Ah! A vida nova que me espera.
Como foi que eu cheguei até aqui mesmo? Ah, é... Foi... Bem, vamos começar do começo!
Olá, me chamo Arym Wild e hoje é o dia mais importante da minha vida. Não, não é o casamento.
Há cerca de 4 anos atrás, eu e as minhas duas melhores amigas decidimos que iríamos estudar em um Campus. Do nada. Lembro-me como se fosse ontem, estávamos, eu, Sarah e Ayleen sentadas na varanda da minha casa, tomando um picolé (aos 18 anos de Ayleen e aos 17 que andava de mãos dadas comigo e corria atrás da Sarah. É que a Leen faz aniversário em Abril, enquanto eu faço em Maio e a Sarah faz em Junho.) como se fôssemos crianças, quando eu falei.
- Eu moraria com vocês.
A confissão foi repentina e tanto a Sarah quanto a Ayleen não souberam como reagir, então olharam uma pra cara da outra com uma expressão que dizia claramente “Quê?” e voltaram a me olhar. A Ayleen olhou para a aliança de noivado e abriu a boca para me dizer algo quando Sarah a interrompeu.
- Eu também moraria com vocês duas. Mesmo que você não quisesse, Leen.
- Você me sequetraria? – Ayleen parecia assustada mesmo sendo sarcástica, foi quando Sarah a respondeu, olhando fixamente para ela.
- Se fosse necessário...
Eu ri, e logo em seguida, as máscaras de sarcasmo e ironia, e até as de medo, caíram. Rimos todas juntas e olhamos uma para a outra.
- É sério. Eu realmente moraria com vocês... – retomei o assunto- nem que fosse por um tempo.
- Eu moraria com vocês o resto da vida. – Sarah completou. – sem brincadeira.
- Eu só poderia morar com vocês se fosse em um campus. – comentou Ayleen – daí eu poderia ir porque seria pra estudar, e seria genial, porque seria com vocês. Mas tenho que ver se o Kenai deixaria.
Kenai era o noivo da Leen. Pensei um tempo e, se fosse um desenho, uma lâmpada surgiria acesa sobre minha cabeça.
- É ISSO! – gritei, entusiasmada.
- O quê? – disse Ayleen, como se nem tivesse ouvido o que disse.
- Um campus... – repetiu Sarah.
- Um campus. – e o silêncio tomou conta da varanda.
Eu sorri, Sarah sorriu, Ayleen sorriu. Era isso. Moraríamos juntas enquanto estudávamos. Poderíamos nos ajudar com os deveres, poderíamos comemorar juntas a cada prova onde fossemos aprovadas. Eu estava com aquelas meninas desde a oitava série e eu adoraria terminar todos os estudos com elas.
Eu não era tão inteligente, mas quando metia algo em minha cabeça, não tinha o que tirasse de lá.
Quando fiz 18 anos, por exemplo, convenci meus pais a me permitirem mudar de nome. O meu nome na certidão de nascença era “Chloe Wild”, mas eu nem gostava tanto desse nome. Era o nome da minha madrinha, e minha mãe fez isso para homenagea-la. Era um nome bonito, mas não combinava comigo. Eu sempre achei que combinava com Mary. Estava decidido! Ao fazer 18 anos torrei os meus pais até meu pai gritar “CARALHO GAROTA! VAI! SOME DAQUI E SÓ VOLTE COM OUTRO NOME NESSE RG!”
E foi o que eu fiz. Ao abraçá-lo e beijá-lo muito (mesmo ele estando morrendo de raiva) eu peguei minha bolsa, meus documentos, dinheiro, e saí. Mandei mensagem para as meninas.
“Prontas para desaparecerem com Chloe Wild?” elas não entenderam, mas Sarah era do tipo que dizia “VAMOS!” para um assalto ao banco às 3h da manhã desde que ela ficasse com uma parte.
Ayleen ficou preocupada e percebemos isso nos seus simples “???” como resposta à mensagem.
“Encontrem-me no cartório. ♦”
“Ok! ♥” – respondeu Sarah.
“Ok! ♣” – respondeu Leen.
É que normalmente em cidades grandes não se muda o nome por nada, mas em uma cidade pequena como a minha, as pessoas costumavam colocar nomes que não agradavam muito aos filhos, então eles podiam mudar ao fazer 18 anos, caso houvesse no nome algo que pudesse fazer da pessoa, uma pessoa infeliz, que fosse zombada e algo do tipo. Ao chegar ao cartório, minhas meninas já estavam lá. Elas eram a pessoas mais importantes da minha vida, depois dos meus pais, mas os meus pais queriam que eu fizesse isso sozinha. “Contanto que arque com as consequências depois...” foi o que minha mãe disse. E eu estava pronta. Ao entrar no cartório, eu convenci o atendente de que “Chloe” só faria as pessoas pensarem naquela menininha loira que faz uma careta estranha, e isso poderia me prejudicar mais pra frente. Poderia ser verdade. Ou não. Mas ele me entregou uma ficha para eu preencher com meus novos dados, de “adulta” e assinar logo em baixo com meu novo nome. Sentei com as meninas.
- Vamos lá... – disse, me ajeitando na cadeira, perto delas.
- Eu gosto de Chloe. – sussurrou a Leen.
- Tudo bem, Leen. Eu gosto de Chloe também, mas a Chloe prefere Mary. – disse Sarah, sorrindo, gentilmente.
- Mas eu... Eu não quero Mary.
Falávamos como quem escolhe o nome para um filho, ao qual sequer se sabe o sexo. Estava ficando preocupada, porque não queria um nome igual à qualquer outro. Queria ser única, mas se ficasse ali pensando, voltaria para casa como “Chloe” e meu pai iria acabar com minha raça. Após pensar um tempo, Sarah virou para mim e disse.
- Guria, vamos logo com isso? Já faz 40 minutos que está encarado esse papel. Se não escolher logo seu nome, eu vou dar um jeito de você nunca mais mudar na sua vida.
- Nossa! – Leen riu da ironia da Sarah. Ela falava de um jeito bonitinho, indiferente de quão irônica fosse. – eu mudaria logo se fosse você, Chloe!
- Um anagrama pra Mary... – falei, mastigando o fundo da caneta.
- MULHER, TIRA ISSO DA BOCA! – Sarah gritou com seu sotaque sulista que ninguém sabia de onde ela tirava. E Ayleen continuou rindo. Tudo bem. Eu também ri do desespero dela. – TU NÃO SABE NEM ONDE PASSOU ISSO AÍ!
- Tá bom amor. – eu sorri, entregando a caneta pra ela, que a tomou de mim rapidamente. – mas me responde.
- Um anagrama para Mary... – Ayleen pensou por um tempo. – Ryam?
- Arym? – Sarah fez uma expressão de “Donde eu tirei isso, Jesus?”, mas ousou dizer. E eu era meio louca. Porque gostei. E preenchi os dados assim.
NOME: Arym Wild
DATA DE NASCIMENTO: 02/05/1994
FILIAÇÃO e por aí foi. Ao preencher todos os dados assinei com minha caligrafia itálica o meu novo nome. Arym Wild. Foi incrível. Sentia-me nova, poderosa, e principalmente, única. Minhas amigas fizeram questão de me apoiar e a partir daquele dia, mudaram meu nome nos contatos e nunca mais me chamaram de Chloe. Minha mãe não se acostumou com a ideia e só me chama pelo meu novo nome quando lembra. Meu pai nunca fez tanta diferença sobre isso, só me chamava de “filha”. E assim como o eu tinha decidido o meu nome, eu tinha certeza do que queria em relação ao campus.
Estudei muito com as meninas, de verdade. Fizemos pesquisas sobre vários e vários Campus que fossem nos agradar, até acharmos um. Demos a puta sorte de irmos super bem em 1 das 3 provas que fizemos. Considero uma puta sorte porque ganhamos uma bolsa de 75% e foi mais fácil de convencer nossos pais. A Ayleen fez a pontuação mais alta, então ela ganhou 80%. Mas não era o suficiente para nós! Refizemos uma das provas e dessa vez acabamos as três em uma bolsa de 90%.
O fato de passarmos nas prova nos deu uma completa mudança de vida, já que fomos direto de uma cidade pequena para um Campus gigantesco com paisagens maravilhosas.
Eis aí o motivo de eu não dormir a noite toda. Eu estava tão ansiosa! Seria como morar com minhas duas melhores amigas enquanto terminasse de estudar minha profissão, dois sonhos realizados num só!
♦♢♦♢♦♢♦♢♦♢♦♢♦♢♦
Tomei coragem de ir me arrumar logo, para conhecer logo minha nova vida. Corri para o banheiro do meu quarto, para me olhar um pouco em meu espelho redondo.
Céus! Como eu estava acabada. As olheiras fundas pela noite mal-dormida tirava toda a graça de meus olhos amendoados, castanhos e de cílios curtos. Meu cabelo médio já estava me irritando. Ele não era nem liso, nem cacheado. Era um bug entre o ondulado da minha mãe e o liso do meu pai. Começava liso na raiz e terminada em ondas nada definidas e muito, muito volumosas.
- Why, Lord? Eu estou um caso!
Falei, enquanto fitava minha pele, tão branca que brilhava ao receber os raios de Sol, vindos do vidro do banheiro, sobre ela. Quer saber? Vou mudar!
- MÃÃÃÃÃEEEE! – gritei do banheiro.
- O QUE FOI FILHOTA? – ela respondeu da cozinha, no andar de baixo da casa.
- ONDE ESTÁ A TESOURA? – perguntei, enquanto caçava a bendita da tesoura pelas gavetas do armário do banheiro.
- SEGUNDA GAVETA, DE BAIXO PRA CIMA – ela respondeu, depois de um tempo voltou a falar. – MAS PARA QUÊ VOCÊ QUER A TESOU...- o telefone tocou. E eu sorri e gritei.
- OBRIGADA!
Eu não sabia ao certo se estava agradecendo minha mãe por me ajudar ou aos céus pelo telefone ter tocado e eu não precisar dar satisfação dos meus desejos.
Tomei coragem e abaixei a cabeça, lançando todo o meu cabelo para frente. Céus! Minhas madeixas castanhas iam até abaixo dos meus seios. Recuei com a tesoura por um tempo ao ver o reflexo dourado do Sol contra meu cabelo. Era tão bonito... Respirei. Fui. Já era. Não tinha mais volta.
Vi mais da metade do cabelo ir para o chão e por alguns segundos me arrependi, então me levantei, com medo de olhar para o espelho. Para minha surpresa, quando olhei meu reflexo eu não quis chorar, nem senti mais arrependimento. O novo corte era um Chanel repicado extremamente curto, dois dedos abaixo da orelha, que me deu um ar mais maduro e me fez rir como uma criança, por me sentir linda outra vez.
- Arym! Você está maravilhosa! – disse para mim mesma ao olhar o espelho.
O próximo passo era repicar a franja e o segui obedientemente. Diminui um pouco o comprimento, deixando à mostra minhas sobrancelhas. PUTA QUE PARIU! COMO EU ESTAVA LINDA! MEU DEUS! Nunca havia me sentido tão bem na minha vida toda, não via a hora de chegar ao campus e ver como viver é bom. Terminei de usar o banheiro, escovar os dentes e passei a chapinha no pouco cabelo que tinha para alinhar os fios para baixo. Nem tive dúvidas do que usaria, montei o look na hora com toda aquela novidade.
Camisa preta justa, uma saia de pregas rodada que parava um pouco acima do joelho de cor azul escuro, e um sapatênis prateado de sola plataforma branca, sem meia. Senti falta de algo para quebrar a “fofura” e resolvi pôr uma jaqueta jeans azul. Estava pronta!
Decidi ir para a maquiagem. Nada muito pesado. Um sombreado marrom claro, delineador fino e nos lábios um gradient lips vermelho.
- CHLOE! VAMOS! – ouvi minha mãe chamar.
Peguei minhas malas num pulo e dei uma última olhada no meu quarto. Sentiria falta daquele lugar. Saí do meu cômodo para descer as escadas, enquanto descia, observei as marcas em vermelho na porta do escritório do meu pai, que dizia quando fui medida e quanto cresci de cada ano. Não havia crescido um centímetro sequer depois dos 15. Os mesmos 1,56 de altura. Eu sentiria falta. De tudo. Mas eu estava pronta para ir, deixando para trás uma Chloe com o nome de madrinha e seguindo em frente como a Arym que sempre quis ser.
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