"These violent delights have violent ends And in their triumph die like fire and powder, which, as they kiss, consume" - Romeo and Juliet act II scene VI
Point of View of Newton August Greene
Então o plano é esse? – escrevi na folha de papel a minha frente e virando-a para Charlie.
Sim! Tente parecer convincente. Thomas tem que acreditar nisso! – ela deslizou o papel sobre a bancada preta da cozinha, trocando o pingo nos ís por coraçõeszinhos. Tive que conter meu impulso em beijá-la.
Namorar uma garota apaixonada por ficção científica e séries criminais e investigativas resultou naquilo; não trocávamos mais mensagens ou palavras sobre Thomas e Anny em público, na casa dela, ou pelo celular. Charlotte garantiu a mim que fora seguida no dia anterior quando levou as amostras de sangue de Thomas para análise do Dr. Pattinson e estava desconfiada de grampos nos nossos celulares e escutas pela sua casa.
Okay! Mas depois disso temos que procurar Anny – mostrei aflito o papel. Ela sorriu e concordou com a cabeça, puxando a folha da minha mão.
Eu te amo, delícia. Nós vamos encontrá-la! Te vejo a 1 da manhã no local combinado – desenhou uma carinha feliz e piscou pra mim, mandando um beijinho pelo ar.
Eu te amo muito mais, agente Grey! – escrevi antes das câmeras de segurança do prédio denunciarem a chegada de Thomas pela garagem. Guardei no bolso da jaqueta a troca de mensagens estilo século 18 e subimos correndo para o quarto dela.
Tudo já estava ensaiado, na ponta da língua. Bastava saber como Anderson estaria naquele dia. Soubemos pelo Dr. Pattinson que ele possuía uma toxina no sangue que provocava alterações no humor, proporcionando agressividade e outras coisas mais. Já sentia o punho em riste dele se fechando na minha cara, mas fora isso, não voltaria atrás com aquilo. Precisávamos encontrar minha prima.
Charlotte encarava o relógio do celular contando os minutos do trajeto que fizemos de tarde a partir da vaga de Anderson na garagem, até a porta da cobertura deles. Sem trânsito nos elevadores dava uma média de 2 minutos e 40 segundos. Considerando as estatísticas da minha namorada fera em álgebra – eu nem sabia que ela era boa nessa matéria – tínhamos uma janela de 1 minuto e meio – Céus, como ela ficava sexy compenetrada.
Charlie me encarou uma última vez, antes de iniciar o plano. Fez sinal com seus dedos: 5, 4, 3, 2, 1.
- SAIA DAQUI! AGORA! SAIAAAA! – ela gritou histérica. Tive que conter o riso. Certeza que tinha desistido das aulas de teatro?
- Lottie, pelo amor da rainha Elizabeth – tá, ela segurou um riso. Tinha que tomar cuidado com as minhas expressões de linguagem agora – Não faça isso comigo!
- EU NÃO QUERO SABER! VOCÊ É UM BABACA! UM IMBECÍL. NÃO ACREDITO QUE CAÍ EM MAIS UMA ARMAÇÃO SUA!
- Isso não é armação. Nunca foi Charlie. Eu te amo! – tentei segurar em seus braços, mas ela me jogou com raiva no chão.
Foi ai que Thomas entrou no quarto, observando chocado a cena – pense em alguma coisa triste, Newt – repeti pra mim mesmo, tentando encher meus olhos de lágrimas. Pensei no dia do acidente do iate e no quanto ver aquela embarcação afundando doeu no meu peito. O fato da garota que eu amava ser tragada para o fundo do mar foi a mais leve delas. O pesadelo começou quando seu corpo surgiu entre as ondas e ela exausta, não conseguia mais nadar. Charlie estava gélida, com os lábios roxo e suas veias azuis. Por um milagre a guarda-costeira chegou e em segundos resgatou todos do mar, levando Charlie direto para o hospital da reserva de La Push. A imagem deles no helicóptero tentando reanimar seu corpo, enquanto eu apenas chorava segurando sua mão mórbida, bastou para as primeiras lágrimas verdadeiras brotarem como cascatas pelos meus olhos.
- Lottie, eu te amo, garota. – solucei.
- EU NÃO ACREDITO EM MAIS NENHUMA PALAVRA SUA! EM NENHUMA LÁGRIMA ESCROTA QUE NASCE DESSES SEUS OLHOS. COMO VOCÊ TEVE CORAGEM? DESTRUIR MEU SONHO? ARMAR PRA MIM EM HARVARD! ACHOU QUE EU NUNCA IA DESCOBRIR?!
- Woah! O que está acontecendo aqui? Newt? – Thomas finalmente entrou na cena, curioso. Ponto para nós.
- Thomas, eu... me desculpe... – murmurei.
- O que você fez, Newton? – sua voz aumentou, quase que me assustando – Você prometeu que cuidaria da minha prima! – protestou rosnando como um animal.
- FOI ESSE FILHO DE UMA PUTA QUEM TIROU HARVARD DE MIM, TOMMY! NÃO FOI UMA MERA COINCIDÊNCIA O SEGURANÇA NOS PEGAR NA PISCINA! FOI TUDO ARMADO! POR ELE! – sim, eu havia contado a Charlotte a sacanagem que criei com Anny. No começo digamos que ela teve um leve surto psicótico como esse de agora, mas compreendeu a situação, me impressionando com sua atitude madura. E além do mais eu assumiria logo a culpa por aquilo, então ficamos numa boa.
- Pera aí, como é que é? Você fez isso com a Charlie e agora está aqui na minha casa, comendo a minha prima, provavelmente enganando ela mais uma vez? EU ENTENDI ISSO DIREITO, NEWTON AUGUST GREENE?? – meu lindo nome saíu quase que num cuspe daquela boca raivosa. Confesso que tremi.
- Thomas, por favor! Eu ia contar para ela! Eu ia até Harvard contar tudo ao reitor neste final de semana. EU AMO SUA PRIMA! Charlie, me perdoe. Não sei o que farei sem você, meu amor! – disse ainda me arrastava pelo chão como um pobre rapaz apaixonado.
Com rancor nos olhos, Charlotte tirou o colar que eu havia dado a ela e tacou em minha direção, disparando – Nunca mais quero ver você! Você me dá nojo! Tire ele daqui, Tommy!
Okay! Essa última parte não estava no roteiro. Mas que merda, Charlie! Thomas avançou em cima de mim e grudou suas mãos em meu pescoço, me arrastando como um cachorro para fora do quarto dela. Lógico que não resisti a investida. Suas mãos estavam tão apertadas em volta de mim, que ele quase quebrou meu lindo pescocinho. Ainda pude ouvir Charlotte batendo com raiva a porta do quarto dela antes de Anderson me escorraçar da casa deles – Se você aparecer por aqui, ou tentar qualquer coisa contra Charlie, eu mato você. Você ouviu, seu bosta? – Thomas levantou a camisa, mostrando-me sua arma.
Definitivamente aquele cara estava metido em algo muito sério. Anderson não era daquele jeito e não agia daquela forma. Agora só restava esperar por Charlie à uma da manhã no ponto de encontro. Segui para casa tomar um banho, separar os suprimentos necessários e me preparar conforme as intruções dela - Calça preta, suéter preto, coturnos, touca ou capuz. Quero você all black, delícia – sua voz engraçada ainda repousava em meus ouvidos.
Só 5 horas nos separavam até seguimos para a Cabana dos meus tios, lugar onde eu supus que Anitta estivesse enfurnada. Eu estava ansioso, nervoso, com fome e com muita saudades de Charlie já.
Point of View of Charlotte Elizabeth Grey
Definitivamente achei que Thomas ficaria no meu pé após expulsar Newt do nosso apartamento, mas ele acatou meu pedido. Elaborou poucas perguntas sobre o que eu estava sentindo e deu algum apoio emocional. Disse que precisava ficar sozinha para pensar e que não pretendia ir para a escola no dia seguinte. Fiz um rápido lanche na cozinha, tomei um banho e me tranquei no meu quarto até meia noite e quinze. Fugi pela porta de serviço trajando roupas como uma perfeita ninja: calça de couro, blusa manga longa decotada e bem colada ao corpo, jaqueta, touca e botas. Tudo preto e no melhor estilo Electra. Dr. Pattinson já me aguardava na rua paralela a minha casa.
Não queria envolvê-lo naquilo, mas ele insistiu em nos ajudar. Ele me levaria até Newt e caso não enviasse o código combinado até às oito da manhã, ele chamaria a polícia.
Por falar em códigos, passei uma tarde inteira criando alguns. Para facilitar, ao invés de palavras soltas ou números combinados com letras, optei por introduzir nomes de músicas que encaixassem ou não no contexto das situações. O código que o Dr. Pattinson desejava não encontrar no seu celular pela manhã era “I need your love” da Ellie Goulgind ft. Calvin Harris. Okay, nada muito convencional de se mandar para celular do seu médico particular de quarenta e poucos anos, mas foi o que me ocorreu naquela tarde.
O ponto de encontro, atrás da Seattle Great Wheel, era onde Newt já me aguardava montado na sua moto.
- Cuide-se Charlotte. Não faça nenhuma besteira – ganhei um abraço apertado do Dr. antes de saltar do carro.
- Wow, agente Grey, você está maravilhosa! – Greene me abraçou e deu um rápido beijo. Ele também estava lindo todo de preto, com seus cabelos loiros bagunçados. Acenamos para nosso cumplice, que partiu sem levantar suspeitas. Coloquei o capacete e seguimos para o local onde a cabana da família de Anny ficava. Acho que a última vez que estive lá foi a 3 anos atrás. Retornar ali me traria lembranças de uma Charlotte Elizabeth Grey malvada e sem escrúpulos. Desejei evitar o sentimento.
Newt achou mais apropriado largar a moto 1,5km antes e ir a pé pela mata densa e fechada, seguindo seu GPS. Escondemos a Ducati entre alguns arbustos, pegamos nossas mochilas e seguimos pela madrugada fria e escura. Ao menos não estava chovendo. Seattle era a Inglaterra em formato Americano; longos dias cinzas e a capa de chuva, sua melhor amiga. Lógico que não evitei meus devaneios e no caminho saquei um pote de tinta preta do bolso e insisti em pintar o rosto do meu namorado, como se ele fosse o perfeito rambo. Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo alto e ele se divertiu fazendo o mesmo comigo. Tinha certeza que desenhou um gatinho com bigode em minha face.
- Charlie, preciso confessar, você tem que desistir de fazer medicina. Faça direito ou preste alguma prova para a polícia. Você leva jeito para a coisa! – conversava baixinho, enquanto caminhávamos entre folhas caídas e terra úmida.
- Prometo pensar sobre isso delícia. Mas por hora só quero chegar em casa viva. Esse lugar me dá arrepios – e dava mesmo! Tinha uma pontada ruim no coração. Algo estava para acontecer. Mamãe sempre dizia que seu coração doia antes de alguma merda acontecer. Fique claro que ela não usava o termo merda na sua boquinha comportada.
Alguns metros a frente, sentimos cheiro de gasolina. Newt brecou meu corpo e fez sinal para nos separarmos. Fui pela esquerda e ele pela direita. Eu sabia que precisava esperar um assovio dele para sair da onde eu estava. Isso indicava que a área estava livre.
Oito minutos sozinha na mata e finalmente ele me chamou. Segui a luz da sua lanterna e quase tropecei quando prendi meu pé em uma estrutura de metal. Era Flier, o planador de Anny parcialmente destruído. Newt checava aflito o interior e destroços por algums sinal dela, mas nada. Passei a vasculhar o solo, a procura de pegadas ou coisa do tipo.
- Newt, aqui! – sussurrei indicando uma trilha de pegadas que seguiam mata a dentro. Pelo tamanho delas, provavelmente pertenciam a Anny.
- As marcas seguem para a cabana. Anny deve estar lá, machuada e assuatada. Flier não cairia tão fácil assim. Ela pilota bem. Alguma coisa grave aconteceu – ele concluiu.
- Ou alguém sabotou o planador – disse convicta de que aquela era a opção correta.
Mais alguns passos desvindo de árvores, morcegos e barulhos bizarros, encontramos a maldita cabana ostentando poder e assombração ao fundo da paisagem. Tudo estava no mais completo breu e assim nós ficamos também. Guardamos nossa lanternas e seguimos para a casa semi abandonada. Newt segurava um taco de baiseball e me questionei porque não tinha trazido uma arma de verdade ao invés de segurar uma ridícula faca de cozinha! Eu ia o que? Cortar legumes no meio do mato?
Passamos a revirar a casa inteira atrás de Anitta, mas nenhum sinal dela ali, exceto alguns restos de comida ainda em bom estado – significava que ela ou alguém esteve ali dias atrás- um colchão parcialmente bagunçado e um estranho caderno escondido dentro da lareira, parcialmente chamuscado.
Liguei a lanterna, sentei no chão sujo e li algumas anotações que tinha certeza de que pertenciam a Anny.
"Hora: 14:14
Não sei o que estou fazendo. Mas parece que uma força estranha me atrai para cá: a Cabana onde tudo começou. Acho que torci meu tornozelo e quebrei alguns dedos na queda com Flier. O motor não quis mais ligar. Tenho de me lembrar de agadecer a Peter por me ensinar a pousar em caso de emergência. Vou visitar meus pais. Queria que Tommy estivesse comigo. Ele saberia me dizer porque sinto um calafrio intenso em meu corpo."
"Hora: 16:18
Eles estão aqui. Eu já suspeitava. Quando notei que os corpos desapareceram da cripta do cemitério público, conclui que tivessem voltado para cá. Como? Os policias nunca retiraram os corpos das covas que eu cavei. Estou sentada ao lado de mamãe e papai agora. Beatrice e Arthur estão logo a minha frente. Mas não é isso o que está me assustando. É o fato de a minha cova estar aberta. E com a data de hoje."
"Hora: 23:21
A bateria do meu celular acabou. Liguei para Newt, mas acho que ele está ocupado. Bom, a culpa é minha. Se eu não sumisse tanto, ele estaria mais preocupado. Provavelmente vai me procurar depois de uns cinco dias. Antes que alguém me encontre: Eu estava na minha casa. Estou escrevendo a luz de uma lanterna velha. Achei minha arma. A culpa foi minha. Eu matei eles. Sou imune. Os uivos estão ficando mais altos. Posso ouvir os passos dele. Você que estiver lendo: Diga a Thomas Daniel Anderson que eu o amo. E diga a Newton August Greene e Charlotte Elizabeth Grey que eu sinto muito. Ele chegou".
Larguei a lanterna no chão e chocada, cobri minha boca cheia de medo. Newt puxou as anotações da minha mão e começou a ler, igualmente estarrecido com aquilo.
Como um trator, abriu desesperado a porta da cozinha e correu para o jardim. Eu o segui. Sabe aquela sensação de assistir filme de terror e você grita contra a tela da TV mandando a mocinha sair imediatamente da li pois tem certeza de que o assassino vai aparecer do nada? Então, eu sentia aquilo. Quis gritar para Newt, mas minha voz travou quando vi aquilo na minha frente.
No quintal haviam quatro covas fechadas, cavocadas, com aspecto de recém feitas. Terra viva, marrom, grama por fazer. Nomes: Ethan, Jéssica, Beatrice e Arthur, família de Anny. Porém duas covas estavam abertas lado a lado.
Cova número um: Anitta Jolie Greene – 24/04/2016. Data de alguns dias atrás, dia do sumisso dela. Graças a Deus não havia nenhum corpo dentro e suspiramos aliviados com aquilo. Caminhei junto com Newt para a outra vala, apertando com força seu braço. A lápide cinza acima do buraco fundo denunciava algo tenebroso.
Cova número 2: Newton August Greene e Charlotte Elizabeth Grey, com a data de hoje - 29/04/2016. Uma frase:
“Estas alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, que num beijo se consomem. A morte sugou-lhes o mel dos lábios” – dois corpos, um só coração. Merecem apenas uma cova. Descansem em paz, jovens amantes.
Eu conhecia aquela citação. Era Shakespeare, Romeu e Julieta. E quem quer que tenha escrito aquilo, conseguiu que eu praticamente borrasse minha calcinha. Newt e eu nos entreolhamos. Olhares profundos. Perdidos. Em chamas.
- Eu não vou deixar que nada aconteça com você, Lottie – me tranquilizou num abraço apertado, sorrindo lindamente. Era um gesto protetor. Me senti segura… Até ouvirmos um estampido forte.
Apertei seu tronco, cravando minhas unhas em suas costas e olhando-o com os olhos em chamas. Mas minhas chamas viraram lágrimas e a dor passou a fazer parte de mim, como se algo tivesse rasgado minha carne.
Gaguejando, adverti entre seus braços – Newt… eu… - chiei e arfei fundo, afastando nossos corpos.
O ar não vinha.
O ar faltava.
O ar deixou de ser necessário.
Sangue vivo. Brilhando. Borbulhando. Atingindo nós dóis.
- Lottie? - foi a última coisa que ouvi antes de apagar em seus braços.
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