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História Matters of the Heart - In a Love Waltz We Dance


Escrita por: Clara_Waters

Capítulo 4 - In a Love Waltz We Dance


The Bird Thief

Uma hora depois da irmã da princesa chegar ao palácio, eu me encontrava na soleira da porta de Maria. Ela havia se trancado lá, assim como sua irmã fizera e alegava um mal estar repentino. Indagava meu bom senso, e brigava com minhas mãos. Era melhor deixa-la sozinha, entretanto eu sabia que ela não se encontrava doente.

Deveria ter sido difícil, nem sequer se tocaram.

Merida, era para mim, a pessoa mais idiota do mundo. Foram poucas as palavras ditas, poucos os olhares, e nenhum de nós conseguiu gravar traços marcantes em seu rosto sob o véu. De qualquer maneira, ela era extremamente idiota. Eu não havia gostado dela, o por quê, além desses, eu não conseguiria dizer. Os cabelos eram mais saturados que os de Maria, de um ruivo mais laranja como os da raposas da floresta e os olhos eram de um azul triste. O tipo de azul que decora caixões e laços em casamentos arranjados.

Sem pensar mais, bati na porta três vezes.

- Maria? – perguntei, a voz saindo rouca. Arranhei a garganta e tentei de novo. – Maria...

- Sim? – sua voz foi ouvida como um grunhido.

- Posso te ver? – apertei as sobrancelhas e soquei meu joelho. “Posso te ver?” que tipo de imbecil eu era?

A pequenina porta , e eu digo pequena por que era minúscula mesmo, se entreabriu revelando seu rosto levemente vermelho. Ela segurava com força a porta sob o rosto.

- Precisa de algo? – ela perguntou, os olhos brilhando.

- Queria saber se estava... hum... tudo bem.

- Está sim, claro. – ela deu de ombros forçando um sorriso. – Por que não estaria?

Abri a boca e fechei, não sabendo mais o que dizer.

Um silencio estranho predominou.

- Robin, eu... – ela começou. – Não acha um pouco...

- O quê? – perguntei, erguendo o queixo em sua direção.

- Estes são os meus aposentos, Robin. – ela sussurrou, fazendo uma cara de dor.

- Ah! – exclamei. Como eu era estúpido! Subindo a torre até os aposentos dela! Eu realmente precisava de umas aulas de etiqueta, se bem que aquilo era algo que qualquer idiota poderia saber. Se Benjamin descobrisse... – Me desculpe! Eu não... – ensaiei um sorriso nervoso andando pra trás.

- Oh,não! – Maria respondeu. – Tudo bem, é que... Eu nem deveria ter dito nada.  Se ninguém souber você pode... – ela abriu a porta ficando mais vermelha.

- Ah. – eu disse coçando a nuca. – Mas e se seu tio descobrir?

- Apenas se você contar. Vamos, é sempre uma reação diferente.

- Muitas pessoas já entraram aqui? – me espremi pela porta. O que vi , era difícil de por em palavras. Uma cama ornamentada em amarelo e azul, com uma linda concha sob a mesma, decorada com lindos detalhes marítimos. As pinturas na parede, complementando em diversas paisagens no quarto redondo e belo. As janelas perfeitamente detalhadas e acabas com cristal. A lareira crepitante, com um cavalo decorando-a. E por fim, o céu, um céu azul e claro.O mais estranho, era a falta de presença de uma janela solar, mas então, se aquele não era o céu de verdade... o que mais poderia ser?

- Que lindo. – sussurrei me aproximando. Ela deu uma risadinha se envolvendo em sua camisola de veludo. O dia estava estranhamente frio naquela manhã.

- Incrível não é. – ela tocou meu ombro sorrindo. Então se aproximou da janela puxando uma pequenina cortina negra, a cortina cobriu ela toda, até que pequeninos pontos de luz atingiram meu peito. A cortina, como eu não pensei, era recortada com milhares de pequenos pontos, a luz do dia os atravessavam criando estrelas nas paredes.

- Você que fez isso? – perguntei. Ela assentiu.

- E esta não é a melhor parte, de noite o teto fica estrelado. – os pontos luminosos dançavam em sua silhueta.

Revirei os olhos sorrindo.

- Ah tá , claro. – respondi rindo. Seu olhar brilhou em desafio.

- Você duvida? – sua sobrancelha ruiva se arqueou.

- Duvido. – respondi. – Apenas diz isso para que me impressione, sabendo que jamais poderei me aproximar daqui a noite.

- Não espero que você acredite. – ela bufou. – Mas isso é uma mentira.

- Sabia.

- Não,não... – ela negou se sentando na cama. – A mentira é o que você falou. Não é impossível invadir aqui a noite. Loveday sempre fazia isso para me deixar os vestidos de princesa.

Andei em círculos parando de súbito, o chapéu havia caído perto da janela. Me aproximei devagar sabendo que seu olhar me seguia.

- Como? – fingi desinteresse batendo na borda do chapéu como quem tira uma poeira.

- Pela lareira, há uma entrada secreta. A mansão é cheia delas.

- Não me convenceu. – dei de ombros.

- Eu te mostro.

Mordi o lábio.

- E arriscar ser pego por Benjamin? – perguntei.

- É você quem sabe. –Maria então acatou um livro debaixo do travesseiro. – Tem uma poesia que eu queria lhe mostrar.

- Shakespeare novamente, eu suponho. – eu disse ao reconhecer a obra.

- Não é bem uma poesia, é mais... Apenas ouça.

Me sentei a seu lado.

- Sou todo ouvidos.

Maria inspirou fundo.

-  “Naquela noite eu vi algo que você não viu. Vi Cupido, descendo em direção á Terra com suas armas. Ele atirou sua flecha amorosa mirando uma sacerdotisa que meditava num templo entre as árvores, mas errou  a pontaria. Eu vi quando a seta ardente atingiu uma florzinha branca como leite, que no mesmo momento ficou roxa, ferida pelo Amor. Essa flor, conhecida como amor-perfeito, dá um suco, que se pingando sobre as pálpebras de alguém que esteja dormindo, faz esta pessoa ficar perdidamente apaixonada pelo primeiro que se encontrar ao abrir os olhos.”–com outro suspirou completou olhando-me nos olhos. – “Vá buscar-me esta flor imediatamente.”

- “Em dez segundos darei quatro voltas em torno da Terra.”- abri um sorriso largo.

- Não pode conhecer todas as histórias. – ela abaixou o olhar ruborizando.

- Não sou muito como você imaginou não é princesa?

- Não. – ela trincou o maxilar se levantando, como um espelho fiz o mesmo. - De qualquer forma... – inspirou fundo , o vestido lilás e claro ondulando em suas costas.

- Por que me ditou Oberon? 

- Oh... Era bobagem, deixe pra lá.

-  Agora quero saber.

- Acredita que, o amor, quer dizer... Que o amor é apenas uma fantasia? Uma flor fictícia que temporariamente cega os lúcidos?

- Por que está me perguntando isso? – franzi as sobrancelhas jogando o cachecol vermelho para trás das costas.

- Eu... – ela ruborizou. – Ouvi Merida lendo esta história em voz alta em seu quarto. Logo depois ela... chorou. Começou a dizer o quanto o amor é invisível, como não existe e que jamais se perdoará.

- Perdoará pelo que? – perguntei confuso.

- Não faço idéia apenas, queria entender. Faço quinze anos daqui a três meses, e logo Tio Benjamin tentará me arranjar um marido. Sei que não parece de seu feitio, mas todos eles fazem isso não é? Empurram as meninas para fora de casa...

- Ele jamais faria isso com você. – disse duro. – Olhe pra mim. – peguei seu queixo bruto e a fiz olhar em meus olhos. – Ele jamais irá te forçar a se casar com alguém que não queira. Duvido muito que queira que isso aconteça.

Ela engoliu em seco assentindo.

- Tenho medo de me tornar infeliz. Ela parece infeliz não é? Jamais a enxerguei desta maneira. Se ela não amou o marido morto quem dirá...

- Ela irá te amar Maria. Sei que vai.

- Não é este o problema.

- E qual é?

- Acho que posso me tornar como ela, vejo a mim mesma daqui a alguns anos. Sem amor, sem família, completamente sozinha. Não que eu ache que isso irá acontecer mas... Não entendo é como olhar em um espelho. Você...

- Sim?

- Você a observa.

- Observo?

- Sim. – ela abaixou os olhos. – Todo o tempo.

- Ela me intriga. Não tanto quanto você.

- O quê? – os olhos de Maria brilharam.

- Não tanto quanto ela intriga você. – me corrigi rapidamente aparentando confusão.

- Ah. – seu rosto vacilou.

Chuva foi se ouvida no vale, o barulho intrépido das gotas suaves contra o cascalho que rodeava o castelo era inaudível se comparável ao grito de desconforto em nossos peitos. A luz provida das falsas estrelas começou a se diluir.

- Não sou mais uma princesa da lua Robin. – ela suspirou. – Não me sinto mais útil.

- Você é útil. – respondi.

- Depois da maldição, para que eu sirvo? Daqui há alguns anos permanecerei a princesa mas para que? Não tenho um propósito, sem ela... – ela suspirou. – Sem a lua, o que eu sou? Sem o Vale á outra casa para mim? Quando a Sra.Lavandisca se for, quando Tio Benjamin se for, quando você e Loveday se forem...

- Não irei tão cedo.

- Você não entende. – ela bufou rodeando o ambiente. – Tio Benjamin será o primeiro. Então Loveday não terá mais por quê permanecer aqui. E consequentemente você irá também.

- Até lá você pode ter sua família. Seu marido ,seus filhos...

- Aonde arranjarei tal coisa?! Não tenho permissão para deixar o Vale e mesmo se tivesse não gostaria!

- Por que reclama então de não ter outro lar Maria? Se é aqui que quer estar.

- Você não entende. Eu apenas quero a certeza de que não é limitado á isso...

- O que é limitado... Do que está falando?

- Quero ter certeza de que não é apenas isso que minha vida se resume! Nasci,cresci e salvei o Vale! E agora? Não era para isso que servíamos? O que uma Princesa da Lua deve fazer afinal?

- Viver. – segurei seus ombros tentando lhe acalmar. – Viver, Maria. – me aproximei devagar. O que eu estava fazendo? Seus olhos cegavam meu próprio julgamento, sua constante presença inebriava meu bom senso. Ali estava eu, no quarto de uma menina de quatorze anos. O que eu estava pensando? Não poderia permanecer ali por mais tempo.

-Sinto muito. – chacoalhei os sentidos. – Tenho que ir.

Ela pareceu confusa.

- Não te entendo Robin. Parece tão... tão diferente...

- Deixe de ser besta. – respondi por impulso.

- Quando salvamos o Vale, quando procuramos pelas pérolas... você era aquele garoto insensível, arrogante e presunçoso. Lembra-se quando lhe pedi ajuda? De como lhe amarrei naquela armadilha? Lembra-se quando me trancou naquela cela? Quando deixei isto... – ela acatou minha mão se referindo a enorme cicatriz. – Em você...? E agora, quem é você?

 Não me lembro de ter respondido, muito menos de ter caminhado para fora daquele quarto. Apenas sei que no momento seguinte, caminhava livre pelos corredores da enorme mansão. Correndo e correndo, atrás de uma resposta. Uma semana antes, eu riria do ocorrido. Lembro-me de permanecer sentado conforme roubava Gim de meu pai junto á Woodtalk. Lembro-me de pegar Josephin, a filha de nosso cozinheiro atrás do depósito. Lembrava-me até mesmo de intimidar uns  meninos De Noir pegos tentando roubar minha jaqueta do varal.

Todavia, não me lembrava de meu coração se acelerar de tamanha forma.

Nem mesmo naquela semana anterior, nem na anterior á essa... nem em qualquer semana em toda minha vida. Era um sentimento estranho, um suor emulsionante, o sentido nítido de desequilíbrio. Era algum tipo de feitiço? Algum castigo para algo que eu havia feito? Que tipo de sensação poderia ser tão cruel? Era como se não me reconhecesse. Eu havia posto uma faca contra o corpo de meu melhor amigo, mas era quase impossível encostar na ponta de um alfinete quando naquele castelo.

Era impossível ser um De Noir quando tão perto de um Merryweather.

Aguentaria os dias seguintes? Essa perguntava foi me repetida no espelho. Mas aguentar o quê? Era a resposta de meu reflexo. Sentir-se daquela maneira ou saber o que era necessário para acabar com aquela angústia? Sabia mesmo?

Queria mesmo?

Importasse tal resposta, eu sabia que não poderia. Eu não era idiota.

Sabia de meus limites.

E não precisava testa-los, pelo menos não naquela casa. Não daquele jeito.

The Sun With no Youth

A afrontosa cidade em que nasci, infelizmente , nunca dispusera de vistas muitos extraordinárias. Eram raras as vezes em que os telhados cinzas e agitação bêbada da noite poderiam me proporcionar prazer. Por tão pouca experiência em vistas quanto tinha em afeições, consegui facilmente me deleitar com o Vale da Lua e as poucas coisas que ali enxerguei. De meu quarto,a vista para a floresta, era aminha favorita.Com largas porções azuis escuras e vultos esbranquiçados na noite como fantasmas caminhando lentamente sob suas tumbas. Eu sabia que deveria ficar assustada, ou minha sanidade estava arriscada ou o lugar era realmente assombrado. Para a primeira, era fácil se lidar, esconder-se no quarto até o resto de meus dias e até encontrar um próximo marido para me deixar. Já a segunda, um pouco mais complicado. Brigaria com meu senso e com minha capacidade fácil de se maravilhar com o vale e no fim provavelmente escolheria ficar mais um tempo, para avaliar a conduta e caráter de tais espíritos. Um lugar tão belo não poderia abrigar almas ruins ou qualquer coisa que não fosse espiritual e ainda assim não considerada divina. Era um absurdo até mesmo pensar nessa possibilidade. Para chegar a tantas conclusões ,eu tive tempo. Fiquei trancada em meu quarto, durante exatos três dias para consagrar a veracidade e radicalização de meu luto. Além de meu alheio sentimento por qualquer outra pessoa. Era ridículo demonstrar algum afeto, se não sentia nenhum e se a qualquer momento iria embora de qualquer maneira. Não que eu não sentisse, e não que eu fosse embora a qualquer momento. Mas eu era prática demais para pensar o contrario, afinal, havia vivido com esse pensamento havia muitos anos.

No quarto dia, comecei a abrir as janelas, para que assim o som do piano ecoasse melhor e mais acústico. O ar era muito fresco, porém rude, como se endurecesse sua face e clareasse sua mente. Havia algo de pitoresco naquele lugar, algo que me fazia querer sair andando e me perder na noite. Algo que enchia meu peito, como os dizeres de amor em um poema italiano. Algo mágico.

Completamente mágico.

No quinto então, cheguei a considerar livre minha própria circulação para fora daquele quarto. Estava definido na mente de qualquer pessoa que eu estava de luto, e então, que eu não mantia interesse em criar alguma afeição mútua com alguém. Desci então para o café da manhã, algo que muitos estranharam. Lavandisca soltou um sorriso animado assim como Loveday. Já Maria... Ela parecia preferir que eu ficasse no quarto. O rapaz estranho de penas, cujo nome eu não recordava não dava interesse maior para qualquer coisa do que dava para o incomodo de Maria. Ele sentava a seu lado e tentava distraí-la de qualquer sentimento diferente direcionado á minha chegada. Cada vez que era tocado um assunto em meu nome, ele mudava. E cada vez que era tocado em Maria, ele tentava prolongar.

- Noto uma preocupação enorme com o conforto de Maria, senhor... – eu lhe disse, sem a menor intenção de falar. Foi como se eu decidisse em meio segundo que deveria perguntar algo sobre aquilo, como se todos quisessem e ainda sim, não sentissem necessidade de fazer tal coisa.

- Robin, me chame de Robin.

Eu havia interrompido uma conversa longa sobre as habilidades de Maria no piano, ela ruborizava a cada elogio, eu poderia dizer, se sequer me importasse, que era adorável sua devotação, é claro , se não considerasse habilidade musical um quesito obrigatório no caráter de uma menina daquela idade. Para mim, ela não fazia mais do que sua obrigação ampliando suas qualidades.

- Robin. – assenti, abanando uma mosca que pousara em meu véu. Ainda não havia decidido retira-lo tão cedo. – Não sei se é indecente perguntar assim abertamente, já que obviamente pode ser um segredo entre ambos. No entanto, eu pensava comigo mesma, se vocês dois estão conectados de alguma forma, como eu poderia por... – pensei. – Mais romântica. Simplificando eu queria saber se pensam em noivar ou se já se encontram nessa posição.

Tio Benjamin engasgou com seu suco de alguma coisa, e bateu a palma na mesa totalmente vermelho.

- Srta. Sunbroch! – ele disse. – Como pode fazer tal comentário? Maria tem apenas quatorze anos e o Sr.De Noir é um homem, muito velho para ela.

- Velho? – engoli um biscoito seco arranhando a garganta. – Quantos anos o senhor teria? – perguntei me dirigindo á ele. O desespero nos olhos de ambos era nítido, e eu não acredito que aquilo tenha feito Maria aumentar o gosto por minha pessoa.

- Dezoito. – ele respondeu rapidamente buscando um copo d’água. – Mas este não é o ponto aqui...

- O ponto é que não estamos e nem pretendemos ficar noivos. – Maria disse dura, os cabelos ruivos se arrepiando como um felino.

- Mas como fazer presságios se não sabemos o que o futuro nos reserva não é? – Loveday espremeu os olhos com um largo e enorme sorriso. – Tudo pode acontecer.

- Ora, não tudo. – Tio Benjamin retrucou levando de sua esposa uma beliscada.

- Sinto muito se causei... Um constrangimento. Apenas observo em Robin um grande apreço por todos aqui. E normalmente as famílias não tendem a fazer tais mudanças repentinas se não para...

- Encorajar a afeição. – Tio Benjamin completou revirando os olhos e ganhando outra beliscada. – Eu sei, não faz sentido, mas o que um homem tem a dizer sobre sua própria casa não é?

- Espero que não se incomode com a pouca reserva de nosso lar querida. – Loveday sorriu novamente. – Somos uma família muito próxima e é difícil manter a formalidade na rotina, e você sendo uma pessoa tão educada...

- Não se preocupe Sra.Merryweather. Eu é que devia pedir desculpas, meti o nariz aonde não devia. – agarrei a saia com força de baixo da mesa. - E quanto a minha estranha formalidade, sei que deve parecer um tanto bruta no começo mas é que cresci assim e espero que não seja de muito aborrecimento. Foi difícil para mim... e esta sendo... Conviver com o mundo e aceita-lo, então prefiro manter uma distancia segura de qualquer... – inspirei fundo. – Intimidade

- Sempre deve ter sido então. – Maria murmurou tomando uma xícara de café.

- Maria! – A Sra.Lavandisca ralhou. –. Francamente, é difícil para a Srta. Sunbroch se abrir assim, acaba de perder o marido e se encontra na casa de estranhos. Agora– ela suspirou. – Mudemos de assunto, é algo muito pesado e pouco agradável para um café da manhã.

Realmente era difícil, e totalmente inesperado até mesmo para mim mesma. Alguma coisa me fez querer falar naquela manhã. talvez todos os sorrisos e murmúrios, talvez o fato de que aquela era realmente uma família,  que invejava o modo como Maria e Robin, e Benjamin e Loveday encontraram algo que eu jamais viria a encontrar. Por quê no fundo eu queria poder manter um interesse em ser parte daquilo, ou que sentia culpa por ter feito Jackson sofrer. Em nossos cafés da manhã eu jamais falava, muito menos em nossos almoços, ou jantares... Eu jamais falava. E ele era sempre tão expressivo.

Eu matava seu espírito a cada dia. Até que o desgastei tanto que seu corpo teve de ir também.

- Srta.Sunbroch ? – Loveday me acordou de um devaneio. – Merida?

- Sim ? – arregalei os olhos, todos me encaravam.

- Perguntávamos o que você sugeria que falássemos nesta manhã. Esta tudo bem? Está pálida querida.

- Oh,sim. Acho que estou apenas cansada. Se me derem licença. – me levantei de súbito me retirando. Os saltos ecoando como cascalhos em um dia chuvoso. Havia me perdido mais uma vez, me perdido nos olhos frios e azuis de meu marido. Meu marido morto.

Ele me assombrava e eu não sabia mais o que fazer.

The Underrated Viking

O conforto estranho do funeral de Aurora abraçava minha ansiedade precoce.A chuva caia incessantemente em nossa parte da floresta.Cada gota d’água,uma lágrima derramada por mim.Cada folha acertada,uma prova de indiferença de alguém da aldeia.

Para os fortes,para os complacentes,para os realistas: era apenas mais uma morte.Uma flor que já não exalava perfume.Murcha e caída em um jardim.

Mas para mim,para mim ela era o jardim inteiro.Nada mais importava sem ela.Sem Aurora eu não me sentia mais importante,sem Aurora eu voltava a meu estado habitual de substituto.O príncipe desnecessário,a última instância para herdeiro dos Haddock.O motivo de sussurros, o assombro vivo de insegurança e inferioridade.

Para Aurora eu já não era tão assim.

Ela,Aurora Ruffnut Thorston, irmã gêmea de nosso melhor guerreiro, banida da sociedade vivendo na cabana mais antiga longe de aldeia.

O motivo para tal isolamento?Nossa tradição ridícula.O Dragão sem Face.

Nas lendas antigas de nosso lar,há guerras travadas com clãs antigos,clãs vindos antes dos De Noir.Adoradores da lua e do vale.

Nessas guerras foi desenvolvida nossa tradição: jamais se mostra o rosto de um guerreiro para um inimigo.Ele jamais deve saber quem ele matou,e jamais olhar em seus olhos quando te mata.É uma desonra que não é tolerada.

Mas com as mulheres é um tanto diferente,por algum motivo.

Acho errado,excluí-las de uma tradição que nos dá honra,como se elas não merececem morrer honradamente como nós.Por conseguinte Aurora sempre mostrava seu rosto,o rosto que no caso era igual o de seu irmão.Ela parou de frequentar as batalhas pois mesmo não sabendo os inimigos estavam vendo o mesmo rosto de nosso melhor guerreiro.

Ela lutou em vão por seus direitos mas apenas agravou mais a situação sendo banida de sua própria casa.Tendo de morar sozinha na floresta sem ninguém pra conversar.

Me lembro do dia em que a conheci.

Era um fim de tarde e a chuva era tão calma quanto á do dia de seu funeral.Eu havia faltado á uma das reuniões de meu pai,o líder de nosso povo,algo que não foi muito bem visto – mesmo que eu não fosse o herdeiro original – por ele e nem por ninguém.Tive de recolher os animais de volta aos celeiros como castigo mas um deles não quis cooperar.O bezerro insistia em gritar e correr para mais fundo das árvores e eu sem nenhuma paciência apenas gritava com ele.

- Salivar! – eu gritava. – Salivar sua pequena vaca maldita!

E ela apenas seguia,a mancha marrom e saltitante pela chuva se embaçava.Comecei a correr sem parar,sem me importar com os galhos que tanto me arranham.Eu só queria pegar a merda do bezerro e sair daquela chuva.Até que tropecei,vendo como última coisa Salivar saltando um pequeno riacho.

 Acordei com uma dor lancinante no pescoço,as pernas doíam e a chuva ainda era ouvida.O teto de carvalho era repleto de musgos e o cheiro de melancia recobria o local.

- Pele de coelho. – sussurrei vendo meu cobertor. – É claro.

- Ainda banida eu gosto de me manter aos velhos hábitos. – uma voz desafinada respondeu com indiferença. – Peles de alces são mais ásperas e os leões...

- Leões?! – me levantei de súbito.A pequenina cabana era mais quente do que a minha própria.Virei a cabeça em direção á mesa em que se sentava a tal voz desafinada.Era feita de carvalho,assim como quase tudo e água fervia em cima de seu tronco.A garota,magricela e pálida era revestida com tranças louras tanto de seu cabelo quanto da pele dourada do coelho que ela vestia.

- Tranças. – mordi o lábio. – Tranças são proibidas na aldeia.

- Assim como eu. – ela sorriu com desgosto. Amassava algum tipo de erva e colocava para ferver.O vestido era pesado e bege,cor dos cabelos de milho mais doces. – Sei que são um sinal de má sorte mas é as fazendo que passo meu tempo aqui.

- Você é a irmã de...

- Boreas,sim.E você é o herdeiro renegado.

- Crescemos juntos. – respondi com alento na voz. – Eu não pude te ajudar na época.

- Crescemos em diferentes treinamentos,não é culpa sua.

- Eu não fiz nada quando soube.

- E o que poderia fazer?O meu rosto é minha maldição,meu sangue é meu pecado.

- E minha pele minha mortalha. – completei. – Achei que era apenas eu que gostava dos poemas de Heather.

- Me pergunto o que a levou á partir.Estavam noivos...

- Antes de Hajash ser revelado.E logo depois Rimenis.

- Antes de você ser o último herdeiro.Então culpa sua falta de poder?Por isso ela fugiu?

- Ela não era tão superficial,acho que cansou das zombarias.

- Deve ser cansativo para você.Saber que seu pai traiu sua mãe Valka com outras duas mulheres,e os filhos delas ganharem a herança do clã.

- Cansativo não é a palavra que eu usaria.

Observei um meio sorriso se formar lentamente,o tipo de sorriso que espremia seus olhos e matava qualquer De Noir despreparado.

- Ah. – senti a dor no pescoço novamente. – Merda, o que aconteceu?

- Te encontrei de quatro desmaiado em um poço de gravetos.Um deles arranhou feio o seu pescoço.

- E Salivar?

- Sali...o quê?

- O bezerro.

- Que bezerro?

- Deixa pra lá.

Outro sorriso.

Meu coração palpitou.

- O que você come por aqui? – desviei o olhar.

- Chá,na maior parte das vezes.Cascas de árvores e peixe do riacho.

- Por isso é tão magra.

Sua expressão vacilou em desprezo.

- Eu não treino faz grandes eras garoto.

- Me desculpe eu...eu só não sei bem o que dizer.

- Tudo bem...Hiccup. – ela murmurou mexendo a água. – Venha,o chá vai te fazer bem.Tenho quase certeza que ira pegar uma hipotermia.

- Desde quando você se importa?

- Eu não te carreguei até aqui na chuva pra ouvir você falar isso.

- Tem razão,desculpe novamente.

- Para um renegado como eu você pede muitas desculpas.

- Para uma renegada como eu você as aceita demais.

Ela permaneceu em silêncio servindo os cálices enquanto eu me aproximava.Me entregou nas mãos frias o chá quente amolecendo minha alma.O gosto era angelical,feito das tulipas brancas que cresciam no pé dos carvalhos.

- Doce não é? – ela disse sorrindo. – Acho que é uma das virtudes de se morar longe da aldeia. – ela se espreguiçou se sentando em uma poltrona felpuda.Provavelmente feita de urso. - Todo chá açucarado que eu puder tomar.

- Sua família...ela te visita?

- Não seja tolo Hiccup.

- Mas mesmo assim,foi meu pai que...

- Eles deram a idéia.O medo de Boreas ficar desonrado era maior do que o de minha morte precoce na floresta.

- Em Berk eles... dizem que Boreas se sente culpado. Falaram que os Deuses se enfureceram com a partição de um par de gêmeos.

- Fala isso para que eu me sinta melhor. – ela abriu um sorriso torto.

- Talvez. – dei de ombros. – Quando a chuva vai parar?

- Sinceramente? – ela ergueu as sobrancelhas. – “Esta é Berk. Chove nove meses por ano e nos outros três cai granizo. Tudo o que é cultivado aqui é duro, sem sabor. E o povo que cresce aqui é mais ainda.”

- Meu discurso. – sussurrei largando o chá.

- Todos riram. – ela disse. – Foi o melhor discurso que eu já vi. Sabe, antes de seus irmãos...

- Sim. – a cortei. – Sim, eu sei.

- Se quer minha opinião você seria o melhor líder que a aldeia poderia ter.

- Obrigada.

Ela se levantou e assim eu também fiz latejando mais a dor no pescoço. Ela se virou com pena no olhar, as tranças deslizando por seus ombros conforme ela se movia. Como poderia ser tão bonita se se parecia tanto com o horrendo irmão? Como dois rostos tão iguais pudessem ao mesmo tempo ser tão distintos? Ela se sentou na cama de madeira da cabana retirando o manto de coelho revelando os ombros nus, era um vestido sem mangas, mais uma coisa que os Haddock jamais permitiram. Eu jamais havia isto tanto corpo exposto de uma mulher, nem mesmo de minha própria noiva.

Ruborizei. Ela esticou os braços com um suspiro, ambos marcados com arranhões. Debaixo da cama puxou um baú de madeira e de lá acatou um cantil. Ela passou o líquido nas mãos e então nos braços, devagar e circularmente.

-  Pelo menos vai se casar. – ela disse sem notar que eu a observava.

Me virei de volta á mesa. Acho que eu não deveria ter seguido ela com o olhar.

- É-é. – gaguejei tomando mais do chá.

- É mais do que eu vou conseguir toda minha vida.

- Não diga isso. – engoli em seco.

- E por que?

- Já viu com quem irei me casar?

A ouvi rir, um riso alto e espalhafatoso.

- Astrid é a moça mais bonita.

- E a mais ridícula. Quer dizer, eu a amava quando éramos crianças. Depois que cresceu ficou obcecada por mim, algo que não aturei muito bem.

- Oh Céus... amor recíproco. Pobre de você.

Sorri de lado.

Uma música começou a tocar.

Uma música que a muito eu não ouvia.

Dali em diante, nunca deixei de lhe visitar. Construímos coisas juntos, algumas de madeira, algumas de ferro, e outras...

Outras de completo e irradiante sentimento.

Prometido.

 

Quem diria de depois de um ano eu me encontraria no estado mais imerso e profundo que alguém poderia se encontrar? Aurora era linda, uma cachoeira de sensações. A mais bela sem duvida em sua personalidade, em seus traços de fogo vivo habitando seus olhos. Em suas mãos finas que insistiam em me machucar.

Em suas palavras, frias e pálidas como uma geada.

Morrer incinerado e até mesmo hipotérmico era de igual dor quando perto dela.Nossos pais não aceitaram nada é claro. A Vila não compreendia meus fascínio por ela, meu Pai considerou me banir mas não conseguiu. Eu a amei por pouco tempo, e me arrependo disso. Tudo foi lindo – mesmo com as diferenças mesmo com o ódio alheio – tudo foi lindo.

 

Até a doença.

Até o carvão.

 

Quando as pessoas morrem, há diversas frases que nos são ditas para saber lidar com a perda. A que mais ouvi depois de perde-la veio de seu irmão gêmeo. O encontrei na floresta, derramado em lágrimas. Nunca pensei que seria tão difícil olhar em seu rosto.

O rosto dela.

Para mim foi difícil, mas para alguém interligado tão cedo á um anjo eu entendia que não poderia comparar nossa tristeza. Mesmo que ele não a visitasse, mesmo que nunca mais mencionasse seu nome, eu sabia que a perda de um irmão gêmeo é tão forte quanto a perda de si mesmo.

- A morte dela me serviu de aprendizado. Me serviu de aprendizado.

Repetiu então:

- Me serviu de aprendizado pois... me ensinou que jamais poderei deixar a opinião dos outros interferirem com quem amo. E Deus, como eu a amava... Sua morte me serviu de aprendizado.

Era como se ele tentasse afirmar para si mesmo, como se tentasse costurar a idéia em sua mente e convencer-se de que parte daquilo, nem que fosse mínima, era boa.

“ Uma aprendizado.” Que merda era aquela? Como ele podia dizer algo assim?

Como a morte dela, a morte de Aurora podia ser algo se não a coisa mais horrível que viria a me acontecer?

Sem trono.

Sem ela.

Comecei a pensar em abdicar de minha vida como última oferenda aos Deuses, comecei a untar tudo que podia para acabar com aquilo naquela mesma tarde do dia mais escuro da estação.

Até que Astrid me seguiu.

E encontramos com os pássaros.

O selo do Dragão Sem Face havia sido quebrado, os inimigos que assassinaram meu irmão haviam visto meu maldito rosto e logo o boato seria espalhado. E logo eu seria finalmente a decepção completa e cheia para meu pai. Se ao menos ela não tivesse me seguido... Quem sabe já estaria com Aurora, já estaria com ela em algum lugar melhor.

Chegados de volta a vila, a escoltei até um dos celeiros de carneiro. Lá conversaríamos e eu a convenceria de não contar há ninguém nada do que havia acontecido.

- Hiccup você ia se matar! – ela sussurrou alto quando finalmente isolados. – Vi a adaga em seu flanco, vi seu olhar como o da própria Deusa Hel!

- E me seguiu pretendo fazer o quê?! – rebati. – Não é de sua conta nada que acontece comigo.

- Mas é claro que é! Sou sua prometida! Ou pelo menos era... antes da garota se intrometer...

- Aurora! O nome dela era Aurora! – gritei.

- Uma cabeça quente que não ouvia sua família! – soluçou, as lágrimas já caindo. Odiava quando fazia isso, como se eu fosse o psicopata da situação. – Eu ouço! E eles me dizem, como os Deuses também querem, que eu siga você! Não posso deixar que se machuque, que se prejudique mais...

- E olha aonde chegou! Meu rosto mostrado aos De Noir e você quase morrendo!

- Eles estavam na divisa... Aonde não deveriam estar... – Astrid sussurrou abaixando os olhos. – Eu queria apenas servir nosso povo, assim como você deveria.

- Astrid que povo? – respondi, era a primeira vez que fazia tão questionamento. – Somos uma vila pequena, Berk não abriga mais que sessenta famílias. Somos mais como um clã. Um clã vivendo de tradições ultrapassadas e sem sentido... Tem razão eu nãoídeveria culpa-la pelo negócio do rosto. Não é sua culpa que o Dragão Sem Face seja a ideia mais ridícula do mundo.

- Soluço... Me deixa ajuda-lo, me deixe segui-lo eu pensei que... – seu rosto empalideceu.

Eu sabia exatamente o que ela iria falar.

- Pensou que...?!

- Eu... – ela engoliu em seco. – Pensei que depois de Aurora morrer eu poderia...

- O quê?!- gritei. – Achou que depois de eu perder o único amor de minha vida você teria uma chance? Eu já lhe deixei bem claro até mesmo antes dela. Para mim é impossível amar você.

Ela soluçou mais limpando as lágrimas da face.

- Você é linda Astrid... – coloquei as mãos em seu rosto suavizando a voz, não queria machuca-la mais mas não poderia vacilar quando se tratava da verdade. – Mas não sou eu que você deve seguir.

Astrid saiu correndo no mesmo instante, mais chuva caiu, como se o próprio céu chorasse por nós dois. Alguém cujo amor havia ido muito cedo e alguém cujo amor havia ido tarde demais.

Na manhã seguinte os sonhos não me deixaram descansar, o corpo pesava assim como a mente. Depois da decisão do dia anterior era difícil agir como se nada tivesse acontecido. Como se algo precisava acontecer.

Desta vez não sairia de tarde, Astrid não veria nada.

Sairia noite a fora e com sorte, nenhum De Noir encontraria desta vez.


Notas Finais


Robin visitando aposentos da princesa.
Merida pagando micão.
Hiccup ( Soluço) com primeira perspectiva falando um pouco sobre seu passado pra gente.
Esse foi complicado de escrever haha!
Beijão, espero que gostem.


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