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História Matrix - Libero


Escrita por: dorkyeoI

Notas do Autor


HEY HEY YOU YOU. q
parei.
vou nem me desculpar pela demora. cês sabem.
guess who's back. hue
ignorei que o mundo estava dizendo para eu não postar e postei.
espero que gostem.
beijos pra vocês.

Capítulo 6 - Libero


Fanfic / Fanfiction Matrix - Libero

Querer ser livre é também querer livres os outros

Simone de Beauvoir

Novembro de 2236 

punho de Nandae lançou-se em sua direção, a fazendo ter um estalo mental, jogando-se para trás e rolando pelo chão. 

Yesun olhou para cima, a mandíbula travada com a tensão e a adrenalina correndo por seu corpo, o suor escorrendo pelas têmporas, o peito subindo e descendo coma  respiração acelerada, os olhos heterocromáticos brilhantes, uma mão apoiada sobre o tatame e a outra, fechada, pronta para acertar seu alvo. 

Nandae não estava muito diferente, observando a loira com a cabeça levemente inclinada para a direta, a expressão calma, esperando a reação da outra. 

Respirando fundo, Yesun se postou de pé, estalando as costas conforme ficava ereta, engolindo em seco com a intenção de pensar em uma estratégia. Nandae, por outro lado, não queria mais esperar. 

A perna desta voou em sua direção, porém, o reflexo de Yesun era eficiente o bastante para segurar a panturrilha de Nandae antes que pudesse ser acertada no ombro. 

Sorriu, empurrando a rival e conseguindo desferir um soco no estômago de Nandae, em seguida, um chute no nariz dela. Um soco na mandíbula, uma rasteira e a ameaça de um joelho na garganta se seguiram, se não fosse por Minwoo, que saiu correndo da área da plateia para parar Yesun, a puxando pela cintura para fora da arena enquanto esta se debatia, querendo continuar a luta até ver sangue. 

— Me larga! — Falava ofegante, dando socos nos braços que a seguravam com força. 

— Tomou uma dose muito grande de Red Flower. Sabia que isso não daria bons resultados. Esses cientistas ficam cada dia mais retardados. — Sussurrava o garoto ao tira-la do local de treinamento. 

Alguns seguranças tentaram se aproximar, mas Minwoo gritou que era só uma pequena falha no chip de Yesun e estava a levando para o laboratório. Ele era bom na mentira.  

— Minwoo! — Berrou ela, ainda esperneando com a intenção de fugir. 

— Para quieta, Yesun! — Minwoo a sacudiu para cima e para baixo, como se fosse uma garrafinha de água. 

— Não acredito nisso... — Sussurrou Yesun depois de ser colocada no chão, quando já estavam fora da Base Dragon, perto da pradaria que dava para o Domo, aonde uma cerca elétrica se erguia, o zumbindo sendo claramente distinguidos pelos adolescentes geneticamente modificados. 

— Você devia ter controlado a dose. — Os olhos da menor, não estando mais tão iluminados como antes, focaram o rosto franzido do outro, já que o sol cegava ambos. 

— Me prenderam na cadeira de novo quando neguei... — Yesun baixou a cabeça e piscou um pouco, suspirando e levantando o rosto. 

Lá fora estava frio. Isso era percebido pelos flocos de neve que caíam, lembrando que antigamente existia o inverno. O que era estranho, já que o clima fora do Domo era extremamente quente. 

— Não te machucaram? — O tom de voz do No estava mais brando, a fazendo descer o olhar para o rosto preocupado. 

— Desculpa, Minwoo. Deveria ter ficado consciente. — Yesun sentiu seu lábio inferior tremer e virou-se de costas para o outro, não querendo que ele a visse chorar por aquilo. 

Ouviu o suspiro do maior e logo os braços dele rodeavam os ombros dela, o rosto dele pressionado contra o da menor, que tentava limpar as lágrimas teimosas. 

— Desculpe ter sido grosso com você. Foi muito difícil ver você agir daquela forma com a Nandae. Vocês são melhores amigas e mesmo assim, não hesitou um segundo antes de mandar ela para o chão e tentar sufoca-la... — Dessa vez, ele parecia melancólico. O coração de Yesun se apertou ainda mais quando os lábios de Minwoo encostaram em sua bochecha. — Não reconheci a garota que amo e isso despertou algo ruim em mim. 

— E se um dia eu machucar alguém seriamente? E se eu acabar machucando Nandae de verdade, ou até Yujeon? Se eu te machucar, Minwoo? Simplesmente viro a arma de combate perfeita quando me dão doses daquele tipo! — Yesun se afastou, chorando copiosamente ao pensar me machucar alguém querido por si.  

— Você não vai machucar ninguém, Yesun, por mais que as doses sejam fortes, seu coração continua sendo bom demais para ser envenenado por aquilo. — O maior já sentia o desespero lhe tomar por não conseguir se aproximar da figura trêmula e frágil a sua frente. 

Antes que ele pudesse fazer qualquer tipo de movimento, Yesun já corria para o pequeno buraco escondido da cerca, aonde eles saíam escondidos para conseguirem tirar um tempo livre na floresta perto do Domo. 

Setembro de 2239

Observo a enorme construção que se erguia a nossa frente. 

Dois andares, com janelas quebradas, a pintura gasta, a madeira podre, dando a impressão de que um único sopro seria o bastante para manda-la ao chão. Haviam algumas colunas mantendo o teto da varanda em pé, mas ao ver os rangidos que as escadas vaziam quando Chanyeol subiu os degraus, fiquei tentada a arrasta-lo para longe antes daquilo desabar por completo. 

Vistoriei o arredor, ainda com medo que os soldados pudessem aparecer e nos prender, mas o grupo de amigos não parecia nem um pouco preocupado com isso, percebi pelo modo como entraram em uma correria pela porta caída das dobradiças. 

— Não vem? — A voz de Chanyeol me chamou de volta a realidade, parado entre o portal que levava para dentro do lugar decaído. 

— Esse lugar é familiar... — Comentei, andando lentamente em direção à ele.  

— Deve se lembrar de uma clareira e uma casa com uma porta vermelha no Coração do Refúgio. — Chanyeol sorriu de leve e puxou a maçaneta, fechando levemente a porta desgastada para que eu conseguisse observar alguns vestígios do que um dia foi uma pintura em tom escarlate. 

— Aquilo não eram imagens atuais? — Indaguei surpresa, deslizando o dedo indicador pela madeira, franzindo o cenho. Aquele lugar belo qual me chamou tanto a atenção antes não parecia em nada com o esqueleto de agora. 

— A maioria. — Ele concordou com a cabeça e deixou a porta pendurada novamente, fazendo um gesto para que eu o seguisse ao adentrar a escuridão. 

— O que era aqui? — Tomei coragem e deixe-me cegar pelo negro, dando passos cuidadosos para frente. 

— Um orfanato. — Fiquei um pouco confusa para saber aonde Chanyeol estava pelo fato de não haver nada de iluminação. Pisquei, ligando a visão noturna proporcionada pelo chip, ficando mais aliviada por saber que não tinha a perdido. 

— Aonde você cresceu antes de a Base aparecer? — Como ainda não tinha ajustado a visão, acabei por tropeçar, lançando as mãos em direção ao nada em busca de algo como apoio, encontrando a barra de uma camiseta. 

Um palavrão na voz de Chanyeol cortou o ar antes de ambos cairmos no chão empoeirado, este que rangeu ao contato de nossos corpos empilhados. Tossi de leve, procurando empurrar o maior de cima de mim. Deus, ele era pesado. 

— Garota, você é extremamente desastrada. — Bufou Chanyeol, se colocando de pé e me puxando como se não passasse de uma boneca de pano preenchida de areia. — Sim, aqui era meu orfanato e de Suho. — Foquei seu rosto, o achando extremamente estranho pela visão noturna, agora regulada do jeito certo. 

— Aqui parece ser um lugar muito pequeno para um orfanato... — Falei em um sopro, sentindo meu coração batendo de forma rápida pelo acontecimento repentino.  

— Não haviam muitas crianças. — Franziu o cenho e notei seu olhar passeando por todo meu corpo, logo fitando meu rosto. — Como você consegue cair tanto? 

— Não tenho culpa. As coisas que se metem no meio do meu caminho. — Ofego e o contorno, olhando em volta.  

Havia uma escada para o segundo andar, aonde vi uma luzinha trêmula. Me sentia envergonhada por ter caído tanto em um período de tempo tão pequeno e apenas queria um módulo de escape. Aquilo era algo normal, tanto que na Base, foi feito um sapato especial para mim, qual deixei para trás ao fugir. 

Yujeon me dizia que se tratava de um charme, mas eu sempre negava. Não havia nada de charmoso em cair a cada dois segundos em que ficava de pé. Nas primeiras semanas, Minwoo ficava extremamente preocupado com as minhas quedas, com o passar do tempo, ele apenas ria do meu embaraço e me chamava de desastrada, para então me levantar e dar um beijo em minha testa, começando a andar com os dedos entrelaçados aos meus, uma medida para que não caísse de novo. 

— Seus pés são imãs, é isso? — Chanyeol brincou ao me seguir em direção aos degraus que levavam ao piso superior.  

— Algumas vezes, acho que são. — Sopro uma risada, segurando-me da parede para ter certeza de que não iria descer as escadas sentada. 

— Fica tranquila. Se você cair, eu te pego, e caso isso não aconteça, descemos juntos. — O tom brincalhão ainda estava ali. Novamente, estranhei sua reação, mas me limitei a rir de leve, subindo com extremo cuidado. 

— Melhor me deixar rolar se isso acontecer. Não quero que acabe do mesmo jeito que a lonsdaleíta. — Sorri para o escuro, enfim chegando ao segundo andar. 

— Ouvimos um barulho. Está tudo bem? — Indagou Seungjung, se aproximando e pegando minha mão, dando um olhar nada amigável para Chanyeol. 

— Ela caiu. — Ele respondeu de modo simples com um dar de ombros indiferente. Fiquei em dúvida se o sorriso que Chanyeol deu foi para mim, juntamente com aquela piscadela, mas decidi achar que foi efeito da visão noturna e ignorei isto.  

— De novo?! — Baekhyun exclamou de modo impressionado. Estava sentado em uma cama empoeirada. 

Olhei em volta, notando que o lugar grande se tratava de apenas um único cômodo, com várias camas exatamente iguais as que Baekhyun se encontrava. Duas longas janelas eram enfeitadas com cortinas já rasgadas, brancas, quais esvoaçavam com a brisa.  

— Tenho grande tendências à desastres. — Sorri sem mostrar os dentes, deixando que Seungjung me levasse até a cama aonde as outras estavam discutindo sobre uma cor. 

— Vermelho. — Hyunyeon dizia com firmeza, segurando uma lata de spray, a sacudindo com tanta força a ponto de passar a centímetros do rosto de Yangsoo. 

— Azul. — Soowon bufou, também com uma latinha em mãos, mas sem a balançar de modo feroz.  

— Verde. — Yangsoo murmurou, os olhos arregalados para os gestos enraivecidos de Hyunyeon, indo para trás conforme a lata chegava perto de seu rosto. Ela já estava quase deitada sobre o colchão podre quando Seungjung se aproximou, dando um tapa na mão de Hyunyeon para ela parar de sacudir a latinha. 

— Cada uma vai com uma cor e deu dessa palhaçada. — Comandou, largando-me e se ajoelhando.  

Embaixo da cama havia uma caixinha de madeira simples aonde pude ver mais latas de spray. Seungjung pegou e me estendeu. 

— Gosta de vermelho? — Me olhou, sorrindo de leve. 

Acenei positivamente com a cabeça, sem entender muito bem qual era a intenção deles. Aquele noite estava sendo bem confusa. Pelo modo como agiam, iria demorar para voltarmos para o Refúgio. Isso realmente não me incomodava, afinal, me sentia uma prisioneira no subsolo, sem saber o que fazer exatamente. 

Ainda achava os planos deles inúteis. A ideia de aquele lugar estar fadado ao fim era algo pregado em meus pensamentos e tinha minhas dúvidas de que eles pudessem retirar isso, mesmo que usassem o máximo de força. Haviam tantas vidas em risco dentro daquele Domo, mas não eram suficientes para me fazer acreditar em um futuro bom. 

Seul continuaria sendo um poço sem inteligência, um bando de escravos que gostavam de não ter controle sobre si mesmos. Eram zumbis, não muito diferentes daqueles que se arrastavam no lado de fora do Domo, só não tinham a mesma bestialidade.  

— Ok. Todo mundo se decidiu? — Baekhyun se levantou da cama e sorriu animadamente para mim. 

Consegui devolver, mas sem mostrar os dentes. 

Ao terminarem com suas escolhas, o grupo se locomoveu para uma portinha pequena, muito bem escondida em um canto escuro do quarto, que antes tinha passado despercebida pela minha visão noturna.  

Quando me aproximei, tentando ver pela visão de raio x aonde aquilo iria dar, não obtendo sucesso. Estava concentrada o bastante para não perceber Chanyeol ao meu lado, girando a latinha de spray na mão. 

— Ao sairmos, fique próxima e não faça barulho. — Sussurrou, fazendo um sinal para que eu passasse assim que Seungjung sumiu pela abertura circular, sendo engolida pela escuridão do outro lado. 

Suspirei e me abaixei, engatinhando para fora, o que não foi uma boa ideia. Chanyeol deveria ter dito também algo como “sente-se e empurre-se”, se não eu não teria perdido o apoio da mão, deslizando pelo tubo metálico com rapidez. Não gritei, apenas soltei um leve arquejo, pois o ar me faltou para conseguir proferir algo. 

Se tivesse conseguido gritar, seria “se foda, Chanyeol!”. Não usávamos esse tipo de linguajar na Base, mas não quer dizer que não conheça. Sorte a dele eu ter perdido a voz. 

Segundos depois, o mundo clareou quando fui expelida, caindo sobre um colchão no meio de uma piscina vazia retangular. Soprei mechas do cabelo para longe, respirando fundo para recuperar o fôlego. 

Um barulho no tubo me avisou que Chanyeol logo pousaria aonde eu estava, então rolei para o lado, segundos antes de sua aterrissagem entre risadas. Me ajoelho, o observando com os olhos arregalados. Ele ficou na mesma pose que eu, um enorme sorriso estampado no rosto, me fazendo esquecer da bronca qual iria despejar em cima de dele. 

— Foi legal, não? — Riu ao se levantar, me estendendo uma mão. 

Estava desnorteada. Ver aquele tipo de expressão em um rosto, um rosto que tinha passado maior parte do tempo fechado para comigo, aberto daquele jeito, esbanjando uma alegria infantil... Foi desconcertante ao mesmo tempo que animador. 

Tossi de leve para limpar a garganta e afirmei com a cabeça, as palavras ainda trancadas na garganta. 

— Ei, lesmas! Se apressem! — Ouvimos Jimin gritando. 

Ao virar para trás, notei o resto do pessoal na borda da piscina, acenando para corrermos até eles, alguns de costas, a atenção fixada nas árvores ao redor. 

Chanyeol pigarreia e seu sorriso se desfaz, como se tivesse tomado conhecimento de sua felicidade junto de uma estranha, largando minha mão e dando passos largos em direção aos outros, me apressando com um sinal de cabeça. 

Ah... Minha cabeça estava tendo dificuldades para processar tudo o que acontecia esses dias. Não me surpreenderia caso acordasse no dia seguinte com a memória zerada.  

Pulei a borda da piscina, levantando o olhar para os prédios luminosos que se sobrepunham pelas copas das árvores. 

— Estamos dentro da cidade...  

 

Seul era dividida em três partes: o Domo, a Base e enfim, a cidade, apenas esta parte recebendo o nome de Seul.  

Estar dentro da cidade só era permitido para Matrizes quando a Base faziam pronunciamentos. Éramos postos como troféus enfileirados ao lado dos soldados não modificados, como para deixar um recado para os humanos. De acordo com a Base o recado seria “não se preocupem, eles são nossos salvadores”, mas o real recado era “nos desobedeçam e eles atacam”. Fomos colocados como armas, bombas com contagem regressiva para deixar a sociedade andando na linha. 

Ao ver aquelas luzes, só me vinha a mente que aquele tubo ultrapassava todo o território da Base, que não era pouco. Ele ocupava dois quartos da região dentro do Domo. Os outros dois eram a cidade, sem contar com o Domo. 

O Refúgio poderia destronar a Base a qualquer momento. Eles tinham condições, a questão era por que simplesmente não atacavam com a Base tendo tantas falhas em seu sistema de segurança? 

— Temos que tomar cuidado. Algumas câmeras dessa área são desligadas por acharem que aqui está vazio, mas não quer dizer que guardas normais não passem para revistar. — Hyunyeon avisou enquanto andávamos em meio as árvores, indo para um lugar desconhecido da minha parte. 

— Aonde vamos? — Voltei a perguntar e Yangsoo riu de leve, colocando um dedo sobre os lábios. 

Estava começando a odiar surpresas.  

Suspirei e observei a latinha de spray em minhas mãos, a girando e passando a unha sobre o adesivo com o nome da marca, qual já estava bem desgastado.  

Meus pensamentos voavam em uma linha do tempo, aonde revivia cada momento de “rebelde” que tinha tido antes. Não podiam ser considerados desse tipo pois a coisa mais “rebelde” que tinha feito foi arrombar uma das salas de controle da Base para conseguir ver se existia alguma saída pelo Domo, aonde fui pega alguns minutos depois. 

Um barulho não muito longe de mim cortou meus pensamentos, fazendo-me travar no meio do caminho para observar um servo pular um tronco caído, me dirigindo um olhar melancólico. 

— Yesun... — Ouvi alguém me chamar, porém estava muito vidrada no animal para conseguir responder. 

Um brilho na minha visão periférica fez meu coração ficar descompassado com desespero e a adrenalina de ir salvar o pobre servo da armadilha, utilizada mais para ursos, não muito longe da onde ele se encontrava. 

Não sabia que ainda haviam animais vivos ali dentro, mas me recordo de que serviam carne nos jantares da Base e... 

Tentei correr, por outro lado, uma mão agarrou-se ao meu pulso, impedindo qualquer avanço. 

— Melhor não... — Chanyeol sussurrou ao se colocar em minha frente no mesmo instante que o servo se virou, pulando para um lado e sendo vítima dos dentes afiados da armadilha, qual fechou-se velozmente sobre a pequena pressão do casco.  

— Por que fez isso?! — O encarei com os olhos quase saltando das órbitas com o susto de ver o sangue esparramar nas folhagens ao redor. 

— Há sensores ali. Se não fosse o servo, iria ser você, e automaticamente, iriam nos pegar. — Seus dedos apertaram meus ombros enquanto o contato visual era intenso. Não consegui ver nenhum vestígio do cara sorridente.

— Como sabe que eu seria pega? — Minha respiração estava ofegante, meu peito apertando-se ao pensar que poderia ter agido. Não sabia se estava assim por ter visto a cena ou por ter lembranças de já ter feito algo parecido. 

— Por favor, Yesun, quando digo sensores, são muitos. O mais silencioso agente do Refúgio não iria conseguir passar por eles sem ser acertado, por no mínimo, cinco dardos tranquilizantes, isso se não tivesse a perna mastigada por uma das armadilhas escondidas. — Tinha a leve impressão de que Chanyeol se segurava para não me jogar em direção ao mato aonde supostamente estavam escondidos os sensores. Bufou e olhou sobre meu ombro, provavelmente trocando o olhar com alguém do nosso grupo. 

Consegui confirmar isso quando sapatos esmagaram a grama alta ao se afastar. 

Fechei os olhos e respirei fundo, querendo trancar novamente as memórias de alguns treinos em um baú no fundo de minha mente.  

o pode ter pena. É só um animal insignificante. Atire e ganhará o jantar. Se recusar, vai limpar os dutos por um mês e sem comida por uma semana.” 

O general me rodeando conforme meus dedos trêmulos pressionavam a flecha contra o arco, mirando o servo não muito distante, comendo calmamente sem a noção de que estava prestes a ser morto para me manter viva.  

O choro tinha sido trancado em minha garganta, me lembro perfeitamente daquele dia, como se o tivesse vivido a minutos atrás. O modo horrendo com que atirei a flecha prateada, sendo enfim avistada pela criatura, qual me lançou o mesmo o olhar tristonha que recebi do servo capturado pela armadilha em meio aquele lugar escuro. 

Minwoo disse que fiz bem, mas eu duvidava disso. Devia ter enfrentado os dutos, aonde o ar era pouco e o lugar apertado o bastante para fazer com que qualquer pessoa que não tivesse pavor de tubos estreitos desenvolva claustrofobia. Era uma Matriz, não necessitava tanto de comida. Poderia ter ficado uma semana sem ingerir nada e ficaria bem. 

Mas Minwoo também me avisou que caso eu não tivesse disparado o objeto afiado, outra pessoa faria, a diferença era que o próximo não iria ter piedade e mataria o servo pensando apenas no próprio bem estar e na comida, não como se fosse um ser vivo morto por suas mãos.  

— É estranho o modo como você parece um ser sem sentimentos na maior parte do tempo e em segundos fica quieta para chorar depois. — Chanyeol comentou calmamente, parecendo ter medo de falar algo errado. Não entendi o porquê de tanta cautela, mas abaixei a cabeça para esconder o rosto úmido ao focar na parte em que comentava sobre eu estar chorando. 

Funguei e dei um passo para trás, limpando as bochechas. 

— Quando não desmaio pelas lembranças, eu choro. — Sou sincera, até porque, sendo ele o único a saber da verdade, não dela inteira, mas grande parte, não havia o porquê de manter em segredo o motivo das lágrimas que caíam com rapidez. 

 — Tem que aprender a controlar isso. Se irmos lá fora, ver um Joker e reviver o acontecimento, não vamos ter tempo de lutar contra eles e cuidar de uma inconsciente. — Para minha grande surpresa, as palavras não soaram duras como cobranças, mas sim como um conselho. 

— Então, é só não me mandar para as Patrulhas. — Solucei, piscando com a intenção de parar o choro. 

Os dedões de Chanyeol deslizando embaixo de meus olhos me fez ficar estática, sem saber como reagir à um toque carinhoso. O choro parou imediatamente e notei seu grunhido baixo, os olhos percorrendo meu rosto para então voltar-se para atrás de mim. 

— Você já aceitou fazer parte. O que te resta é aprender a controlar e bater de frente com seus medos. — Murmurou Chanyeol, tossindo e me largando, contornando minha figura para se aproximar de Yoongi. 

— Tudo bem aí? — Ouvi Yoongi perguntar e limpei a garganta, forçando um sorriso antes de girar nos calcanhares para levantar a latinha de spray e a balança-la ao lado do rosto. 

— Sim, está. Chanyeol só estava me ensinando como usar isso do jeito certo. — Me aproximei com passos largos, tomando cuidado para não pisar em algum buraco escondido pelo verde qual chegava à nossas canelas. 

— Ah, sim. — Yoongi não parecia muito convencido, mas acenou com a cabeça para sinalizar que não forçaria a barra para descobrir o que fazíamos. 

Em silêncio, caminhamos para perto da metade grupo, aonde se espremiam contra uma parede de concreto de um prédio muito próximo a Seul. Próximo ao ponto de se ouvir os carros e as conversas das pessoas na rua.  

Soowon fez um sinal de silêncio quando nos aproximamos, pousando o dedo indicador sobre os lábios. Estavam somente ela e Jimin ali. Apontou para uma porta no prédio ao lado, aonde uma porta de emergência estava aberta com Yangsoo espiando lá dentro. 

Segundos depois, nos chamou com o dedo. 

— Vocês vão ter que ir de dois em dois. A Yanggie sinaliza quando a câmera virar para o outro lado e passamos pelo ponto cego. — Explicou Soowon, puxando Jimin pela mão pois este já se preparava para correr até a porta. — Também temos que cuidar para ninguém de Seul decidir dar uma olhada em um beco escuro, ou estaremos ferrados. — Deu de ombros e voltou-se para onde Yangsoo continuava com a mão esticada. 

Bruscamente a de cabelos cinzas fechou os dedos em um punho e Jimin juntamente com Soowon correram até lá, adentrando o prédio enquanto Yangsoo voltava a esticar a mão.  

— Querem ir primeiro? — Yoongi deu um passo para trás, fazendo um gesto para passarmos. 

Chanyeol não respondeu, só mexeu o nariz de forma imperceptível e segurei minha mão. 

— Fique atenta. — Sussurrou, inclinando-se levemente e indicando para eu fazer o mesmo. 

Meus olhos focaram somente a mão de Yangsoo, esperando os dedos fecharem-se para correr como se minha vida dependesse disso, coisa que de certa forma, dependia. 

O momento chegou e bem, pensei que a pessoa a ser arrastada seria eu, pelo modo como Chanyeol estava determinado, mas quem acabou sendo o saco de batata foi ele, pois em segundos éramos engolidos pela escuridão. O mais alto recuperou a dianteira com um ofego, me puxando para outra porta, saindo em um lugar aberto. 

O vento açoitou meus cabelos, me obrigando a cerrar os olhos para fios não entrarem neles. Olhando ao redor, encontrei o resto do pessoal, estes já ocupados em tingir as paredes do prédio. 

— Sabe de quem pertence esse lugar, Yesun? — Baekhyun gargalhou quando Seungjung escreveu uma ofensa sobre a mãe de alguém em letras garrafais, falando em voz alta que era para a Ministra. 

— A Ministra? — Indaguei em meio a um riso soprado, largando os dedos de Chanyeol para me aproximar no mesmo instante em que Yoongi e Yangsoo apareceram, fechando a porta. 

— Dela também, assim como de todos os políticos que comandam Seul. São esses desgraçados que tem um puta pacto com a Base, são os culpados por pegarem crianças inocentes e joga-las em laboratórios para virarem ratinhos para experiências. — Jimin dizia enquanto traçava um desenho nada bonito de uma genitália masculina. 

Não disse nada, até porque, não havia nada a se dizer. Por isso me aproximei da parede, sacudindo o spray e deixando que todo meu estresse nos últimos dias fosse descontado no desenho do diretor da Base Dragon sendo enforcado. 

Fui a última a terminar e quando me afastei para ver minha obra de arte, todos se encontravam sentados em um muro atrás de mim, me observando com sorrisos orgulhosos.  

Suspirei e sorri, afastando os cabelos dos olhos e sentindo algo molhar minha testa. Era a tinta do spray.  

— Ao Fim do Mundo. — Yoongi berrou, jogando a latinha em direção a parede. 

Os outros fizeram a mesma coisa, levantando as mãos para o alto e vaiando os moradores do prédio. Ri, pois me sentia bem. Era como se não houvesse preocupações. Como se eu fosse normal. Não era uma Matrix, um soldado modificado quando pequena, um mutante. Era uma garota normal aproveitando a adolescência com os amigos, saindo à noite para na manhã seguinte ser descoberta pelos pais e levar um castigo por isso. 

Ou era isso que Minwoo dizia que era a vida normal.  

Mas sua menção na minha mente foi o bastante para fazer toda a onda de pressão se quebrar em minhas costas novamente. 

Em um sopro, soltei algo que talvez, deixasse uma metade da raiva sair: 

— Filhos da puta. — E joguei a lata, assim como os outros. 

Ela acertou em cheio a cara do diretor enforcado qual tinha desenhado. 

O grupo atrás de mim gritou vivas. Ficamos mais um tempo ofendendo a política daquela merda quando descobrimos que o prédio não estava vazio como pretendíamos. 

Como descobrimos? Talvez seja um segurança que colocou a cabeça para fora, nos vendo em nosso estado alegre e começado a fazer alarde, berrando que tinha achado rebeldes. 

E assim corremos, rindo e brincando, tomando cuidado para não passarmos pelas câmeras e coisas do tipo. 

O bem estar voltou. A felicidade preenchendo meu peito enquanto o sorriso se abria facilmente, me deixando leve. Isso era tão bom. Saber que nem tudo estava perdido. Isso era ser livre? 

Enfim, chegamos no Refúgio, adentrando o subsolo, podendo respirar aliviada de não ter sido pega.  

Me escoro na parede do corredor escuro com teto de vidro, tentando trazer ar suficiente para meus pulmões. Ao levantar a cabeça e observar os outros, encontro algo que fez o mundo parar minimamente: o sorriso natural de Chanyeol, todo aberto, mostrando todos os dentes com os cantos dos olhos levemente enrugados enquanto a respiração ofegante fazia o peito subir e descer rapidamente, igual ao que ele abriu quando voou para fora da tubulação. 

Sorri de leve e disfarço quando Baekhyun se aproximou. 

— O que achou da surpresa? — Indagou, passando as mãos sobre os cabelos molhados pelo suor. 

— Gostaria de repetir isso. — Afirmo com a cabeça, a escorando na parede e apoiando as mãos nos joelhos.  

— Viu, ainda há pelo o que lutar. Pelo prazer de dizer que está livre. — Cutucou levemente meu ombro, rindo baixo e se voltando para Yangsoo. 

Não respondi, até porque, concordava com sua fala. Só não queria admitir em voz alta. 


Notas Finais


e aqui estás o trailer https://youtu.be/CmXw3nUTUCY feito pelo @biewtch, sua linda, muito obrigada, mesmo. <333
is this. bye. sz


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