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História Maldição Doce - Presas


Escrita por: DoctorCase

Capítulo 9 - Presas


-Eu sinto muito.

Marshall nunca havia se sentido culpado por beber tanto.

Fazia isso tantas vezes, matava diversas pessoas sem ao menos sentir remorso, lembrar o rosto delas, o que faziam antes de serem assassinadas por ele.

Mas com Chiclete...

Bom, tinha sido diferente.

Ele sentia um aperto no pescoço, um embargo na garganta. Havia ficado ao lado dele, o restante da noite até o começo da manhã.

Ele suspirou, ainda observando o peito dele subir e descer lentamente.

Sua sede por sangue era insaciável, perigosa, mortífera.

E pela primeira vez, ele tinha medo de finalizar sua vítima.

Poderia, sem sombra de dúvidas, matar Chiclete, pela sua fragilidade. E depois, cometer uma chacina no Reino. Eles estavam sob uma redoma e naquele mundo, não havia justiça. Não para os mais fortes.

Poderia fazer o que quisesse, porque ele podia, tinha poderes, era um vampiro.

Olhando além da janela, para a redoma, para o gelo, sabia que nem ele podia quebrá-la.

Chiclete se moveu para o lado.

O movimento brusco fez os músculos de Marshall retesarem.

O rosado abriu os olhos amarelados, lânguido, mais exausto do que antes. Ele encarou Marshall e por segundos não tinha lembrado o ocorrido que causou seu desmaio.

Seus olhos se esbugalharam.

Marshall mostrou as palmas.

-Chiclete, me perdoa. Eu sinto muito, não...

O príncipe doce fechou os olhos, mostrando a palma. Não queria ouvir desculpas, muito menos de Marshall.

-Eu sei.

-Mas...

-Você faz isso.

-Não, Chi...

-Eu já disse que não precisa se desculpar. Eu me voluntarei para isso.

-Mas eu não quis...

Chiclete se levantou, ainda tonto. Marshall o segurou pelo pulso.

-Eu juro que não quis... Me perdoa. Eu...

Chiclete se soltou do aperto, colocando a mão na testa latente. Respirou fundo, com os olhos ardendo.

-Acho melhor você ficar no quarto por algum tempo, até melhorar.

-Claro, claro, o que eu tenho de importante para fazer hoje, não é?

-Eu sinto muito.

-Marshall, eu já entendi que você se sente culpado.

Marshall se levantou pela dúvida dele.

-Eu estou. Não é mentira.

Chiclete se virou.

-Você está arrependido por ter se alimentado? Você está brincando comigo, não está?

-Não.

-Marshall.

Ele engoliu a seco, olhando para a janela.

-Eu estou falando a verdade.

Chiclete voltou a se sentar, querendo ouvir porque ele estava se sentindo daquela forma. Marshall, acima de tudo, era um vampiro e o único alimento que podia sustentá-lo era o sangue.

-Por que?

Marshall balançou a cabeça. Nem ele sabia.

Chiclete suspirou, ainda olhando para seus olhos vermelhos, as presas em sua boca.

-Você é um vampiro. Não deveria sentir remorso.

-Não deveria?

-É.

-Por que você acha que sou mal o tempo todo? Por que eu quero ser assim? Eu preferia morrer, Chiclete, mas infelizmente nasci com essa merda.

Chiclete ainda não acreditava nele. Ele tinha matado. Marshall era um assassino.

O vampiro se encolheu, abraçando as próprias pernas. Suspirou.

-Eu sei que me odeia. - engoliu a seco, olhando para ele. - Eu estou aqui há muito tempo. E adoraria se você achasse um veneno.

-Veneno?

-Sei lá, o que mata vampiros?

Chiclete não sabia responder.

Os únicos vampiros daquele mundo eram Marshall e sua mãe.

-Eu não sei, Marshall. Queria saber.

-Eu também.

Os dois ficaram em silêncio. Marshall encarando Chiclete e o rosado, o chão.

-Quando tudo isso acabar, prometo que não apareço mais nas suas terras.

-Por que você não apenas bebe das pessoas?

Marshall tristemente sorriu.

-Se você soubesse o quanto é difícil parar. O pior foi com você. Não sei como não te matei. O seu sangue é especial, muito mais gostoso do que qualquer um que já provei em mil anos, Chiclete.

O rosado respirou ofegante, ainda se lembrando do terror da noite anterior. E também da sensação boa misturada com a dor.

Ele engoliu a saliva, ainda pensando nas presas cravadas em seu pescoço.

-Eu queria não ter que fazer isso de novo com você, Chicletinho. Mas é impossível com o tesouro que tem aí. - apontou para o pescoço e Chiclete engoliu a seco mais uma vez.

-Acho que tenho algumas coisas para resolver. - mentiu, se levantando novamente. - Eu preciso ir.

-Chiclete. Você precisa descansar... Você...

O rosado caminhou rápido até a porta.

Marshall se levantou, se preparando para correr atrás dele.

-Chicle...

A porta bateu. 



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