Alison’s POV
5:30 AM
Foi exatamente esse horário que tive uma das minhas muitas — quase — mortes. Não me lembro ao certo desde quando comecei a ser uma suicida, só me lembro que foi muito cedo — cedo até demais.
A temperatura estava agradável, do jeito que gosto, estava fazendo um pouco de frio. Aquele que te faz querer ficar na cama, e assistir um bom filme e/ou série ou ler algum dos seus livros favoritos.
Jake dormia, depois de uma boa transa, ambos cansados, ao seu lado — na cama — havia a marca funda na roupa de cama de uma pessoa que havia recentemente se deitado e acabado de levantar. Ele parecia um anjo, e eu como sempre estava sem sono na madruga, então decidi ir até a janela do quarto para fumar.
Fiquei ali por um bom tempo, fumei dois cigarros tranquilamente, até que percebi que estava cansada da vida o suficiente a ponto de eu mesma querer dar um fim a ela.
O quarto estava uma bagunça, parecia que o furacão Katherine tinha passado por ali. Roupas jogadas por cima dos móveis e chão, alguns pratos com restos de comida — de sei lá quantos dias atrás — que serveriam de bom aperitivo para qualquer rato ou mosca. O quarto cheirava a cigarro e a espírito adolescente.
É estranho pensar que essa seria minha última vez fumando, esse seria meu último olhar a Jake deitado na cama, é estranho demais pensar “essa é a minha última vez” mas dessa vez seria real, eu não fracassaria, não agora — pensei comigo mesma.
Encarei a porta e lembrei do que tínhamos feito a pouco tempo atrás. Jake e eu estávamos tão entorpecidos e insanos que escrevemos na porta "Nem pense em perturbar! Estamos transando!" Havíamos mudado a placa de "Não perturbe".
Fui em direção a cama, do lado da mesma tinha um criado mudo de uma única gaveta, apoiei meus joelhos no chão e suspirei, essa seria minha última vez.
Peguei alguns comprimidos, sem me preocupar com a quantidade ou para que eram destinados, eu tinha certeza que dessa vez seria a última, depois de encarar eles por um fração de segundos engoli um a um, sem uma gota de água para ajudar. Eu não precisava me preocupar com isso, não agora.
Fiquei olhando o fim da noite e o início da manhã pela janela, era reconfortante saber que aquela seria minha última vez vendo a Lua ir embora e o nascer do Sol.
[...]
Trinta minutos depois.
Se passou alguns minutos, não sei ao certo quantos, pois parei de me importar com o relógio levando meu tempo embora.
Podia sentir a sensação da minha vida me dizendo adeus, o mundo ficando menos barulhento, meus batimentos cardíacos desacelerando, minha respiração ficando tranquila.
A última coisa que me lembro foi de ter deixado meu corpo cair ao lado da cama.
Dei meu último suspiro e fechei os olhos.
A cena agora parecia com a cena de abertura de um filme de terror, havia um corpo morto deitado no chão do quarto.
[...]
Algum tempo depois
Pisquei algumas vezes para ter certeza que era aquilo mesmo, estava muito claro, uma luz forte me cegava temporariamente naquele momento. Depois meus olhos conseguiram focar mais e percebi ser um teto branco, a claridade vinha de uma janela aberta.
— Fechem a merd@ da cortina! — Disse baixo, porém em bom tom. Assim que falei coloquei as mãos no rosto e ouvi a cortina sendo fechada.
— Alison, você ficou louca? — Jake me encarava sentado em uma poltrona, do lado da minha cama.
— Onde… — Suspirei — Onde estou? — Foi a primeira coisa lúcida que meu cérebro conseguiu pensar e minha boca formular.
— Você está no hospital Alison. — Ele respondeu secamente.
— Não posso acreditar, minha tentativa de suicídio não deu certo!? — Não sei se com aquilo quis formular uma pergunta ou sei lá o que.
— Alison, por que você fez isso? — Perguntou mudando o rumo da conversa.
— Não quero falar sobre isso — Cruzei os braços e olhei para o lado, como uma criança mimada, porém esse era apenas meu jeito de ser.
— Acordei 7:00 AM, procurei você na cama e não achei, quando levantei você estava desmaiada no chão, parecia um cadáver, jurei que dessa vez estava morta. — Vomitou as palavras em cima de mim.
— Eu... Ãh… Eu... — Comecei a falar, mas não sabia o que dizer.
— Porr@ Alison! Você sabe o quanto fiquei assustado? — Antes que eu pudesse responder ele continuou — Nunca fiquei tão assustado!
— Eu sei… Me desculpe! — Falei de uma vez.
— Não é para mim que tem que pedir desculpa, é para si mesma. Assim você está perdendo a si mesma, e talvez quando tentar achar, não encontre mais.
— Eu já me perdi. Mas estou tentando me encontrar — Disse olhando para minhas mãos, não tinha coragem de olha-lo nos olhos.
— Me prometa que não vai fazer mais nenhuma besteira — Falou, e eu ainda encarava minhas mãos. — Alison?!
— Eu… — Assim que ele disse meu nome pude notar sua voz estável. Quando olhei, ele estava com os olhos marejados — Jake, você está chorando por mim? — Podia parecer óbvio, porém, eu não acreditava que alguém pudesse chorar por mim, ou pelas besteiras que faço.
— Me prometa! — Repetiu ele mais uma vez, sem responder a minha pergunta.
— Eu prometo, Jake — Falei com um olhar triste, não queria falar para ele, mas como eu controlaria algo que já faz parte de mim?
— Espero que seja verdade — Disse e suspirou — Eu… Eu preciso dar uma volta.
— Tudo bem então — Respondi por fim. Eu sabia que ele precisava ir lá fora, para fumar e se acalmar, já que dentro dos quartos é proibido.
Ele precisava de um tempo, depois de eu ter sido uma idiota com ele, e até comigo mesma. E se era de um tempo que ele precisava, era o que ele teria.
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