Point of View of... Someone very bad!
O tabuleiro já estava pronto. Esperei pacientemente até o horário estabelecido para que o moreno batesse a porta de meu escritório. O recinto estava frio, fazendo-me notar quando ele estremeceu. Um sorriso duvidoso surgiu em meu rosto, fazendo-o engolir a seco.
— O senhor mandou me chamar. — disse, atendendo ao meu aceno para que ele se sentasse a minha frente.
— Sabe jogar, garoto? — perguntei secamente, movendo um peão uma casa para frente. O moreno ajeitou os óculos e me encarou confuso. Não parecia entender o que estava acontecendo. — Perdeu os neurônios, moleque? Lhe fiz uma pergunta. — pressionei diante de sua lentidão.
— Ah… — revirei meus olhos. — Sim, senhor, sei jogar. Mas, o senhor não…
— Eu mando aqui e você me obedece. Se eu lhe disser para pular de um prédio de vinte metros de altura enquanto estiver vendado, você vai fazê-lo sem pestanejar. — vociferei, encarando-o friamente. Ele engoliu a seco.
Suspirei, tomando um gole da bebida âmbar de meu copo. Somente com álcool eu lidaria com a lentidão do projeto mal sucedido de seguidor a minha frente.
— Certo, garoto, preste a atenção e me responda sem rodeios. Sabe as regras do xadrez?
— Sim, senhor. — respondeu, ainda com o olhar confuso, oscilando entre mim e as peças de madeira.
— Para que servem as regras durante um jogo, garoto? — tomei outro gole, enquanto ele novamente ajeitava os óculos.
— Para garantir o bom funcionamento das peças que o compõe e evitar problemas durante o processo, senhor. — um meio sorriso amarelo tomou meus lábios diante da resposta decorada.
— E qual a primeira regra num jogo de xadrez?
— Colocar os peões a frente das peças mais importantes. — disse, a voz rouca.
— Ou seja, garoto: colocar a plebe a frente da realeza. Sempre foi assim. Numa batalha, você nunca verá um nobre na linha da frente, por mais que os filmes te façam crer que isso aconteça.
“Os de baixo escalão, aqueles que estão em massa e tem desvantagens sempre estão na linha da frente. Por que? Pois podem ser facilmente persuadidos, garoto. Enquanto os leais peões lutam e dão sua vida por determinada causa, os nobres permanecem intactos. No xadrez, os peões são os primeiros a cair e derrotar um deles sequer causa euforia.
“Todos iguais e com o mesmo destino: morrer por algo que eles sequer entendem. Existem pessoas que nasceram para serem peões, como Newton Greene. O garoto é volúvel e pode ter sua opinião mudada até mesmo por um desconhecido. Se bem persuadido, pessoas como ele podem dar sua vida por algo ou alguém.
"Charlotte Grey e Thomas Anderson são nossos maiores oponentes, como os bispos do tabuleiro, que podem nos pegar desprevenidos. Por isso, o ataque a base deles deve ser sorrateiro, sem muito alarde, utilizando-se dos movimentos especiais do jogo, tais como o en passant, uma manobra especial de captura.
“Conquanto, existem pessoas como Anitta Greene. Com sua moralidade definida e sólida, imutável no seu sentido literal. Pessoas como ela, garoto, são os Reis e Rainhas. Atrás na guarda de peões, aparentemente se escondendo, mas na realidade manipulando e moldando todos para sua vitória pessoal.”
Assim que terminei de falar, sorri maliciosamente, terminando o conteúdo âmbar de meu copo. O moreno a minha frente suava frio.
— Eu compreendo a analogia, senhor, mas não sua utilidade no memento atual. — confessou ele, empalidecendo.
Suspirei longamente. Maldita lentidão.
— Não creio que tenha antes de vir para cá, almejasse ser escritor. Escritores tem mentes rápidas e leem as estrelinhas antes mesmo de elas estarem completas. — bufei, desapontado. — O que digo,tolo, é que Anitta é a Rainha deste jogo. Porém…
— Ela está do lado errado do tabuleiro. — completou ele, fazendo-me finalmente confiar que existia um cérebro em seu crânio.
— Correto. Iremos trazê-la para o lado certo.
— Como? — perante sua pergunta, somente derrubei todos os peões de seu lado do tabuleiro.
— A Rainha fica vulnerável sem seus peões. — sorri maliciosamente para o garoto, vendo-o se encolher — E vamos derrubar todos eles.
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