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História Marauders heir - Dezenove - Atando os nós


Escrita por: BiancaLBlack

Capítulo 18 - Dezenove - Atando os nós


SEGUNDA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO

ELADORA

A noite de ontem ficou muito mais divertida quando o álcool rolou solto. Meu padrinho tropeçava nas próprias pernas de tão bêbado, e minha madrinha, um pouco mais sóbria, ralhava com ele, que retrucava dizendo:

-Pelo amor de Merlim, Lils! Sirius está muito mais bêbado que eu, e você não está brigando com ele. Lembra-se daquela vez em que ele encheu a mamadeira de Firewhisky e deu para o bebê como se não fosse nada demais? Ele estava muito bêbado nesse dia, e você não ligou a mínima.

-É porque eu sou casada com você, e não com ele, seu imbecil. Agora me dá isso aqui – ela tomou o copo de conhaque da mão dele e bebeu tudo, recebendo um protesto de James.

Sirius e Remus assistiam a tudo caindo de rir. Uma mão apertou meu ombro enquanto outra me oferecia uma bebida.

-Agora sei de onde herdou a predisposição ao álcool – disse o dono das mãos, George, rindo. - Firewhisky com vodka trouxa. Experimente, Fred e eu que fizemos.

O gosto era doce, até demais, até, mas era bom.

-Gostei – disse, piscando. - Pode me arrumar mais?

-Tudo por você, srta. Lupin-Black – ele piscou de volta.

Fomos para a cozinha. Charlie e Bill estavam sentados na mesa, bebendo algo que Fred lhes servia.

-Temos uma companhia muito nobre esta noite, senhores – anunciou George. - Fred, uma dose para a dama, sim?

-Às ordens, meu caro – ele riu ao me entregar um copo.

Bebi até me sentir alta, e conforme meus pais me ensinaram depois da minha primeira ressaca: o truque para não ficar de ressaca é parar de beber quando estiver se sentindo mal – “até porque você demora para sentir qualquer coisa com o álcool, então, quando estiver se sentindo mal, é porque já está muito mal”, disseram -, então me esforcei para engatinhar até a porta do jardim. Alguém a abriu para mim, fiquei muito agradecida por isso. A brisa acalmou meu estômago revoltado, e consegui respirar de novo normalmente.

Me arrastei até a cerca onde George e eu nos beijamos horas antes, quase fazendo força para não vomitar. Desejei a poção maravilhosa que bebi na primeira ressaca, e rezava para não ter a segunda. Recebi carinhos acalentantes nas costas. Vinham de George, e ao ver seu sorriso confiante, me frustrei. Ele bebera quase tanto quanto – se não mais do que – eu, e estava visivelmente melhor. Estendia outro copo, recusei, achando que era mais Firewhisky com vodka, mas ele insistiu, dizendo que era uma receitinha anti ressaca milagrosa.

Engoli de uma só vez, ele abraçando meus ombros para que eu não caísse para trás, estava um pouco tonta

Acordei às nove, para conseguir guardar tudo o que ganhara na mala. Meus padrinhos haviam me dado um box de uma coleção de livros trouxas; a sra. Weasley me deu um sweater azul - “para combinar com seus olhos”, disse ela ao me entregar o pacote -; os gêmeos me deram uma caixa de cortesias Gemialidades Weasley; Harry e Rony uma caixa dos meus chocolates favoritos da Dedosdemel; e meus pais um álbum de fotos nossas da época em que eu era bebê.

Quando terminei de arrumar tudo, fui com meus pais para King’s Cross. Estava quase na hora de embarcar.

-Filha? - chamou Remus segurando um camafeu. - Leve isso com você, por favor.

-Um presente de Natal atrasado – Sirius completou.

Abri a joia de ouro. Três fotos foram portadas ali, uma de Remus, uma de Sirius, uma minha aos treze anos. Sorri, o presente era lindo e fofo – meus pais eram lindos e fofos, falando sério.

-Mantenha por perto o tempo todo – aconselhou Remus, não escondendo o brilho misterioso nos olhos.

-Qual é o poder oculto disso? - perguntei, certa que havia algo escondido.

-Saberá quando for a hora – disse Sirius, beijando meus cabelos com carinho. - Está na hora.

Corri para o trem, Harry segurava a porta aberta para mim. Agradeci enquanto Jonay passava no corredor rindo com Neville Longbottom. Corri os olhos pela minha cabine. Harry, Rony, Ginny e os gêmeos. Hesitei quando meu olhar cruzou com o de George. Ele fez menção de segurar minha mão, mas eu recuei. Tinha pontas a atar antes de mais nada. Pedi que guardassem um lugar para mim e sai à procura de Jonay.

-Hey – gritei ao vê-lo -, podemos conversar?

-Claro – ele se virou para mim. - Venha, tem um assento vago na nossa cabine.

Seguimos para o reservado vazio. Achei que Neville viria conosco, mas ele se esquivou, dizendo que sentaria com Hannah Abbott na cabine vizinha. Tamborilei os dedos no vidro frio, segurando meu camafeu com a outra mão.

-Então é isso – disse ele, olhando para o nada.

-É isso – concordei.

É isso? Sério? Nem parece que tínhamos anos de estudo pela frente ainda. “Isso” era o fim de nosso relacionamento amoroso, sem mágoa ou dor. Ele apertou minha mão, beijando-a em seguida. Caminhei para a cabine onde meus amigos estavam e sentei entre Ginny e George.

-Quem te deu o camafeu, Sweetie? - perguntou George, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

-Meus pais.

-É lindo – comentou Ginny.

-Obrigada.

Passei o resto da viagem rindo das piadas idiotas que fazíamos. George mantinha os olhos em mim, como se dissesse: “Precisamos conversar”. Deixei que ele segurasse minha mão durante o caminho até a mesa da Grifinória.

-Sweetie, três e meia no jardim, pode ser?

-Fechado – sorri e fizemos um high five.

Sweetie, era a segunda vez que ele me chamava assim e eu achava muito fofo. Precisava arrumar um apelido bonitinho para ele logo. Durante o almoço, notei que mais olhos foram plantados sobre mim, além dos de George. Caleb também me encarava. Deixei o prato pela metade e fui à mesa de Beauxbatons.

-Quoi? (O que foi?) - questionei.

-Se recuperou rápido até. Jonay é um cara legal? - ele falou em um inglês compreensível, mas muito arrastado

-Está mais para melhor amigo. Fomos ao baile de inverno juntos porque eu pedi ajuda a ele, mas somos só amigos, nada mais

Ele moveu a cabeça. Era isso que ele queria? Me sondar para saber se eu já estava com outra pessoa? Imagina se ele soubesse que eu estava quase em algo firme com George – hehehehe, ele não perde por esperar. Declarei a conversa encerrada e voltei para o meu lugar, rindo de um truque que os gêmeos exibiam para segundanistas.

-Três e meia, sr. Weasley – soltei o lembrete, sem dizer se era para Fred ou George (eles sabiam qual dos dois ia sair comigo). - Não se atrase.

Os alunos já deixavam o salão, então juntei-me à multidão, sabendo que George sorria para mim. Jonay seguia ao meu lado, sorrindo quase como um bobo, e eu sabia que tinha a ver com a tal Avery. Só espero que ela seja boa o bastante para ele.

-Como foi seu Natal? - interpelei, com um sorriso.

-Ótimo, a mãe da Eliza é amiga da minha, tive um feriado incrível. E o seu?

-Na Toca, e foi muito divertido.

-Você e George se divertiram bastante, é claro.

-Como se você e Eliza não tivessem – ri, e ele fez o mesmo.

***

-Você veio – disse George, correndo até mim.

-Achou que eu te daria o cano? - abracei-o.

-Só achei que o final do Tribruxo te monopolizaria, já que a final é amanhã.

-Eu arranjaria um tempo para você.

-Own, que menina fofa – ele fez carinho em meus cabelos. - Não é muito, mas queria que tivesse algo meu durante a tarefa.

Ele colocou um botão na minha mão, com um delicado W entalhado. Abracei-o pelo pescoço e ri. O camafeu que ganhei no Natal estava no meu pescoço por dentro das vestes. Juntara incentivo o bastante para sobreviver a essa tarefa. Conversamos por mais um tempo, e relutantes, nos separamos.

Reconheci em mim algumas “faces” que tive em meus relacionamentos. Ousada com Caleb, romântica com Jonay e sentimental com George. Me permiti apegar a m botão que ele carregava, e ele se permitiu a um beijo sob o visgo. Estávamos apegados um ao outro, talvez até demais.

No dia seguinte, a “equipe Lupin-Black” me esperava na sala comunal com meu uniforme especial. Antes de me juntar a eles, fiz um acréscimo ao camafeu: pendurei o botão no cordão, assim teria os três comigo o tempo todo. Coloquei o uniforme, e então nossa caravana seguiu para arena montada no campo de quadribol. A tenda estava armada, mas vazia. Os campeões estavam com suas famílias na arquibancada.

Vi Sirius e Remus em um camarote superior com meus padrinhos. Levei Harry até lá, recebendo um abraço caloroso de meus pais.

-Oi, marotinha – disseram, beijando minhas bochechas.

-Por favor, nem parece que me viram há dois dias – coloquei os braços em volta deles.

-Permita-nos o prazer da saudade, está bem? - pediu Remus.

Um alarme soou, chamando os campeões à tenda de concentração. Me despedi com acenos e fui para lá. O público gritava os nomes de seus favoritos, e eu ouvia Eladora e Lupin-Black com frequência. Até corei um pouquinho quando um grupinho berrou e acenou para mim.

-Ella, hey! Ella!

Me virei, Jonay lutava contra a multidão para chegar até mim. Esperei que ele chegasse perto, ele me abraçou e tascou um beijo ardente e saudosos nos lábios.

-É isso – disse ele. - Adeus minha namorada.

-Adeus, meu namorado – concordei, retomando a descida.

Na tenda. Crouch e Bagman explicavam as regras da tarefa. Era um labirinto, dentro do qual fora plantada a Taça Tribruxo. Deveríamos encontrá-la e trazê-la de volta. Simples não? Sim, não fosse o fato que não sabíamos o que havia lá dentro para enfrentarmos.

Bagman, então, apontou a varinha para a garganta e murmurou Sonorus, e sua voz magicamente amplificada ressoou pelas arquibancadas.

-Senhoras e senhores, a terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo está prestes a começar!

Consegui apenas reconhecer meus pais, padrinhos, Harry, Rony, George e Jonay aplaudindo educadamente, no alto das arquibancadas. Acenei para eles, que retribuíram o aceno, sorrindo.

-Então... quando eu apitar - anunciou Bagman. -Três – dois – um...

O bruxo soprou com força o apito e todos os campeões correram para a entrada do labirinto.

As sebes altaneiras lançavam sombras escuras sobre a trilha e, talvez porque fossem tão altas e densas ou porque fossem encantadas, o barulho dos espectadores que as cercavam silenciou no instante em que os campeões entraram no labirinto. Quase me senti novamente embaixo da água. Puxei a varinha, murmurei Lumus e ouvi Caleb fazer o mesmo atrás de mim. Depois de andar uns cinquenta metros, chegamos a uma bifurcação.

Trocamos olhares.

– Até mais – disse e tomei a trilha da esquerda, enquanto Caleb tomou a da direita.

Me apressei. A trilha que escolhera parecia completamente deserta. Me virei à direita e continuou depressa, mantendo a varinha acima da cabeça, tentando ver o mais longe possível. Mesmo assim, não havia nada à vista.

Não parava de olhar para trás. Tinha a sensação de que alguém me vigiava. O labirinto foi ficando mais escuro a cada minuto que se passava, porque o céu no alto ia ganhando um matiz azul-marinho. Eu cheguei a uma segunda bifurcação.

– Me oriente – sussurrei à varinha, segurando-a deitada na palma da mão.

A varinha fez um giro completo e apontou para a direita, para a sebe maciça. Para ali ficava o norte, e sabia que precisava seguir para noroeste para chegar ao centro do labirinto. Faria melhor se tomasse a trilha da esquerda e tornasse a seguir para a direita assim que pudesse.

A trilha à frente também estava vazia e quando cheguei a uma curva à direita e entrei por ela, encontrei mais uma vez o caminho livre. Eu não sabia o porquê, mas a falta de obstáculos começava a deixar-me nervosa. Com certeza já deveria ter encontrado algum a essa altura. Tinha a impressão de que o labirinto estava induzindo a uma falsa sensação de segurança. Então ouviu um movimento bem atrás de mim. Ergui a varinha, pronta a atacar, mas seu facho de luz recaiu sobre Caleb, que acabara de sair correndo da trilha do lado direito.

Caleb parecia gravemente abalado. A manga de suas vestes fumegava.

–Os explosivins de Hagrid! – sibilei. – Estão enormes, escapei por um triz!

Caleb sacudiu a cabeça e desapareceu de vista por outra trilha. Interessada em guardar uma boa distância entre mim e os explosivins, retomei depressa o meu caminho. Um dementador deslizava na minha direção. Três metros e meio de altura, o rosto oculto pelo capuz, as mãos podres e cobertas de feridas estendidas à frente, ele avançava às cegas, tateando. Ouvi minha respiração vibrante; senti um frio pegajoso se apoderar de mim, mas sabia o que precisava fazer… Chamou à mente o pensamento mais feliz que pôde, se concentrou com todas as forças no pensamento de sair do labirinto e comemorar com todos os meus amigos, ergui a varinha e exclamei: Expecto Patronum!

Um cão prateado irrompeu da ponta da varinha e avançou a galope para o dementador, que recuou e tropeçou na barra das vestes... eu nunca vira um dementador tropeçar.

– Espere aí! – gritei, avançando na cola do seu patrono prateado. – Você é um bicho papão! Riddikulus!

Ouviu-se um grande estalo e o transformista explodiu, deixando atrás apenas uma fumacinha. O cão prateado desapareceu de vista. Desejei que ele tivesse ficado, seria agradável ter uma companhia... mas continuei meu caminho o mais depressa e silenciosamente que pude, apurando os ouvidos, a varinha, mais uma vez, erguida no alto. Esquerda... direita... novamente à esquerda... em duas ocasiões eu fui dar em trilhas sem saída. Executei o Feitiço dos Quatro Pontos mais uma vez e descobri que me afastara demais para leste. Retrocedi, tomei a trilha à direita e vi uma estranha névoa dourada flutuando mais adiante.

Aproximei-me cautelosamente, apontando para a névoa o facho de luz da varinha. Parecia algum tipo de encantamento. Eu me perguntei se seria capaz de explodi-la para desimpedir o caminho.

Reducto! – ordenei.

O feitiço atravessou a névoa, deixando-a intacta. Conclui que devia ter sabido: o Feitiço Redutor só servia para objetos sólidos. Que aconteceria se ele atravessasse a névoa? Valeria a pena arriscar ou deveria retroceder? Ainda hesitava, quando um grito rompeu o silêncio.

–Krum? – berrei.

Silêncio. Eu olhei para todos os lados. Que acontecera com o garoto? Seu grito parecia ter vindo de algum lugar à frente. Inspirei profundamente e atravessei a névoa encantada.

O mundo virou de cabeça para baixo. Fiquei pendurada no chão, os cabelos em pé. Tinha a sensação de que meus pés estavam grudados na grama, que agora se transformara em teto. Abaixo, o céu pontilhado de estrelas se estendia infinitamente. Senti que se tentasse mexer um pé, despencaria da terra de vez. Pense, disse a mim mesma, enquanto todo o meu sangue afluía à cabeça, pense...

Mas nenhum dos feitiços que praticara se destinava a combater uma repentina inversão de terra e céu. Ousaria mexer um pé? Eu ouvi o sangue latejar com força em meus ouvidos.

Tinha duas opções – tentar me mexer ou disparar faíscas vermelhas e ser socorrida, ficando desqualificada da tarefa.

Fechei os olhos para evitar contemplar o espaço infinito abaixo de mim e puxei o pé direito com toda a força que pude do teto gramado.

Imediatamente o mundo se endireitou. Eu cai para a frente de joelhos num chão maravilhosamente sólido. Senti-me por algum tempo mole de susto. Inspirei profundamente para me firmar, então tornei a me levantar e avancei correndo, lançando olhares para trás por cima do ombro, enquanto fugia da névoa dourada, que piscou para mim inocentemente ao luar.

Parei na junção de duas trilhas e olhou para os lados à procura de algum sinal de Krum. Tinha certeza de que fora o garoto que ouvira gritar. Com que será que ele deparara? Estaria bem? Não havia faíscas vermelhas no alto – será que isto significava que conseguira se livrar do problema ou estaria em tal apuro que nem conseguira apanhar a varinha? Eu tomei a trilha à direita com uma sensação de crescente inquietação... mas, ao mesmo tempo, não consegui deixar de pensar, menos um campeão...

A Taça estava em algum lugar ali perto e, pelo jeito, Krum não estava mais competindo. Eu chegara até ali, não chegara? E se, de fato, conseguisse vencer? Por um instante fugaz, e pela primeira vez desde que fora feita campeã, revi aquela imagem de mim mesma, erguendo a Taça do Tribruxo diante do resto da escola...

Por uns dez minutos não encontrei nada, exceto trilhas sem saída. Duas vezes tomei a mesma trilha errada. Finalmente achei um novo caminho e comecei a andar depressa por ele, a luz da varinha oscilando, fazendo minha sombra bruxulear e se distorcer pelos lados da sebe. Então me virei mais uma vez e dei de cara com um explosivim.

Eu tinha razão – era enorme. Três metros de comprimento, lembrava mais um escorpião gigante do que qualquer outra coisa. Seu longo ferrão estava revirado para trás. A grossa armadura refulgia à luz da varinha, que eu apontava para ele.

Estupefaça!

O feitiço bateu no escudo do explosivim e ricocheteou; me abaixei bem a tempo, mas senti cheiro de cabelos queimados; chamuscara o cocuruto da cabeça. O explosivim soltou um jorro de chamas da cauda e voou para cima de mim.

Impedimenta! – berrei. O feitiço bateu mais uma vez no escudo do explosivim e voltou; eu cambaleei alguns passos para trás e cai. – IMPEDIMENTA!

O explosivim estava a centímetros dele quando se imobilizou – eu conseguira atingi-lo na barriga carnuda e sem escudo. Ofegando, me impeli para longe e corri, com todas as forças, na direção oposta – a Azaração de Impedimento não era permanente, o explosivim recobraria o uso das pernas a qualquer momento.

Segui pela trilha da esquerda e não encontrei saída, segui pela da direita e tampouco encontrou saída; obrigando-me a parar, com o coração acelerado, executei mais uma vez o Feitiço dos Quatro Pontos, retrocedi e escolhi uma trilha que me levasse para noroeste. Já ia caminhando apressado pela nova trilha havia alguns minutos, quando ouviu alguma coisa na trilha paralela à minha, que me fez estacar.

–Que é que você está fazendo? – berrou a voz de Caleb. – Que diabo você pensa que está fazendo?

E então ouvi a voz de Cedric

Crucio!

O ar se encheu repentinamente com os gritos de Caleb. Horrorizada, avancei correndo pela trilha, tentando encontrar uma passagem para a dele. Quando não apareceu nenhuma, eu tentei novamente o Feitiço Redutor. Não foi eficiente, mas queimou um buraquinho na sebe, pelo qual enfiei a perna, chutando os galhos emaranhados até eles cederem deixando uma abertura; com esforço a atravessei, rasgando as vestes e, ao olhar para a direita, vi Caleb se debatendo e se contorcendo no chão, sob o olhar de Cedric.

Me endireitei e apontei a varinha para Cedric na hora em que o rapaz ergueu a cabeça. Me deu as costas e começou a correr.

Estupefaça! – berrei.

O feitiço atingiu Cedric pelas costas; ele parou instantaneamente, caiu de borco e ficou imóvel, com a cara na grama. Corri para Caleb, que parara de se contorcer mas continuava deitado no chão arfando, as mãos cobrindo o rosto.

–Você está bem? – perguntei rouca, agarrando-o pelo braço.

–Estou – ofegou ele. – É... eu não acredito... ele se aproximou de mim pelas costas... eu o ouvi e, quando me virei, ele estava empunhando a varinha apontada para mim...

Caleb se levantou. Ainda tremia. Juntos, olhamos para Cedric.

–Eu não acredito... achei que ele era legal – comentei, contemplando Cedric.

–Eu também.

–Você ouviu Krum gritar há algum tempo?

–Ouvi. Você acha que ele o pegou também?

–Não sei – disse eu lentamente.

–Vamos deixá-lo aqui? – perguntou Caleb.

–Não – disse. – Acho que devíamos disparar faíscas vermelhas. Alguém virá apanhá-lo... do contrário ele provavelmente será comido por um explosivim.

–E seria bem-merecido – murmurou Caleb, mas ainda assim, ergueu a varinha e disparou uma chuva de faíscas vermelhas para o ar, que pairaram sobre Cedric marcando o local em que ele se encontrava.

Eu e Caleb ficamos ali no escuro por um momento, olhando a toda volta. Então Caleb falou:

–Bem... suponho que seja melhor a gente ir...

–Quê? Ah... sim... certo...

Foi um momento estranho. Caleb e eu unidos por breves instantes contra Cedric – agora o fato de sermos adversários ocorria a ambos. Eles continuaram pela trilha escura sem falar, então eu virei para a esquerda e Caleb para a direita. O ruído dos passos do rapaz não tardou a desaparecer.

Segui caminho, continuando a usar o Feitiço dos Quatro Pontos, para me certificar de que caminhava na direção correta. Agora a competição estava entre mim e Caleb. O desejo de chegar à Taça primeiro ardia em meu peito como nunca antes, mas não conseguia acreditar no que acabara de ver Cedric fazer. O uso de uma Maldição Imperdoável em um ser humano significava uma sentença de prisão perpétua em Azkaban, fora o que Moody dissera.

Cedric com certeza não poderia ter desejado a Taça Tribruxo tanto assim... me apressei. De vez em quando chegava a trilhas sem saída, mas a escuridão crescente me dava certeza de que estava me aproximando do centro do labirinto. Então, quando seguia por uma trilha longa e reta, ele mais uma vez percebi um movimento, e a luz de minha varinha incidiu sobre uma criatura extraordinária, uma que só vira sob a forma de ilustração no meu O livro monstruoso dos monstros.

Era uma esfinge. Tinha o corpo de um enorme leão; grandes patas com garras e um longo rabo amarelado que terminava em um tufo de pelos castanhos. A cabeça, porém, era de mulher. Ela virou os olhos amendoados para mim quando me aproximei. Ergui a varinha hesitante. A esfinge não estava agachada como se fosse saltar, mas andava de um lado para outro da trilha, bloqueando seu avanço.

Então falou, com uma voz profunda e rouca:

–Você está muito próximo do seu objetivo. O caminho mais rápido é passando por mim.

–Então... então será que a senhora podia se afastar, por favor? – disse eu, sabendo qual seria a resposta.

–Não – disse ela, continuando a sua patrulha. – Não, a não ser que você decifre o meu enigma. Se acertar de primeira, deixo-a passar. Se errar, eu a ataco. Permaneça em silêncio, e eu a deixarei partir, ilesa.

O meu estômago escorregou alguns centímetros. Jonay é que era bom nesse tipo de coisa e não eu. Avaliei minhas chances. Se o enigma fosse muito difícil, podia me calar, ir embora sem se machucar e tentar encontrar um caminho alternativo para o centro.

–OK – respondi. – Pode me dizer o enigma?

A esfinge se sentou nos quartos traseiros, bem no meio da trilha e recitou:

“Primeiro pense no lugar reservado aos sacrifícios,

Seja em que templo for.

Depois, me diga que é que se desfolha no inverno e torna a brotar na primavera?

E finalmente, me diga qual é o objeto que tem som, luz e ar e flutua na superfície do mar?

Agora junte tudo e me responda o seguinte,

Que tipo de criatura você não gostaria de beijar?”

Encarei-a boquiaberta.

–Podia, por favor, repetir... mais devagar? – pedi hesitante.

A esfinge pestanejou, sorriu e repetiu o enigma.

–Todas as pistas levam ao nome da criatura que eu não gostaria de beijar? – perguntei.

A esfinge meramente sorriu, aquele sorriso misterioso. Eu interpretei como um “sim”.

Comecei a pensar. Havia muitos animais que não gostaria de beijar; meu pensamento imediato foi um explosivim, mas alguma coisa me disse que não era a resposta correta. Teria que tentar decifrar as pistas...

–O lugar reservado aos sacrifícios – murmurei, encarando a esfinge –, seja em que templo for... hum... seria... um altar. Não, esta não seria a minha resposta! Uma... ara? Vou voltar a isso depois... poderia me dar a pista seguinte, por favor?

O animal fabuloso repetiu as linhas seguintes do enigma.

–A última coisa a desaparecer no inverno e a reaparecer na primavera nas árvores da floresta – repeti. – Hum... não faço ideia... árvores... galhos... rama... pode me dizer o último trecho outra vez?

Ela repetiu as últimas quatro linhas.

-O objeto que tem som, luz e ar e flutua na superfície do mar... – disse eu. – Hum.… isso seria... hum... espere aí, uma boia?

A esfinge sorriu.

–Ara... hum... ara... rama... – disse, agora era eu quem estava andando para lá e para cá. – Uma criatura que eu não gostaria de beijar... uma araramboia!

A esfinge abriu um sorriso maior. Levantou-se, esticou as pernas dianteiras e então se afastou para um lado e me deixou passar.

–Obrigada! – disse eu e, admirada com a minha própria genialidade, prossegui correndo.

Tinha que estar perto agora, tinha que estar... a varinha dizia que estava na direção exata; desde que não deparasse com nada horripilante, poderia ter uma chance...

À frente precisou escolher entre duas trilhas.

–Me oriente! – sussurrei mais uma vez à varinha, e ela deu um giro e apontou para a da direita. Sai correndo por ela e vi uma luz adiante.

A Taça Tribruxo brilhava num pedestal a menos de cem metros à sua frente. Eu mal saíra correndo quando um vulto escuro se precipitou sobre a trilha à frente.

Caleb ia chegar primeiro. O rapaz estava correndo o mais rápido que podia em direção à Taça, e eu percebi que nunca o alcançaria, Caleb era muito mais alto, tinha pernas muito mais compridas...

Então, eu vi um vulto imenso por cima da sebe à sua esquerda, deslocando-se ligeiro pela trilha que cortava a sua; ia tão depressa que Caleb estava prestes a colidir com ele, e com os olhos na Taça, o rapaz não vira o vulto...

–Caleb! – berrei. – À sua esquerda!

O garoto virou a cabeça em tempo de se atirar para além do vulto e evitar colidir com ele, mas, em sua pressa, tropeçou. Vi a varinha voar da mão dele, ao mesmo tempo que uma enorme aranha entrava na trilha e começava a avançar para o rapaz.

Estupefaça! – berrei; o feitiço atingiu o gigantesco corpo da aranha, negro e peludo, mas produziu tanto efeito quanto se tivesse atirado uma simples pedra nela; a aranha deu um estremeção, virou-se e correu para mim

Estupefaça! Impedimenta! Estupefaça!

Mas não adiantou – a aranha ou era demasiado grande ou tão mágica que os feitiços só conseguiam irritá-la –, vi de relance, horrorizada, oito olhos negros e brilhantes e pinças afiadas como navalhas, antes que a aranha estivesse sobre mim.

O inseto ergueu-me no ar com as patas dianteiras; debatendo-me como louca, eu tentei chutá-lo; sua perna fez contato com as pinças e no momento seguinte senti uma dor excruciante – ouvi Caleb gritar “Estupefaça!” também, mas o feitiço do rapaz produziu tanto efeito quanto o meu – o garoto ergueu a varinha quando a aranha tornou a abrir as pinças e gritou “Expelliarmus!”.

Funcionou – o Feitiço para Desarmar fez a aranha largar-me, o que significou que cai três metros e tanto sobre uma perna já machucada, que se dobrou sob meu corpo – meu pai me mataria quando soubesse o que acontecera com a mesma perna que eu quebrei na Copa Mundial. Sem parar para pensar, mirei bem alto sob a barriga da aranha, como fizera com o explosivim, e gritei “Estupefaça!” na mesma hora em que Caleb gritava o mesmo.

Os dois feitiços combinados fizeram o que um sozinho não conseguira – a aranha tombou de lado, achatando uma sebe próxima e espalhando na trilha um emaranhado de pernas peludas.

–Ella! – ouvi Caleb gritar. – Você está bem? Ela caiu em cima de você?

– Não! – gritei em resposta, examinando a perna. Sangrava muito. Viu uma secreção grossa e pegajosa que saíra das pinças da aranha nas vestes rasgadas. Então, tentou se levantar, mas a perna tremia demais e se recusava a sustentar meu peso. Me apoiei na sebe, tentando recuperar o fôlego e olhei para os lados.

Caleb estava a pouquíssima distância da Taça Tribruxo que refulgia às suas costas.

–Pega a Taça, então – disse eu arfante para Caleb. – Pega logo, apanha. Você chegou ao centro.

Mas Caleb não se mexeu. Continuou parado olhando para mim. Em seguida virou-se para olhar a Taça. Percebi a expressão desejosa no rosto do rapaz à luz dourada do objeto. Caleb se virou mais uma vez, inspirando profundamente.

–Você pega. Você é que deveria vencer. Você salvou minha vida duas vezes neste labirinto.

-Não é assim que a coisa deve funcionar – disse eu. Senti raiva; minha perna doía muito, meu corpo doía inteiro do esforço para me desvencilhar da aranha. – Quem chegar à Taça primeiro ganha os pontos. E foi você. Estou lhe dizendo, não vou vencer nenhuma corrida com essa perna assim.

Caleb deu alguns passos em direção à aranha estuporada, afastando-se da Taça e balançou a cabeça.

–Não – disse.

–Pare de ser nobre – retruquei irritada. – Pega logo a Taça para a gente poder ir embora daqui.

Caleb observou enquanto tentava me aprumar, segurando-me com força na sebe.

–Você me falou dos dragões – disse Caleb. – Eu teria perdido a primeira tarefa se você não tivesse me prevenido sobre o que me esperava.

–Tive ajuda nisso – retorqui, tentando enxugar a perna ensanguentada com as vestes. – Você me ajudou com o ovo, estamos quites.

–Eu tive ajuda com o ovo para começar – disse Caleb.

–Continuamos quites – repeti Harry, experimentando a perna, desajeitada; ela tremeu violentamente quando me apoiei nela; tinha torcido o tornozelo quando a aranha me largara.

–Você devia ter ganhado mais pontos na segunda tarefa – teimou Caleb. – Você ficou para trás para salvar a mim e Genevieve. Eu é que deveria ter feito isso.

-Eu fui a única campeã suficientemente burra para levar aquela música a sério! – disse com amargura. – Pega a Taça!

–Não.

Caleb pulou por cima do emaranhado de pernas da aranha para se juntar a mim, que o encarei. Caleb falava sério. Estava dando as costas a uma glória que a Beauxbatons não experimentava havia séculos.

–Anda – disse o rapaz. Dava a perceber que aquela atitude estava lhe custando cada centímetro de determinação que possuía, mas havia firmeza em seu rosto, cruzara os braços. Estava decido.

Eu olhei de Caleb para a Taça. Por um momento fulgurante me vi saindo do labirinto, segurando-a. Vi-me erguendo a Taça Tribruxo no alto, ouvi os berros dos espectadores, vi o rosto de George iluminado de admiração, mais claramente do que jamais o vira... e então a imagem se dissolveu e me vi encarando o rosto teimoso e sombrio de Caleb.

–Os dois – disse.

–Quê?

–Levamos a Taça ao mesmo tempo.

Caleb encarou-me. Descruzou os braços.

–Você... você tem certeza?

–Tenho. Tenho... nós nos ajudamos, não foi? Nós dois chegamos aqui. Vamos levá-la, juntos.

Por um instante, Caleb pareceu que não conseguia acreditar no que estava ouvindo; então seu rosto se abriu num sorriso.

–Negócio fechado. Venha até aqui.

Ele agarrou o meu braço pela axila e ajudou-me a mancar até o pedestal onde estava a Taça. Quando a alcançamos, os dois estenderam a mão para cada uma das asas.

–Quando eu disser três, certo? – disse eu. – Um... dois... três...

Eu e Caleb apertamos as asas.

Instantaneamente, senti um solavanco dentro do umbigo. Meus pés deixaram o chão.

Não consegui soltar a mão da Taça Tribruxo; ela me puxava para diante, num vendaval colorido, Caleb ao meu lado.



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