História Maldito Sorriso - Os dias eram vazios sem seu amor.

‘’- Ah hyung! – ChanYeol corria animado pelo jardim enquanto aquele maldito sorriso insistia em ficar estampado em seu rosto – Pare de filmar e venha brincar comigo!’’

Fim da gravação.

 

 

Eu já não sabia quantas vezes havia repetido aquela fita, o relógio já marcava quatro da manhã e eu ainda não tinha conseguido dormir, não tinha tomado banho, fedia a suor e roupas molhadas, mas não me levantaria do sofá tão cedo, as lagrimas que já escorriam livremente não me permitiam enxergar muito bem, meus pulmões doíam a cada vez que puxava o ar para dentro do meu corpo.

Quando eu descobri que ChanYeol estava doente foi um baque, um câncer no cérebro não era algo tratado facilmente, ainda mais no estágio avançado em que se encontrava, nessa época ainda estávamos no último ano do colegial, felizmente o tratamento foi eficaz e eu pude estar do lado de meu amado Park por mais tempo.

Eu conheci o mais novo quando acabei sendo transferido para Seul, eu tinha quinze anos e ele treze, porém, ocasionalmente eu fiquei em sua sala, eu tinha reprovado dois anos escolares na China, por isso meu atraso em relação ao outro. Eu não me importava muito com esse fato, notas nunca foram realmente importantes para mim, mas para os outros estudantes isso era motivo de chacota, apesar de mais velho eu não recebia o mínimo de respeito, era a maior fonte de piadas da sala, mas ChanYeol era diferente de todos eles, foi o primeiro a sorrir para mim e rapidamente nos tornamos amigos, ele era um aluno aplicado, suas notas eram as melhores da turma e as minhas – no começo – as piores. Essa situação rapidamente mudou, com a ajuda do mais novo meus resultados rapidamente cresceram de maneira extremamente positiva. Nas férias saiamos para tomar sorvete e fomos ao aquário várias vezes. No ano seguinte fizemos o mesmo.

ChanYeol me pediu em namoro no seu aniversário de quinze anos, eu iria dormir na sua casa nesse dia, nós já estávamos deitados quando ele timidamente se virou para mim e fez o pedido, sorrindo docemente, ‘’LuHan hyung, eu realmente gosto de você... Mais do que um amigo, vamos namorar.’’ me lembro dessas palavras até hoje, foi adorável e eu rapidamente aceitei – após uma longa crise de risos – podendo sentir minhas bochechas queimarem de vergonha. Nessa mesma noite tivemos nosso primeiro beijo. Apesar das brigas eventuais, causadas pelo ciúme ou talvez apenas insegurança, nós ficamos juntos até a faculdade.

Não, nós não terminamos, mas foi no meu terceiro ano de faculdade que Park apareceu no campus de engenharia com um belo anel de noivado. Eu desabei em lagrimas nesse dia, lágrimas de felicidade, diferente das que eu sou obrigado a derramar hoje.

A morte do mais novo foi completamente inesperada, nós estávamos em Jeju quando ele passou mal, voltamos para Seul e rapidamente eu o levei até um médico, o câncer tinha voltado e cinco semanas depois ele veio a falecer, na verdade, foi na madrugada de ontem.

 

 

‘’ - Park ChanYeol, eu te amo! – Minha voz na gravação estava alegre e o rosto do maior se iluminou com aquele maldito sorriso, encarando a câmera enquanto a franja caia sobre seus olhos.

 

- Eu também te amo Lu Han! – Gritou abrindo os braços e virando de costas correndo pela areia em direção ao mar.

 

- Volta aqui! Eu ainda não terminei de gravar! – Meu tom de voz era manhoso e eu andava em direção ao mais velho que aparecia risonho no vídeo e logo a visão que a lente da câmera teve foi a areia da praia e a água do mar a atingindo’’

Fim da gravação.

 

 

O telefone tocava insistentemente ao meu lado, não tinha a mínima vontade de o atender, queria continuar ali, completamente parado, encarando a tela do notebook, mal tinha forças para piscar, mas aquela droga de música vindo do celular estava fazendo minha cabeça latejar. Respirei fundo e contei até dez, esticando o braço até o aparelho e o levando até minha orelha, escutando a voz do outro lado da linha se pronunciar em um tom extremamente preocupado.

 

- O que você estava fazendo esse tempo todo que não atendeu? Que droga LuHan... Eu estava preocupado.

 

- Oi para você também, BaekHyun. – Suspirei baixo passando a língua por meus lábios na tentativa de umedece-los – Eu só estava descansando... O que você quer? Eu não quero conversar agora.

 

- Só queria saber se você está bem... Não precisa ser grosso... – Seu tom de voz parecia estar magoado, esse garoto sempre foi sensível.

 

- Eu acabei de perder ChanYeol porra! Quer que eu esteja rindo, completamente alegre? Sinceramente... Você não tem cérebro? – Falei alterado, soluçando baixo e me encolhendo mais ainda no sofá, sentindo meu coração voltar a se apertar.

 

- Desculpa hyung... Eu só... Só queria falar com você... Não precisa ficar bravo... Me desculpa.

 

- Está tudo bem. Eu me descontrolei um pouco – Suspirei – Me desculpe, ok? Mas eu vou desligar...

 

- Tome um banho e coma algo quente... Se cuide por favor....

 

- Tchau, BaekHyun.

 

 

Talvez BaekHyun tivesse razão, por mais que não fizesse a mínima ideia de como seguir em frente eu tinha que tomar um banho, já não aguentava mais meu próprio cheiro. Dei passos lentos e sem nenhuma esperança de que conseguisse apagar aquela dor tão cedo, podendo sentir o ar faltar em meus pulmões ao tocar na maçaneta prateada da porta do quarto, me perguntando se deveria ou não entrar ali.

Fiquei mais de trinta minutos encarando a porta, até finalmente juntar coragem para entrar no local, mas antes que pudesse perceber já estava chorando encolhido em frente ao guarda-roupas, agarrado a uma camisa social de Park, sem me importar com o tempo que permaneci ali parado.

 

 

*Caixa de e-mails*

 

‘’LuHan hyung, estou com saudades, volte logo.

 

[foto]

 

Como está sendo aí na China? A Coréia não é legal sem você aqui :( quero sair para tomar sorvete com meu melhor amigo (Você!!!)

 

[foto]

 

Não se esqueça do meu presente! Não é sempre que eu faço quinze anos... Estou morrendo de saudades... Volte logo!

Amanhã mandarei outro e-mail. Bye, bye!’’

 

 

Dirigia apressado até a casa de BaekHyun, não, eu não me importava com o fato de que eram quatro da madrugada. Como eu já podia imaginar todas as luzes estavam apagadas, provavelmente eles estavam dormindo, era possível escutar os xingamentos que receberia na manhã seguinte vindos do mais novo, mas naquele momento isso era o que menor importava para mim. Eu só queria um abraço, fora que não conseguiria dormir naquela casa onde tudo me lembrava de ChanYeol... Naquela cama que tinha seu cheiro. Logo pude escutar passinhos apressados vindo em direção à porta, assim que a mesma foi aberta vi a figura de KyungSoo usando um roupão felpudo e uma touquinha de urso, o abraçando apertado sem pensar duas vezes.

 

- LuHan... – Seu sorriso era fraco e eu podia ver que seus olhos estavam igualmente inchados como os meus – Entre, hun? Estávamos te esperando.

 

- Me esperando? – Perguntei o lançando um olhar confuso assim que entrei no local.

 

- Nós sabíamos que viria... Baekkie está na cozinha fazendo rámen, vamos lá. – Disse e logo me puxou até a cozinha, eu não estava com fome, não queria comer.

 

- Oi Lu, as crianças já estão dormindo. Sente-se que eu já vou servir o rámen. – O tom de BaekHyun era tão doce, mas eu podia perceber o pesar em sua voz.

 

- Oi Baek. – Forcei um entortar de lábios que mal podia se chamar de sorriso, suspirando baixo – Como... Como sabiam que eu estava vindo? Eu nem ao mesmo avisei...

 

- Nós te conhecemos desde que temos vinte anos... Agora já somos velhos que carregam trinta e poucos anos nas costas... São doze anos... Por ai. Lu, é obvio que sabemos de tudo. – A voz de BaekHyun se mantinha calma – Nós estamos aqui para te dar todo o apoio necessário... Não precisa fingir que está tudo bem, sabemos que não está.

 

No momento em que BaekHyun disse isso eu, novamente, desabei em lagrimas, não adiantaria fingir que estava bem quando na verdade tudo estava desabando.

 

 

‘’- Sorria mais ChanYeol... A gravação não vai ficar legal assim... – Resmunguei por trás da câmera focando melhor no mais novo.

 

- Você parece um velho LuHan hyung... – Falou emburrado e logo riu travesso vendo minha expressão nada alegre enquanto o filmava.

 

- Só faça direito... É nosso último trabalho para entregar na escola...

 

- Okay... – Suspirou – Olá! Aqui é ChanYeol Park! E a receita de hoje é um prato vindo direto da Itália! – Mostrou aquele maldito sorriso de forma larga fazendo um sinal de ‘V’ com os dedos – A receita é.... Tantantantan! Spaghetti com molho bolonhesa e manjericão! – Bateu palminhas encarando a câmera – A receita é originalmente do LuHan hyung... Mas ele tem vergonha de aparecer na câmera então eu vou fazer o passo a passo e nos cortes o hyung vai cozinha hehe... O hyung é um velho chato. – Mostrou a língua.

 

- ChanYeol Park! Você só tem dezoito anos, mas eu vou te matar! Idiota! ’’

Fim da gravação.

 

 

 

‘’Eu não conseguiria continuar a viver sem você, meus passos já haviam se tornado desiludidos a muito tempo, o céu da metrópole estava cinza e o mundo frio como sempre, a única diferença é que você não estava mais ao meu lado para me esquentar. Já se passaram três meses ChanYeol e eu ainda não consegui seguir em frente, quer dizer, não completamente.

Eu vivo normalmente, aluguei um pequeno apartamento no centro, próximo de onde eu trabalho, o laboratório parece mais vazio do que o normal, ás vezes eu saio com KyungSoo e BaekHyun, mas não é tão divertido sem suas piadas ruins, os dias são dolorosos sem você ao meu lado.

Mas querido, eu não desistirei facilmente do nosso amor, por isso eu me esforço todos os dias para fazer com que tudo volte ao normal, Park ChanYeol, eu nunca fiquei tão feliz por ter escolhido estudar engenharia robótica, com a ajuda dos conhecimentos de medicina de BaekHyun nós estamos com um projeto para te trazer de volta, querido, hoje é o D-1, continuaremos tentando por quantos anos forem necessários, eu nunca irei desistir do nosso amor, eu não pude me conformar.’’

 

 

A manhã estava quente, mais do que o normal, tive vontade de ficar dormindo, não queria me levantar, a cama estava tão confortável, mas sabia que era um dia especial, era o dia que começaria meu maior projeto. Me levantei mesmo que sem muito animo, bocejando preguiçosamente, coçando minha nuca com a mão esquerda e me dirigindo ao banheiro, me olhei no espelho por alguns minutos, minha aparência já não era mais tão jovial como a alguns meses atrás, barba para fazer, cabelos necessitando urgentemente de um corte e um rosto completamente magro e pálido com enormes olheiras sendo destacadas, denunciando todas as noites que havia passado em claro. Tomei um banho lento, a água quente que caia sobre minhas costas me fazia relaxar os músculos. Fechei meus olhos enquanto ensaboava minha cabeça, aquele maldito sorriso veio a minha mente, eu sentia falta dos braços musculosos do mais novo me abraçando e distribuindo pequenos beijos por meus ombros enquanto ria e logo voltava a fazer penteados em meus cabelos cheios de shampoo, ainda podia sentir o aroma de morango no ar, por mais que agora eu não usasse mais essa fragrância para lavar meus fios. Deixei com que algumas lagrimas escorressem por meu rosto se misturando com a agua do chuveiro enquanto um sorriso amargo crescia em meus lábios, eram tantas memórias que eu mal podia controlar quando elas resolviam voltar a minha mente, afinal foram dezessete anos ao lado de uma pessoa.

 

 

 

‘’- LuHan hyung... Eu sei que você me ama muito... Mas pode parar de me filmar por favor? Eu quero comer meu bolinho em paz... – ChanYeol resmungou tapando o rosto com as mãos, parando de olhar para a câmera.

 

- Eu quero me filmar com você... Espere. – Minha voz se fez presente na gravação e logo apareci ao lado do maior depositando um beijinho em sua bochecha.

 

- Eu gosto muito de você, te acho tão lindo... Melhor namorado! – Seu tom era animado e logo levou uma de suas mãos até meus cabelos os bagunçando.

 

- Já que hoje é um dia especial, vamos nos declarar em frente a câmera. Um ano de namoro! Você começa...

 

- LuHan hyung... Eu te acho meio rabugento feito um velho... Mas ao mesmo tempo eu sinto como se você fosse só uma criancinha – Sorriu maldosamente – Ainda mais quando está chovendo, você me liga todo assustado dizendo que está com medo dos trovões, por mais que eu ria da sua cara eu acho a coisa mais fofa do mundo, eu tenho vontade de sair correndo de casa e ir te abraçar. Eu te amo muito mesmo... Eu nunca vou te deixar sozinho, quero sempre estar ao seu lado e te proteger, para o resto da minha vida, vamos estar velhinhos e eu ainda vou ser apaixonado por você... Você faz meu coração bater muito rápido, quando você entrou na escola eu pensei que meu coração fosse explodir, te achei muito bonito... Foi amor à primeira vista! Quando você morrer eu vou morrer junto! Nós vamos ficar juntos até a eternidade, porque esse é o tipo de amor que eu sinto por você! Um amor pra vida toda.’’

Fim da gravação.

 

 

 

- LuHan? Está me escutando? – BaekHyun falou enquanto revirava os olhos cutucando meu braço com a caneta, logo voltando a morde-la.

 

- Ah... Desculpe eu estava distraído. – Ri fraco o olhando e passando a mão por meu cabelo.

 

- Preste atenção agora... Nós vamos ter que fazer isso de um jeito que não precise de muitas cirurgias, entende? Muitos cortes na pele vão ser necessários, para substituir os órgãos e as veias, entende? Você vai precisar montar todas as ligações e estruturas robóticas primeiro... E vai ter que testá-las... Só assim eu vou poder realizar os procedimentos e inserir no corpo do Yeol... Entende? – O coreano explicou calmamente, enquanto fazia algumas anotações na pequena agenda apoiada no balcão do laboratório.

 

- Hum... Sim. – Falei enquanto desenhava algumas estruturas no caderno de desenho, fazendo algumas anotações.

 

- LuHan hyung... Como você pretende fazer com que ele se lembre de você... Digo... As memorias... Não vão mais existir.

 

- Eu já tenho tudo planejado, BaekHyun... Vamos fazer isso dar certo... – Sorri fraco, voltando a colocar os óculos que estavam em minhas mãos no meu rosto, suspirando pesadamente e coçando minha nuca.

 

- Eu tenho que ir para meu consultório agora... Nos vemos amanhã?

 

- Amanhã.

 

 

 

Assim que BaekHyun saiu pela porta voltei minha atenção para o desenho que fazia, precisaria montar toda uma armação conectada a um cérebro mecânico que agisse por conta própria, de acordo com as vontades do coração artificial do mais novo. Não era como se fosse criar um robô, apenas traria de volta o que nunca deveria ter ido, teria ChanYeol de volta para mim, o teria em meus braços, com todas as memorias, com todos os sentimentos, com todo o amor, como se nada tivesse acontecido.

Precisaria de uma bateria grande que substituísse o coração, algo que não precisasse de ser recarregado com frequência e que pudesse mandar parte dos comandos para o restante do corpo. Seria necessária uma estrutura que ligasse sua boca até o estomago, indo até o sistema digestório e excretor para que o mais garoto pudesse se alimentar normalmente e que as comidas fizessem digestão. Teria que inserir suas memorias e todos os sentimentos de volta.

 

 

‘’A decoração da praia estava em perfeita ordem, os tons de branco e bege claro se misturavam bem com as rosas vermelhas dos arranjos da mesa, a filmagem mostrava os convidados sentados enquanto a face ansiosa de ChanYeol encarava um ponto fixo, o mesmo mordia seus lábios enquanto seus olhos estavam levemente arregalados, seus cabelos estavam extremamente bem penteados em um topete – que não possuía um fio sequer fora do lugar – deixando seu rosto completamente exposto, usava um terno escuro e uma gravata prateada, parecia um verdadeiro príncipe ali, parado ao lado do cerimonialista. Logo minha imagem se tornou visível, eu andava calmamente até o maior, o nervosismo era evidente em meu rosto, minha franja caia sobre os olhos e o terno branco tinha o caimento perfeito em meu corpo.

 

- Boa tarde a todos... Hoje estamos reunidos aqui para unir duas pessoas, que a partir do fim dessa cerimonia se tornarão um só, suas almas se tornarão uma só. O destino uniu vocês dois para que tenham uma vida próspera e feliz, cheia de alegrias e que possam enfrentar todos os problemas futuros, os solucionando juntos, não culpando o outro, visando sempre se compreenderem. Nessa jornada difícil como casal, sejam carinhosos e compreensivos, conversem quando as palavras forem necessárias, se abracem em silêncio quando não forem. – O cerimonialista começou a falar, olhando sério para nós dois.

 

- Lu Han, não existe a menor possibilidade de eu não te amar. Não existe a menor possibilidade de eu não te fazer feliz. Porque eu nasci para te amar. Hoje nós firmaremos algo que será eterno, prometo te apoiar em qualquer momento difícil, nunca o deixarei passar por dificuldades. Não direi para se apoiar em mim quando seu mundo desmoronar, porque eu serei seu mundo. Não direi que irei secar suas lágrimas, pois nunca permitirei que nada te abale. Me desculpe por todos os erros que posso ter cometido, eu os corrigirei para que nunca mais aconteça. Eu amo seus sorrisos envergonhados ao receber elogios, sei que você não vê no espelho toda a beleza que eu vejo, sei que não se ama da forma que eu te amo, eu sei que você não entende o que eu enxergo em você, mas toda vez que eu olho em seus olhos e acaricio seus macios fios de cabelo vejo aquele com quem eu quero estar pela eternidade, vejo a pessoa com quem eu quero acordar todos os dias. Você é como a leve brisa de verão que atinge nossos rostos, você é como um sonho que se tornou realidade inesperadamente.

 

- Park ChanYeol, hoje eu estou lhe entregando completamente meu coração, porque você é a pessoa com quem eu quero passar o resto de meus dias... Eu te amarei mesmo que morra e nasça de novo, pois nossos destinos são entrelaçados, somos como retas perpendiculares, sempre nos cruzaremos, meu coração lhe pertence. Se todos te abandonarem algum dia eu sempre estarei ao seu lado, eu vou ser os pilares da sua vida. Se a tristeza atingir seu coração você terá o meu. Não há nada mais precioso no mundo do que seu sorriso, me apaixonei pela forma que seus olhos ficam pequenos quando você ri. Me apaixonei por suas piadas ruins e por sua caligrafia estranha. Eu amo todos seus defeitos, admiro suas vitórias. Não posso mais imaginar andar por essas ruas sem você ao meu lado, não consigo imaginar o mundo frio sem suas mãos quentes envolvendo meu corpo. Você é meu maior astro, é aquele que mais brilha em meu universo. Eu não preciso de um mapa, pois meu coração me guia até você, nem mesmo por um momento eu poderia te esquecer. Você é como uma flor que floresceu na escuridão, como a Lua que brilha sobre o mar. Hoje deixarei as infantilidades da juventude, pois ao seu lado crescerei e me tornarei um homem.

 

- Não vejam esses votos como promessas... E sim como privilégios... – O cerimonialista voltou a falar, eu já me encontrava com lagrimas escorrendo por meu rosto – Park ChanYeol... Você aceita se casar com Lu Han?

 

- Eu aceito.

 

- Lu Han, você aceita se casar com Park ChanYeol?

 

- É tudo o que eu mais desejo... Sim.’’

Fim da gravação.

 

 

 

 

O cansaço era evidente em meu rosto, não dormia faziam alguns dias, passava horas e mais horas trancafiado naquele laboratório, era o trigésimo segundo protótipo que tentava fazer que conseguisse absorver e repassar informações e comandos para o restante do corpo. Soldava as ligações concentradamente, inseria cada cartão, fazia cada alteração necessária. Tinha vontade de desistir, todas as tentativas eram falhas, tinha que começar tudo do início por causa de pequenos erros, uma hora era falha nos cartões de memória, outra os cabos que seriam conectados nas cordas vocais de ChanYeol apresentavam erros de reprodução, mas o maior problema que tinha era o fato de não conseguir passar informações para o restante do ‘’corpo’’.

Poderia muito bem desistir na primeira falha, mas não faria isso, ChanYeol era meu destino, havia prometido nunca o abandonar, me esforçaria por dia, meses, anos, mas não desistiria até conseguir, não poderia viver sem o mais novo ao meu lado. Ele voltaria, tinha certeza disso, eu gastaria até a última gota de suor, até minha última noite de sono, até que não tivesse mais forças para continuar tentando.

Um grito escapou por meus lábios ao conectar novamente a bateria no corpo robótico e segurar a estrutura que futuramente seria inserida na mão do mais velho, sentindo a mesma apertar minha mão, fazendo um breve cumprimento. Senti todo meu corpo estremecer nesse momento, andei desengonçadamente até o telefone, ajeitando meus óculos e discando o número de BaekHyun ainda com as mãos trêmulas.

 

- B-Baekkie... Eu consegui... Eu consegui BaekHyun... Deu certo... – Falei assim que escutei o ‘’Alô’’ desanimado de BaekHyun do outro lado da linha, pude ouvir o baixo grito que o mesmo deu.

 

- Eu estarei aí em quarenta minutos... Oh meu Deus Hannie... Isso é incrível...

 

 

 

‘’- Meu nome é LuHan... Esse é meu namorado ChanYeol. Venha aqui amor. – Falei olhando para a câmera, puxando o mais novo para se sentar ao meu lado, dando um beijo delicado em sua bochecha.

 

- Lu é a pessoa que eu mais amo no mundo! Um dia nós iremos nos casar, certo Han? – Mostrou os dentes com aquele maldito sorriso, deitando minha cabeça em seu ombro.

 

- Sim! – Bati palminhas animado – Porque eu amo esse idiota nós vamos nos casar.

 

- Eu não sou idiota seu velho rabugento.

 

ChanYeol era incrível, não demorei muito para dar um belo soco em sua cabeça, sorrindo de forma amável para a câmera.

 

- Eu também te amo LuHan hyung... – Falou enquanto fez um pequeno bico, que eu logo tratei de beijar delicadamente.’’

Fim da gravação.

 

 

BaekHyun estava trancafiado no laboratório faziam quase treze horas, eu me mantinha sentado ao lado de KyungSoo brincando com as crianças, tentando distrair minha mente, mas nada conseguiria tirar meus pensamentos do que estava acontecendo dentro daquela sala, estava cansado e ansioso, finalmente teria meu amado de volta para mim, mal conseguia conter o sorriso em meu rosto, ‘’O titio ChanYeol finalmente vai voltar, é isso’’ Foi o que eu respondi quando um dos filhos do casal me perguntou porque eu estava tão alegre.

 

- Por que não vai para casa, toma um banho, faz essa barba... Da um jeito nesse cabelo, veste uma roupa bonita e volta? Acho que quando voltar BaekHyun já vai ter terminado... – KyungSoo falou enquanto sorria olhando para meu rosto cansado.

 

- Você tem razão Kyunggie... Eu voltarei logo! – Falei já me levantando, mordendo meus lábios com força, respirando fundo e voltando a abrir um grande sorriso.

 

 

Assim que cheguei em meu apartamento comecei a retirar minhas roupas, as jogando em qualquer canto, sem realmente me importar com onde elas iriam parar. Meu banho foi mais demorado do que o normal, lavei meus cabelos pacientemente, fiz a barba e escovei os dentes. Vesti uma bermuda cor creme e uma leve blusa de botões branca, penteando meus cabelos em um topete, passei um pouco de uma colônia com aroma de flores e me olhei no espelho e sorri, sorri apaixonadamente, alegremente, sinceramente. Fazia tanto tempo que não me via assim que mal pude me reconhecer, estava feliz, feliz porque teria meu amor de volta, teria meu Park ChanYeol.

 

 

 

Quando entrei no laboratório BaekHyun apenas sorriu, me deu um abraço e saiu dali, andei até o corpo desacordado do mais novo e o virei de bruços, tendo a visão de sua nuca, pegando meu notebook e o conectando ali através de um fino cabo inserido na pele do maior. Selecionei uma pasta com diversos dados sobre si próprio e os outros, estava o programando para se reconhecer e reconhecer os outros, ter emoções e reações espontâneas. Logo mudei de pasta, deixando com que uma lagrima escorresse por minha bochecha, haviam mais de quatrocentos arquivos na mesma, eram todos vídeos de nós dois, mensagens e cartas digitalizadas, aquilo tornaria as memorias mais reais em sua mente.

Soltei um suspiro de alivio ao ver a mensagem de ‘’Memorias 100% Inseridas’’ na tela do notebook após longas três horas, sorrindo satisfeito, agora faltava apenas uma coisa.

Andei calmamente até um dos armários, pegando uma caixa preta e voltando a ficar do lado do corpo desacordado, abrindo o pequeno baú, sorrindo tímido ao ver a bateria, seria o novo coração de ChanYeol, o formato se assemelhava a um real, porém era mais pesado e não corria sangue ali, apenas dados e comandos. Abri um pequeno corte em seu peito e conectei a bateria a todas as outras estruturas, soldando o que era necessário. Costurei sua pele novamente, sorrindo já com algumas lagrimas em meus olhos, o sentando no balcão. Toquei sua nuca e dei um breve beijo em sua testa. Cliquei no pequeno botão localizado abaixo de suas costelas esperando que abrisse os olhos, que sorrisse e falasse ‘’LuHan hyung’’ mas nada aconteceu. Pude sentir meu mundo desabar naquele momento, senti minhas pernas fraquejarem e rapidamente meu corpo caiu ao chão... Me sentia desolado... Como podia ter dado errado? Deixei que as lagrimas invadissem meu rosto e fiquei ali, encolhido no chão do laboratório, até que finalmente peguei no sono.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- LuHan hyung... Você já é muito velho para ficar dormindo no trabalho... Sabia que foi difícil te carregar até o carro? – Uma voz se fez presente ao meu lado, sentia meu corpo em uma superfície macia, provavelmente uma cama, demorei alguns segundos até tomar coragem para abrir meus olhos.

 

 

Nunca fiquei tão feliz em ser acordado, assim que abri coragem para abrir meus olhos pude ver aquele maldito sorriso em seus lábios, ChanYeol havia voltado.