Hinata
Estava sentada na sala de espera, aguardando Neji e Hanabi chegarem. Eu não conseguiria aquilo sozinha. Encarar meu pai depois de tudo o que aconteceu e correndo o risco de ele me humilhar mais uma vez era demais para mim. Naquele momento eu me arrependia amargamente de ter recusado a ajuda da Sakura.
-Prima – ouvi Neji me chamar.
-Neji, Hana – me levantei enquanto era abraçada por Neji e depois por Hanabi – como aconteceu? – perguntei sobre o infarto do meu pai.
-Não sabemos direito – começou Hana, ela parecia triste e preocupada, mais frágil que o normal – ontem, depois que saímos do seu apartamento, Neji me deixou em casa e eu encontrei o papai caído ao pé da escada – ela me explicou, e eu então senti a maior culpa da minha vida.
-Então...
-Não, você não teve culpa nenhuma, Hinata – me cortou Neji, como se lesse os meus pensamentos.
-Mas se Hanabi estivesse em casa...
-Teria acontecido, de qualquer forma – ouvi minha irmãzinha dizer entre um soluço e outro – o papai está velho, e desde que ele te expulsou de casa por causa da Sakura, ele não é mais o mesmo.
-Como assim? – perguntei curiosa.
-É como se ele estivesse arrependido, mas o orgulho dele é grande demais para permitir que ele pedisse desculpas na época, então ele foi definhando lentamente – me explicou Neji – ele já não saia de casa nem para trabalhar, se alimentava mal e cuidava dos assuntos da empresa no quarto ou no escritório, a saúde dele estava horrível.
-Por que não me contaram? Eu teria ido conversar com ele – questionei.
-Pra que? Ele iria fazer o mesmo que sempre fez – riu sem humor, Hanabi – o papai não consegue aceitar que te perdeu para uma garota, ele esperava que você desistisse de Sakura e escolhesse ficar com ele, com a sua família.
-Mas eu amo a Sakura, como também amo o papai e vocês dois, ele tem que entender que minha vida agora é ao lado dela – era incrível como meu pai era cabeça dura.
-Senhorita Hinata – uma voz masculina me chamou um pouco ao longe – sou o médico responsável pelo seu pai.
-Ah, perdão doutor – me desculpei por não ter reconhecido o homem – posso vê-lo? – perguntei.
-Sim, mas ele está descansando – ouvi atentamente cada palavra do médico – só peço que tente mantê-lo calmo, qualquer esforço exagerado pode fazer mal a ele – me indicou o homem.
-Como quiser doutor, me leve até ele – pedi – vocês vêm? – perguntei a Hanabi e Neji que apenas recusaram e disseram que iriam depois.
-Me siga – pediu o médico.
(...)
Entrei o quarto branco. Meu pai estava deitado na cama, e parecia dormir. Se não fosse por alguns fios ligados aos poucos aparelhos que monitoravam o estado dele, podia jurar que ele estava bem.
Me aproximei da cama e me sentei na poltrona próxima. Me inclinei em direção ao corpo dele e segurei em sua mão grande e calejada. Acariciei com todo o carinho e amor que por ele esperando que ele me retribuísse a qualquer momento. O que não aconteceu por longos e dolorosos minutos.
-Reaja, papai – implorei, sentindo meus olhos marejados, as lágrimas querendo escorrer por meu rosto.
Senti a mão dele apertar a minha e fiquei atenta a qualquer outro sinal de que ele estava acordando. Olhei para seu rosto, velho e cansado, e o vi abrir seus olhos, lentamente. Esperei até que ele me encarasse e soltei sua mão, me levantei e dei as costas, me afastando da cama e limpando meu rosto.
-H-Hinata – o ouvi pronunciar meu nome, sua voz era rouca e desgastada.
-Neji e Hanabi me disseram o que aconteceu – falei sem me virar para ele – e disseram também que você queria me ver.
-O-Olhe para mim – ele pediu, mas ao ver que eu não me mexia afim de obedecer sua ordem, ele completou – po-por favor, fi-filha.
Me virei surpresa, fazia dois anos que eu não o ouvia me chamar daquele jeito. Vi ele fazer um sinal para eu me aproximar novamente da cama e eu apenas obedeci. Voltei a me sentar na poltrona e esperei que ele continuasse.
-Não se esforce, pode fazer mal – pedi.
-N-Não se preocupe, eu preciso fazer isso – ele disse, respirando fundo – eu pedi para que Neji te convencesse a vir me ver por que... eu me arrependo, de tudo – o que? Do que ele estava falando? Eu estava surpresa demais para entender qualquer coisa – eu nunca devia ter te expulsado de casa, nunca devia ter te renegado como filha, não por uma bobagem como aquilo – ele suspirou, eu abri a boca para impedir que ele continuasse, mas ele simplesmente foi mais rápido – eu não conseguia aceitar que a sua felicidade era com aquela garota, eu simplesmente não queria enxergar que eu nunca seria capaz de separar vocês duas, não se o amor que vocês diziam sentir uma pela outra fosse verdadeiro, e eu queria acreditar que não era, que era só uma fase e que logo você voltaria pedindo perdão por algo que não era sua culpa e implorasse para voltar para casa.
-Papai, para – eu pedi, meus olhos novamente encharcados pelas lágrimas – por favor.
-Eu fui um idiota por fazer tudo o que fiz, falar o que eu falei, eu não via que estava te machucando tanto – ele desviou o seu olhar do meu – esses últimos dois anos foram os piores da minha vida, desde a morte da sua mãe, e eu queria ir atrás de você, dizer tudo o que estou dizendo agora, e que te aceitava como você era e quem você amava, mas o meu orgulho não permitiu.
-Pai, não fala isso – falei segurando a mão dele novamente e limpando o rosto com a mão livre – não se esforce pai, você precisa de repouso, depois que você se recuperar a gente conversa – insisti para que ele ficasse calmo.
-Só diz que me perdoa, minha filha – ele pediu finalmente me encarando, e só então eu percebi que ele chorava, silencioso – diz que me perdoa, só assim eu vou ter motivos para sair desse quarto de hospital.
-Eu não sou ninguém para negar perdão a você, pai – eu sorri – eu te amo, e sei que desde o inicio você só queria me proteger, do seu jeito, você só queria que eu fosse feliz, é claro que eu te perdoo meu pai – respondi.
-Obrigado – ele suspirou demoradamente e fechou os olhos, enquanto acariciava minha mão – eu prometo que assim que eu sair daqui vamos conversar melhor – o ouvi dizer.
-É claro, papai – eu sorri apertando a mão dele, finalmente a minha vida estava completa – Neji e Hanabi querem ver o senhor, e eu tenho que resolver algumas coisas.
-Entendo – ele olhou para mim, os olhos contendo um brilho diferente – vá, e logo você vai ver que eu já vou ter saído daqui.
-Eu tenho certeza que vai sim – concordei me levantando e me dirigindo a porta.
-Eu te amo, minha filha – eu o ouvi dizer e apenas respondi com um sorriso e um baixo “eu também”.
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