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História Marauders heir - Vinte e dois - Todos os loucos do mundo


Escrita por: BiancaLBlack

Capítulo 21 - Vinte e dois - Todos os loucos do mundo


Algumas pessoas nascem da mistura de todos os erros e falhas do mundo, tendo tudo para terem vidas péssimas, mas podiam ter vidas satisfatórias, até. Eu era uma dessas pessoas. Quando era menor, acreditava que não passava de um erro genético, e uma parte de mim, esperava que a licantropia me matasse logo de uma vez, mas trinta anos depois, aqui estou eu, casado com uma pessoa igualmente louca.

Se eu era um erro, uma doença na sociedade, Sirius era completa e verdadeiramente louco, porque Orion e Walburga o criaram sendo loucos. Toda essa loucura se personificou nele. Nos primeiros anos de escola, suas atitudes corajosas eram, a meu ver, suicidas e o faziam ser muito pirado. Mas com o tempo, eu aderi a essas loucuras, e tudo ficou normal.

Não podia esquecer, é claro, da louca mor, que tem nome e sobrenome: Eladora Katherina Lupin-Black. Todos diziam que ela não se parecia mais comigo ou com Sirius, era a mistura harmoniosa de nós dois, com seus cabelos castanho-claros e olhos azuis, mas isso não passava da descrição física. Sim, ela herdara muitas qualidades nossas, mas o conjunto não era nada harmonioso.

Em um momento, ela preferia simplesmente abandonar Harry e Rony à própria sorte para poder estudar, e em outro, ignorava qualquer exame ou teste para salvar-lhes a pele, pondo em risco a própria. Não havia meio-termo com ela. Tudo era preto no branco.

Com todas as nossas peculiaridades, éramos uma ótima família uns para os outros, mesmo com nosso defeito coletivo: enlouquecíamos juntos, ao mesmo tempo. Eladora estava hospitalizada, em coma – e fui eu quem a colocou nesse coma, é preciso dizer – e Sirius… ainda não descobrira o que ele tinha, mas estava perto. Quanto a mim, sentia que o peso do mundo estava nos meus ombros. E estava mesmo, era minha responsabilidade manter tudo funcionando. Manter Eladora viva pelas máquinas até que acordasse e cuidar para que Sirius não desmoronasse.

Os tempos difíceis que eu previ quando isso começou, vieram tão logo quanto cheguei em casa naquela noite. Sirius estava jogado na cama, com o braço atravessado no rosto, cobrindo os olhos, para esconder as lágrimas, mas não seu disfarce não durou muito, pois quando me deitei a seu lado, senti-as escorrendo por seu rosto. Nem precisei falar nada, ele simplesmente se virou, colocando a cabeça sobre meu ombro e liberou o choro. Passei os braços por seu tronco, repousando uma mão no meio de suas costas e a outra na nuca, fazendo-lhe afagos nos cabelos.

-Vai ficar tudo bem – falei, mais para mim do que para ele. - Eu juro solenemente pelo Mapa do Maroto.

Foi uma longa noite. Sirius chorou por horas, xingando Percy e Voldemort de todos os nomes que conhecia em todos os idiomas que podia.

-Se não fosse por eles… ela estaria bem agora. Estaria na escola, feliz, como sempre foi… mas agora ela está dormindo. Para sempre.

Não era para sempre, era só enquanto ela precisasse, mas eu não ia contrariá-lo, preferia que ele deixasse sair toda a raiva na cama, do que ir para a rua e fazer alguma besteira.

-Eles a pegaram… eles tiraram minha filha de mim…

Enquanto Sirius recitava sua ladainha de ódio, eu me focava em não surtar também, já que todas as funções de pai, marido e médico emocionalmente estável foram passadas unicamente para mim.

Não era difícil ouvi-lo, a maioria das lamentações era sobre Ella, e eu sabia que ela estaria de volta assim que estivesse curada. Depois de um tempo, eu achei que meus ouvidos fossem cair de tanto que eu o ouvi falar obsessivamente, e tinha que dizer a mim mesmo o tempo todo: “Ela está bem, eu sei disso. É por minha causa que ela está assim. Eu a protegi do veneno, agora é a vez dela de lutar por sua vida, mais uma vez”.

MESES DEPOIS, EM HOGWARTS…

-Sinto muito pela sua amiga… - disse Eliza Avery, arrumando os longos cabelos loiros sobre um ombro. Jonay suspirou quando ela estendeu-lhe a mão. Desde o Natal, vinham se encontrando esporadicamente na escola. - Ela piorou?

-Os pais dela dizem que está na mesma há quase seis meses.

O ano estava acabando, e com ele, as esperanças de Jonay que Eladora voltaria a Hogwarts. Toda semana, ele enviava uma coruja a Sirius e Remus perguntando dela, e eles respondiam com toda a paciência do mundo que ela continuava no estado vegetativo de coma, sem previsão de quando despertaria.

No começo, Eliza tinha ciúme da preocupação que Jonay tinha por “Ella”, como ele a chamava carinhosamente, mas o tempo passou, e Eliza se acostumou com as corujas que atrapalhavam seus momentos a sós trazendo notícias, e às vezes, pegava-se preocupada com a saúde de Eladora, mesmo sem saber porquê.

Jonay sacudiu a cabeça, afastando todos os pensamentos tristes e se voltando para a então namorada., que tinha os olhos castanhos distantes, fixos no horizonte. Faltavam poucas semanas para o fim das aulas, e a liberdade concedida pela chegada do verão era quase tangível.

Ele tomou a mão de Eliza, beijou-a, e em seguida convidou-a para ficar um tempo em sua casa na Espanha. Com um enorme sorriso apaixonado, ela aceitou.

Na torre da Grifinória, os gêmeos Weasley organizavam a queima de estoque das Gemialidades Weasley, para terem mais espaço para planejar os novos logros. Os kits Mata Aula venderam como água evapora no deserto, assim como as Poções do Amor.

Quando encerraram as vendas do dia, Fred contabilizou os lucros e George descartava as caixas vazias, mantinha as mãos ocupadas, mas a mente livre, vagando até um quarto no St. Mungus, onde sua Bela Adormecida lutava para despertar de seu sono – que para George, já durava uma eternidade.

-Com certeza teremos mais Poções do Amor e Mata Aulas em setembro. Talvez possamos acrescentar um ou dois itens no kit ou no catálogo. Que acha, George? GEORGE! ESTOU FALANDO COM VOCÊ.

-O que foi? - George gritou em resposta, irritado por ter sido arrancando de seus devaneios.

-Estava com a cabeça nas nuvens de novo, não é? Não para de pensar na Ella. As suas corujas estão perturbando Sirius e Remus, sabia?

Sim, eu sei, George cogitou responder, mas eu estou apaixonado pela filha deles e estou desesperado por notícias, mas ficou calado. Fez a última caixa da pilha desaparecer e saiu. A última coruja ainda não retornara, o que só o deixava mais tenso.

E se dessa vez, a resposta não fosse a neutra e apaziguadora de sempre? E se dessa vez houvesse anexado um convite formal para o enterro? A cada passo no corredor, seu coração se apertava. Se Eladora estivesse morta, jamais ouviria o que ele tinha a dizer. George nunca teria a chance de se declarar para a garota que amava.

Sentiu um apertãozinho no dedo ao pensar em Ella, como se alguém tivesse dado um nó de barbante na ponta de seu dedo mínimo. Avaliou a mão direita, e por um momento, vislumbrou um fio vermelho preso perfeitamente, nem muito apertado nem muito frouxo, e se estendia pelo corredor.

George acompanhou o fio, mas o fim estava sempre muito longe de seus olhos. De tanto caminhar, ele chegou a cabana de Hagrid, então sentou-se nos degraus de entrada e apoiou o rosto nas mãos, fechando os olhos para descansar.

Quando os reabriu, não sentia mais o fio, nem conseguia vê-lo.

-George! - disse a voz trovejante de Hagrid. - Dumbledore está procurando você.

Sem questionar, ele seguiu o meio gigante até a sala do diretor. Hagrid deu a senha à gárgula e entraram no gabinete. Dumbledore tinha Minerva e Remus como companhia.

A diretora da Grifinória lia um volume que aparentava ser de antes de Cristo, e assim que George chegou, ela perguntou, sem tirar os olhos do texto:

-E então?

-À primeira vista, nada – respondeu Remus, olhando a mão direita de George. - Pense nela.

George quase perguntou a quem ele se referia, mas era claro. Eladora. Escolheu o Natal, relembrou cada momento que passaram juntos no feriado, desde a chegada até o beijo.

-Ahá! - Remus agarrou-lhe a mão e exibiu para Dumbledore. - É ele.

-Desculpe, eu sou o quê?

-O par dela – a expressão confusa do menino não se alterou. - Venha, é mais fácil você ver de uma vez.

Entraram na lareira e pela rede de Floo chegaram ao St. Mungus. Havia dois leitos no aposento, um fechado por cortinas e o outro exposto, com Eladora deitada e Sirius segurando sua mão. Remus guiou George pelo ombro até a cama, observando o fio encurtar conforme a distância entre eles diminuía. Os três assistiam a cena muda com muita atenção. Sirius e Remus encorajavam George a tocar a mão de Eladora, que tinha a ponta do fio vermelho amarrada em seu dedo mínimo.

-Ela te ama – disse Sirius, em baixa voz – e você a ama.

-É claro que amo – George sorriu para a garota desacordada.

Ele não a via desde antes da tarefa, e apesar dos arranhões no corpo todo, da perna quebrada e o corte brutal no braço, o rosto dela estava calmo, os lábios quase esboçando um sorriso. Era como se ela estivesse muito feliz de ter sido posta para dormir sem hora para acordar.

-Está feliz, sim – disse Remus, como se lesse os pensamentos do garoto -, tem uma enfermeira na equipe, que jura dia após dia que ela vai acordar.

-Deve machucar, chegar todos os dias aqui com alguém jurando que vai acabar naquele dia, então o dia chega o fim, e a situação fica na mesma – disse George, brincando com os dedos dela.

-Hora de voltar – disse Sirius, olhando a lareira -, daqui a pouco Minerva vem te buscar pelas orelhas.

-Está bem… - concordou George, demorando os olhos no leito de Eladora – eu posso visitá-la de vez em quando? Sabe, ficar só um pouquinho…

-Vamos pensar no seu caso – Remus sorriu. - Quem sabe, uma ou duas vezes por mês, se garantir que Jonay vai parar com as corujas. Precisamos de um pouco de sossego.

George assentiu, prometendo que o faria. Qualquer coisa para ficar com ela, afinal. Ele adentrou a lareira, desaparecendo em direção a Hogwarts.

-Ele me fez pensar em um detalhe… - disse Remus, esfregando os dedos no queixo – podemos ver o fio dele sempre que ele pensa nela, mas e o fio que está no dedo dela? Tinha que aparecer quando ela pensa nele, mas como isso vai acontecer se ela está dormindo?

-Não há dois fios, Remmy – disse Sirius, alisando a mão de Eladora -, há apenas um, ligando o dedo de Eladora ao dedo de George. Se ele pensar nela, é o bastante para fazer o fio inteiro aparecer. Por exemplo, pense em mim.

Remus o fez. Concentrou-se nas lembranças boas que tinha com o marido e o fio vermelho surgiu, unindo os dedos deles, exatamente como o fio entre Eladora e George. Piscando para reprimir as lágrimas, Remus se jogou nos braços de Sirius, tendo a prova definitiva de que eram feitos um para o outro, e seu amor era verdadeiro e para a vida inteira.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS…

O verão finalmente chegou. Sirius aproveitava todas as folgas possíveis para ficar com Eladora no St. Mungus. Aquela era para ser mais uma visita comum, mas quando chegou ao corredor do quarto da menina, viu os maquinistas removendo uma pessoa e indo para o necrotério. Ele nem se controlou ao correr atrás da maca, mas foi contido pelos funcionários do hospital.

-Me larguem! É a minha filha, eu preciso vê-la.

Sirius lutava contra os enfermeiros que tentavam afastá-lo dali. Remus ainda estava no dormitório, cuidando de desligar as máquinas e sobressaltou-se ao ouvir os gritos agonizantes tão familiares. Deslizou pelo corredor , e viu Sirius com os cabelos revoltos e o olhar doentio que há mais de um ano não encontrava. A última vez em que ele estivera assim fora em Azkaban.

Com o coração apertado em pensar que ele voltava aos velhos hábitos, mandou os enfermeiros deixarem Sirius em suas mãos, com discrição.

-Que diabos você está fazendo aqui gritando desse jeito? - indagou o medibruxo. - O tumulto que poderia causar se eu não tivesse aparecido…

-Eu não me importo, e sabe por quê? Porque Eladora está morta, Remus. Você a deixou morrer. VOCÊ MATOU A NOSSA FILHA!

-Eu não a matei – Remus rebateu. - O corpo que foi retirado há pouco… era Caleb.

-A poção já acabou? - Sirius estarreceu.

-Já, mas a Ella está bem, eu garanto. Continua dormindo, respirando e seu coração bate. Quer vê-la?

Eles entraram no quarto, se surpreendendo ao ver um casal de mãos dadas, fitando a menina no leito.

-Caham! - Remus fingiu tossir, chamando a atenção deles. - O horário de visitas ainda não começou.

Os estranhos se viraram, Remus leu os nomes nos crachás de identificação: Eva Mirony e Michael Mirony. Puxou Sirius para perto da porta e murmurou:

-São eles. O casal que adotou Ella.

-Oh Merlim… por que eu acho que isso não vai prestar?

-Tentar o quê? Não te ocorre que eles podem estar aqui para levá-la de volta?

Antes que Remus pudesse falar, alguém bateu à porta e o medibruxo mandou que aguardasse.

-Sr. Mirony, sra. Mirony, eu sou Remus Lupin, o… médico da Eladora. O quadro dela é muito delicado, precisam se retirar.

-Não – protestou Eva, batendo o pé no linóleo – não vou deixar a minha filha sozinha quando ela mais precisa.

-“Quando ela mais precisa”? - disse Sirius, revoltado. - E onde estava você quando ela foi atacada? E quando ela quase morreu várias vezes? Fomos nós que cuidamos dela quando ela mais precisou. Nós somos os pais dela.

-Que belos pais foram quando a deram para adoção – atacou Michael. - Nós cuidamos de cada machucado, vestimos e alimentamos por doze anos. Isso não pode ser ignorado.

-Então pergunte quem ela ama mais – rosnou Sirius, segurando a mão de Remus. Michael “pisara no calo” de Remus ao citar a adoção. - Eu já sei a resposta.

-Calem-se! Só ela que vai sair prejudicada! - disse George Weasley, conferindo o monitor de batimentos cardíacos.

Suspirando, Sirius e Remus se calaram. Envergonhada e retorcendo os dedos, Eva pediu em voz baixa para que Eladora passasse um tempo com ela e Michael quando estivesse bem.

-Uma semana – disseram os bruxos em concordância – nada mais.

O casal Mirony se retirou do quarto, e os bruxos voltaram sua atenção para o rapaz ruivo, ainda atento ao maquinário.

-Vão deixá-la com eles? - questionou desolado. - É loucura.

-Só uma semana, e depois, cortamos contato para sempre – disse Sirius, tentando acalmá-lo. - Você poderia ficar de olho neles enquanto estiverem com ela? Para garantir que ela vai ficar bem.

Ele assentiu e ouviu-se um meio suspiro. Todos os olhos do aposento se viraram para a jovem no leito. Ela estava despertando. Imediatamente, George saltou para o canto, abrindo espaço para Remus trabalhar. O medibruxo fazia os procedimentos de estabilização enquanto falava consigo mesmo, como se rezasse: Resista. Me dê tempo o bastante para acordá-la. Não nos abandone.

Ao final de tudo, enxugou do rosto o suor frio e repentino, aliviado. Ele conseguira ajudá-la a sair do coma, ela estava totalmente curada da peçonha de Nagini. A sensação de ter salvado a vida dela era quase inebriante, ele se sentia um verdadeiro herói – mais até do que nos tempos de guerra -, mas não era a primeira vez. Essa fora quando finalmente dera a luz àquela linda garota, e depois de quase perdê-la para sempre, ele estava encantado com os olhos cansados que ela esfregava.

Eladora abriu um sorriso e esticou os braços, como se pedisse colo ou um abraço. Remus fechou os braços ao redor dela e beijou-lhe os cabelos, depois desligou os aparelhos enquanto Sirius a paparicava. Ao pressionar o botão off da última máquina, Remus disse que ela podia trocar de roupa no banheiro do quarto, e que depois voltariam para casa.

Saltitante, ela apanhou a muda de roupas, grata por poder tirar a camisola horrenda do hospital. Os quatro deixaram o aposento, George e Eladora à frente de mãos dadas e Sirius e Remus mais atrás, de braços dados, trocando afagos discretos nas mãos. Estavam preocupados, com medo de encontrar os Mirony na recepção, antes que pudessem tirá-la dali, mas assim que saíram do elevador, Eva Mirony surgiu e agarrou Eladora pelos ombros.

-Ah, minha querida… graças a Deus você está bem.

-Desculpe, mas eu prefiro acreditar que meu médico foi quem me salvou, e se me dá licença, eu quero ir para casa.

Eva não disse nada, mas Remus segurou o antebraço da filha, e baixou o tom de voz para dizer:

-Vai com eles por uma semana e depois vamos buscar você.

Ela esboçou uma careta de desagrado, mas Sirius logo interveio:

-Nós juramos solenemente pelo Mapa do Maroto que vai ficar tudo bem. Pode ligar para nós o tempo todo, e se tiver algum problema, aparatamos na hora.

Eladora assentiu. Dizer que estava contrariada seria um eufemismo. Em silêncio, ela seguiu Eva e Michael. Com o coração apertado ao vê-la partir, George jurou a si mesmo que se os votos diziam: “na alegria e na tristeza”, ele estaria com ela na alegria e na tristeza. 



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