História [Mar]ília - Cap II

POV MAR

A luz começou a invadir o quarto, o que me acordou.
Virei para o lado de Lucas e mexi com ele, mas nem sinal de vida deu, para variar.
Luna já havia levantado, com certeza até tomado café.
"Nota mental: comprar ração."
Joguei um pouco de água em Luke, aproveitando que era dia de trocar os lençóis; estava um pouco dolorida, dormimos de mau jeito.
Abri a janela, deixando o sol entrar no pequeno quarto branco com uma cama de solteiro de cada lado, um guarda roupa pequeno no pé de cada uma e a tv e a cômoda na parede à frente delas, varrendo o chão e organizando tudo.
Trocamos de roupa e descemos, vendo Luna sentada no sofá da sala assistindo um desenho qualquer. Fomos para a cozinha, e sentamos nos banquinhos do balcão de mármore preto, tomando uma xícara de café que provavelmente Matheus preparou.
-Vamos mesmo à praia, Lucas?
-Se você quiser...
-Eu sempre quero, você sabe.
-Vamos então.
Ainda estavamos sonolentos.
-Ótimo, mas precisamos voltar mais cedo para levar Luna embora.
-Ela vai hoje?
-Sim, amanhã vai ter a festinha mensal do orfanato, sabe né, para os aniversariantes.
-Ah, certo.
Mandei Luna ir buscar o biquíni, trocar de roupa e arrumar seus brinquedos. Eu adoro cuidar dela, mas não vou fazer tudo, ela vai ficar uma criança mimada e mandona assim.
Arrumei a mochila, colocando coisas para comer, água, protetor solar e toalhas limpas, coloquei um biquíni esverdeado com conchinhas, um short jeans e esperei Lucas tirar o carro da garagem, ele já tinha 19 anos e dirigia bem.
Arraial do Cabo é uma cidade pequena e simples, mas incrivelmente bela, principalmente as praias com água cristalina e areia branquinha.
Pegamos um guarda-sol qualquer e armamos num lugar próximo a algumas árvores.
Os dois correram pro mar gelado - as correntezas são bem frias na região - e eu fiquei observando.
Vi Guilherme caminhando na minha direção e sorri, não de felicidade em vê-lo, mas de satisfação em saber que provavelmente vamos sair de novo.
-Tá me seguindo?
-Já disse que esse short te deixa gostosa?
-Já disse que você é um idiota?
-Olá, Marília. É bom te ver também.
-Olá, Guilherme.
-Tá afim de sair amanhã de noite?
-Estava só esperando o convite - sorri maliciosa - onde vamos?
-Estava pensando em ir no parque de diversões que está na cidade, o que acha?
-Nos vemos às 8:00?
-Fechou. Te vejo de amanhã, lindinha.
-Não sou tuas nega pra me chamar como elas - olhei desafiadoramente.
Ele deu risada e saiu. Apesar de tudo, nos tornamos bons amigos (coloridos, mas ainda assim amigos) e a melhor parte disso é que ninguém precisa saber, saímos quando dá vontade, não precisamos nos enrolar muito menos assumir nada - gente bem esclarecida é tudo. Lucas me olhava com aquela carinha de "HUM SAFADA, HOJE TEM", como ele viu isso?! Não sei, mas o Lucas me conhece melhor que eu mesma.
Decidi que estava na hora de entrar na água, corri e mergulhei de cabeça, os melhores segundos da minha vida. Eu e o oceano temos uma relação especial, um caso de amor incompreendido.. Puxei o pé de Lucas, arrastando-o pra o fundo e soltando.
-AH DESGRAÇA
-COÉ, A PUTINHA TÁ BRABA PORQUE MOLHOU A CHAPINHA?
Luna estava na beira, então não nos ouvia.
-VEM PRO X1 ENTÃO, VEM
Eu e ele começamos a tentar derrubar o outro, quem caísse perdia, só paramos quando vimos uma menina maravilhosa brincando com Luna.
-OOOOI CRIIIIIIS! - gritamos juntos.
Cristina era uma garota de 18 anos que morava com a gente, e era lindíssima: alta, corpo curvilíneo, olhos castanhos mel, pele negra e uma bunda que só Deus na causa.
-OI! SABIA QUE ESTARIAM AQUI. PODE DEIXAR QUE EU CUIDO DELA!
Nem bem ela terminou de falar, derrubei meu rival e fui junto, caindo os dois abraçados. Quando viramos bruscamente, nossos lábios se roçaram sem querer. Olhei para ele em meio a água límpida, nos encaramos em questão de segundos e como já tacamos o foda-se há muito tempo, ele me puxou pela cintura e me beijou.
Lucas não é só meu melhor amigo ou colega de quarto, ele também é meu primo, então crescemos juntos.
Quando o oxigênio faltou, subimos à superfície como se nada tivesse acontecido, mas li os lábios dele quando disse: "faz muito tempo que quero fazer isso".
Olhamos cúmplices um para o outro, acho que isso provavelmente vai se repetir algumas vezes.
O dia passou rápido entre brincadeiras com Luna e Cris e algo mais com Luke.
A tarde chegou, nos trocamos e levei Luna ao orfanato perto da escolinha, depois fomos para casa, eu e Lucas no carro e Cristina em sua moto.
-O que foi aquilo hoje?
-Não sei, Luke. O que você acha?
-Que deveríamos fazer mais vezes.
-Então vamos fazer, oras.
Chegaram exaustos, trancaram a porta e deitaram, dormindo até a noitinha.
Todos saíram, exceto Arthur, Lucas e Marília.
-Por que não vemos um filme?
-Vejam vocês, eu vou sair.
-Boa sorte, Luke. Meu corpo está dolorido e meus olhos ardem tanto que não quero me mexer nem para respirar.
-E eu não quero sair.
-Bom, juízo vocês dois hein - olhou malicioso - vou dormir na casa da Bruna.
-E depois nós quem temos de ter juízo. - falei em tom de malícia.
- Cala a boca, Marília.
O garoto saiu.
-Quer assistir o quê?
-Comédia.
-Vamos assistir Americam Pie.
-Aaaah não, tudo menos isso!
-Os incomodados que se mudem, linda.
-Está achando que sou viado, é isso?
-Talvez.
-Vamos assistir, vai.
Coloquei o filme, sentando-me ao lado dele. Entre uma risada ou outra, tudo se tornou um borrão. Acordei no outro dia com a cabeça no colo dele, suas mãos em meus cabelos, acariciando-os e me encarando.
-Você fica linda quando dorme, sabia?