Sorriu enquanto observava Nina cortar alguns legumes de costas para o mesmo.
Ele sabia que ela estava se roendo de curiosidade para saber o que ele conversou com o próprio pai, mas também sabia que ela respeitava o seu momento.
Ele iria falar, só não naquele momento, não se sentia preparado para dizer a ela que havia entrado em uma confusão com o pai por causa dela.
Mas o que poderia fazer, não deixaria ninguém desrespeitar Nina, nem que para isso tivesse que sair nos tapas com o pai, ninguém tinha o direito de falar mal de Nina, não perto dele.
— Me desculpe por fazer você perder a aula hoje — ele quebrou o silêncio que havia se instalado entre eles.
— Sem problemas Gastón, não iria deixar você sozinho, você precisa de mim e eu estou aqui — ela lavou as mãos na pia e se virou para olha-lo.
— Mas o seu amigo deve estar preocupado — ele fingiu desinteresse enquanto se referia ao tal Simón.
— Acontece que eu já liguei para o meu amigo e avisei que não iria hoje — ela revirou os olhos e voltou sua atenção a louça que estava sobre a pia.
Gastón se sentiu incomodado ao ver que ela ainda havia se preocupado e ligado para o tal Simón, ele só ficava com mais raiva a cada dia.
— Aí — a ouviu murmurar e foi até ela.
— O que aconteceu? — ele perguntou de modo preocupado enquanto pegava a mão que ela tentava inutilmente fazer para de sangrar.
— Eu cortei o dedo, só isso.
— Só isso? Você ainda me diz só isso? Deixa eu cuidar disso — ele lavou a mão dela na torneira da pia — a onde está a caixinha de primeiros socorros?
— Gastón não precisa disso tudo, foi só um corte pequeno, nada que um esparadrapo não resolva — ela sorriu ao ver a preocupação nos olhos dele — eu só preciso de um esparadrapo, está no meu quarto, na primeira gaveta do criado mudo.
— Não se Mexa eu já volto e termino de lavar essa louça pra você, e sem mais — ele finalizou quando viu que ela iria murmurar.
Saiu da cozinha e caminhou até o quarto da garota.
Avistou o criado mudo branco ao lado da cama bem arrumada.
Abriu a primeira gaveta e avistou a caixa de esparadrapos, quando a pegou viu um envelope que estava embaixo, mas o que mais chamou sua atenção era o nome que havia escrito, o seu nome.
Gastón Perida.
Ficou com a mão suspensa no ar, pensando se abriria ou não o envelope... Afinal, que mal teria? estava endereçado a ele, se estava endereçado a ele significava que era dele.
Mas por que Nina não havia dito nada?
Resolveu que pensaria naquilo depois.
Colocou o envelope dobrado cuidadosamente dentro do bolso traseiro da calça e fechou a gaveta se dirigindo novamente a cozinha.
Nina estava sentada em uma das banquetas que haviam na cozinha, enquanto sua mão não cortada apoiava o rosto sobre a bancada.
— Você demorou — ela disse assim que o notou, voltando a uma posição ereta.
— Eu não estava achando — ele se sentou do outro lado da bancada e puxou a mão dela para sí enquanto se sentia mal por estar mentindo para ela.
Ela apenas soltou um murmúrio em concordância.
Ao estar ali tão próximo a ela, ele lembrou-se do que estava planejando fazer antes de seu pai chegar e estragar tudo.
Ele iria beija-la, ele realmente iria beija-la.
Não faria mal nenhum, ele só precisava sentir os lábios dela, a vontade que tinha agora só fazia aumentar.
— Por que está sorrindo? — ele percebeu que havia acabado o curativo na pequena e delicada mão dela e que estava sorrindo.
— Não é nada — ele tentou disfarçar o constrangimento passando a mão pela nuca — agora você vai se deitar e descansar, você já fez demais por hoje.
— Mas e a comida...
— Eu resolvo.
— Gastón, você é terrível na cozinha — ela deu risada da expressão incrédula dele.
— Não acredito que você está falando mal da comida do melhor chefe de cozinha do mundo — ele fingiu indignação enquanto ela apenas dava altas gargalhadas. Era bom saber que ele também a fazia rir.
Engole essa Simón.
— Você vai se deitar e quando estiver pronto eu te chamo — ele falou um pouco mais sério mas com um sorriso brincando nos lábios.
— Ok senhor Perida — ela levantou-se — mas não se esqueça, qualquer coisa pode me chamar.
— Pode deixar — viu ela se retirar do local e suspirou antes de levantar-se rumo a pia com louça.
Quando seus dedos já estavam ficando enrugados por estarem muito tempo em contato com a a água, ele terminou, colocando tudo no escorredor.
Seu olhar se voltou para a tábua a onde Nina estava cortando legumes a alguns minutos atrás e resolveu que guardaria aquilo na geladeira e pediria comida oriental.
A favorita dela.
Quando terminou o pedido que havia feito por telefone, voltou a cozinha e se sentou de frente para a bancada.
Se lembrou da carta que ainda estava no bolso traseiro.
Pegou e respirou fundo antes de abri-la.
Era como se ele sentisse que naquele papel teriam palavras que mudariam a vida dele.
Abriu o envelope já manchado pelo tempo e retirou o papel que havia dentro.
Deu uma olhada rápida para o corredor com medo que Nina aparecesse e o descobrisse.
Voltou seu olhar a carta e leu o título de uma longa história que mudaria sua vida.
A última carta.
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