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História Matters of the Heart - The Arrival Of The Crow and Sun


Escrita por: Clara_Waters

Notas do Autor


Música tema para quem curte um pianinho enquanto lê:
Chopin - Spring Waltz ( Tem no Youtube)
(Recomendo apenas para quem consegue manter a atenção na leitura enquanto ouve,eu por exemplo não consigo,fico bem dispersa mas deixo aqui para quem gosta e se sente relaxado além de dar uma textura mais real ao capítulo.)
Espero que gostem!

Capítulo 3 - The Arrival Of The Crow and Sun


The Moon Princess

A noite passara rápido.E não existia melhor pessoa para comprovar já que fiquei acordada em todo seu tempo.Apenas pensando e indagando com as estrelas como seria o próximo dia.O que a manhã traria junto de Robin?Será que Merida também chegaria naquele dia?

Eu não tinha certeza.

Ouvi minha porta bater na mesmo tom da noite interior.

- Entre,Loveday. - suspirei forçando uma cara sem sono.

Loveday apareceu radiante com um de seus melhores vestidos e sorrisos.

- Robin já está aqui.Quer juntar-se a nós para lhe apresentar a casa?

- Irei demorar para me aprontar. - mordi o lábio ensaiando a melhor desculpa possível. - E Merida pode chegar hoje também então estou me preparando psicologicamente.

- Oh.Entendo... - ela abaixou os olhos. - Te esperamos para o café certo?

- Claro. - sorri de lado.

Ela saiu levando o clima pesado junto de si.Eu sabia o quanto significava para ela eu me...aproximar de Robin.Eu só não achava que estava pronta.Eu estava tão animada para lidar com ele quanto estava por Merida.

Robin e Merida,duas equações de minha vida que eu não conseguia resolver.

Ou talvez que não quisesse resolver.

De qualquer forma não haveria jeito de reclamar.Eu iria de qualquer jeito ter de lidar com aquilo,mesmo que não fosse tão fã de matemática assim.Eu queria impressionar Merida,queria mostrar que eu também já era uma mulher.Inclusive resistia em lhe falar sobre como salvei o vale sendo uma mítica princesa.Mas eu sabia que ela jamais acreditaria,pelo menos não de cara.

Logo ela se acustumaria com tudo,logo ela conheceria a magia.

Enquanto me vestia pensei subitamente na possibilidade de ela achar estar enlouquecendo,ou quem sabe na possibilidade de divulgar por aí sobre Tio Ben e as coisas estranhas que aconteciam por aqui.Sempre fora tão cínica e realista.

Eu não a via a muito tempo e certamente não tinha nenhum motivo para lhe dar qualquer confiança.

Escolhendo o melhor vestido que Loveday já me dera,lindamente escuro com o enfeite em pérolas e azul marinho, desci com os cabelos soltos para balancear entre o elegante e rotineiro.Esperava impressionar Merida mas quando cheguei a escada percebi que passaria uma impressão errada: de que me arrumara para Robin.Não que me incomodasse ficar apresentável e madura em sua frente,mas seria mais alguma coisa para Tio Benjamin ficar bravo ou Loveday encontrar alguma esperança.Tacando a pouca importância continuei a descer concluindo a deixar que eles pensassem o que quisessem,eu estaria linda de qualquer maneira.

Por sorte não tive uma entranda triunfal,consegui ser a primeira a acatar um lugar na mesa já me servindo e ensaiando as expressões para soarem mais sutis quando visse o tal corvo. Sra Lavandisca foi a próxima,me desejando um bom dia baixo e sentando-se ao meu lado.

- Está tudo bem Sra Lavandisca? - perguntei confusa com seu comportamento.

- Maria você está ridiculamente extravagante está manhã...d-devo dizer! - disse ela tropeçando nas palavras.

- Não é de seu feitio falar desse jeito madame. - funguei o nariz. - Que há de errado querer ver minha irmã com uma boa aparência?

- Ora,não vá me dizer que não se aprontou para um certo jovem que vem morar conosco!Deus e todos sabem que esse vestido funciona melhor em jantares a noite!É extremamente melancolico usar esta cor logo de manhã e...

- Entendi! - a iterrompi de súbito. - Sinto muito não era essa imagem que estava tentando passar apenas queria parecer mais...

- Mais...?

- Mais como Merida quando ela chegasse,não quero que ela pense que ainda sou uma criança.

- Querida,ela sabe que você tem 14 anos.Sabe fazer as contas.

- Dúvido que se lembre até da cor de meus olhos.

- Chega querida.Sei de sua dor e a respeito porém não viva no passado,não há mais nada lá pra você.

- Aonde não há mais nada Sra Lavandisca? - Tio Benjamin disse ao entrar.

- No passado Sr Benjamin. - ela ergueu os ombros na cadeira. - Maria é uma contradição as vezes quando o assunto é a familia.

- Bom,não á nada de errado em pensar no passado.Mas viver lá...

- Ela exagera Tio. - revirei os olhos. - Mas pensando bem,como foi que a senhora me disse uma vez?Ah,sim! "Eu sou uma mulher Maria,eu posso ser tão contraditória quanto desejar".

- Pode até ser. - ela suspirou comendo o terceiro pão doce. - Mas o fato de lembrar das falas de alguém apenas aumenta a verdade no que eu quis transmitir.Largue o passado Maria.

Bufei revirando os olhos novamente.

- Tio Benjamin eu estava pensando...- comecei meio insegura. - Merida não sabe da magia,tão pouco da antiga maldição e da rixa entre as familias.Não será...perigoso para nós a acomodar aqui?Ela não é uma Merryweather no fim das contas.

- Será dificil no começo. - ele murmurou sério batendo um ovo e o quebrando. - Discuti esse assunto com Loveday e tentaremos explica-la da melhor forma possível.Algo plausível e que ela aceite sem quaisquer danos adicionais.

- Quer dizer mentir?

Ele fechou os olhos apertando as têmporas.

- Certamente ela apenas esta vindo por não ter mais para onde ir.Como uma adulta ela deverá casar de novo eventualmente e por ser jovem creio que esse dia não tardará.A colocarei nos aposentos mais afastados da cozinha e da porta.Seu marido morreu recentemente ela deverá passar os primeiros dia isolada sem motivo para deixar seus aposentos a não ser para as refeiçoes diárias e eventuais passeios.Não chamaremos os De Noir de clã e sim de povoado.Não contaremos sobre a maldição e não a apresentaremos para Marmaduke...Mas acima de tudo Maria,não mostre a magia para ela.Não toque no piano se ela estiver por perto,evite ir a floresta e as ruínas com ela sabendo,não a leve para seu quarto para que não veja seu teto e não especule sobre os espiritos com ela presente.Não discutiremos se ela ver qualquer coisa.Deverá presumir que está delirando ou algo assim e culpar o luto.

- Se é que ela estará de luto. - Sra Lavandisca forçou uma risadinha.

- Se ela não estiver Sra Lavandisca... - ele suspirou tomando um gole de seu suco diário. - Então estaremos lidando com alguém pior que Coeur De Noir no quesito frieza.

***

Acabado o café cheguei a conclusão que Robin não era muito fã de manhãs.Não se sentou conosco e não chegou ao me encontrar pelo menos até as oito.Com um livro antigo sobre Veneza em mãos fui até o jardim secreto de Marmarduke para afastar os pensamentos enquanto esperava pelo meu passado negro em uma carruagem negra trazendo consigo aquele mesmo sorriso negro.Entediada com a pouca poesia que eu mesma conseguia me trazer comecei a enunciar em voz alta as palavras do livro:

- “Mais conversa não! À liça, ao campo de batalha, às armas!
Pois resolvida a morrer, de grave mal me libertarei.
Não sei se lhe chame desafio, pois respondo a uma provocação
Mas porquê duelar por causa de palavras?”

- Oh Céus! –um falso sotaque britânico foi ouvido por meus ombros. – Já não bastando ser diferente,a senhorita Maria Merryweather encontra conforto na arte mais antiga e ultrapassada da história!

- Poesia não é ultrapassada Robin.-suspirei engolindo um sorriso.- Como me achou aqui?

- Estive rondando a propriedade.Nunca pensei que fosse tão fácil invadir aqui naquela época.

- Procurando falhas para poder fugir?

Continuei sem me virar,não queria me deparar com aquele sorriso torto.

- Qual livro está lendo? – sua voz soou tensa.

- Não me recordo muito do título e não posso ler pois alguém o riscou forte com tinta.

- Intrigante.

- É sobre uma cortesã famosa de Veneza.

- Cortesã?Lendo livros proibidos Sra.Merryweather?

- É apenas uma biografia.Ela era uma grande poeta e subiu na vida facilmente com sua...arte.

- A sedução não é uma arte muito fácil,tenho de admitir.

- Há quanto tempo esta me ouvindo?

- Acabei de chegar,sinto muito se te atrapalhei.

- Não é um problema,moramos juntos agora.

- Leia mais para mim.

- Não te incomoda que não me vire para te ver?

- Não,apenas me deixa curioso eu acho.

- Sua figura é irritante.

- Sua figura atiça isso em mim.

Senti minhas bochechas esquentarem conforme acatava outro livro que trouxe junto.Talvez outra história lhe fizesse conversar mais.

Não que eu gostasse de conversar com ele...era só fascinante ver alguém tão estúpido conseguindo proferir o dom da opnião.

- Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge,

formoso sol, e
mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és
mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal,
verde e doente; joga-a fora.

- Eis minha dama. – Robin começou a falar.Me virei boquiaberta para seu sorriso. - Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala;
contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito
ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos
olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. 

- Por Deus.- arregalei os olhos. – Robin,como você...

- Você me deu uma cópia princesa.Não se lembra?Pouco depois de salvarmos o vale resolvi devolver algumas das coisas que furtamos do seu quarto em Londres.Entreguei sua versão dizendo que ler era besteira e você tacou em mim mandando eu ler.

- Eu nem me lembrava disso... – sussurrei. – E você leu e decorou tudo?!

- Foi o primeiro livro que já me deram.Ainda acho que é besteira mas a história é boa.

- Nunca te deram um livro antes...?

- Não. – ele abaixou os olhos cor de chumbo.Usava suas roupas comuns agora,e apesar de ele ser mais apresentável nas roupas formais da outra noite eu não conseguia me cansar daquelas penas em volta do pescoço.Uma ave sem asas junto ao silêncio que se recaíra sobre nós.

- Veja pelo lado bom. – tentei abrir um sorriso.- Agora tem uma biblioteca inteira á sua disposição.

- Isso se seu tio não crer que eu vá furtar alguns livros.

- Eu sei que não.

- Como sabe?

- Quem é que furta algo da própria casa?

Ele abri um daqueles sorrisos tortos,o delineador profundo e negro afundando seus enormes olhos.

- Se arrumou toda apenas para ver sua irmãzinha? – disse ele mudando de assunto.

-  Não quero que ela pense que...Sou uma criança ou algo do tipo.

- Quer provar para ela que esta á altura dela.

- Gostaria de poder contar á ela tudo o que fizemos.Sobre como esse lugar realmente é e jogar na cara que ela não é e nunca será parte disso.

- Faça isso entao!- ele riu se sentando ao meu lado no banco de pedra.

- Regras do tio Ben,lembra?

- Ah sim.Ele me fez repetir todas elas três vezes quando cheguei.

- Não acredito que conseguiremos manter a verdade dela por muito tempo.Eu só...

Ele continuou me encarando ouvindo atentamente.

- Esse é o meu lugar. – sussurrei.- O único lugar que ela não estragaria,um lugar aonde eu e apenas eu estivesse sem precisar ficar me comparando á...

- Á ela.

- Sim.

- Você não precisa de vestidos bonitos e nem de maldições para transmitir sua mensagem princesa.Cada vez que você fala...é como se jogasse uma chama da enorme fogueira de sua personalidade.É um inferno que vive em você,vívido e perigoso.

- Seria mais prazeroso se tivesse comparado á o sol. – ironizei.Jamais havia visto ele falar com tanta convicção.

- O sol é imutável,lá no céu sempre sendo admirado mas nunca provando seu valor.Agora o inferno que você carrega,o inferno de fogueiras vermelhas que queimam quem ousar pisa-las.Esse sim.

- Esse sim o que?

- Esse sim é o elogio mais prazeroso que se pode ter.

Os cachos caiam sob seu rosto conforme o chapéu deslizava para seu ombro.Eu enxergava Robin.eu enxergava ele por quem ele realmente era.Aquele garoto poético,com paixão nas palavras que se escondia atrás de um chapéu coco.O menino corvo que voava sob seus sonhos e os pisava com as botas de couro de um De Noir.O renegado filho manchado por seu berço.

A quanto tempo ele estava lá?

- Robin eu...

Um grito foi ouvido ao longe,junto ao vulto de Marmarduke brotando á nossa frente.

- Sinto muito incomodar Mademoiselle,mas sua irmã acaba de chegar.

 O homenzinho se despediu com bochechas vermelhas e sombra no olhar.

Eu estava muito perto daquele jovem,perto demais para que Marmaduke tirasse outra conclusão do que estava havendo.

- Mostre á ela Maria. – Robin disse por minhas costas conforme avançávamos para fora do jardim.

- Se continuar com esse olhar quando fala comigo Robin. – falei sem me virar. – Vou começar a pensar que esta me cortejando.

Ele já não respondeu mais.

***

The Sun with no Youth

 

As estradas de terra para o Vale da lua cercavam as florestas com buracos do tamanho de valas.A carruagem chacoalhava incessantemente buscando conforto nos gritos de irritação de meu cocheiro.

Lá estava eu.

Sozinha sem marido e sem herança,tendo de socorrer há um tio que nem meu tio de verdade era.Condenada a passar meus dias com uma vida rural e tediosa,sem mérito e nem conquistas.Com um coração que estaria partido se pudesse,com um coração mofado e mole que afundava em meu peito cada vez que me lembrava do corpo de Jackson sobre a cama.

Ele fora minha última esperança,e nem realmente de luto por ele eu conseguia ficar.

Eu ficava de luto por mim.

Perdida nesse triste mundo por meu útero.Pelo fato de possuir seios e cabelos compridos.

Pelo fato de que sem um marido eu era apenas mais um ser humano sem dote.

- O destino chega perto madame! – o cocheiro gritou entre grunhidos. – Graças aos Céus!

- De fato. – murmurei baixo.Escondi os volumoso e compridos cachos ruivos com um véu negro de luto que com o vestido pesado de cetim transbordava tristeza e miséria.As poucas cinco malas entregavam minha pobreza atual,tendo de vender duas para pagar a carruagem e os cavalos.

Eu sabia no fundo de que não adiantava reclamar,com sorte Tio Benjamin possuía um outro sobrinho ou um irmão mais novo,alguém com quem eu pudesse me casar e voltar para Londres.A caça estava preparada,eu seria livre novamente com a corrente da aliança.

Por mais irônico que isso soasse.

- Ali madame!- o cocheiro gritou novamente. – Bem vinda O Vale da Lua!

Me aproximei da pequenina janela para vislumbrar o enorme palácio que repousava em um campo aberto.Rodeado por uma floresta negra e misteriosa bradando todos os sons de pássaros possíveis.A arquitetura gótica e cinzenta se misturava as velas vermelhas e as janelas límpidas que ali moravam.Um símbolo em mármore ficava em cima da enorme porta de entrada,o símbolo dos Merryweather,ou como um dia se chamou: O símbolo dos Bomtempo.

  - Por que eu não me lembrava deste lugar?

- Há uma lenda. – respondeu o cocheiro. – Quem vem ao Vale da Lua e sai dele nunca se lembra tão claramente de sua grandeza.

- Me lembro de alguns vultos e só.Mas era tão decadente e feio o castelo...

- É o fim da...

- O que?

- Estranho,achei que alguma palavra viria á mente.Provavelmente especulei bobagens,esqueça Madame.

A carruagem seguiu até a entrada,aonde esperavam ao todo cinco pessoas.Um homem alto de cabelos negros com olheiras profundas abraçando uma linda mulher de cabelos volumosos e louros azedos.Ele permanecia sério,enquanto ela sorria emanando luz.

Ao lado deles despojava-se uma senhora de óculos pequeninos,com seu enorme vestido de babados e nariz empinado consegui na hora deduzir quem ela era.

E ao seu lado uma jovem de cabelos ruivos.Um espelho á minha adolescência,um passado distante e frio.

Maria.

A irmã que eu nunca inseri em minha vida,o registro apagado de meu sangue.

A carruagem parou,com o cocheiro soltando um largo suspiro.Ele desceu suado e abriu a porta para mim,recebida com um olhar frio de todos menos de Loveday.

- Merida Merryweather. – o homem alto que chutei ser Tio Benjamin falou.Era pálido,tão pálido quanto a lua. – Bem vinda ao Vale da Lua.

- Na verdade. – murmurei tentando forçar um sorriso. – É Merida Sunbroch.

- Ah sim. – ele desmanchou os olhos satíricos. – Me esqueço desse detalhe.

- Que detalhe tio? É um fato que eu apontaria como célebre. – Maria comentou,com o pescoço mais alto que eu já vi.Aonde estava a pequenina pirralha que tanto assombrava meus sonhos?Uma mulher tomara seu lugar,bem mais bonita do que eu quando tinha sua idade.Competindo em igualdade apenas pelos cabelos e formato do rosto,aonde mamãe morava e nos conectava.

- Obrigado pelo...comentário Maria.Tenho absoluta certeza de que ainda não conhece minha esposa,Loveday De Noir,creio que Maria e você já se conheçam.- Tentei abrir um sorriso,uma tentativa falha.Nunca em toda minha vida a olhei com afeição.Nunca desde o último dia em que eu a vi,pensei nela. - E a Sra.Lavandisca que... acho que já foram apresentadas antes.

- Na flor da idade Benjamin. – Lavandisca sorriu amarelo.O quão eu detestava essa mulher...eu não conseguia por em palavras.O modo como havia sido uma tentativa de preencher o lugar de mamãe.Como papai tentou rapidamente substitui-la para Maria... e não para mim. – Merida querida,há quantos anos.

- De fato Augusta.- ela tremeu ao som de seu primeiro nome. - É um prazer conhecer e... reconhecer todos vocês.Quem seria este jovem?

O rapaz que eu não havia notado,o que se dispunha ao lado de Maria como uma sombra negra com penas,faixas e couro.

- Este é meu cunhado Robin De Noir,está morando conosco. – Tio Benjamin murmurou.

- Na verdade... – Loveday sorriu,sua voz mais doce que o som dos pássaros que tanto cantavam minha chegada. – Ele chegou hoje assim como você.

- Ah,sim. – respondi pressionando os lábios.O jovem era belo,isso não se podia negar.Mas suas roupas,seu chápeu e todas aquelas penas... eu nunca havia visto algo assim antes.Não conseguia me decidir se ele ficava muito bem nelas ou extremamente ridículo.

- Entre,entre.Suas malas serão entregues em seu quarto,vamos leva-la antes que escureça.– Tio Benjamin interceptou.Não tirei meu véu em nenhum momento.Não acho que conseguiram ver meu rosto direito.

- Escureça? – respondi.Mas ainda era hora do almoço.

- O tempo é diferente do de Londres por aqui minha cara.

- Deve ser. – sussurrei.

***

Entramos todos juntos,Maria a última se mantendo longe.Não dirigiu nenhum apalavra a mim em todo o processo,era notável sua indiferença.Eu não podia culpa-la,não é como se eu tivesse ganho o prêmio de melhor irmã do ano.

Mas ainda sim eu precisava que ela entendesse.

 A nossa rixa,os nosso deveres,os nosso valores sempre se dispersaram .Ela era uma criança mimada quando pequena,chorona e irresponsável.Alguém que aceitou de bom grado a morte de minha mãe como quem aceita um pedaço de bolo.Ela dizia sentir dor mas ela não fazia idéia...

Ela não faz idéia.

- Sinto muito por ouvir por seu marido. – Loveday sorriu terna enquanto andávamos pelo palácio.Era tão vivo e colorido...- Minhas condolências mais sinceras.

- Obrigada. – sorri. – Foi... inesperado.

- Hum. – Maria arranhou a garganta.

- Por quê não toca o piano enquanto mostramos a casa para Merida? – Tio Bejamin forçou um sorriso. - Quem sabe você queira descansar e prefira que façamos isso amanhã.

- Foi uma longa viagem mas dormi na maior parte. – menti. – Podemos conhece-la agora.

Eu estava exausta,mas era melhor acabar com aquela socialização desnecessária do que prolonga-la até o dia seguinte.

- Maria. – ele repetiu sério. – Spring Waltz.Chopin,vamos!

Ela sentou no piano com cara de poucos amigos.Robin a seguiu para observar encostando a mão no piano velho e azulado estranhamente familiar.Era estranho o quão pouco ela se movia,as notas eram variáveis e estranhamente altas.Não havia como toca-las com tanta calma.Me aproximei quieta até ser interrompida por uma tossida de Augusta.

- Vamos?

- É claro. – concordei.Conforme nos aprofundávamos pela casa o som ia aumentando,ecoando pelos corredores como se nos seguisse.Era lindo.

A casa me foi apresentada com tamanha formalidade que a espera nas palavras decentes de Tio Benjamin foi maior que minha vontade de cair morta em uma cama.Finalmente meu quarto foi apresentado,extremamente isolado no fim da propriedade.Entretanto lindo sem nenhuma poeira em vista,era decorado em dourado e azul escuro,duas de minhas cores favoritas.Minhas poucas malas chegaram momentos depois,com apenas uma batida na porta e um cumprimento hostil de titio.Deitei inquieta na enorme cama de veludo tentando comparar aquele quarto com meu antigo,aquele que eu dividia com Jackson.

Afastando esses pensamentos sombrios foquei em retirar o véu negro que me cegava e de ficar apenas com a camisola afrouxando o espartilho e vontade de viver.

Me aproximei do enorme espelho e verifiquei meus olhos,vermelhos e exaustos.Azuis como as mãos de meu marido que assim permaneceram.Olhos de Jokul Frosti.Olhos de frieza.

Eu sabia que já havia contado mais de mil mentiras naquele dia,sabia que meu marido não havia morrido de pneumonia,mas como contaria que ele se afogara em um lago congelado?

Por culpa minha?

Como contaria que ele havia se sacrificado por alguém que reneguei de sua família.Por alguém que eu repudiava,que eu repulsei de sua vida e que ainda assim ele amava?

Como contaria a todos sobre o monstro que eu não só aparentava ser mas que eu realmente era?

Viver ali afundada em mentiras e em uma realidade distorcida com uma família que eu não fazia parte,com pessoas que no fundo desejavam que eu não estivesse ali.

Por mais irônico que soasse,era o inverno que assolava meu coração e alma e a única coisa que me angustiava mais do que contar a verdade era continuar ouvindo aquela valsa de primavera.   



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