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História Marauders heir - VInte - Mais do que nunca, Expecto Patronum


Escrita por: BiancaLBlack

Capítulo 19 - VInte - Mais do que nunca, Expecto Patronum


Senti meus pés baterem no chão; a perna machucada cedeu e cai para a frente; soltei a Taça Tribruxo, erguendo a cabeça.

–Onde estamos? – perguntei.

Caleb sacudiu a cabeça. Levantou-se, ajudou-me a ficar de pé e olhamos a toda volta. Estávamos inteiramente fora dos terrenos de Hogwarts; era óbvio que tínhamos viajado quilômetros – talvez centenas de quilômetros – porque até as montanhas que rodeavam o castelo haviam desaparecido. Em lugar de Hogwarts, nos encontrávamos em um cemitério escuro e cheio de mato; para além de um grande teixo à direita podíamos ver os contornos escuros de uma igrejinha. Um morro se erguia à esquerda. Muito mal, eu conseguia discernir a silhueta escura de uma bela casa antiga na encosta do morro.

Caleb olhou para a Taça Tribruxo e depois para mim.

–Alguém lhe disse que a Taça era uma Chave de Portal? – perguntou.

–Não. – examinei o cemitério. Estava profundamente silencioso e meio fantasmagórico. –Será que isto faz parte da tarefa?

-Não sei – respondeu Caleb. Sua voz revelava um certo nervosismo. – Varinhas em punho, não acha melhor?

–É – concordei, satisfeita de que Caleb tivesse sugerido isso por mim.

Nós dois puxamos as varinhas, eu não parava de olhar para todo lado. Tinha, mais uma vez, a estranha sensação de que estávamos sendo observados.

–Vem alguém aí – disse eu de repente.

Apertando os olhos para enxergar na escuridão, um vulto se aproximava, andando entre os túmulos sempre em nossa direção. Eu não conseguia distinguir um rosto; mas pelo jeito que o vulto caminhava e mantinha os braços, dava para ver que estava carregando alguma coisa. Fosse quem fosse, era baixo e usava um capuz que lhe cobria a cabeça e sombreava o rosto. E vários passos depois, a distância entre nós sempre mais curta – vi que a coisa nos braços do vulto parecia um bebê... ou seria meramente um fardo de vestes?

Baixei ligeiramente a varinha e olhei para Caleb ao seu lado. O rapaz me respondeu com um olhar intrigado. Os dois tornaram a se virar para observar o vulto que se aproximava.

Ele parou ao lado de uma lápide alta, a uns dois metros. Por um segundo, eu e o vulto baixo apenas nos entreolhamos

Então, inesperadamente, meu corpo explodiu de dor. Foi uma agonia tão extrema como jamais sentira na vida; ao levar a mão ao rosto, a varinha me escapou dos dedos; meus joelhos cederam; cai ao chão e não vi mais nada, a cabeça pareceu prestes a rachar.

De muito longe, acima de sua cabeça, eu ouvi uma voz fria e aguda dizer: “Mate o outro.

Um zunido, e uma segunda voz que arranhou o ar da noite:

Avada Kedavra!

Um relâmpago verde perpassou-me as pálpebras e ouvi alguma coisa pesada cair no chão ao meu lado; a dor de meu corpo atingiu tal intensidade que tive ânsias de vomitar, em seguida diminuiu; aterrorizado com o que iria ver, abri os olhos ardidos. Caleb estava estatelado no chão ao seu lado, os braços e pernas abertos. Morto.

Por um segundo que continha toda a eternidade, fitei o rosto do meu ex-namorado, seus olhos cinzentos abertos, vidrados e inexpressivos como as janelas de uma casa deserta, a boca entreaberta num esgar de surpresa. Então, antes que pudesse aceitar o que meus olhos viam, antes que pudesse sentir alguma coisa além de atônita incredulidade, senti que alguém me levantava.

O homem baixo de capa pousara o fardo que carregava no chão, acendeu a varinha e saiu arrastando-me em direção à lápide de mármore. Vi o nome ali gravado faiscar à luz da varinha, antes de ser virado e atirado contra a pedra.

TOM RIDDLE

O homem da capa agora estava conjurando cordas para me prender com firmeza, amarrando-me à lápide, do pescoço aos tornozelos. Eu ouvi uma respiração rápida e rasa saindo do fundo do capuz; me debati e o homem me deu uma bofetada – uma bofetada com uma mão à que faltava um dedo. E então percebi quem estava sob o capuz. Era Rabicho.

–Você! – exclamei.

Mas Rabicho, que acabara de conjurar as cordas, não respondeu; estava ocupado verificando se estavam bem apertadas, seus dedos tremendo descontrolados, apalpando os nós. Uma vez convencido de que estava amarrada à lápide sem a menor folga e que não conseguiria me mexer, Rabicho tirou um pano preto de dentro das vestes e enfiou-o com violência na minha boca; depois, sem dizer palavra, virou as costas e se afastou depressa; eu não podia emitir som algum nem ver aonde fora Rabicho; não podia virar a cabeça para ver além da lápide; só podia ver o que estava diretamente em frente.

O corpo de Caleb se encontrava a uns seis metros de distância. Mais adiante, refulgindo à luz das estrelas, jazia a Taça Tribruxo. Minha varinha ficara caída no chão aos meus pés. O fardo de roupas que eu imaginara que fosse um bebê continuava ali perto, junto à lápide. Parecia estar se mexendo incomodado. Observei-o e meu corpo queimou de dor... e, de repente, conclui que não queria ver o que estava naquelas roupas... não queria que o fardo se abrisse...

Ouvi, então, um ruído aos meus pés. Baixei os olhos e vi uma cobra gigantesca deslizando pelo capim, circulando em torno da lápide a que eu fora amarrada. A respiração asmática e rápida de Rabicho estava se tornando mais ruidosa agora. Parecia que arrastava alguma coisa pesada pelo chão. Então ele tornou a entrar no meu campo de visão e pude ver que o bruxo empurrava um caldeirão de pedra para perto do túmulo. Continha alguma coisa que parecia água –eu a ouvia sacudir – e era maior do que qualquer outro caldeirão que eu já tivesse usado; sua circunferência era suficientemente grande para caber um adulto sentado.

A coisa embrulhada no fardo de vestes no chão se mexeu com mais insistência, como se estivesse tentando se desvencilhar. Agora Rabicho estava mexendo com uma varinha no fundo externo do caldeirão. De repente surgiram chamas sob a vasilha. A enorme cobra deslizou para longe mergulhando nas sombras.

O líquido no caldeirão parecia estar esquentando bem rápido. Sua superfície começou não somente a borbulhar, mas também a atirar para o alto faíscas incandescentes, como se estivesse em chamas. O vapor se adensou e borrou a silhueta de Rabicho que cuidava do fogo.

Seus movimentos sob a capa se tornaram mais agitados. E eu ouvi mais uma vez a voz aguda e fria.

–Ande depressa!

Toda a superfície da água estava iluminada pelas faíscas. Parecia cravejada de diamantes.

–Está pronta, meu amo.

–Agora... – disse a voz fria.

Rabicho abriu o fardo de vestes no chão, revelando o que havia nele, e eu deixei escapar um grito que foi estrangulado pelo chumaço de pano que arrolhava minha boca. Era como se Rabicho tivesse virado uma pedra e deixado à mostra algo feio, pegajoso e cego – mas pior, cem vezes pior. A coisa que Rabicho andara carregando tinha a forma de uma criança humana encolhida, só que eu nunca vira nada que se parecesse menos com uma criança. Era pelada, de aparência escamosa, de uma cor preta avermelhada e crua. Os braços e pernas eram finos e fracos e o rosto – nenhuma criança viva jamais tivera um rosto daqueles – era plano e lembrava o de uma cobra, com olhos vermelhos e brilhantes.

A coisa tinha uma aparência quase desamparada; ela ergueu os braços magros e passou-os pelo pescoço de Rabicho e este a ergueu. Ao fazer isso, seu capuz caiu para trás e eu vi, à claridade do fogo, a expressão de repugnância em seu rosto fraco e pálido, enquanto transportava a criatura para a borda do caldeirão. Por um instante vi o rosto plano e maligno iluminar-se com as faíscas que dançavam na superfície da poção. Então Rabicho a depositou dentro do caldeirão; ouviu-se um silvo, e ela submergiu; escutei aquele corpinho frágil bater no fundo do caldeirão com um baque suave.

Tomara que se afogue, pensei, o corpo doendo mais do que era possível suportar, por favor... tomara que se afogue...

Rabicho estava falando. Sua voz tremia, ele parecia assustadíssimo. Ergueu a varinha, fechou os olhos e falou para a noite:

–Osso do pai, dado sem saber, renove filho!

A superfície do túmulo aos meus pés rachou. Horrorizada, observei um fiapo de poeira se erguer no ar à ordem de Rabicho, e cair suavemente no caldeirão. A superfície diamantífera da água se dividiu e chiou; disparou faíscas para todo o lado e ficou um azul vívido e peçonhento.

Rabicho choramingou. Tirou um punhal longo, fino e brilhante de dentro das vestes. Sua voz quebrou em soluços petrificados.

–Carne... do servo... da-da de bom grado... reanime... o seu amo.

Ele esticou a mão direita à frente – a mão em que faltava um dedo. Segurou o punhal com firmeza na mão esquerda e ergueu-o. Então percebi o que Rabicho ia fazer um segundo antes de acontecer – fechei os olhos com toda força que pude, mas não consegui bloquear o grito que cortou a noite, e que me atravessou como se tivesse sido apunhalada também. Ouvi alguma coisa cair ao chão, ouviu a respiração ofegante e aflita de Rabicho, depois o ruído nauseante de alguma coisa tombar dentro do caldeirão. Não suportei olhar... mas a poção ficou vermelho-vivo e sua claridade atravessou minhas pálpebras fechadas...

Rabicho ofegava e gemia de agonia. Somente quando senti sua respiração aflita no meu próprio rosto é que percebi que o bruxo estava bem diante de mim.

–S-sangue do inimigo... tirado à força... ressuscite... seu adversário.

Eu nada pude fazer para impedir isso, estava muito bem amarrada... procurando ver mais embaixo, lutando inutilmente contra as cordas que me prendiam, vi o punhal de prata reluzente tremer na mão de Rabicho que restava. Sentiu a ponta da arma furar a dobra do meu braço direito e o sangue fluir pela manga de minhas vestes rasgadas. Rabicho, ainda ofegando de dor, apalpou o bolso à procura de um frasquinho que ele aproximou do corte para recolher o sangue.

O bruxo cambaleou de volta ao caldeirão com o sangue do garoto. Despejou-o ali. O líquido no caldeirão ficou instantaneamente branco ofuscante. Concluída a tarefa, Rabicho se ajoelhou ao lado do caldeirão, depois deixou-se cair de lado e ficou deitado no chão, aninhando o toco sangrento de braço, arquejando e soluçando.

O caldeirão foi cozinhando, disparando faíscas em todas as direções, um branco tão branco que transformava todo o resto num negrume aveludado. Nada aconteceu...

Tomara que tenha se afogado, pensei eu, tomara que tenha dado errado...

E então, de repente, as faíscas que subiam do caldeirão se extinguiram. Uma nuvem de vapor branco se ergueu, repolhuda e densa, tampando tudo que havia na minha frente impedindo-me de continuar a ver Rabicho, Caleb ou qualquer outra coisa exceto o vapor pairando no ar... melou, pensei... se afogou... tomara... tomara que tenha morrido…, rezava eu em silêncio.

Mas, através da névoa à frente, vi, com um assomo gelado de terror, a silhueta escura de um homem, alto e esquelético, emergindo do caldeirão.

–Vista-me – disse a voz aguda e fria por trás do vapor, e Rabicho, soluçando e gemendo, ainda aninhando o braço mutilado, correu a apanhar as vestes negras no chão, levantou-se, ergueu o braço e colocou-as apenas com a mão existente por cima da cabeça do seu amo.

O homem magro saiu do caldeirão, com o olhar fixo em mim... e mirei aquele rosto que assombrava seus pesadelos havia três anos. Mais branco do que um crânio, com olhos grandes e vermelhos, um nariz chato como o das cobras e fendas no lugar das narinas...

Lorde Voldemort acabara de ressurgir.

Voldemort desviou o olhar e começou a examinar o próprio corpo. Suas mãos eram como aranhas grandes e pálidas; seus longos dedos brancos acariciaram o próprio peito, os braços, o rosto; os olhos vermelhos, cujas pupilas eram fendas, como as de um gato, brilhavam ainda mais no escuro. Ele ergueu as mãos e flexionou os dedos com uma expressão arrebatada e exultante. Não deu a menor atenção a Rabicho, que continuou tremendo e sangrando no chão, nem à enorme cobra, que reapareceu em cena e recomeçou a descrever círculos em torno de mim, sibilando. Voldemort enfiou um dos dedos anormalmente longos em um bolso fundo e tirou uma varinha. Acariciou-a gentilmente, também; depois ergueu-a e apontou-a para Rabicho, e ela o guindou do chão e atirou contra a lápide a que eu estava amarrada; o bruxo caiu aos pés da lápide e ficou ali, encolhido, chorando. Voldemort voltou seus olhos vermelhos para mim e soltou uma risada, aquela sua risada aguda, fria e sem alegria.

As vestes de Rabicho agora estavam manchadas de sangue brilhante; o bruxo enrolara nelas o toco de braço.

–Milorde... – disse ele com a voz embargada – milorde... o senhor prometeu... o senhor prometeu...

–Estique o braço – disse Voldemort indolentemente.

–Ah, meu amo... obrigado, meu amo...

Rabicho esticou o toco sangrento, mas Voldemort deu uma gargalhada.

–O outro braço, Rabicho.

–Meu amo, por favor... por favor...

Voldemort se curvou e puxou o braço esquerdo de Rabicho; empurrou a manga das vestes do servo acima do cotovelo e eu vi que havia uma coisa na pele, uma coisa que lembrava uma tatuagem vermelho-vivo – um crânio, com uma cobra saindo da boca –, a mesma imagem que aparecera no céu na Copa Mundial de Quadribol: a Marca Negra. Voldemort examinou-a demoradamente, sem dar atenção ao choro descontrolado de Rabicho.

–Reapareceu – comentou ele baixinho –, todos deverão ter notado... e agora, veremos… agora saberemos...

Ele comprimiu a marca no braço do servo com seu longo indicador branco. O corte que agora mutilava meu braço ardeu com uma dor aguda e Rabicho deixou escapar um uivo. Voldemort afastou o dedo da marca em Rabicho e vi que ela se tornara muito preta.

Com uma expressão de cruel satisfação no rosto, Voldemort se endireitou, atirou a cabeça para trás e começou a examinar o escuro cemitério.

–Quantos terão suficiente coragem para voltar quando sentirem isso? – sussurrou ele, fixando seus olhos vermelhos e brilhantes nas estrelas. – E quantos serão bastante tolos para ficar longe de mim?

Ele começou a andar de um lado para outro diante de Harry e Rabicho, seus olhos percorrendo o cemitério todo o tempo. Decorrido pouco mais de um minuto, ele tornou a olhar para Harry, um sorriso cruel deformando seu rosto viperino.

–Você está em pé, Eladora Katherina, sobre os restos mortais do meu pai – sibilou ele baixinho. –Um trouxa e um idiota... muito parecido com os seus queridos pais. Mas os três tiveram sua utilidade, não? Seus pais quase morreram tentando defendê-la quando criança... e eu matei meu pai e veja como ele se provou útil, depois de morto...

Voldemort soltou outra gargalhada. Para cima e para baixo ele andava, olhando para os lados, e a serpente continuava a circular no meio do capim.

–Você está vendo aquela casa lá na encosta do morro, Katherina? Meu pai morava ali. Minha mãe, uma bruxa que vivia no povoado, se apaixonou por ele. Mas foi abandonada quando lhe contou o que era... ele não gostava de magia, meu pai...

“Ele a abandonou e voltou para os pais trouxas antes de eu nascer, Potter, e ela morreu me dando à luz, me deixando para ser criado em um orfanato de trouxas... mas eu jurei encontrá-lo… vinguei-me dele, desse idiota que me deu seu nome... Tom Riddle...”

E andava sem parar, seus olhos correndo de um túmulo para outro.

– Me vejam só recordando minha história de família... – comentou ele baixinho. – Ora, ora, estou ficando muito sentimental... Mas veja, Ella! A minha família verdadeira está chegando...

O ar se encheu repentinamente com o rumor de capas esvoaçantes. Entre os túmulos, atrás do teixo, em cada espaço escuro, havia bruxos aparatando. Todos usavam capuzes e máscaras.

E um por um, eles se adiantaram... lentamente, cautelosamente, como se mal conseguissem acreditar no que viam. Voldemort ficou parado em silêncio, esperando-os. Então um Comensal da Morte se prostrou de joelhos, arrastou-se até Voldemort, e beijou a barra de suas vestes negras.

–Meu amo... meu amo...

Os Comensais da Morte que vinham atrás o imitaram; um por um, eles se aproximaram de joelhos para beijar as vestes de Voldemort para depois recuar e se levantar, formando um círculo silencioso em torno do túmulo de mim, Tom Riddle, Voldemort e o monte de vestes que soluçava e sacudia, que era Rabicho. Mas eles deixaram espaços vazios no círculo, como se esperassem mais gente. Voldemort, porém, não parecia esperar mais ninguém. Olhou os rostos encapuzados ao seu redor e, embora não houvesse vento, um rumorejo pareceu percorrer o círculo como se perpassasse por ele um arrepio.

–Bem-vindos, Comensais da Morte – disse Voldemort em voz baixa. – Treze anos... treze anos desde que nos encontramos pela última vez. Contudo, vocês atendem ao meu chamado como se fosse ontem... então continuamos unidos sob a Marca Negra! Ou será que não?

Ele retomou sua expressão ameaçadora e farejou, dilatando as narinas em forma de fenda.

–Sinto cheiro de culpa – disse ele. – Há um fedor de culpa no ar.

Um segundo surto de arrepios percorreu o círculo, como se cada membro tivesse o desejo, mas não a coragem, de se afastar dali.

–Vejo todos vocês, inteiros e saudáveis, com os seus poderes intactos, tão desenvoltos!, e me pergunto... por que esse bando de bruxos nunca foi socorrer seu amo, a quem jurou lealdade eterna?

Ninguém falou. Ninguém se mexeu exceto Rabicho, que continuava no chão, chorando, o braço ensanguentado.– E eu próprio respondo – sussurrou Voldemort –, porque devem ter acreditado que eu estava derrotado, pensaram que eu acabara. Voltaram a se misturar com os meus inimigos e alegaram inocência, ignorância e bruxaria...

“E então eu me pergunto, mas como é que vocês podem ter acreditado que eu não me reergueria? Vocês, que conheciam as providências que eu tomara, há muito tempo, para me proteger da morte humana? Vocês que tiveram provas da imensidão do meu poder, na época em que fui mais poderoso do que qualquer bruxo vivente?

“E eu mesmo respondo, talvez acreditassem que poderia haver um poder ainda maior, um poder capaz de derrotar até Lorde Voldemort... talvez vocês agora prestem lealdade a outro… talvez àquele campeão da plebe, dos trouxas e sangues ruins, Alvo Dumbledore?”

À menção do nome de Dumbledore, os membros do círculo se inquietaram, alguns murmuraram e negaram sacudindo a cabeça.

Voldemort ignorou-os.

-É um desapontamento para mim... confesso que estou desapontado...

Um dos bruxos se atirou subitamente à frente, rompendo o círculo. Tremendo da cabeça aos pés, prostrou-se aos pés de Voldemort.

–Meu amo! – exclamou. – Meu amo, me perdoe! Nos perdoe a todos!

Voldemort começou a rir. Ergueu a varinha.

Crucio!

O Comensal da Morte no chão contorceu-se e gritou; tive certeza de que o som se propagava até as casas vizinhas... tomara que a polícia chegue, desejei desesperada… alguém... alguma coisa...

Voldemort ergueu a varinha. O Comensal da Morte torturado se estatelou no chão, arfando.

–Levante-se, Yaxley – disse Voldemort baixinho. – Ponha-se de pé. Você está me pedindo perdão? Eu não perdoo. Eu não esqueço. Treze longos anos... Quero um pagamento por esses treze anos antes de perdoar-lhes. Rabicho aqui já pagou parte da dívida, não foi, Rabicho?

Ele baixou os olhos para o bruxo mutilado, que continuava a soluçar.

–Você voltou para mim, não por lealdade, mas por medo dos seus antigos amigos. Você merece sentir dor, Rabicho. Você sabe disso, não sabe?

–Sei, meu amo – gemeu Rabicho –, por favor, meu amo... por favor...

-Contudo você me ajudou a recuperar meu corpo – disse Voldemort friamente, observando o servo soluçar no chão. – Mesmo inútil e traiçoeiro como é, você me ajudou... e Lorde Voldemort recompensa quem o ajuda...

Voldemort tornou a erguer a varinha e girou-a no ar. Um fio que parecia feito de prata liquefeita prolongou-se da varinha e pairou no ar. Momentaneamente informe, o fio se agitou e em seguida se transformou na réplica brilhante de uma mão humana, clara como o luar, que saiu voando e foi se prender ao pulso sangrento de Rabicho.

Os soluços do bruxo pararam abruptamente. Com a respiração rascante e falha, ele levantou a cabeça e fitou, incrédulo, a mão prateada, agora ligada sem costura ao seu braço, como se ele estivesse usando uma luva luminosa. O bruxo flexionou os dedos reluzentes, depois, trêmulo, apanhou um graveto no chão e pulverizou-o.

–Milorde – sussurrou ele. – Meu amo... é linda... muito obrigado... muito obrigado...

Ele avançou de joelhos e beijou a barra das vestes de Voldemort.

–Que a sua lealdade jamais volte a vacilar, Rabicho – disse Voldemort.

– Não, milorde... nunca, milorde...

Rabicho se levantou e tomou posição no círculo, sem tirar os olhos da mão nova e poderosa, seu rosto lavado de lágrimas. Voldemort se aproximou então do homem à direita de Rabicho.

–Lucius, meu ardiloso amigo – murmurou ele se detendo diante do bruxo. – Ouço dizer que você não renunciou aos seus hábitos antigos, embora para o mundo você apresente uma imagem respeitável. Acredito que continue pronto para assumir a liderança de uma torturazinha de trouxas? No entanto, você nunca tentou me encontrar, Lucius... as suas aventuras na Copa Mundial de Quadribol foram engraçadas, devo dizer... mas será que suas energias não teriam sido melhor empregadas em procurar ajudar seu amo?

–Milorde, sempre estive constantemente alerta – ouviu-se na mesma hora a voz de Lucius Malfoy saindo por baixo do capuz. – Se tivesse havido algum sinal do senhor, algum rumor sobre seu paradeiro, eu teria ido imediatamente para o seu lado, nada teria me detido...

–Contudo, você correu da minha marca, quando um leal Comensal da Morte a projetou no céu no verão passado – comentou displicentemente Voldemort, e o Sr. Malfoy parou abruptamente de falar. – É, sei de tudo que aconteceu, Lucius... você me desapontou... espero serviços mais leais no futuro.

–Naturalmente, milorde, naturalmente... o senhor é misericordioso, obrigado...

Voldemort continuou a andar e parou, reparando no espaço – suficientemente grande para duas pessoas – que separava Malfoy do comensal seguinte.

–Os Lestrange deveriam estar aqui – disse Voldemort baixinho. – Mas estão enterrados vivos em Azkaban. Foram fiéis. Preferiram ir para Azkaban a renunciar a mim... quando Azkaban for aberta, os Lestrange receberão honras que ultrapassarão todos os seus sonhos. Os dementadores se unirão a nós... são nossos aliados naturais... chamaremos de volta os gigantes banidos... todos os meus servos devotados me serão devolvidos e um exército de criaturas que todos temem...

Ele continuou sua caminhada. Passou por alguns comensais em silêncio, mas parou diante de outros para lhes falar.

–Macnair... eliminando animais perigosos para o Ministério da Magia agora, segundo me conta Rabicho. Breve você terá melhores vítimas, Macnair. Lorde Voldemort irá providenciá-las...

–Obrigado, meu amo... obrigado – murmurou Macnair.

–E aqui – Voldemort prosseguiu dirigindo-se aos dois maiores vultos encapuzados – temos Crabbe... você vai trabalhar melhor desta vez, não vai, Crabbe? E você, Goyle?

Os dois fizeram uma reverência desajeitada, murmurando com uma certa lentidão:

–Sim, meu amo...

–Trabalharemos, meu amo...

–O mesmo se aplica a você, Nott – disse Voldemort baixinho, ao passar pelo vulto curvado à sombra do Sr. Goyle.

–Milorde, eu me prostrei diante do senhor, sou o seu mais fiel...

–Basta – disse Voldemort.

Ele chegou, então, à maior lacuna no círculo, e parou contemplando-a com aqueles seusolhos parados e vermelhos, como se pudesse ver pessoas em pé ali.

– E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... três mortos a meu serviço. Um demasiado covarde para voltar... ele me pagará. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... este será morto, é claro... e um que continua sendo meu mais fiel servo, e que já reingressou no meu serviço.

Os Comensais da Morte se agitaram; Harry viu que eles se entreolhavam por trás das máscaras.

–Ele está em Hogwarts, esse servo fiel, e foi graças aos seus esforços que a nossa jovem amiga chegou aqui esta noite...

“Sim”, disse Voldemort, um sorriso crispando sua boca sem lábios, quando os olhares do círculo convergiram para mim. “Eladora Katherina teve a gentileza de se reunir a nós para comemorar a minha ressurreição. Poderíamos até chamá-lo de minha convidada de honra.”

Fez-se silêncio. Em seguida o Comensal da Morte à direita de Rabicho deu um passo à frente, e a voz de Lúcio Malfoy falou por baixo da máscara:

–Meu amo, é grande o nosso desejo de saber... suplicamos que nos conte... como foi que o senhor conseguiu este... milagre... como conseguiu voltar para nós...

–Ah, que história extraordinária, Lúcius! – disse Voldemort. – E ela começa... e termina… com a minha jovem amiga aqui.

Ele caminhou descansadamente e parou ao meu lado, fazendo com que os olhos de todo o círculo se voltassem para os dois. A cobra continuava a rastejar em círculos.

–Vocês não sabem, naturalmente, o que ela tem a ver com a minha volta, já que aquele que detém a fama de me derrotar, aquele que acreditam ser mais forte que eu, é Harry Potter, que não está aqui – disse Voldemort baixinho, os olhos fixos em mim, meu corte começou a arder tão ferozmente que quase gritei de agonia. – Esta menina é muito especial, tanto pelo nome e história incomuns que carrega quanto por seus poderes - Voldemort ergueu um longo dedo branco e levou-o até próximo do meu rosto. – Ao nosso lado, ela pode ser uma grande aliada, mas contra nós, seria nossa completa ruína. Então precisamos cuidar que isso não aconteça.

Voldemort avançou lentamente e se virou para encarar-me. Ergueu a varinha.

–Crucio!

Foi uma dor que superou qualquer coisa que eu já sofrera; meus ossos pareciam estar em fogo; minha cabeça, sem dúvida alguma, estava rachando ao meio, meus olhos giravam descontrolados em minha cabeça; queria que tudo terminasse... que perdesse os sentidos... morresse...

Então passou. Fiquei pendurada nas cordas que me prendiam à lápide do pai de Voldemort, olhando aqueles brilhantes olhos vermelhos através de uma espécie de névoa. A noite ressoava com o estrépito das risadas dos Comensais da Morte.

–Estão vendo a tolice que foi vocês suporem que esta garota algum dia pudesse ser mais forte que eu? – ponderou Voldemort. – Mas eu não quero que reste nenhum engano na mente de ninguém. Vou dar a ela uma oportunidade. Ela poderá lutar, e vocês não terão mais dúvida alguma sobre qual de nós é mais forte. Espere mais um pouquinho Nagini – sussurrou ele, e a cobra se afastou, deslizando pelo capim, até o local em que os Comensais da Morte estavam parados observando.

“Agora, desamarre-a Rabicho, e devolva sua varinha.”

Rabicho aproximou-se, tentei me aprumar para sustentar o corpo antes que as cordas fossem desamarradas. Rabicho ergueu a nova mão prateada, puxou o chumaço de pano que amordaçava-me e então, com um único movimento, cortou as cordas que prendiam-me à lápide.

Houve talvez uma fração de segundo em que poderia ter pensado em fugir, mas a perna machucada estremeceu sob o peso do corpo quando firmei os pés no túmulo malcuidado, ao mesmo tempo que os Comensais da Morte cerraram fileiras, apertando o círculo em torno de mim e de Voldemort, e os claros que seriam dos Comensais da Morte ausentes se fecharam. Rabicho saiu do círculo e foi até onde jazia o corpo de Caleb, e voltou trazendo a minha varinha, que ele enfiou com brutalidade na minha mão do garoto sem sequer olhar-me. Claro que ele não teria coragem de fazê-lo, de olhar para meu rosto e reconhecer Sirius e Remus, aqueles que junto a James, o acolheram na infância e juventude, aqueles que ele traiu. Depois, Rabicho retomou seu lugar no círculo de comensais que observavam.

–Você aprendeu a duelar, Katherina? – perguntou Voldemort suavemente, seus olhos vermelhos brilhando no escuro.

Ao ouvir a pergunta me lembrei, como se pertencesse a uma vida anterior, do Clube dos Duelos em Hogwarts que frequentara brevemente há dois anos... a única coisa que aprendera tinha sido o Feitiço para Desarmar, “Expelliarmus”... e de que adiantaria isso, mesmo que pudesse privar Voldemort de sua varinha, quando estava rodeada de Comensais da Morte e em desvantagem de, no mínimo, trinta a um? Eu jamais aprendera nada que o tivesse preparado minimamente para uma situação dessas. Sabia que estava enfrentando aquilo contra o qual Moody sempre alertara... a Maldição Avada Kedavra, impossível de bloquear, não contava com proteção alguma...

–Nos cumprimentamos com uma curvatura, Kate. Posso chamá-la de Kate, não posso? – disse Voldemort, se inclinando ligeiramente, mas mantendo o rosto de cobra erguido para mim. – Vamos, as boas maneiras devem ser observadas... seus pais gostariam que você demonstrasse educação... curve-se para a morte, Eladora...

Os Comensais da Morte deram novas gargalhadas. A boca sem lábios de Voldemort riu. Não me curvei. Não ia deixar o bruxo brincar comigo antes de me matar... não ia lhe dar essa satisfação...

–Eu disse, curve-se – repetiu Voldemort, erguendo a varinha, e senti minha coluna se curvar como se uma mão enorme e invisível a empurrasse impiedosamente para a frente, e os Comensais da Morte se riram com mais gosto que nunca.

“Muito bem”, disse Voldemort suavemente, e quando ele baixou a varinha a pressão que empurrava-me se aliviou também. “Agora você me enfrenta, como uma boa duelista... de costas retas e orgulhosa, do mesmo modo que seus pais...

“Agora... vamos ao duelo.”

O bruxo ergueu a varinha antes que eu pudesse fazer alguma coisa para me defender, antes que pudesse sequer me mexer, fui atingida pela Maldição Cruciatus. A dor foi tão intensa, e tão devoradora, que já nem sabia onde estava... facas em brasa perfuravam cada centímetro de minha pele, minha cabeça, sem dúvida alguma, ia explodir de dor; gritava mais alto do que jamais gritara na vida...

Então tudo parou. Me virei e tentei ficar em pé; tremi descontrolada, como fizera Rabicho quando decepara a própria mão; cambaleei para os lados na direção dos Comensais da Morte ao redor, e eles me empurraram de volta a Voldemort.

–Uma pequena pausa – disse o bruxo, as narinas de cobra se dilatando de excitação –, uma pequena pausa... isso doeu, não foi, Eladora? Você não quer que eu faça isso outra vez, quer?

Não respondi. Ia morrer como Caleb, era o que aqueles olhos vermelhos e cruéis estavam lhe dizendo... ia morrer, e não havia nada que pudesse fazer para evitá-lo... mas não ia facilitar. Não ia obedecer a Voldemort... não ia suplicar...

–Perguntei se quer que eu faça isso outra vez – disse Voldemort gentilmente. – Responda! Imperio!

E tive, pela terceira vez na vida, a sensação de que todos os pensamentos tinham se apagado de minha mente... ah, foi uma felicidade, não pensar, foi como se estivesse flutuando, sonhando... apenas responda “não”... diga “não”... apenas responda “não”...

Não direi, falou uma voz mais forte no fundo de minha cabeça, não responderei...

Apenas responda “não”...

Não vou responder, não vou dizer isso...

Apenas responda “não”...

–NÃO VOU RESPONDER!

E essas palavras explodiram da minha boca; ecoaram pelo cemitério, e o estado onírico em que mergulhara se dissolveu repentinamente como se tivessem me atirado um balde de água fria – renovaram-se as dores que a Maldição Cruciatus deixara por todo o meu corpo –, renovou-se a consciência de onde estava, do que estava enfrentando...

–Não vai? – disse Voldemort suavemente, e agora os Comensais da Morte não estavam rindo. – Não vai dizer “não”? Kate, a obediência é uma virtude que preciso lhe ensinar antes de você morrer... talvez mais uma dosezinha de dor?

Voldemort ergueu a varinha, mas desta vez eu estava preparada, me atirei para um lado no chão, rolando para trás da lápide de mármore do pai de Voldemort e a ouvi rachar quando o feitiço errou o alvo.

–Não estamos brincando de esconde-esconde, Kate – disse a voz suave e fria de

Voldemort, aproximando-se, enquanto os Comensais da Morte riam. – Você não pode se esconder de mim. Será que isso significa que já se cansou do nosso duelo? Será que significa que você prefere que eu o encerre agora, Kate? Saia daí, menina... saia e venha brincar, então... será rápido... talvez até indolor... Eu não saberia dizer... eu nunca morri...

Continuei agachada atrás da lápide e percebeu que chegara o fim. Não havia esperança... nenhuma ajuda de ninguém. Quando ouvi Voldemort chegar ainda mais perto, soube apenas uma coisa que transcendeu o medo e a razão –eu não ia morrer agachada ali como uma criança brincando de esconde-esconde; não ia morrer ajoelhada aos pés de Voldemort... ia morrer de pé, e ia morrer tentando me defender, mesmo que não houvesse defesa alguma possível...

Antes que Voldemort pudesse meter a cara viperina atrás da lápide, me levantei. Mais do que nunca, precisava de um protetor. Concentrei todas as minhas forças nas melhores lembranças que tinha. Cada momento, grande ou pequeno, em que sorri ou vi alguém que amava sorrir. Quando estava pronta, murmurei:

-Mais do que nunca, Expecto Patronum.

O cão prateado estava de volta, e foi até Voldemort quase na velocidade da luz. O bruxo caiu de costas, metros adiante. Todos os Comensais se deslocaram para ajudar o mestre, era tempo o bastante para eu correr, agarrar a Taça e Caleb, e dar o fora.



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