História Maybe there's a happy ending. - Garotinha Má

P.O.V Rafael Lange

7:34 AM - Sexta Feira:

Um beco qualquer de Santa Catarina

Eu andava de um lado pro outro já impaciente. Ele pode se atrasar o quanto quiser, e tem também o total direito de ignorar os meus chamados, ah, mas se eu ousasse fazer uma dessas coisas estaria ferrado.

Uma corrente fria de vento passou pelo beco trazendo consigo um homem negro alto vestindo um terno preto, vulgo o meu superior.

- Demorou mas chegou.

Disse com o meu mais notável tom de deboche juntamente com um sorriso cínico nos lábios.

- Se eu fosse você me trataria com mais respeito. Não acho que Ele lhe daria mais uma chance.

- Também acho que não.. Na verdade não sei nem por que me deu essa, tudo o que me resta é agradecer.

- Você sabe o porque, agora pare com essas frescuras. - ele então falou revirando os olhos - acho que sabe por que te chamei.

- Sim, eu sei Muriel.

- Então diga, diga o que descobriu.

- Está tudo aparentemente normal, tem amigos, a família está bem.

- Não aconteceu nada suspeito?

- Bom, eu a salvei de um atropelamento.

- Hum.. Então é verdade? Ouvi rumores sobre isso.

Ele disse de forma tão indiferente que cheguei a duvidar sobre a sua preocupação com a garota.

- Sim é, não pude ver o rosto de quem dirigia o carro, o mesmo também não parou pra prestar socorro.

- Ela está bem?

- Sim, a analisei nesta noite enquanto dormia, teve só um mau jeito no pulso.

- E o motorista? Tem chances de ser um deles?

- Não sei, acho que não, eles não iriam se preocupar de ir atrás dela depois de tanto tempo. Acredito que não sabem que erraram o alvo.

- Certo então, mas fique atento. Nunca sabemos o que virá deles.

- Pode deixar.

E antes de se virar deu um sorriso de lado dando um tapinha em meu ombro, enquanto entrava na neblina do beco escuro falou:

- Não cometa nenhum erro com ela, todos sabemos o final que isso teria.

- Morte.

Sussurrei, porém soou alto o suficiente pra que ele ouvisse.

- Exatamente Rafael.

Disse e deu um pequeno riso e só então desapareceu.

[ ... ]

P.O.V Lua Hauser

09:07 AM

Colégio Profº Joaquim-SC

Faltavam apenas alguns minutos pro sinal tocar indicando que o tão esperado horário de comer havia chegado.

No tempo das três aulas que passaram, além de aprendermos as inutilidades sobre história grega, e também alguma coisa que eu não me importava sobre o esôfago, tivemos tempo de conversar com o novato, e chegamos a conclusão que ele não é um daqueles caras ridículos, e que também não é só um corpinho bonito. Resumindo: Ele não aparenta ser um daqueles meninos fúteis.

Cutuquei sua costa com meu dedo pra chamar sua atenção, ele se virou esperando que eu falasse:

- Então Mendes, nós lhe convidamos para ter o prazer de lanchar com a nossa ilustre companhia.

Falei em um tom brincalhão e eu e as meninas sorrimos largamente com a intenção de ser fofa enquanto ele ria:

- Vocês tão parecendo o gatinho do Shrek! - Ele passou desajeitadamente a sua mão em minha cara desmanchando a minha ótima expressão. - Okay, vou aceitar.

Ele sorriu, e passou a mão no cabelo ajeitando o topete.

- Bom mesmo - Gabe disse - Se não ia ficar solitário.

- Ou ia fazer outros amigos.

Shawn falou como se fosse obvio.

- Acredite, nós somos as únicas que prestam.

Thalita ​falou me fazendo soltar uma gargalhada que logo foi cortada por Gabriela:

- Menos a Lua, ela é uma piranhona.

Thalita concordou e ainda completou:

- Como diria o Lucas: ela é safadona, ela.

Eu as olhava com uma cara indignada. Traíras.

- Lucas​ é o seu namorado? - O Shawn perguntou aparentemente.. incomodado? É, não sei. Bom, só sei que nos deu crise de riso imaginando o Luba hétero, deixando o menino lá, com cara de tacho. - Oque foi gente?

- O LUCAS É GAY!

Dissemos em coro chamando a atenção da sala, inclusive de um menino - que por sinal a Thali já deu uns pegas, ruivo ele, bonitinho. - que no qual o nome também é Lucas.

- Fica suave que não é você!

Thalita falou dando uma piscadela pro menino que apenas bufou revirando os olhos, Shawn foi outro que revirou os olhos, credo, bando de gente sem humor.

- Sério que vocês estão rindo disso? - assentimos ainda rindo - vocês são estranhas.

Cortei minha risada e o encarei incrédula. Que ousadia. E então Thalita e Gabe falaram ao mesmo tempo:

- Como se você não fosse!

Concordei, e então essa foi a vez dele nos encarar incrédulo:

- Então vocês me acham estranho?

Respondi prontamente:

- Sim!

Ele me olhou e com um sorriso um tanto quanto desafiador perguntou:

- Em que eu sou estranho então?

E quase que comicamente o sinal bateu, fazendo o professor nos dar " tchau " saindo apressado, e eu me levantei para sair da sala o fazendo murchar seu belo sorriso.

[ ... ]

Eu estava na fila da cantina, sai o mais rápido que pude da sala, abandonando minhas amigas e também o Shawn, e você me pergunta: pra que tudo isso? E eu respondo: pra evitar pegar fila grande! E graças a Deus quando eu cheguei ela estava em um tamanho consideravelmente pequeno se comparados aos outros dias.

- Ei, - uma voz que vinha de trás de mim me tirou dos meus pensamentos, me virei dando de cara com o novato.- Oi!

- Olá?!

- Sabe.. Você poderia me dar a traseira?

Ele disse com uma carinha de cachorro abandonando, porém minha mente maliciosa agiu mais rápido, e juro, eu entendi que ele queria o meu traseiro, e assim.. Pra que ele iria querer minha bunda? Até que finalmente algo me pareceu lógico:

- Ah! Você quer que eu te de brecha pra furar fila?

- Sim, ela tá gigante.

O moreno posicionado ao meu lado disse ainda me olhando com aquela carinha fofa, que vontade de bater. Eu me virei pra ver, e realmente, estava grande, como o de costume.

Eu fiquei com dó, eu poderia dar fila pra ele sem problema nenhum, porém como ele é um poste de tão alto não iria passar despercebido, oque acabaria com nós dois indo parar no final da fila enxotados pelos alunos e por alguma supervisora.

- Me dá o dinheiro que eu compro seu lanche.

Ele me olhou confuso:

- Não é mais fácil você me dar a fila e eu comprar meu lanche?

- Não, você é alto pra porra, acha que ninguém vai perceber? E se perceberem, vamos parar lá no final, e sinceramente não estou afim.

Ele pareceu refletir por um momento e percebi que ele cedeu quando ele retirou a carteira do bolso de trás dá calça a encarando:

- Quanto você acha que fica um salgado com uma bebida?

- Hum.. Bom depende da bebida.

- Refrigerante, suco.. Qualquer coisa.

- Então o salgado é três reais, o refrigerante é dois e cinquenta e o suco deve ser uns dois também..

- Então uma nota de dez dá né?

- Obviamente.

Ele abriu a carteira de couro preta e me deu a cédula avermelhada.

- Ótimo, já somos os próximos.

Disse sorrindo e o mesmo retribuiu.

Tinha chegado a nossa vez e a tia da cantina nos olhava com sua bela cara de cu enquanto Shawn enrolava, opa, decidia o sabor que queria.

- Qual você recomenda?

Ele perguntou apoiando a mão no meu ombro.

- Bom.. Eu sempre pego de queijo, é meu preferido.

- Okay então.. Pega um salgado de queijo e um suco de laranja.

Não precisei nem falar a tia já estava me dando oque eu havia pedido, acho que a irritamos.

Dei o dinheiro que Shawn tinha me dado, deu pra pagar os dois salgados mais o suco do garoto e ainda sobraram dois reais. Dei o lanche dele pra ele e peguei o meu já saindo em busca das garotas.

- Ow!

Ele me chamou, quando virei pude ver a cara de confuso do garoto.

- Que foi?

- Cadê meu troco?

- Sobrou dois reais, depois a gente compra umas paçocas.

Falei dando os ombros, oque foi? Pagar um lanche pra mim não iria matar o garoto, e além disso tinha esquecido boa parte do meu dinheiro na sala.

- Então quer dizer que eu acabei de pagar seu lanche sem saber?

Ele disse em um tom brincalhão já me alcançando.

- Podemos dizer que sim, - Ele me encarou por um instante e deu uma pequena gargalhada, e Jesus, que som melódico. - Se quiser depois eu te pago.

Nossos olhares se encontraram e ele sorriu.

- Não, não precisa.

Foi inevitável não sorrir também.

Quando saímos para a área gramada do pátio meus olhos logo encontraram Thalita e Gabriela sentadas em um banco, Thalita logo me viu e acenou para que fossemos para lá, então chamei Shawn:

- Olha ali! As meninas estão ali.

Falei apontando para as duas e sai em sua frente saltitando.

- Você tá parecendo uma garotinha!

Ele disse em um tom um pouco mais alto para que eu escutasse.

- Eu sou uma garotinha!

Afirmei rindo enquanto rodava em volta de mim mesma, de repente fui parada brutalmente com uma mão grande em minha cintura me deixando de costas, fui puxada para mais perto podendo assim sentir o seu tronco. E então a voz que eu já esperava ouvir soou perto de minha orelha me dando arrepios e me fazendo arfar involuntáriamente por conta do movimento:

- Uma garotinha muito má.

- E por que eu sou má?

Disse quase em um sussurro.

Ele soltou uma risada me fazendo sentir seu ar quente na minha nuca, fazendo meu coração errar em uma batida.

- Me deixou curioso - Disse e começou a caminhar em direção das meninas me levando junto consigo ainda na mesma posição. - Não me disse por que sou estranho.

Eu ri ainda sem jeito, provavelmente eu estava mais vermelha que um pimentão.

- Vamos começar por do nada agarrar minha cintura.

Ele riu e me soltou, me fazendo dar um suspiro de alívio. Meu Deus, que homão da porra.

Como já havíamos chegado onde as meninas estavam acho que elas viram, na verdade tenho certeza, pois me olhavam com a maior cara maliciosa possível.

Se prepare pra mais tarde, Lua, provavelmente vão ser muitas perguntas.

Quando dei conta Shawn já estava sentando na grama com a perna em estilo " índio ", eu imitei seus movimentos.

Comecei a comer calada, o sono ainda estava em mim.

Estava praticamente em outro mundo, ouvia eles conversando porém não entendia, e também não fazia a mínima questão de entender alguma coisa, porém fui tirada de minha brisa com um grito rouco do meu lado:

- CREDO! CARA QUE NOJO!

Olhei imediatamente e vi Shawn limpando a língua com a mão, ele pegou o suco e deu um puta gole. Olhei para as meninas e elas estavam com a mesma cara de bunda que eu.

- Oque foi garoto?

Falei assustada, sei lá, vai que ele tinha achado uma barata no salgado.

- Tem tomate! Como assim tem tomate no sabor " queijo "? Que ridículo!

- Você tá puto assim por causa de um tomate?

Gabriela perguntou rindo, e Thalita? Bom, ela gargalhava mesmo.

- Eu odeio tomates!

Meu Deus, que exagero.

- Deixa eu ver. - falei e ele me deu o seu lanche com apenas duas mordidas. O observei bem e tinha como recheio orégano e tomate, ou seja, a tia lhe deu sabor pizza. - Esse salgado é de pizza, a tia te deu o sabor errado.

- E agora? Vou ter que jogar comida fora?

Ele perguntou meio desapontado, no fundo mesmo acho que ele tava chateado por não ter oque comer, e du, como um exemplo de pessoa, resolvi já garantir o meu lugar no céu:

- Se quiser a gente pode trocar, o meu veio de queijo, e eu mal comecei a comer..

- Não de importa de comer essa abominação mais conhecida como tomate?

Ele falou com um sorriso brincalhão tirando algumas risadas nossas.

- Não, não me importo.

Trocamos o lanche e ele me agradeceu profundamente​, que dramático, parece eu.

- Quem diria que um homão desse tamanho ia ter nojinho de tomate.

Thalita falou nos fazendo rir e fazendo o moreno revirar os olhos.

[ ... ]

P.O.V Rafael Lange

Escola Profº Joaquim-SC 9:26 AM

Fui para a escola da garota ver oque estava rolando, já fui logo para o lado da sala dela, olhei pela janela mas estava vazia, claro, eles devem estar no intervalo.

Rondei em volta tentando achar o pátio, e por incrível que pareça fui bem rápido nisso.

Andei pelo gramado na procura da morena, demorei a acha-la​ mas encontrei, sentada junto com suas amigas e um garoto, esse por sua vez eu não conhecia.

Porém a maneira que eles conversavam e estavam entrosados dava a impressão que se conheciam a anos. Porém eu sabia que isso não era verdade, não tinha registro dele nas fichas que me entregaram.

Me encostei em uma árvore para observar mais de perto, ficando assim de frente com o garoto, ele tem algo que me incomodava, mas não sei dizer oque é.

Eles conversavam tão animadamente, riam e faziam piadas, algumas tão idiotas que até eu ria, quando de repente o garoto olhou em minha direção, passou um tempo assim e voltou a prestar atenção na conversa.

Sinceramente, um frio correu em minha espinha, podia jurar que ele tinha me visto. Mas isso seria impossível, não estava técnicamente naquele plano.

E se ele não for como elas? E se fosse um deles usando uma casca? Não, não pode ser, eu veria sua verdadeira face.

Estranho, muito estranho.