O garoto de cabelos alaranjados precisava entender bem a situação presente. Por que diabos HoSeok o estava olhando com aquela cara confusa e inquietante? Certo. Talvez o fato de o encontro dos dois ser naquele lugar contribuísse, mas ainda era estranho...
— Tem algum problema comigo? — Não conseguiu manter a boca fechada diante daquela expressão do outro. Se encolheu na poltrona do "cinema" particular do estúdio de gravação. Nem queria e nem conseguia prestar atenção no filme que se iniciava barulhento.
— Não. Claro que não.
— Então o que foi?
O mais velho não se deu o trabalho de responder. Apenas se aproximou perigosamente.
— Só me pergunto por que tem tanto ódio de mim…
— Eu não te odeio. De forma alguma. — TaeHyung deixou que a careta confusa tomasse conta de seu rosto. — Por que está insinuando isso?
HoSeok apoiou um pouco mais do corpo por cima do braço da poltrona do outro, aproximando-se ainda mais. TaeHyung foi se afastando conforme os movimentos alheios. Poderia explodir ou entrar em estado de emergência a qualquer momento.
— Você beijou o tal de YoonGi no outro dia. Isso estraga os meus planos, sabia? Como nós claramente vamos nos casar no futuro, o primeiro beijo deveria ser comigo também.
TaeHyung deu risada, não conseguia ter outra reação senão aquela.
— Quanta confiança. O que te faz pensar isso?
— Só acho que formamos um bom par… — Levou uma mão ao queixo, como se pensasse a respeito. — Você não concorda?
— Vamos assistir o filme. — Esticou a mão apanhando um punhado de pipoca e saboreando enquanto ainda estava quente e fresca. Achava o comportamento do mais velho muito engraçado, principalmente quando ele falava naquele falso tom sério. Não se considerava alguém difícil de se impressionar, mas tinha que admitir que o moreno ao seu lado era uma figura e tanto.
Os dois passaram a prestar um pouco de atenção na história que se passava, onde a protagonista era uma mulher que perseguia o chefe e, em algum momento bizarro, os dois acabaram se envolvendo em uma espécie de perseguição e se tornando amigos. Era uma comédia romântica e TaeHyung estava gostando mais do que esperava.
— Sabe, eu gosto muito de ir ao cinema. — HoSeok voltou a falar quando as cenas estavam calmas e sem falas.
— Eu também, é tão divertido!
— E escurinho… — Comentou vagamente, fazendo TaeHyung fitá-lo.
Poderia ter perguntado o que o outro queria dizer com aquilo, mas apenas sentiu sua mão ser entrelaçada por cima do braço da poltrona, onde antes estava descansando. Sorriu pela ousadia e deixou aquilo passar. Já não era a primeira vez que seguravam as mãos um do outro, embora daquela fosse menos desconfortável.
A história foi passando e eles trocaram pequenas conversas entre as falas dos personagens, até mesmo comentando sobre os acontecimentos da história. Quando ela acabou, os dois se entreolharam quase perdidos.
— Então ela era só louca e estava imaginando tudo? — TaeHyung estava no fundo chateado, porque não idealizava aquele final inconclusivo.
— Foi o que eu entendi também… — Ficou olhando para o vazio por alguns instantes. — Que filme horrível.
— Eu gostei! — HoSeok o olhou indignado. — Quero dizer, apesar do final, foi legal. Me fez perceber que se de repente um helicóptero aparecer e me levar para um lugar esquisito, estou ficando louco.
O final era realmente inesperado. Depois de acompanhar as aventuras e loucuras dos protagonistas por mais de uma hora e meia, tudo o que poderiam imaginar era que eles acabariam mortos a qualquer sinal de perigo, mas estavam enganados. Na verdade, a mulher “acordou” na mesa do escritório, observando o chefe e dando-lhe um sorriso misterioso. Não tinham certeza se eles estavam fingindo que nada havia acontecido ou se ela era apenas uma sonhadora.
— Bela observação. Eu estava esperando uma cena mais romântica.
— Por quê? Também curte romances?
— Nunca ouviu falar do clássico beijo roubado no cinema?
TaeHyung deu risada novamente. Não conseguia lidar com toda a audácia do moreno. HoSeok foi se aproximando devagar com um bico cômico nos lábios, mas o alaranjado colocou uma mão na frente da própria boca, fazendo com que outro beijasse seus dedos.
— Você é maluco tipo a moça do filme.
HoSeok sorriu e se afastou. Tinham um clima alegre e leve entre eles, que foi o suficiente para brincarem juntos por mais algum tempo antes do encontro se encerrar, para a infelicidade de ambos. Descobriram coisas em comum, como o gosto particular por colocar ketchup em qualquer coisa. Além disso, ambos gostavam bastante de animais e discutiram sobre antigos bichos de estimação da infância e TaeHyung não conseguiu evitar de falar sobre Bobby, o cachorro que estava agora com o ex-namorado. HoSeok disse que se sentia mal por ele ter que se afastar, mas era inevitável e que tudo melhoraria na hora certa.
— Não sinta a minha falta, TaeTae.
— Você também não, Hope.
Se despediram teatralmente, exagerando nas expressões faciais e nos gestos. Tinham um humor similar, afinal.
— Prometa que não vai, ou eu não te deixarei ir embora.
— Eu prometo! — Enxugou uma falsa lágrima dos olhos.
Riram e se separaram de uma vez por todas. TaeHyung foi com o carro da produção do programa até sua “segunda casa”, que estava mais para primeira. Tocou a campainha mesmo tendo uma cópia das chaves.
— Tae? O que você está fazendo aqui? — Jimin estava confuso ao abrir a porta a ver o amigo ali tão tarde e sem avisos.
— Você está ocupado? — Se sentiu culpado por não ter mandado uma mensagem antes de ir até lá, então pensou um pouco e sorriu de lado para o melhor amigo. — Será que tem alguém aí?
Tentou empurrar a porta e olhar por dentro, mas o menor o barrou.
— Não é isso…
— Poxa, eu vim pra cá procurando por uma cama quentinha, mas parece que vou ter que ir pra casa agora.
— Ei, eu já disse que não é isso. Você só me pegou de surpresa.
— Posso entrar? — TaeHyung resolveu perguntar já que eles estavam em silêncio ainda do lado de fora por algum tempo.
Jimin se virou e abriu a porta, dando também passagem para o mais alto. Averiguou cada pedacinho da casa, procurando por algum detalhe diferente ou outra pessoa. O comportamento do amigo era incomum.
— Quer conversar sobre alguma coisa?
— Acho que não…
— Estranho, sempre que você vem aqui é porque está com algum problema. Se for um assunto te incomodando é só dizer.
— Na verdade, eu estou um pouco confuso. — Jimin o acompanhava atentamente. — Estou duvidando se fiz a coisa certa ao me inscrever nesse programa. E se no final eu acabar só me magoando? E se eu não gostar de nenhum? E se nenhum gostar de mim?
TaeHyung deixou a frase morrer, entes que jogasse ainda mais dúvidas.
— Você sempre foi uma criança confusa, né? Já te disse que você se preocupa demais, mas vale dizer uma milésima vez. Só dá pra saber se acontecer. E se não acontecer, não aconteceu e pronto. Lide com isso.
— Seus conselhos são os piores. Sempre volto pra casa pior do que quando cheguei.
— Então não vá pra casa esta noite…
— Não vou atrapalhar nada?
— Já disse que não!
TaeHyung riu debochado e então os dois seguiram para o quarto de Jimin. Deitaram quase abraçados, como tinham o costume de fazer.
— Acha que algum deles vai se apaixonar por mim? Eu me sinto um bobo perguntando isso.
— Se nenhum deles se apaixonar por você eu vou vender a minha casa e começar a vender espetinhos de carne numa barraquinha de rua.
— Cuidado com o que você fala!
TaeHyung dormiu em meio a conversa baixa, cansado pelo dia de gravações. Não chegou a sentir o beijo carinhoso que recebeu na testa, entre os fios de cabelo espalhados e bagunçados. Jimin dormiu logo depois. Provavelmente deixaria a casa antes que o amigo acordasse, então guardou uma nota mental para deixar um bilhete e algum dinheiro, assim TaeHyung poderia almoçar num dos restaurantes por perto da casa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.