História Matryoshka - .cinco, seis, doze

Tóquio, Japão.

06h47min A.M / Dias atuais

Acordar cedo sempre é um desafio para qualquer um, ainda mais quando “acordar” vem seguido por um “ir á escola”. Mas não para Gumi, que já se deparava de pé uma hora antes do horário no qual devia realmente acordar. Talvez a correria de Moscou ainda tomasse conta de seu despertador interno, ou simplesmente a ansiedade fora maior que o sono.

Ela apreciava a beleza, segundo ela, do amanhecer nipônico, muito diferente de Moscou. Realmente, o sol nascia primeiro ali. O céu nublado, porém ainda advertindo que o sol iria surgir nos minutos seguintes, deixava-a com uma pontinha de moleza.

Gumi não queria desgrudar-se do peitoril da janela, mas era preciso, afinal, ir á aula era uma necessidade, e não podia perder mais um dia já que havia faltado quase um mês inteiro á escola.

Cinco, seis, doze minutos se passaram, e então, a esverdeada resolveu tomar seu banho.

Não demorou muito, logo depois, vestiu o uniforme típico japonês, com certa dificuldade, ainda não estava habituada a usar algo tão complicado. Passou a escova pelas madeixas verdes e enfim, estava devidamente uniformizada, pronta para o primeiro dia de aula.  Resolveu passar um brilho labial a fim de deixar o rosto com uma cor menos monocromática. Estava bonita.

Dera um leve suspiro pra se auto-encorajar, pegou a mochila abarrotada de cadernos, girou a maçaneta, saíra de seu quarto e andou até a sala de sua casa.

— Bom dia, filha. — Um homem, alto, magro e de cabelos pretos dissera, sentado a mesa, cheia de comidas típicas japonesas. — Ou devo dizer ohayo gozaimasu*

— Ohayo, papai. —Gumi sorriu inerme e logo se sentou a mesma também. Logo que se acomodara, uma moça loira trazia dois pequenos recipientes de temperos. — Bom dia, Katerina. — Gumi entreolhou a tal mulher, que apenas sorrira.

O silencio tomou conta do local, mas apenas por alguns segundos, pois o homem de cabelos pretos pôs-se a falar.

— Então... Preparada para o primeiro dia de aula? — Questionou á esverdeada, que assentiu de prontidão enquanto levava um bolinho de arroz até a boca.

O diálogo não havia durado muito, como de costume, e o café da manhã passara rápido e sem muito demorar, Gumi e o pai se dirigiram a garagem. Sem mais delongas, ela adentrou o carro e colocou o cinto, como sempre.

A viajem seguia em silêncio, mas por um curto período, pois ele questionava sobre o nervosismo da filha. Afinal, estava começando o primeiro dia de aula após um mês depois do real inicio das mesmas, com certeza estava uma pilha.

— Consegue cumprimentar as pessoas como te ensinei semana passada né Gumi? – Isaac indagou, encarando a garota, mas logo teve a atenção voltada no transito novamente.

— Ohayo, watashi wa Gumi Rukyanoba, hajimemashite*, ogenki desu ka?*. — A garota respondera automaticamente, como se já esperasse pela pergunta. — É uma escola pra estrangeiros, pai, língua japonesa deve ser o de menos lá. — Rolou os olhos de uma forma que saíra até que cômica.

— Nossa, desculpa então ô senhorita independente. — Ambos deram um riso.

Alguns segundos depois, Isaac sobresteve o automóvel em frente ao portão da grande estrutura de cor marfim. Gumi deu um suspiro, podia sentir a barriga gelar logo que passou os olhos pelo prédio enorme, até onde seu campo de visão alcançava.

— Quer que eu te acompanhe até a entrada? — Ele questionou, tentando acalmar a garota, passando a mão pelo seu ombro. — Ou prefere ir sozinha?

— Prefiro ir sozinha. — A esverdeada assentiu, tentando transmitir com o olhar que conseguia chegar até a sua sala desacompanhada, mesmo que estivesse uma pilha de nervos.

— Então, boa sorte. — Isaac deu um beijo em sua testa. — E qualquer coisa, liga pro meu celular, viu? — Ainda parecia receoso, não costumava deixar a filhar andar sozinha, principalmente após as ultimas duras semanas.

— Eu vou conseguir me virar. — Gumi insistiu e tentou passar confiança. Enfim, soltou-se do cinto, abriu a porta do carro, e sem mais demoras, saíra e deu o ultimo aceno quando já estava do lado de fora.

— Você consegue. — O homem disse por fim, observando a garota a sua frente sumir de sua vista gradativamente.

Gumi passou sem pressa pelos enormes portões de ferro, enquanto uma atmosfera diferente e da qual jamais havia sentido, pairava por ela, seguida de um frio descomunal da espinha. Ela ficou pálida, bem mais do que já era, de fato o nervosismo era dominante.

Observava cada detalhe da escola, que mais parecia ter saído de um anime, de tão bem construída e delineada que era. Sentiu-se até um pouco menos nervosa pela beleza do local. Segundos após por os pés no pátio da entrada, a campa bateu e a multidão de alunos que estava espalhada por ali, começou a seguir um caminho até o enorme edifício.

Fora matriculada em um colégio de exclusividade para estrangeiros, porém, Gumi ainda se sentia muito deslocada ali na multidão de estudantes, parecia ter bem mais descendentes de japoneses, que os próprios estrangeiros. E caminhar ou tentar se juntar a aglomeração de alunos não havia adiantado muito já que se sentia totalmente perdida.

Por sorte, havia trazido um papel cujo indicava a série e turma no qual havia sido registrado, — 1º ano, turma B —, mas parecia ser mais fácil encontrar um portal para outra dimensão que encontrar a classe mencionada. Pelo visto, a manhã seria um tanto conturbada logo cedo, e Gumi apenas rezava para que o dia inteiro não seguisse o mesmo ritmo.