-Eu sinto muito.
Marshall nunca havia se sentido culpado por beber tanto.
Fazia isso tantas vezes, matava diversas pessoas sem ao menos sentir remorso, lembrar o rosto delas, o que faziam antes de serem assassinadas por ele.
Mas com Chiclete...
Bom, tinha sido diferente.
Ele sentia um aperto no pescoço, um embargo na garganta. Havia ficado ao lado dele, o restante da noite até o começo da manhã.
Ele suspirou, ainda observando o peito dele subir e descer lentamente.
Sua sede por sangue era insaciável, perigosa, mortífera.
E pela primeira vez, ele tinha medo de finalizar sua vítima.
Poderia, sem sombra de dúvidas, matar Chiclete, pela sua fragilidade. E depois, cometer uma chacina no Reino. Eles estavam sob uma redoma e naquele mundo, não havia justiça. Não para os mais fortes.
Poderia fazer o que quisesse, porque ele podia, tinha poderes, era um vampiro.
Olhando além da janela, para a redoma, para o gelo, sabia que nem ele podia quebrá-la.
Chiclete se moveu para o lado.
O movimento brusco fez os músculos de Marshall retesarem.
O rosado abriu os olhos amarelados, lânguido, mais exausto do que antes. Ele encarou Marshall e por segundos não tinha lembrado o ocorrido que causou seu desmaio.
Seus olhos se esbugalharam.
Marshall mostrou as palmas.
-Chiclete, me perdoa. Eu sinto muito, não...
O príncipe doce fechou os olhos, mostrando a palma. Não queria ouvir desculpas, muito menos de Marshall.
-Eu sei.
-Mas...
-Você faz isso.
-Não, Chi...
-Eu já disse que não precisa se desculpar. Eu me voluntarei para isso.
-Mas eu não quis...
Chiclete se levantou, ainda tonto. Marshall o segurou pelo pulso.
-Eu juro que não quis... Me perdoa. Eu...
Chiclete se soltou do aperto, colocando a mão na testa latente. Respirou fundo, com os olhos ardendo.
-Acho melhor você ficar no quarto por algum tempo, até melhorar.
-Claro, claro, o que eu tenho de importante para fazer hoje, não é?
-Eu sinto muito.
-Marshall, eu já entendi que você se sente culpado.
Marshall se levantou pela dúvida dele.
-Eu estou. Não é mentira.
Chiclete se virou.
-Você está arrependido por ter se alimentado? Você está brincando comigo, não está?
-Não.
-Marshall.
Ele engoliu a seco, olhando para a janela.
-Eu estou falando a verdade.
Chiclete voltou a se sentar, querendo ouvir porque ele estava se sentindo daquela forma. Marshall, acima de tudo, era um vampiro e o único alimento que podia sustentá-lo era o sangue.
-Por que?
Marshall balançou a cabeça. Nem ele sabia.
Chiclete suspirou, ainda olhando para seus olhos vermelhos, as presas em sua boca.
-Você é um vampiro. Não deveria sentir remorso.
-Não deveria?
-É.
-Por que você acha que sou mal o tempo todo? Por que eu quero ser assim? Eu preferia morrer, Chiclete, mas infelizmente nasci com essa merda.
Chiclete ainda não acreditava nele. Ele tinha matado. Marshall era um assassino.
O vampiro se encolheu, abraçando as próprias pernas. Suspirou.
-Eu sei que me odeia. - engoliu a seco, olhando para ele. - Eu estou aqui há muito tempo. E adoraria se você achasse um veneno.
-Veneno?
-Sei lá, o que mata vampiros?
Chiclete não sabia responder.
Os únicos vampiros daquele mundo eram Marshall e sua mãe.
-Eu não sei, Marshall. Queria saber.
-Eu também.
Os dois ficaram em silêncio. Marshall encarando Chiclete e o rosado, o chão.
-Quando tudo isso acabar, prometo que não apareço mais nas suas terras.
-Por que você não apenas bebe das pessoas?
Marshall tristemente sorriu.
-Se você soubesse o quanto é difícil parar. O pior foi com você. Não sei como não te matei. O seu sangue é especial, muito mais gostoso do que qualquer um que já provei em mil anos, Chiclete.
O rosado respirou ofegante, ainda se lembrando do terror da noite anterior. E também da sensação boa misturada com a dor.
Ele engoliu a saliva, ainda pensando nas presas cravadas em seu pescoço.
-Eu queria não ter que fazer isso de novo com você, Chicletinho. Mas é impossível com o tesouro que tem aí. - apontou para o pescoço e Chiclete engoliu a seco mais uma vez.
-Acho que tenho algumas coisas para resolver. - mentiu, se levantando novamente. - Eu preciso ir.
-Chiclete. Você precisa descansar... Você...
O rosado caminhou rápido até a porta.
Marshall se levantou, se preparando para correr atrás dele.
-Chicle...
A porta bateu.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.