História May we meet again - O que a faz tão especial?

Lexa POV

   Após finalmente resolver um dos problemas que estava me matando pude sentir meu corpo respirar mais leve, foi como tirar um peso gigantesco das costas. Clarke era sempre prestativa e sociável duas das coisas que eu jamais seria, sempre gostei mais de ficar no meu mundo do que adentrar o dos outros, mas algo nela me fazia querer tentar quebrar essa bolha imaginária e arriscar um pouco.

   Achava tão estranho o fato de me sentir conectada a alguém que mal conhecia, talvez fosse seu jeito extrovertido e acolhedor que passava essa sensação de segurança repentina, sempre rodeada de pessoas dos mais variados tipos. Éramos tão diferentes, nossas personalidades eram muito distintas e isso atiçava uma curiosidade em mim que só crescia, o desejo de aprender um pouco mais sobre o desconhecido me parecia tão palpável agora.

   Não sabia se Clarke me ligaria de verdade ou se só estava sendo extremamente gentil, queria poder ter o controle da situação e não me sentir tão impotente sobre o que fazer, mas estava grata de não ter que tomar a iniciativa de novo. Os amigos dela deviam estar rindo de mim por causa do meu pequeno lapso de coragem mais cedo, parecia uma pateta andando em direção a eles daquele jeito, quis me enfiar no chão durante o trajeto ou dar meia volta e sair correndo, mas a vergonha seria ainda maior.

   Tudo parecia ter dado certo e isso era algo tão inusitado em minha vida que senti até mesmo meu coração bater mais rápido, meu interior ansiava pelo acampamento o quanto antes, algo me dizia que aquilo seria uma experiência inesquecível só me restava saber se seria de forma positiva ou negativa. Caminhei pelos corredores com um sorriso imbecil em meus lábios e notei que algumas pessoas me encaravam com curiosidade, era a primeira vez em muito tempo que alguém parecia estar me notando de verdade, gelei com algumas olhadelas nada discretas e apertei com força a alça da minha bolsa contra meu corpo na tentativa de me proteger dos curiosos.

   Minhas pernas começaram a se mover em uma velocidade fora do meu controle e antes que pudesse me conter estava na parte traseira do colégio onde pouquíssimas pessoas iam, esse local só era povoado nas aulas de educação física, que por sinal não eram minhas favoritas pela constante exposição, era o última dia antes das férias de verão, portanto tudo estava meio vazio. Andei com mais calma ao notar que estava praticamente sozinha e respirei fundo sentindo o ar inundar meus pulmões novamente, me sentei na beirada de um degrau pousando a bolsa na minha lateral e pensei em recuperar o fôlego antes de adentrar a escola de novo, eu detestava ser fitada daquela forma.

   Fiquei um tempo ali encarando o céu e após longos minutos me levantei batendo na calça para tirar a poeira do chão, peguei minha bolsa e resolvi contornar o colégio para entrar pela parte frontal novamente. Estava tão distraída e perdida em meus próprios pensamentos que dei um pulinho e soltei um pequeno grito quando vi duas meninas se agarrando na minha frente, não havia as notado até chegar perto demais. Quis sair correndo dali, mas meu corpo paralisou e se recusou a me obedecer, uma das meninas estava na rodinha de Clarke mais cedo, cabelos longos e ondulados emoldurando um par de olhos verdes que me queimaram viva ao me notar.

- Me des... desculpem. – Gaguejei e virei de costas dando meia volta.

- Alexandra certo? – A voz da garota me fez virar.

- Sim. – Respondi baixinho e ela sorriu.

- Nyssa nos falamos depois. – Se dirigiu a garota que beijava que logo saiu correndo. – Costia, é um prazer conhece-la. – Estendeu a mão para mim e peguei sem jeito.

- Prazer.

- Você foi à garota que veio até a Clarke mais cedo né?

- Sim.

- Pode falar comigo sem ser monossilábica Lex. – Me apelidou por conta própria e nem tive reação para responder.

- Me desculpe, só estou meio envergonhada. – Admiti sem jeito e seus lábios se curvaram de novo.

- Você tem esse costume de interromper a pegação alheia? – Meu rosto esquentou feito um pimentão e a ouvi gargalhar. – Estou brincando.

- Desculpe de novo ter atrapalhado vocês.

- Não tem problema não era nada sério mesmo. – Deu de ombros. – Nyssa nem é tão boa assim. – Abri a boca, mas logo a fechei sem saber o que falar. – E então o que faz por esses lados?

- Eu meio que estava fugindo. – Se apoiou na parede ao meu lado e seus olhos adentraram os meus de uma maneira um tanto quanto desconfortável.

- De alguém em especifico? – Costia era muito incisiva e intimidadora e isso me causava calafrios.

- Na verdade de todo mundo. – Falei sem jeito.

- Uma pequena dica, aqui é um lugar que as pessoas usam para se pegar ou usar algumas coisinhas se é que me entende, então eu não viria aqui se não fosse para fazer uma dessas coisas. – Seu rosto se aproximou demais do meu e respirei fundo para não mostrar medo e recuar.

- Eu não fazia ideia, é bem raro eu sair de dentro da escola. – Engoli em seco tentando me manter firme.

- Você estaria encrencada se alguém além de mim te encontrasse aqui. – Sua voz era baixa e um tanto quanto firme.

- Acho que devo te agradecer então. – Dei um sorriso tímido e seus olhos se arregalaram.

- Você me deve uma. Ainda bem que não foi outra pessoa que te encontrou.

- Seria tão ruim assim se fosse?

- Não faz ideia Lex. Provavelmente se aproveitariam de uma garota bonita e acuada como você. – Seu tom me fazia arrepiar e suei frio com seu quase elogio.

- Ah. Eu acho melhor eu ir. – Revelei querendo desesperadamente fugir dali.

- Pelo menos me conte porque estava fugindo e estaremos quites.

- Não foi nada demais, apenas muita gente me encarando. – Dei de ombros.

- Esse é o efeito que andar com Clarke traz, as pessoas prestam atenção nela, então tome cuidado com a aproximação exagerada. – Sorriu de canto de boca.

- Pode deixar, eu sei me cuidar. – Sorri tentando não soar muito ríspida. – Tenho que ir, tchau. – Acenei virando as costas e caminhando.

- Foi um prazer Lex. – Costia pronunciou meu nome com um tom sedutor e felizmente eu estava de costas, pois corei automaticamente.

   Quando finalmente adentrei a escola novamente, consegui sentir o alivio tomar conta do meu peito. Se o fato de várias pessoas me encararem sem nenhum contato já me deixava desconfortável, a forma que a tal Costia me deixou foi bem pior, odiava me sentir reclusa ao lado de alguém. Me senti feito um ratinho que estava sendo ameaçado por um gato gigante, sem saída e principalmente sem reação, seu jeito descontraído e atirado me lembrava Anya quando estava flertando com algum desconhecido e isso me causava um incomodo imensurável. Preferia nunca ter fugido dos olhares curiosos, pelo menos não sentia que ia ser devorada por eles, não como me senti do lado de fora.

   O simples fato de conhecer um pouco mais a filha da diretora já me trouxe diversas situações estranhas, foi como se da noite para o dia as pessoas se importassem com minha existência e algumas delas acabavam até passando dos limites. Não estava acostumada com tanta interação, Costia me deixava sem lugar e perdida, mas quando conversava com Clarke me sentia relaxada e segura, era muito esquisito como as pessoas podem ser tão diferentes. Sabia que decidir ser amiga de alguém não seria algo simples e de fácil aceitação, tinha muito que aprender ainda antes de considerar a loira como alguém importante, embora meu coração já tivesse uma breve afeição por ela.

   Fui até meu armário pegar o resto das minhas coisas e as guardei com cuidado, o sinal logo tocaria e tudo ficaria uma bagunça imensa com as pessoas loucas para irem para casa e descansarem. Queria me despedir de Clarke antes de partir, mas estava muito amedrontada para procura-la pela escola agora, nos falaríamos depois quando fossemos tomar aquele sorvete. Após pegar tudo me dirigi até o refeitório onde Abigail, nossa diretora, faria um pronunciamento final sobre o acampamento de férias.

*

   O lugar estava lotado de alunos de todos os tipos e era impossível localizar alguém naquela multidão desorganizada e escandalosa, risadas, gritos e conversas paralelas preenchiam o ar como verdadeiros insetos. A sensação térmica era de estar dentro do próprio sol, senti minha testa suar um pouco e com certa dificuldade de mover os braços consegui enrolar meu cabelo em um coque mal feito livrando minha nuca daquele calor infernal. Cruzei os braços e resolvi me encostar em um canto qualquer até que a diretora chegasse.

   Ouvi algumas pessoas reclamando de terem que aguardar logo no último dia e pude ver outras indo embora escondidas. Fiquei recostada ali rezando para que Anya me achasse sem que precisasse procura-la nessa multidão depois, queria muito ir para casa e tomar um bom banho para poder relaxar e lavar toda a vergonha que passei nesse dia. Ao longe vi uma silhueta feminina se aproximar e logo a baderna cessou, agradeci mentalmente por isso.

- Me desculpem ter de reunir vocês aqui hoje, mas realmente precisava pedir que os alunos que ainda estão interessados no acampamento de férias passassem em minha sala antes de irem para casa. É muito importante que confirmem sua presença para podermos organizar tudo antes do dia da excursão, então, por favor, não se esqueçam de passarem por lá. Todos serão muito bem vindos nessa viagem e posso assegurar que será uma ótima experiência...

   Parei de prestar atenção no discurso quando os olhos azuis de Clarke chamaram minha atenção, ela curvou seus lábios para mim em um sorriso descontraído e não pude evitar que minha boca fizesse o mesmo. Com calma ela começou a se mover na minha direção e me ajeitei um pouco para não parecer tão tensa, nossos olhares pareceram conectados até um garoto de cabelos negros na altura dos ombros pontar alguns metros na minha frente e pegar na cintura dela. Me senti a maior idiota de todas por achar de verdade que estaria rindo para mim, por algum motivo senti um gosto amargo na boca e sai dali as pressas, não queria ver aquela cena.

   Minhas pernas se moveram rápido pela escola que já estava extremamente vazia e agradeci mentalmente por ninguém notar meu desconforto, não tinha me passado pela cabeça que ela poderia ter um namorado ou algo do tipo e detestei a forma com que me importei com aquilo, nós mal nos conhecíamos para ficar tão dependente dela. Me apoiei na parede da sala da direção aguardando pelo retorno de Abigail para que pudesse ver se estava tudo certo sobre a viagem e me mandar dali o quanto antes. Algum tempo se passou até os corredores começarem a ser preenchidos por vozes e gargalhadas novamente, me ajeitei o suficiente para que não fosse notada e me assustei quando uma mão pousou em meu braço.

- Você sumiu lá fora. – Os cabelos loiros de Clarke me surpreenderam e eu quase tive um ataque cardíaco.

- A Clarke que susto. – Falei involuntariamente e ela sorriu, aquela gargalhada gostosa que eu adorava ouvir.

- Me desculpe. – Pousou do meu lado se apoiando na parede também.

- Eu sumi? – Perguntei raciocinando o que tinha dito.

- Sim, eu sorri para você e estava indo na sua direção. – Então o sorriso era realmente para mim, sorri mentalmente. – E quando o Finn me parou e o cumprimentei você tinha desaparecido.

- Desculpe. – Me senti ridícula por ter fugido e ainda mais ridícula por tem sentido a necessidade de fugir dali por desconforto.

- Sem problemas, imaginei que estaria aqui esperando para confirmar sobre o acampamento.

- Preciso ver se minha mãe já resolveu tudo.

- Eu não preciso, um dos bônus de ser filha da diretora. – Sorriu e eu acabei me deixando levar.

- Você tem sorte.

- Dependendo do ponto de vista. – Deu de ombros.

- Finn é tipo seu namorado? – Mas que merda eu estava falando, as palavras simplesmente brotaram da minha boca antes mesmo que pudesse para-las e no pior momento possível.

- Eu não sei bem o que somos. Amigos que já se beijaram talvez, algo assim. – Senti o gosto amargo novamente tomar meu paladar, algo me dizia que não tinham trocado só beijos.

- Desculpe a invasão de privacidade. – Encarei o chão envergonhada.

- Não tem problema.

   Ficamos em silêncio alguns segundos até a mãe dela finalmente pontar no corredor com um milhão de pessoas em seu encalço, todos deviam querer confirmar sobre a viagem. Mesmo sem falar muitas palavras ficar ao lado da loira me pareceu confortável e não me senti sufocada com sua aproximação, não queria ir embora sem resolver a situação que tinha causado.

- Que tal eu falar com sua mãe e a gente ir tomar aquele sorvete de uma vez? – Perguntei reunindo o restante da minha coragem.

- Acho uma ótima ideia. – Ela sorriu.

- Ótimo, me espere aqui então. – Sorri e ela assentiu.

   Era ótimo receber uma resposta positiva, embora meu interior ainda revirasse um pouco com a recente informação de ela e o tal Finn serem amigos com benefícios eu realmente queria poder conversar mais com ela, conhece-la melhor e poder algum dia entender esse efeito que tinha sobre mim.