História Marcas - Abraço de aeroporto

     Existem vários tipos de abraços, tem o abraço de amigo, tem o abraço de irmão, tem o abraço de gente apaixonada, e até o abraço no bichinho de estimação, mas nenhum desses abraços se comparam ao abraço de aeroporto.

     Abraço de aeroporto é aquele que com um único toque consegue transmitir sentimentos, é aquele que vale por dez mil palavras, que parece uma casa a onde você sabe que é só sua e de mais ninguém, é aquele abraço que te faz esquecer de tudo ao seu redor.

     Gastón conhecia muito bem esse tipo de abraço, foi esse abraço que ele usou pra se despedir de Nina e de todos os seus amigos quando foi embora de Buenos Aires.

     Mas agora ele descobriu que esse abraço não era específico para um aeroporto, descobriu que esse abraço pode ser utilizado em qualquer lugar desde que expresse as mesmas emoções.

     Ali nos braços de Nina ele descobriu uma nova casa, só dele.

     Nenhum dos dois queria se soltar daquele abraço que trazia consigo tanta mágoa e tanta saudade mas foi necessário quando a campainha tocou ecoando seu som por toda a casa.

     Se soltaram e se encararam pelo que pareciam ser horas para Gastón quando na verdade eram segundos.

     Ele ficou perdido naqueles olhos castanho esverdeado que traziam tanta calmaria e beleza.

     Quando ela abriu a boca pra dizer algo a campainha tocou novamente, mas dessa vez não parou.

     Gaston só conhecia uma pessoa irritante ao ponto de segurar o dedo na campainha até que alguém atendesse a porta.

     Enquanto Nina se encaminhava até a porta, Gastón pensava em uma forma de despachar o amigo pra que pudesse ter uma conversa com Nina e explicar a ela tudo que havia acontecido nesses anos.

     Ele não sabia o que falar, tinha medo de contar a verdade e ela ficar decepcionado e o chamar de covarde por não enfrentar os próprios pais.

     Ele sabia que estava sendo covarde mas ele não podia deixar a empresa de sua família falir para que pudesse cumprir as próprias vontades, ele não era egoísta a esse ponto.

     — Pois não? — saiu de seus devaneios pela voz de Nina que falava com Thomás escorado no batente da porta.

     — Oi pra você também gata — será que Thomás não podia ter o mínimo de respeito?

     Não era com qualquer uma que estava falando, era com Nina e Gastón não deixaria ele falar com ela de qualquer jeito.

     Se aproximou da porta mais um pouco ficando atrás de Nina e entrando no campo de visão de Thomás.

     — Oi Gastón, a quanto tempo não é mesmo? — ele disse irônico com um sorriso no canto dos lábios.

     — Oi Thomás, será que a gente não podia conversar outra hora é que agora eu tenho que falar com Nina e...

     — Então esse é seu nome docinho? — Gastón já estava ficando sem paciência — sabia que nossos nomes se combinam? Nina e Thomás ficam perfeitos juntos — ele disse todo galanteador.

     — Sério? Pois eu acho que são nomes muito diferentes — ela disse com um sorriso no canto dos lábios.

     Gastón olhava a cena com um olhar um tanto assassino para seu amigo e com incredulidade para Nina que estava rindo, ela não podia rir para Thomás, só ele podia arrancar sorrisos dela, tudo bem que tudo que conseguiu até agora foram lágrimas, mas ela ria para ele também, pelo menos na época de colégio ela ria.

     Gastón ficou com ciúmes de Nina, ela era como uma irmã pra ele, era normal que sentisse ciúmes de uma irmã mais nova. Era o que ele tentava dizer pra sí mesmo.

     — Thomás tá na hora de você ir — Gastón disse um pouco rude.

     — Calma cara, só vim entregar a pizza da moça — ele estendeu a mão  aonde se encontrava uma caixa de pizza.

     — Nossa, estava completamente esquecida — ela pegou a pizza das mãos de Thomás.

     — Porque o entregador não veio entregar a pizza aqui? — Gastón perguntou desconfiado.

     — Eu estava vindo te chamar aí o entregador estava procurando o número 36 e como eu já estava vindo pra cá resolvi que eu mesmo poderia trazer a pizza pagar, e não se preocupe doçura — se dirigiu a Nina — eu já paguei a Pizza, não precisa me agradecer aceite como um presente e um pedido de desculpas por eu ter pulado em você hoje mais cedo.

     — Obrigada mas não precisava — ela disse gentil.

     — Tá bom Thomás agora você já pode ir, muito obrigada pela pizza e...

     — Mas ai eu pensei — Gastón estava a um passo de pular no pescoço do amigo por ter sido interrompido novamente — já que estamos todos aqui nós poderíamos dividir essa maravilhosa pizza — ele terminou com um sorriso de orelha a orelha.

     — NÃO/ Claro — Gastón e Nina disseram ao mesmo tempo.

     — Eu acho justo já que foi você que pagou a pizza — Nina disse estranhando o comportamento de Gastón.

     — Então está decidido — Thomás entrou no apartamento e fechou a porta atrás de si — será um dos melhores jantares de nossas vidas.

     Gastón não tinha tanta certeza disso, Nina apenas olhou para Thomás assustada pela forma como ele entrou em seu apartamento.

     — Ah  Gastón — Thomás  chamou a atenção do amigo — quase ía me esquecendo, a Delfina ligou e disse que não precisa ir busca- lá porque o "namorado" dela vai levar ela pra casa — concluiu fazendo aspas com os dedos quando falou namorado e soltando um pequeno sorriso no final da frase.

     Além de se preocupar com as cantadas de Thomás sobre Nina, ele também teria que ficar de olho para que  Thomás não falasse demais.

     Nina só o olhou com uma curiosidade contida provavelmente se perguntando quem seria Delfina.

     — Okay, depois eu falo com ela — foi tudo que Gastón disse querendo logo encerrar aquele assunto.

     Nina levou eles a bancada da cozinha enquanto Gastón pedia a Deus e aos céus que não saísse muita merda desse jantar.