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História Marcados pelo fogo - Véu de bruma


Escrita por: Hypnoss_

Notas do Autor


Bem... duas semanas... QUASE CUMPRI, OK? T-T
Pensei que ia ter mais tempo nas férias, mas, adivinhem, não tenho.
Ah, lembrem, significados dos asteriscos nas notas finais.

Capítulo 8 - Véu de bruma


Por: Sasuke

Ele acordara antes de mim. Era estranho, pois não era lá muito comum que as pessoas se levantassem ainda mais cedo que eu, uma vez que tinha a péssima (ou ótima) mania de acordar pouco depois dos primeiros raios de sol emergirem da escuridão.

Mas não encontrei seu corpo ao meu lado na cama, logo, devia ter acordado. Procurei lentamente pelo recinto e achei-o recostado na soleira da janela com o corpo quase inteiramente para fora. Usava um quimono branco e aparentemente feito de cetim que ondulava suavemente à brisa matinal. Ele abrira as janelas — que estavam fechadas desde que chegara — e muito do sol entrava por todo o quarto o que me fez piscar desconcertado com a luminosidade.

— Sabia que existe um motivo para eu deixar todas as janelas fechadas, Ômega? — Resmunguei. Odiava o Sol pela manhã.

Parecia consternado e assim cheirava, observando o sol nascer pelas planícies e banhá-las com seu brilho. Ele me olhou com um semblante quase assustador de tão deplorável. Pelas suas olheiras inchadas supus que não tinha dormido e que havia chorado. Espreguicei-me ainda meio fora do mundo — não acordara bem. Pouco depois de me observar ele voltou à janela, como se a paisagem de campos verdejantes fosse muito mais interessante que meu rosto — o que, obviamente, não era.

Levantei-me e pus o roupão negro e amarrei-o com o cinto rubro. Era interessante pensar que eu devia possuir a maior gama de roupas que variavam apenas entre azul escuro, preto e rubro, mas também não era exatamente um mérito. Notei que [o roupão] arrastava pelo piso de madeira que existia em toda a fortaleza… “Talvez seja hora de renomear esse canto…”.

E, de repente, bufei e olhei-o irritado. Pigarreei para chamar sua atenção:

— Vou sair. E as janelas devem ser fechadas. — Avisei e vi-o simplesmente balançar a cabeça em concordância. Em verdade, parecia quase estar definhando. — Mandarei comida, alguns livros e um banho…

Ele suspirou. Naruto não havia chegado ao quarto à noite daquele jeito, parecia até um tanto feliz. — Procure por notícias de meus pais… — Pediu e fez uma pequena reverência tentando manter honra na voz. Aparentemente ele esquecia que podíamos “cheirar” nossas emoções com frequência.

Constantemente os hormônios que regulavam os sentimentos modificavam o cheiro das pessoas, mas era tão sutil que ninguém conseguia realmente perceber. Ao marcar seu parceiro era como se um ficasse “hipersensível” ao cheiro um do outro, era fácil reconhecer as emoções apenas pelo cheiro dele. Seu aroma cítrico parecia mais amargo naquele dia, era isso que eu tentava ignorar enquanto apressava minha saída.

Concordei com a cabeça e me virei. Tinha coisas mais importantes para fazer — embora minha disposição para qualquer uma delas não fosse tão grande quanto à de dormir.

A porta se abriu com uma frase breve e se fechou com uma palavra cortante. Ao andar descalço pude sentir cada irregularidade do piso e, quando dobrei o corredor, encontrei para meu desprazer aquela coisa loira que se dizia humana e se nomeava Deidara, apesar disso eu costumava o julgar como algo não humano frequente.

Ele me olhou de cima a baixo, fez sinal de desentendimento com os braços e indagou como se questionasse sua própria existência:

— Por que está de roupão, General?

— Não me lembro de dizer que isso era da sua conta, Deidara… — Seu cheiro enjoativo de vodca tinha começado a ficar mais forte que o normal.

— Calma, “Monsieur”. — Falou ironicamente. — Só perguntei o porquê de estar de roupão, mas, se não quer responder, fico com as hipóteses que se passam em minha cabeça… — Sorriu sacana.

— Ótimo, e que fiquem nela. — Dei de ombros. — Se eu falasse tudo o que se passa na minha acho que estaria em uma masmorra por aí, de qualquer forma…

— Ou morto. — Acrescentou ainda sorrindo.

— Ou morto. — Concordei revirando os olhos com um tom meio descontraído. — O café-da-manhã já está servido?

— Em pouco tempo… — Respondeu prontamente.

— Uma carta chegou para você, General. — Falou Sasori enquanto adentrava no corredor em que eu conversava com o loiro. — Está selada e com a assinatura de seu irmão.

Ele estendeu o papel e eu peguei-o. Era sim do Itachi, apenas por olhar o tipo de papel usado aquilo ficava óbvio.

— Lembrou-se de chamar Minato para o café-da-manhã?  — Perguntei a ambos.

— Eu chamei. — Respondeu o louro de prontidão.

— Ótimo.

— Deidara, precisam de você na Primeira Guarda… — Chamou Sasori.

Eles saíram conversando sobre qualquer coisa e um sorriso sacana preencheu meus lábios. “Pombinhos…” pensei.

O extenso corredor tinha flores pintadas nas paredes, o piso era de madeira e poucas janelas com moldura também em madeira eram vistas ali e aqui. Saí por uma porta de correr num largo espaço de reuniões.

A mesa que comportaria facilmente vinte pessoas possuía apenas uma sentada num dos extremos dela e perto da cabeceira. O teto do espaço era mais alto que o resto do lugar, tendo quase dois andares de altura, o piso era inteiramente de madeira e as paredes do andar inferior eram de pedra lisa e cinza enquanto a do superior tinha um forro de pano pintado com padrões de rios, flores e árvores.

Ainda estava de roupão, mas, ainda assim, sentei-me à cabeceira, perto de ambos. Por coincidência, assim que me sentei, foram servidas duas fartas bandejas com pedaços de frutas, ovos cozidos e já sem casca, pedaços de pão ainda quentes, um bloco pequeno de manteiga, um bule de chá e, estranhamente, algumas flores comestíveis, além de facas, talheres, dois pratos e conjuntos de xícaras com pires em mesmo número.

— Fique à vontade. — Falei enquanto passava manteiga no pão com uma faca.

— Não nos levaram a aldeia ontem como combinamos… — Retaliou Minato, que parecia mais impaciente que no outro dia.

— Não tive tempo para lidar com prisioneiros ontem… — Falei sem dar muita importância.

— Isso tudo é um jogo para você, rapaz? — Perguntou.

— É, inclusive, um jogo muito divertido… — Refleti e esbocei um sorriso cínico. Logo depois decidi continuar antes que ele tivesse tempo para retrucar de alguma maneira. — Bem, preciso comunicar meus novos termos: vocês não perguntarão por Naruto na vila.

— Disse que não abriria mão disso! — Reclamou. — É uma exigência.

— Infelizmente sou eu quem exige aqui, entendeu? Você pede, eu exijo.

— Nós temos a influência que precisa, sabe disso.

— Concordo, mas creio também que o humano funciona de dois modos: medo ou amor. — Segui minha linha de raciocínio. — Eles lhes amam e não me conhecem, entretanto, posso fazê-los que me temam com muita facilidade…

Ele suspirou.

 — E vocês me ajudarão com o medo ou com o amor, mas juro que o medo será muito mais doloroso para vocês… — Concluí.

— Por que a mudança? — Falou quase rendido.

Tomei um gole do chá. — Podia ser ainda mais cínico e encerrar com um “Nada, só me deu vontade de atormentá-los”, mas prefiro ser sádico e dizer a verdade. — Comentei com uma naturalidade forçada, mas convincente. — Eu sei onde o Naruto está, e prefiro manter a informação comigo, assim garanto que vocês dois não farão nada que me desagrade.

— Pode provar? — Perguntou ele calmamente. Provavelmente achando que era um blefe.

— Posso, mas não quero, nem vou. — Respondi no mesmo tom. — A pergunta não é essa, mas sim: “Você quer pagar para ver?”.

— Como ele está, então? — Sorri sádico com o desvio que ele dera no assunto.

— Está sendo tratado bem… Garanto que o tirei do alcance do ataque de meus soldados. — Dei de ombros. — O cheiro dele é realmente forte…

— Tenho alguma escolha?

— Não… — Respondi serenamente. — Não o chamei para um pedido, o chamei para comunicar essa decisão… Ainda vão ser acompanhados para a vila, assim que possível.

Ele retesou por inteiro como se tivesse percebido algo e tentasse ignorar. Pôs uma das mãos sobre a mesa e inquiriu num tom baixo:

— Tem o cheiro dele…

— Sabe como são os ômegas… — Disse rindo sadicamente e, depois, tomando um gole do chá. — Sempre deixam seus cheiros por aí enquanto tentam fugir de exércitos…

Não tinha gostado do que ele falara… Ainda não tinha notado que o cheiro de Naruto estava em mim — e isso provavelmente explicava muitas das deduções de Deidara. De qualquer forma, aquela resposta deveria mantê-lo longe do assunto.

— Agora vá, não tenho mais tempo para você… — Disse e indiquei a saída com um gesto de mão lânguido.

Ele se levantou e fez uma curta e dura reverência em minha direção. Virou-se em direção a porta que foi aberta e dois soldados vestidos em uniformes militares começaram a conduzi-lo até o quarto no interior do forte.

Observei-o marchar com a cabeça erguida. Era fácil tratar com ele, embora suspeitasse que não fosse igualmente fácil tratar com a mulher do mesmo.

Voltei a meus pensamentos e retirei a carta do pequeno bolso que o roupão possuía e a pus sobre a mesa. Observei-a com sobriedade e, até mesmo, certo medo. O selo de cera cor de vinho, gravado com seu anel, exibia claramente em alto relevo uma torre solitária sobre o pico de um monte.

Abri-a com relutância e respeito, quase como um ritual. Esquentei a cera numa vela próxima com cuidado para que o papel não queimasse, quando ela estava mole, separei as partes da carta e comecei a ler enquanto a cera voltava a se solidificar.

Por: Minato

Escoltado pelos soldados eu andara pelo corredor de cabeça erguida.

A altivez da postura, entretanto, não esconderia jamais a desonra da situação. Dois homens uniformizados escoltando-me nos meus próprios corredores. Costumeiramente qualquer tipo de movimento para um dos lados era rapidamente cerceado por movimentos com os alabardes que carregavam.

Eles jamais despejavam uma palavra fora de seus postos, embora já tivesse os ouvido conversar atrás da porta, mas o pouco que falavam de minha língua possuía um sotaque tão desajustado, rápido, deturpado e misturado com palavras estrangeiras que era incompreensível para mim. Em geral, entretanto, conversavam em algo que supus ser Biávo*1 (que era ainda mais incompreensível), logo pareciam cantar algo muito estranho e sem rimas enquanto falavam.

Conhecia cada canto da construção.

Cada fresta, cada porta, cada parede. Mas, ali estava eu sem poder estender a mão até uma das peças de madeira que eram ornadas por flores — e que, diga-se de passagem, agora jaziam vazias — sem ser interrompido por um alabarde cerceando meu caminho. Cada vaso, cada arranjo, cada decoração.

Cada passagem, cada sala, cada quarto. E cada vez que saía do quarto via que o Exército Novo fazia com o forte pouco a pouco o que fizeram com a vila em uma noite: destruíam, queimavam cada resquício de vida. Cada flor, cada pássaro, cada vida.

Abriram a porta do quarto outra vez. Eram tão silenciosos e seus uniformes cobriam tanto de seus rostos que não sabia dizer se haviam sido trocados ou se eram os mesmos guardas desde que chegamos… Observei o quarto espaçoso e o tabuleiro de Xiànqí antes de ser suavemente empurrado para dentro e a porta ser batida atrás de mim.

Senti-me um pouco tonto, procurei um lugar para sentar e acabei, nessa procura, sentando-me na cama. Olhei para cima novamente e os olhos de Kushina procuravam alguma novidade nos meus.

Fiz um sinal negativo com a cabeça e ela sentou-se a meu lado. — Ele está com o Naruto… — Respondi à pergunta velada que ela fizera. — E nos proibiu de perguntar por ele na vila.

— Como sabe que não é um blefe? — Retrucou.

— O cheiro dele… Ele tinha o cheiro do Naruto impregnado em si… — Estava quase perturbado. Não o tinha percebido até despejar tudo sobre ela. — Hemos*2 de ser cautelosos, ele não me dá um bom pressentimento.

— Acho que não o dá para ninguém… — Ela concordou.

Por: Kiba

Pisquei e senti, daquela vez, minha cabeça mais leve. Uma fogueira crepitava em seus últimos suspiros atrás de mim e ouvi a respiração ofegante de Akamaru. Quanto percebeu uma movimentação diferente de minha parte pulou em mim.

Eu continuava completamente confuso e ele começou a lamber meu rosto antes que eu conseguisse levar minhas mãos a seu corpo para pará-lo. — Para, garoto! — Disse enquanto ainda tentava me levantar. Apoiei-me nas pernas e eu, ainda cambaleando, fiquei de pé.

A mulher de máscara de branca e vermelha estava recostada numa árvore me encarando. Retirou a máscara quando percebeu que eu fitava-a. — Não se preocupe, não vamos machucá-lo… — Ela disse calma.

— Fale por você, Haku! — Respondeu o outro de passos pesados. — De onde você é você, pirralho?

Era uma dupla engraçada. A recostada na árvore era uma ômega que vestia um yukata verde e era extremamente bela, tinha cabelos negros caindo até os ombros e olhos de mesma cor, pele alva e nariz fino, suas mãos se moviam com fluidez e suavidade, enquanto o outro era quase um oposto da primeira, era alfa e vestia calça e camisa negras, usava luvas e meias de treino e uma sandália que parecia de couro preto, além disso tudo, seu rosto estava enfaixado por tiras brancas até a altura dos olhos — questionei-me seriamente se aquilo não atrapalhava sua respiração, pois parecia o fazer.

— Duma pequena vila, o Exército Novo a invadiu…

— Eu falei que ele não era do Exército, não falei, Zabuza? — Comentou a que supus chamar-se Haku.

— Quieto, Haku… Como posso saber que você não serve ao Império Novo?

“Quieto?” pensei, “Ela é ele? Oi?! Tudo bem que nem todo ômega é mulher, mas… Ele parecia muito uma… É melhor que eu fique calado sobre isso, definitivamente”.

— Acho que meu sotaque já diz muito. — Disse tentando me defender, pois, além do que já citara, ele carregava uma espada muito grande de duas mãos que, embora parecesse maior do que ele conseguiria empunhar, eu não pagaria para vê-lo a usando.

Akamaru rosnou para o homem, mas murmurei um rápido “Calma, garoto” e ele voltou a sentar-se protetor perto de minha perna.

— Faz sentido, mas ficarei atento aos seus movimentos. — Ele respondeu. — Somos também refugiados. Sou Zabuza e ele é Haku, qual seu nome?

— Me chamo Kiba…

— Sente-se conosco, Kiba, íamos almoçar agora. — Convidou Haku e sentou-se de pernas cruzadas próximas a um peixe qualquer assado em pequenos pedaços cúbicos sobre uma tábua de madeira que eu ainda não havia visto.

Eu me sentei assim como Zabuza, ele me deu um hashi de metal (o que era estranho, pois naquela região era mais costumeiro o uso de garfo e faca). Eles estavam sentados alinhados como se cada um fosse uma ponta de um triângulo (à medida do possível) equilátero.

Zabuza estava quase pegando um dos pedaços quando Haku bateu no hashi dele com o seu e levou um dedo à boca em sinal de silêncio para nós e se pronunciou de olhos fechados:

— Sede por nós, pois vós, e apenas vós, assim o será. Sois carne e sois sangue, Senhor, éreis verbo e sereis por todo o sempre. Ofereçamos, então, de vossa carne ao vosso fogo, Senhor. — Ele pegou solenemente com as mãos alguns dos cubos e jogou-os nas brasas que morriam. — Que se apiedeis com nossas almas, que se compadeçais de nossos corpos, que nos salveis de nós mesmos, pois vós sois o único com tal poder. Göganên-jíya-têsa, Ávus*3.

Zabuza repetiu a última frase e eu achei, por bem, o fazer igualmente e com o mesmo tom solene. Só após isso começaram a comer. Eu os acompanhei.


Notas Finais


Gente, vou sempre deixar aqui algumas explicações não tão importantes, mas que eu considero interessantes. Coisas que não estão diretamente ligadas a história principal, mas que fazem parte da ambientação da trama como um todo. Então, aí vão:
Obs.*1: O nome nativo da língua é “hikwǎrō bviávwǒ”. Era uma língua tonal (como o Mandarim, por isso que ele se refere a língua como "cantada") e quase desligada da língua de Kiba e dos outros, embora a região em que ela era falada estivesse no mesmo reino. No idioma, “hikwǎrō bviávwǒ” pode significar “Língua/fala/expressão do homem/humano/ser pensante”.
Obs.*2: “Hemos de”, só para deixar claro, sinônimo de “Havemos de”, “Temos de”, é só uma conjugação menos usada do verbo “Haver”.
Obs.*3: É uma oração a “Imínta, o deus das cores”, que era um tipo de “contra-religião” de “Narumíg, o deus bicolor”. Imínta e Narumíg eram ambos parte de uma religião politeísta que se espalhava por todo o continente, mais tarde esta se dividiu. O braço Kãaki da religião virou monoteísta e devota a Narumíg (o deus bicolor), enquanto o braço Mipán virou monoteísta e devota a Imínta (o deus das cores). Ambas as religiões nascidas continuaram com resquícios de politeísmo (a religião de Imínta com mais do que a de Narumíg). “Göganên-jíya-têsa, Ávus” quer dizer “Perdoai-nos, deus”, mas é usado como a expressão “Kyrie Eleison”, que quer dizer “Senhor, tende piedade de nós”. Um fato “interessante” é que, embora Imínta seja considerado singular, ele sempre deve ser representado pela segunda pessoa do plural (“vós”, no caso do português). Supõe-se que isso é um resto do politeísmo do qual esse deus fora retirado, porque ele representava as cores, a multiplicidade, a policromia, etc.
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