente ao me ouvir dizer isso.
- Como não? É o seu sonho desde... sei lá, desde que você aprendeu falar. O que te fez mudar de ideia?
- Nada. Eu apenas não quero mais viajar.
- Oh. Não é o que, e sim quem.
- Do que você está falando?
- É aquele seu amigo não é.. o mister L?
- Você deve estar com sono, Zelena. É melhor ir dormir.
- Você está apaixonada por ele.
- O que? Não! - por algum motivo, essa ideia, me deixou revoltada. O que me fez dar as costas para minha irmã.
- Seus olhos brilham quando você fala dele. A simples menção do nome dele, já te faz ficar nesse estado.
- Você está louca, Zelena! - afirmei alterada. O que fez a ruiva gargalhar.
- É... eu devo estar. - um longo silêncio se fez presente. Mas aquele pensamento estava atormentando a minha cabeça.
- Você realmente acha que eu estou, apaixonada pelo Robin? - perguntei em um sussurro. E implorei para que minha irmã estivesse já adormecida. Não sei como lidar com uma afirmação dessas. Robin é meu amigo. Isso estragaria tudo. E o pior nem era isso, e se....
- Se eu te responder, você vai ficar brava comigo? - Zelena - que sim, estava acordada - me tira dos meus devaneios.
- Como você pode ter certeza que eu realmente estou apaixonada?
- Como você se sente quando está com ele?
- Bem.
- Só bem?
- Ele me faz bem. Me faz sorrir. Quando eu estou com ele, é como se eu não precisasse de mais ninguém. Me sinto protegida. E única. Eu posso ser eu mesma perto dele. E ele gosta de mim assim, sendo eu. Meu dia não fica completo, se eu não o vejo, por pelo menos um minuto. - Minha Irma se calou. O que me fez retornar a minha direção a ela. Quando vi seu rosto, ela estava sorrindo.
- Você está completamente apaixonada! - Ela afirmou.
- E como faço para me desapaixonar?
- Por que você quer se desapaixonar?
- Porque Robin é meu amigo. E isso pode estragar nossa amizade.
- Isso pode fortalecer a amizade de vocês.
- Isso se ele gostar de mim também. - sussurrei.
- Chegamos ao ponto!
- Você acha que ele gosta?
- Eu não sei. Você terá que perguntar isto a ele.
- Eu não vou perguntar nada.
- Para de ser medrosa. - Sentei na cama. O que aparentemente preocupou a minha irma. - Você realmente gosta dele, não é?
- Faz um tempo já, eu tenho me sentindo assim. Essa falta excessiva dele. Um sorriso, por mínimo que seja, já acelera o meu coração. Eu tentei mudar isso. Afastar qualquer pensamento, para que quem sabe assim, tudo voltasse ao normal. Mas quantos mais os dias passam. Mais dói... Aqui. - Coloquei a mão no peito. E segurei a lágrima, que insistia em querer cair. Minha irmã então me abraçou.
- Onde ele está agora?
- Na Flórida. Com a sua família.
- Prometa para mim, que quando ele voltar, você vai conversar com ele.
- Mas e se ele não gostar de mim? - perguntei receosa.
- Ele seria um tolo se não gostasse. - forcei um riso.
- Eu tenho medo! - confessei
- Eu sei. Mas eu garanto, que é melhor você conversar com ele, e saber a resposta, sendo ela sim ou não. Do que viver com a dúvida.
- Eu vou tentar.
- Tentar já é um bom começo.
- Obrigada!
- Você não tem que me agradecer. Sabe que eu sempre vou estar do seu lado. - Abracei minha irmã. E por um tempo, fiquei com a cabeça deitada em seu ombro. Pensando em tudo que eu acabara de desabafar. Zelena acabou adormecendo. Mas meu sono fora tomado por Robin. Minha mente vagou até ele. E meu coração bateu descompensado. Adormeci imaginando sua voz rouca em meu ouvido. E sonhei com aquele maravilhoso oceano azul.
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- Trouxe seu café! - Zelena falou alto, me chamando a atenção.
- Amém! - Disse esticando a mão em direção ao copo. E logo bebericando o delicioso líquido quente.
- Também trouxe o doutor. - A ruiva disse divertida. O que me fez engasgar. Robin estava parado na porta. No entanto, o mesmo não olhava para mim, e sim para o montado de papéis que estava em suas mãos. Olhei para Zelena com reprovação.
- O que foi? Encontrei Robin no corredor, ele logo me reconheceu. Então perguntei dos seus exames, e ele falou que você já está de Alta.
- Exatamente! - a voz rouca invadiu meus ouvidos. - Já pode ir para casa, senhorita Mills. Você está ótima! - Ele disse assim, frio e direto. - Você só precisa assinar esses papéis. - me entregou a papelada que antes estava em suas mãos.
Aquilo estava me matando, ele nem estava me olhando nos olhos.
Zelena observava tudo atenciosamente.
Robin foi em direção a janela, enquanto aguardava os papéis.
- Como Daniel está? - Tomei coragem para perguntar. A ruiva que estava ao meu lado revirou os olhos. E eu entendi perfeitamente o que ela pensava. Que eu não deveria perguntar sobre Daniel. Mas ele ainda era meu marido. E eu gostava muito dele. E me importava. É claro que eu precisava perguntar.
Robin é meu passado. Daniel é o meu presente. E ele está em coma, há exato dois longos dias.
Me pergunto, como poucas horas, podem fazer tanta diferença em nossas vidas?
- Ele continua do mesmo jeito, eu sinto muito. - Ele respondeu, enquanto se aproximava de mim, esticando sua mão. Fiquei alguns segundos, apenas olhando para ele, ou talvez o admirando. Até que me dou conta, que lá estou eu, assim como na primeira vez, perdida em seu azul intenso.
Entrego os papéis a ele, e o vejo se afastando. Minha irmã me cutuca com o braço, com o intuito de me fazer pará-lo.
Eu tinha 10 segundos, para resolver o que eu queria.
Se eu não o chamasse, talvez não tivesse essa oportunidade novamente, então seguiria com minha vida, esperando Daniel acordar, para que pudéssemos juntos seguir com nossos planos.
Ou eu poderia chamá-lo. Mas isso resultaria em algo imprevisível.
O que poderia acontecer, comigo e Robin, em um lugar qualquer, frente à frente, conversando sobre qualquer coisa, e relembrando do passado?
Eu não sei, como eu disse, é imprevisível saber. Mas eu estou curiosa.
Então eu fiz, o que a razão me permitiu.
- Robin! - O chamei com a voz falha. Talvez pela falta de coragem. O loiro se virou em minha direção, e arqueou a sobrancelha, como fazia, quando estava confuso. Eu respirei fundo, e sorri. - O que você acha de tomarmos um café, qualquer dia desses?
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