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História Marauders heir - Vinte e um - Boa noite, pequena Ella


Escrita por: BiancaLBlack

Capítulo 20 - Vinte e um - Boa noite, pequena Ella


Quando abri os olhos de novo, afastei os cabelos caídos sobre eles e olhei em volta. Todos os espectadores estavam boquiabertos e me encarando. Muitas mãos vieram até mim, afastando-me de Caleb e da Taça. As pessoas falavam, mas eu não conseguia entender o que diziam, não passavam de sussurros aos meus ouvidos. Porém, um som se destacava dos demais.

Tique-taque, tique-taque. Não era um relógio, era o pé de madeira de Moody se aproximando. Ele me ajudou a levantar com discrição, foi bem fácil, agora que o centro das atenções era o cadáver que eu trouxera.

–Que aconteceu, Eladora? – perguntou o homem finalmente, enquanto galgávamos as escadas de mármore

–A Taça era uma Chave de Portal – disse eu ao atravessarmos o saguão de entrada. – Nos levou para um cemitério... e Voldemort estava lá... Lorde Voldemort...

–O Lorde das Trevas estava lá? Que aconteceu depois?

–Matou Caleb... mataram Caleb...

–E então?

Tique-taque, tique-taque. Pelo corredor...

–Preparou uma poção... recuperou o corpo dele...

–O Lorde das Trevas recuperou o corpo? Ele voltou?

–E os Comensais da Morte vieram... depois nós duelamos...

–Você duelou com o Lorde das Trevas? - assenti, ele me empurrou para dentro de sua sala. –Aqui dentro, e sente-se... você vai ficar boa agora... beba isso...

Uma chave girou na fechadura e senti que empurravam um copo em minhas mãos.

–Beba isso... você vai se sentir melhor... vamos Eladora, preciso saber exatamente o que aconteceu...

Moody ajudou a virar a poção na minha boca, e eu tossi, um gosto apimentado queimou-me a garganta. A sala entrou em foco, bem como ele, e seus dois olhos estavam fixos, sem piscar, no meu rosto.

–Voldemort voltou? Você tem certeza de que voltou? Como foi que ele fez isso?

–Ele apanhou uma coisa no túmulo do pai dele, depois do Rabicho e de mim. – Minha cabeça estava clareando; o corte já não doía tanto; agora conseguia ver o rosto de Moody nitidamente, embora a sala estivesse escura. Ainda se ouviam berros e gritos vindos do distante campo de quadribol.

–Que foi que o Lorde das Trevas tirou de você? – perguntou Moody.

–Sangue – respondi erguendo o braço. A manga estava rasgada no lugar em que o punhal de Rabicho a cortara.

Moody deixou escapar um assobio longo e baixo.

-E os Comensais da Morte? Voltaram?

–Voltaram. Montes deles...

–Como foi que ele os tratou? – perguntou Moody baixinho. – Ele lhes perdoou?

De repente se lembrou. Devia ter contado a Dumbledore, devia ter dito logo de saída...

–Tem um Comensal da Morte em Hogwarts! Tem um Comensal da Morte aqui, ele pôs o meu nome no Cálice de Fogo, certificou-se de que eu chegasse até o fim...

Tentei me levantar, mas Moody me obrigou a sentar-me outra vez.

–Eu sei quem é o Comensal da Morte – disse ele em voz baixa.

–Karkaroff? – disse eu agitada. – Onde é que ele está? O senhor o pegou? Ele está preso?

–Karkaroff? – disse Moody com uma risada estranha. – Karkaroff fugiu esta noite, quando sentiu a Marca Negra arder no braço. Ele traiu um número grande demais de seguidores fiéis do Lorde das Trevas para querer reencontrá-los... mas duvido que chegue muito longe. O Lorde das Trevas tem maneiras de seguir seus inimigos.

–Karkaroff foi embora? Fugiu? Mas então... ele não pôs o meu nome no Cálice de Fogo?

–Não – disse Moody lentamente. – Não, não pôs. Fui eu quem pôs.

Ouvi, mas não acreditei.

–Não, o senhor não pôs. O senhor não fez isso... não pode ter feito...

–Garanto a você que fiz. – Quem pôs o seu nome no Cálice de Fogo com o nome de uma escola diferente? Fui eu, sim. Quem afugentou cada pessoa que julguei que poderia machucá-la ou impedir que você ganhasse o torneio? Fui eu, sim. Quem encorajou os meninos a te contar o que viram com Hagrid? Fui eu, sim. Quem fez você ver a única maneira de vencer o dragão? Fui eu, sim.

O olho mágico de Moody se desviou então da porta. Fixou-se em mim. Sua boca torta ria mais desdenhosa e abertamente que nunca.

–Não foi fácil, Ella, orientá-la durante aquelas tarefas sem despertar suspeitas. Tive de usar cada grama de astúcia que possuo para não deixar transparecer o meu dedo no seu sucesso. Dumbledore teria ficado desconfiadíssimo se você conseguisse tudo com muita facilidade. Desde que você entrasse no labirinto, de preferência com uma boa dianteira, então, eu sabia que teria uma chance de me livrar dos outros campeões e deixar o seu caminho desimpedido. Mas tive também de lutar contra a sua burrice. A segunda tarefa... foi a que tive mais medo que você fracassasse. Eu fiquei vigiando-a, menina. Eu sabia que você não tinha decifrado a pista do ovo, por isso tive que lhe dar mais uma sugestão...

–O senhor não deu – disse eu rouca. – Caleb me deu a pista...

–Quem disse a Caleb para abrir o ovo dentro da água? Fui eu. Confiei que ele passaria a informação a você. Gente decente é tão fácil de manipular, querida Katherina. Eu tinha certeza de que Caleb iria querer retribuir o favor de tê-lo informado sobre os dragões, e foi o que ele fez. Mas, mesmo assim, parecia que você ia fracassar. Fiquei vigiando-a o tempo todo… todas aquelas horas na biblioteca. Você não percebeu que a resposta que precisava estava ao seu lado o tempo todo? Eu contei aquilo ao Sanchez.

A varinha de Moody continuava apontada diretamente para o meu coração. Por cima do ombro do professor, sombras indistintas se moviam no Espelho-de-Inimigos pendurado na parede.

–Você ficou tanto tempo no lago, Eladora, que eu pensei que tinha se afogado. Mas, por sorte, Dumbledore tomou a sua burrice por nobreza e lhe deu uma nota alta. Eu respirei mais uma vez aliviado.

“Esta noite, você teve uma tarefa mais fácil no labirinto do que deveria, é claro”, disse Moody. “Isto foi porque eu estava patrulhando do lado de fora, e podia ver as sebes mais externas, e pude destruir muitos obstáculos no seu caminho. Eu estuporei Vítor Krum quando ele passou. Lancei a Maldição Imperius em Cedric para ele acabar com Monadier e deixar o seu caminho livre até a Taça.”

Eu encarava Moody. Não conseguia entender como podia ser aquilo... o amigo de Dumbledore, o famoso auror... aquele que capturara tantos Comensais da Morte... não fazia sentido... nem um pingo... As sombras no Espelho-de-Inimigos se acentuavam, se tornando mais nítidas. Eu via, por cima do ombro de Moody, o contorno de algumas pessoas, que se aproximavam cada vez mais. Mas o professor não as vigiava. Seu olho mágico estava fixo em mim.

–O Lorde das Trevas não conseguiu matá-la, Eladora, e ele queria tanto! – sussurrou Moody. –Imagine a recompensa que me dará, quando descobrir que fiz isso por ele. Entreguei-a a ele, a coisa de que ele mais precisava para se regenerar, e depois matei-a para ele. Vou receber mais honrarias do que todos os outros Comensais da Morte. Serei seu seguidor mais querido, mais chegado... mais próximo do que um filho...

O olho normal de Moody estava esbugalhado, o olho mágico ainda fixo em mim. A porta continuava trancada e eu sabia que jamais pegaria minha varinha a tempo...

–O Lorde das Trevas e eu – disse Moody, e agora parecia completamente enlouquecido, agigantando-se, olhando-me com desdém – temos muito em comum. Nós dois, por exemplo, tivemos pais que nos desapontaram muito... muito mesmo. Nós dois sofremos a indignidade de receber o nome desses pais.

–O senhor enlouqueceu – disse eu, consegui me conter –, o senhor enlouqueceu!

–Enlouqueci, eu? – a voz de Moody se alteou descontrolada. – Veremos! Veremos quem enlouqueceu, agora que o Lorde das Trevas voltou, comigo ao seu lado! Ele voltou, Katherina, você não o derrotou, e agora, eu derroto você!

Moody ergueu a varinha, abriu a boca, ao mesmo tempo que meti a mão nas vestes...

Estupefaça! – Houve um lampejo ofuscante de luz vermelha, e, com grande fragor de madeira estilhaçada, a porta da sala de Moody rachou ao meio...

Moody foi atirado de costas ao chão. Eu, ainda fitando o lugar em que estivera o rosto de Moody, vi Albus Dumbledore, o Prof. Snape e a Profa McGonagall mirando-me do Espelho-de-Inimigos. O garoto virou-se para os lados e viu os três parados à porta, o diretor à frente, a varinha em punho.

Naquele momento, compreendi totalmente, pela primeira vez, por que as pessoas diziam que Dumbledore era o único bruxo que Voldemort temia. A expressão no rosto dele quando olhou para a forma inconsciente de Olho-Tonto Moody era mais terrível do que eu poderia jamais imaginar. Não havia sorriso bondoso no rosto do diretor, não havia cintilação nos olhos atrás dos óculos. Havia uma fúria gelada em cada ruga daquele rosto velho; ele irradiava uma aura de poder como se Dumbledore desprendesse um calor de brasas vivas.

A Profa McGonagall dirigiu-se imediatamente a mim.

–Vamos, menina – sussurrou ela. A linha fina de seus lábios tremia como se ela estivesse à beira das lágrimas. – Vamos... ala hospitalar...

–Não – disse Dumbledore energicamente.

–Dumbledore, ela precisa, olhe só para ela, já sofreu bastante esta noite...

-Ela fica, Minerva, porque precisa compreender – respondeu o diretor secamente. Compreender é o primeiro passo para aceitar, e somente aceitando ele pode se recuperar.

Precisa saber o que a fez passar pela provação desta noite e o porquê.

–Moody – disse eu, continuava num estado da mais completa descrença. – Como pode ter sido Moody?

–Este não é Alastor Moody – disse Dumbledore em voz baixa. – Você jamais conheceu Alastor Moody. O verdadeiro Moody não teria retirado você das minhas vistas depois do que aconteceu hoje à noite. No instante em que ele a levou, eu compreendi, e o segui.

Dumbledore se curvou para a forma inerte de Moody e meteu a mão nas vestes do bruxo. Tirou o frasco de bolso de Moody e uma penca de chaves numa argola. Depois se voltou para a Profa McGonagall e Snape.

–Severus, por favor, vá buscar a Poção da Verdade mais forte que você tiver. Minerva, por favor, desça à casa de Hagrid, lá haverão dois homens, traga-os aqui.

Se Snape ou Minerva acharam essas instruções estranhas, eles ocultaram sua confusão. Os dois se viraram na mesma hora e saíram da sala. Dumbledore aproximou-se do malão com as sete fechaduras, enfiou a primeira chave na fechadura e abriu-o. O malão continha uma profusão de livros de feitiços. Em seguida o diretor fechou-o, enfiou a segunda chave na segunda fechadura e tornou a abrir o malão. Os livros de feitiços haviam desaparecido; desta vez o malão continha uma variedade de bisbilhoscópios, algumas folhas de pergaminho e penas, e algo que lembrava uma Capa da Invisibilidade. Observei, espantada, Dumbledore enfiar a terceira, quarta, quinta e sexta chaves nas fechaduras e reabrir o malão que, a cada vez, revelava conteúdos diferentes. Por fim, enfiou a sétima chave na fechadura, escancarou a tampa e deixei escapar um grito de assombro.

Era uma espécie de poço, uma sala subterrânea e, deitado no chão, bem um metro abaixo, aparentemente em sono profundo, magro e de aparência faminta, encontrava-se o verdadeiro Olho-Tonto Moody. Faltava-lhe a perna de pau, e a órbita em que deveria estar o olho mágico parecia vazia sob a pálpebra e lhe faltavam chumaços de cabelos grisalhos. Corria os olhos arregalados e perplexos do Moody que dormia no malão para o Moody inconsciente caído no chão da sala.

Dumbledore entrou no malão, desceu o corpo e caiu de leve no chão ao lado do Moody adormecido. Curvou-se para ele.

–Estuporado, controlado pela Maldição Imperius, muito fraco – disse. – Naturalmente, precisariam mantê-lo vivo... me atire a capa do impostor, Alastor está congelando.

Madame Pomfrey precisará examiná-lo, mas ele não parece correr perigo imediato.

Fiz o que o diretor me pediu; Dumbledore cobriu Moody com a capa, prendeu-a em volta do corpo do bruxo e tornou a sair do malão. Com certo esforço, o homem acompanhou o diretor, e apanhou o olho mágico e a perna de pau. Virou-se de costas por um momento, imaginei que estivesse recolocando-os em seus devidos lugares. Depois voltou, sorrindo de um jeito esquisito, e disse para Dumbledore:

-Conte a ela quem ele é, a menina precisa saber Albus.

-Contarei, Alastor – garantiu o diretor -, só estou esperando eles chegarem, acho que vai ser melhor se…

-Você decide – Alastor deu de ombros.

Snape retornou, segurando um frasco de poção azul, que logo passou para as mãos de Dumbledore.

-Obrigada Severus – disse ele, avaliando o frasco. - Agora, assim que Minerva voltar, daremos um jeito nisso…

Mal ele terminou de falar e McGonagall surgiu, com meus pais em seus encalços. Praticamente voei para os braços deles, sentindo-me confortável de verdade pela primeira vez em muitas horas. Quando me senti mais calma, soltei-os, e todos olharam o homem estuporado no chão.

-Albus, o que… - perguntou Remus, sem terminar de falar.

-Já vou esclarecer isso, Remus – disse Dumbledore, pegando de novo o frasco de Veritasserum. - Enervate! - o homem desmaiado deu uma respirada funda. - Você é Alastor Moody?

-N-não – ele negou, mesmo que lutando para não responder.

-Quem é você?

-Percy Weasley.

Arregalei os olhos e cobri a mão com a boca, me aconchegando a meus pais, com nojo do garoto de cachos ruivos desajeitados. Era por isso que Dumbledore queria que Sirius e Remus estivessem presentes quando a verdade fosse revelada. Para cuidar de mim se tivesse um ataque.

Queria matar Percy, esganá-lo por trair sua família, que não merecia o desgosto de um filho Comensal da Morte. Fiz menção de ir até ele, mas Sirius segurou meu pulso.

-Não se aproxime dele – disse ao meu ouvido. - Ele tentou matar você enquanto estava disfarçado, lembra-se?

Assenti, tentando conter as lágrimas que estavam prestes a cair. Percy pusera Caleb no caminho da morte. Se ele não tivesse me seguido, se tivesse não tivesse encontrado a Taça comigo, ele estaria vivo, voltando para casa com seus pais. Percy tinha que pagar por isso.

-Você conjurou a Marca Negra na Copa Mundial de Quadribol? - interrogou Dumbledore.

-Não, quem fez isso foi Bartolomeu Crouch Junior,

-Você mandou aquela cobra atrás de mim? - perguntei, sem olhar os rostos de meus pais.

-Sim, é claro. Não teria dado certo se você não tivesse o veneno de Nagini em seu corpo. Ou você nunca reparou que desde aquele dia, sempre machuca a mesma perna?

Chocada com suas palavras, afaguei minha perna frágil, percebendo que o que ele dizia era plausível.

-Era você em Hogsmeade, não era?

Ele assentiu, e eu me lembrei, ele chegara a apontar a varinha para mim, naquele dia, como se fosse me matar ali mesmo. Me enterrei nas vestes de meu pai, amedrontada.

-É o bastante Albus, ela não precisa ver mais – disse Remus, segurando meu ombro -, podemos resolver isso sem ela aqui. Minerva, poderia levá-la para a madame Pomfrey?

McGonagall destinou um curto olhar para Dumbledore, que assentiu, então ela me rebocou até a ala hospitalar, deixando-me aos cuidados atenciosos de madame Pomfrey. A medibruxa me colocou em um leito e fez diversas perguntas sobre como me sentia e o que acontecera que me fizera parar ali.

-Eu acho que quebrei a perna, tem um corte no meu braço muito fundo, e tem veneno de cobra em mim.

-Veneno? - Pomfrey olhou-me espantada, ajeitando os pequenos óculos redondos no nariz. - Você tem certeza disso? - assenti, e ela desapareceu, em busca de antídotos.

Estiquei o olhar para o leito ao lado do meu, Caleb estava nele, deitado serenamente, de braços cruzados na barriga, como se estivesse apenas dormindo, mas eu sabia que estava morto, e isso era muito triste. Pomfrey demorou quase meia hora para voltar a mim, mas eu podia vê-la movendo-se rápida e histericamente, como se estivesse desesperada.

Sem dizer nada, ela desapareceu, mas logo estava de volta com Remus. Acenei para ele, que não viu, mas eu fingi que não vi. Eles conversavam em voz baixa, destinando olhadelas na minha direção, e o desespero de Pomfrey logo passou para Remus. Por fim, eles se aproximaram, a passadas largas, mas incertas e hesitantes. Meu pai acariciou meu rosto com arranhões da luta e da queda de sei lá eu quantos metros e murmurou algo que soou como um “Boa noite”. Essa foi a última coisa que ouvi.

REMUS

Depois que Minerva levou Eladora para a ala hospitalar, Sirius cuidou de chamar aurores para remover Percy e levá-lo para Azkaban – sem que ninguém soubesse, é claro -, e também de ajudar Alastor a sair com segurança. Depois ele e Dawlish se ocuparam em retirar todos os outros espectadores da tarefa – em maioria estudantes dos quais Minerva cuidou – e de procurar os pais do menino morto. Uma hora depois, estávamos quase prontos para ir para casa quando Papoula apareceu no campo de quadribol pedindo minha ajuda.

Segui-a, quase correndo pelos corredores frios. Eladora estava em um leito no fundo da ala hospitalar, seus olhos estavam calmos e ela não parecia ter chorado.

-Ela disse que tem veneno de cobra no corpo dela…

Esfreguei minhas mãos nos cabelos, Percy dissera que fizera Nagini mordê-la, e Nagini não era uma cobra normal. Uma cobra peçonhenta comum teria um veneno que se mostraria no máximo algumas horas depois da mordida, mas o veneno de Nagini demorou quase um ano para aparecer.

-Preciso de uma poção do sono muito forte – murmurei -, vamos ter de pôr a menina para dormir.

Pomfrey me trouxe o que pedi, então me aproximei de minha filha, dei-lhe um curto boa noite e injetei a poção nela. Dormiria por quanto tempo fosse necessário. Dei um suspiro pesado ao ver Caleb no leito ao lado. Sirius foi conversar com os pais dele para retirarem o corpo, mas eles se negaram, disseram que podíamos fazer o que quiséssemos.

Pessoalmente, eu achei muito frívolo, mas Alastor disse que era até comum, que ele já fora atrás de familiares de aurores que faleceram jovens em serviço, e alguns se negavam a receber os corpos.

-É muito mais fácil quando são britânicos mortos na Grã-Bretanha – disse ele, reflexivo. - Não tenho ideia do que pode ser feito com o menino francês, desculpe.

-E se o menino morresse em um hospital? - sugeriu Snape.

-Como assim? O garoto já morreu há quase três horas – questionei.

-Há uma poção que simula os batimentos cardíacos. Basta aplicar enquanto o leva para o hospital, entubá-lo, e então, quando o efeito acabar, as máquinas registrarão a morte dele, de novo.

Assenti, pegando o frasco que ele me oferecia. Pelo que ele me dissera, aquela dose seria o bastante para levar o corpo ao St. Mungus como se estivesse em estado gravíssimo, e quando os “batimentos” parassem, o corpo seria enterrado como indigente. Era uma pena, mas era tudo que poderíamos fazer por ele. Eladora também precisaria ir para St. Mungus, até que o corpo se desintoxicasse da peçonha de Nagini.

-Eu os levo para St. Mungus – me prontifiquei. - Tenho plantão em algumas horas, então já posso cuidar deles.

Todos assentiram, então mandei uma coruja urgente para a diretoria do hospital, pedindo uma Chave de Portal para três pessoas. O animal logo retornou, com um caderno rasgado. Carreguei o objeto para a enfermaria, e ajustei as mãos de Ella e Caleb sobre a capa do caderno e simplesmente desaparecemos no ar, ressurgindo instantes depois, em um quarto com dois leitos, e uma equipe de três enfermeiros prontos para me ajudar – pareciam elfos domésticos ao dizer que era uma honra trabalhar comigo… eles não são fofos? (Certo, parece bizarro).

Juntos, colocamos os dois em leitos, é claro que eu não contei que estavam lidando com uma espécie de morto-vivo. O trabalho de Snape era muito bem-feito, eu tinha de admitir, porque até a pele dele estava um pouco aquecida, para disfarçar. A enfermeira que me ajudou a entubar Ella estava encantada com a semelhança dela comigo.

-Ela se parece mais com o pai dela – disse, ajeitando os cabelos emaranhados dela. - Sabe, eles têm os mesmos olhos azuis.

A mulher deu um sorrisinho gentil enquanto ajustava uma mangueira de oxigênio sob as narinas de Eladora.

-Quanto tempo até ela acordar?

-Eu não sei… semanas, talvez meses.

-Peçonha mágica? - perguntou ela, e eu pude ler o nome bordado no avental. Ellen Castillo.

Eu gostava de Ellen, ela chegara ao hospital um mês antes, e demonstrava ser muito inteligente, e dessa forma, alcançara um posto alto dentro dos enfermeiros. Acho que confiava nela para cuidar de Eladora. Dispensei os outros dois que já tinham cuidado devidamente de Caleb e contei tudo o que havia de errado com Eladora para Ellen, que assentiu formalmente, como se tomasse nota do que eu dizia.

Declarei as atividades encerradas por ora, mas disse-lhe para observá-los e me notificar a qualquer mudança nos quadros, afinal eu era o medibruxo responsável por esses pacientes. Exausto como nunca antes, aparatei de volta para casa, e encontrei Sirius deitado na cama, com o braço sobre os olhos, a outra mão repousada ao lado do corpo, o que diabos aconteceu com esse homem?

Visto que eu estava cansado demais para tentar descobrir, apenas fui para a ducha e tomei um banho longo, deixando a água quente relaxar meus músculos. Tempos difíceis estavam chegando.



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